Estilos arquitetônicos: Brutalismo

Estilos arquitetônicos: Brutalismo
Thainá Neves

Por Thainá Neves

28 maio 2021

O Brutalismo foi uma derivação do movimento Modernista, que nasceu no período pós-guerra como forma de otimizar a construção de cidades.

Esse movimento se manifestou primordialmente na arquitetura, com características únicas e marcantes encontradas em diversos países.

O Brutalismo

Foi o contexto vivido pela sociedade europeia, entre os anos 1950 e 1970, que moldou até a estética do Brutalismo. Isso porque no fim da Segunda Guerra Mundial houve a necessidade de reerguer cidades de maneira rápida, econômica e com fácil replicação.

Essas necessidades definiram as técnicas de construção brutalista e, até mesmo, o material utilizado, afinal era necessário erguer edifícios incrivelmente funcionais com o mínimo possível de recursos. 

A escola secundária mistura estrutura metálica e material aparente em tom levemente terroso.
Projetada por Alison e Peter Smithson, a escola secundária Hunstanton foi construída em materiais que priorizavam a extrema economia. Fonte: Flickr

O Brutalismo, portanto, pode ser considerado uma subcategoria do Modernismo, pois ambos possuíam os mesmos objetivos de criar edifícios funcionais. 

Contudo, o que diferencia os dois movimentos, e torna o Brutalismo profundamente divisor, são as características monumentais e a necessidade de mostrar a crueza dos elementos.

Contexto histórico do movimento Brutalista 

Na Europa, o Brutalismo surgiu como uma alternativa à reconstrução que vinha sendo feita no período pós-guerra, portanto com um olhar exclusivo para a funcionalidade. 

Contexto Europeu

O conjunto da obra de Le Corbusier reúne as características que definem o movimento Brutalista, sobretudo em sua última fase criativa, que vai de 1945 a 1965. Portanto, esse arquiteto é considerado a inspiração inicial para que o  estilo marcante tomasse forma.

Edifício brutalista em formato horizontalizado.
O convento Sainte-Marie de La Tourette foi projetado por Le Corbusier e apresenta o concreto como material principal. Fonte: Pinterest

Além disso, Le Corbusier se dedicou ao projeto de habitações de interesse social em um momento no qual o déficit habitacional alcançou números preocupantes na França.

Essas habitações são edifícios com mais de 100 metros de comprimento, com aparência bastante densa, como se fosse um grande bloco assentado em pilares. Dessa maneira, a primeira delas foi construída em Marselha e posteriormente diversas replicações se espalharam pelo país.

Edifício bastante horizontalizado com térreo aberto e suspenso por pilares.
A Unidade de Habitação em Firminy ficou pronta em 1960 e foi uma das últimas habitações coletivas projetadas por Le Corbusier. Fonte: Fundação Le Corbusier

Na Inglaterra, surgiram Alison e Peter Smithson, conduzindo os passos da arquitetura brutalista a partir de 1950. 

O casal de arquitetos britânicos viveu o período do pós-guerra, no qual as mudanças da sociedade precisaram ser acompanhadas pela arquitetura. Portanto, o trabalho deles inclui experimentações diversas.

Conjunto de edifícios com fachadas envidraçadas.
Os Smithson projetaram diversos edifícios para a Universidade de Bath. Fonte: Flickr

Contexto norte-americano

Louis Kahn, nascido na Estônia e naturalizado cidadão dos Estados Unidos, também foi outro destaque da arquitetura brutalista norte-americana. 

Os seus edifícios transformam a matéria-prima mais rígida em poética, como se, em cada estrutura, todas as oportunidades fossem aproveitadas.

Passagem que liga dois pátios. Toda a construção possui tijolos aparentes em tons avermelhados.
O Indian Institute of Management, projetado por Louis Kahn, possui recortes circulares que quebram a rigidez do edifício. Fonte: SOS Brutalism

O Novo Brutalismo era também uma tentativa de sair do convencional e encontrar novas soluções para uma arquitetura completamente preocupada com a funcionalidade.

Características da arquitetura brutalista

As formas fortes aliadas à certa rusticidade do material evidenciam a imponência das construções brutalistas. Tanto que, em algumas sociedades, o Brutalismo foi sinônimo de poder, criando edifícios que parecem ser eternos.

Alguns aspectos marcam a arquitetura brutalista, são eles:

Crueza do material

A construção tipicamente brutalista expõe a crueza dos materiais, pois não utiliza ornamentos, revestimentos ou nenhum outro elemento que cubra a edificação em seu estado mais natural.

O concreto armado foi o principal material utilizado nesse período, sendo apresentado in natura, até mesmo com a marca das formas em madeira.

Dois conjuntos de edifícios com materiais em placas de cimentícias. Ao centro, um grande pátio deixa a vista livre para o mar.
O concreto é predominante no Salk Institute, projetado por Louis Kahn. Fonte: Flickr

No Salk Institute, projetado por Louis Kahn, os edifícios e o piso parecem se misturar, criando uma continuidade que evidencia os detalhes do material. Essa aparência monocromática e minimalista valoriza a bela paisagem, com vista direta para o oceano.

Estrutura imponente

As obras brutalistas, em alguns países, são artifícios para demonstrar poder, afinal a estética imponente possui a capacidade de criar uma imagem única e marcante.

O edifício construído para o Ministério das Rodovias na Geórgia possui vários volumes, um formato que se utiliza da força do concreto armado.

Edifício brutalista com volumes irregulares que se conectam.
O antigo Ministério das Rodovias, na Geórgia, agora é a sede do Banco da Geórgia. Fonte: Socialist Modernism

O ritmo e a proporção que essas construções possuem influenciam no resultado estético final.

Marcos da arquitetura brutalista

As inúmeras construções brutalistas espalhadas pelo mundo possuem estética variada, de acordo com o ambiente no qual estão inseridas. Mas em todas elas a essência é bastante parecida, criando uma produção homogênea em diversos aspectos.

Veja algumas construções brutalistas que são verdadeiros ícones da arquitetura:

Complexo Habitacional Robin Hood Gardens

O complexo, localizado em Londres, é composto por dois edifícios inteiramente modulados por painéis de concreto, deixando o material aparente. A forma dos edifícios segue a curvatura da rua, criando um efeito visual bastante interessante.

Edifício com angulação que segue a curvatura da rua. As janelas organizadas em série, criam ritmo na construção.
O Edifício Robin Hood Gardens possui uma forma que segue a curvatura da rua. Fonte: Flick

Cada uma das torres está em uma lateral do terreno, resultando em um amplo jardim ao centro. Além disso, contam com andares intermediários que são verdadeiras varandas com vista para o horizonte.

Varanda do Edifídio Robin Hood Gardens, conectando todos os apartamentos do andar.
As “ruas elevadas” são varandas em andares intermediários, permitindo vista para o horizonte. Fonte: Flick

A ideia dos arquitetos Alison e Peter Smithson era criar um residencial livre de tensões, com áreas internas favorecendo a convivência e a interação entre os moradores.

Assembleia Nacional de Bangladesh

O edifício, projetado por Louis Kahn, possui aparência de um volume maciço pousado sobre o lago artificial. No entanto, são nove blocos separados, que, vistos do exterior, criam uma única história.

As formas e os materiais são inspirados nas típicas construções existentes em Bangladesh. Os recortes geométricos da fachada amenizam a rigidez do bloco enquanto  realçam a imponência do edifício, criando uma estética única.

Assembleia Nacional de Bangladesh contornada por um lago que reflete a contrução.
 A Assembleia Nacional de Bangladesh é contornada por um amplo lago artificial que funciona como um sistema de refrigeração. Fonte: Pinterest

O interior do edifício segue com a mesma poética dos elementos geométricos. Esses, por sua vez, configuram as circulações e as passagens de luz, que, aliás, moldam todo o interior do projeto de maneira escultórica.

O interior do edifício brutalista deixa a materialidade aparente. A iluminação valoriza a estética.
O interior da Assembleia Nacional de Bangladesh segue a mesma estética de sua fachada. Fonte: Flickr

Brutalismo no Brasil

No Brasil, o Brutalismo adquiriu traços próprios e bastante originalidade, numa tentativa de se afastar das influências estrangeiras que sempre estiveram muito presentes no País.

Nesse contexto, o Brutalismo Paulista foi o que mais produziu, especialmente edifícios públicos. O Sesc Pompeia e o Mube, por exemplo, são edifícios culturais erguidos nesse momento.

Os arquitetos Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha e João Vilanova Artigas e João Filgueiras de Lima são os principais representantes do Brutalismo no Brasil.

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro foi inaugurado em 1953 e representa as bases do Brutalismo sendo fixadas no Brasil, afinal foi uma das primeiras grandes obras em concreto aparente.

O edifício possui autoria do importante arquiteto Affonso Eduardo Reidy e se configura como um bloco retangular repleto de elementos interessantes.

Os grandes pilares de sustentação são ao mesmo tempo rústicos e leves, refletindo a estética do brutalismo.
A materialidade do Museu, em concreto aparente, é esculpida pela forma do edifício. Fonte: Flickr

Os pilares inclinados sustentam o edifício acima do piso e esculpem a materialidade de maneira monumental. Como resultado, é formado um pátio coberto que conecta as praças existentes no entorno.

Ginásio do Clube Atlético Paulistano

Para esse projeto, Paulo Mendes da Rocha pensou em uma estrutura aberta que funcionasse como uma varanda para apreciar o entorno. Segundo o arquiteto: “Tinha que ser algo festivo, que pudesse conviver com a alegria da rua Augusta.”

Foi criada, portanto, uma estrutura que lembra um grande anel em concreto aparente, com apoios leves que deixam a parte inferior livre e suspensa.

Fotografia em preto e branco mostrando parte do edifício brutalista.
O Ginásio do Clube Atlético Esportivo possui estrutura leve e materialidade aparente. Fonte: Pinterest

Da mesma maneira, a cobertura metálica do edifício é levemente suspensa por cabos e não se apoia diretamente na estrutura em concreto. Assim, a luz natural externa adentra pela lateral da cobertura, emoldurando e iluminando o interior do ginásio.

As arquibancadas e o anel que sustenta a cobertura do Ginásio são de concreto, enquanto a cobertura é metálica.
A cobertura do Ginásio não se apoia na estrutura em anel, criando uma entrada de iluminação lateral. Fonte: Arquivo Arq

Tribunal de Contas do Município de São Paulo

O Tribunal de Contas está entre o conjunto de obras projetadas em um período de grande produção pública no Brasil. O edifício, fruto de um concurso, foi inaugurado em 1971.

A ideia do escritório Aflalo & Gasperini era criar uma arquitetura marcante, que se destacasse totalmente da paisagem, mas que, sobretudo, atendesse completamente à função necessária.

Fachada principal do edifício. O piso é totalmente gramado e com diversas árvores.
O Tribunal de Contas de SP possui um marcante formato escalonado. Fonte: Aflalo & Gasperini

A forma escalonada como uma pirâmide invertida está apoiada em grandes pilares. Apesar da aparência sólida, eles elevam a construção para 10 metros acima do solo, a fim de deixar boa parte do piso livre. Dessa maneira, o gramado e toda a área arborizada se conectam ao Parque Ibirapuera.

Centro de Exposições na Bahia

O edifício de exposições faz parte do Centro Administrativo da Bahia, portanto a sua estética marcante já à primeira vista demonstra imponência. As duas pontas flutuantes se equilibram, sustentadas por um sistema de cabos que se ligam à estrutura em formato piramidal.

Edifício com um volume horizontal sustentado por dois elementos piramidais.
O Centro de Exposições na Bahia é como um grande volume suspenso por estruturas em formato de pirâmide. Fonte: Pinterest

O projeto possui autoria do renomado João Filgueiras de Lima, também conhecido como Lelé. O arquiteto transitou entre os estilos High-Tech e Brutalista, explorando formas e materialidades de maneira distinta.

A preservação das construções brutalistas

O movimento Brutalista deixou construções importantes por todo o mundo, mas, por ser uma arquitetura que desperta opiniões bastante divergentes, nem todas são devidamente preservadas. 

Muitas delas, aliás, já foram substituídas por construções contemporâneas. Com a finalidade de preservá-las, a plataforma SOS Brutalismo organizou uma campanha listando mais de 2 mil edifícios com características da arquitetura brutalista.

Edifício Brutalista com duas fachada em concreto, repletas de pequenos volumes.
O Belgacom Car Park está localizado em uma cidade portuária da Bélgica, com planos de demolição e substituição da fachada. Fonte SOS Brutalism

Além do objetivo de salvar esses edifícios, essa plataforma é um convite à reflexão da arquitetura do presente e do futuro.

A arquitetura brutalista deixou como legado não apenas construções físicas, mas também o pensamento coletivo em relação às questões habitacionais. Inegavelmente, foi um dos períodos em que a arquitetura social avançou bastante, sempre preocupada em suprir as necessidades de moradia das pessoas da maneira mais prática possível.

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Thainá Neves
Conteúdo criado por:Thainá Neves
Arquiteta, apaixonada pelo mundo das artes e dedicada à pesquisa desde o início de sua formação, está sempre atenta ao que surge de melhor para a criação de cidades mais sustentáveis e moradias mais adequadas.

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