João Vilanova Artigas – Biografia e obras

João Vilanova Artigas – Biografia e obras
Beatriz Dilascio

Por Beatriz Dilascio

31 janeiro 2021

Quando se fala sobre história da urbanização das cidades brasileiras, logo pensamos em João Vilanova Artigas, um exemplo de profissional que mesclou perfeitamente a carreira de docente com seu alto conhecimento técnico construtivo. 

Extremamente engajado no ensino da arquitetura, Artigas teve um importante envolvimento na reforma curricular de 1960, em que estabeleceu uma nova prática ⏤ não apenas vincular espaços, mas sim materializar ideias e transformar as cidades. 

Biografia de João Vilanova Artigas

João Batista Vilanova Artigas nasceu em Curitiba, no dia 23 de junho de 1915, e se formou como engenheiro-arquiteto pela Escola Politécnica de São Paulo (Poli/USP) em 1937.

Foi um dos fundadores do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/SP), onde chegou a ser secretário e vice-presidente do núcleo de São Paulo. Após isso, Vilanova Artigas estudou nos Estados Unidos e, quando retornou em 1948, participou da criação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (FAU/USP).

Vilanova Artigas no prédio da FAU/USP.
Vilanova Artigas no prédio da FAU/USP. Fonte: Blog da USP

Vilanova Artigas resolveu passar um período na União Soviética e, após seu retorno, concebeu novas projeções na década de 50, marcando a relação do poder público com a arquitetura moderna. 

Com o Golpe Militar de 1964, a ditadura ganhou força e se consolidou no território brasileiro, por isso sua atividade acadêmica foi interrompida. Artigas foi impedido de atuar durante o regime militar e seu retorno só foi ocorrer em 1979. 

E foi no ano de 1985 que sua brilhante trajetória chega ao fim. 

Arquiteto reconhecido

Durante toda sua carreira, o engenheiro-arquiteto recebeu alguns prêmios importantes, como o prêmio Jean Tschumi, por toda a sua contribuição no ensino da arquitetura, e o prêmio Auguste Perret, por se destacar nas pesquisas sobre tecnologia aplicada na arquitetura, dado após seu falecimento. 

Além disso, no seu centenário, em 2015, seu pensamento foi celebrado com o lançamento de um livro sobre ele feito por sua filha Rosa Artigas e um filme-documentário chamado “Vilanova Artigas: o arquiteto e a luz”.

Ainda nesse mesmo ano, foi lançado um filme sobre ele, que contou com as participações ilustres de Ruy Ohtake e Paulo Mendes da Rocha

Casa Vilanova Artigas

Casa Vilanova Artigas Projetada por Artigas.
Casa Vilanova Artigas Projetada por Artigas. Fonte: Vilanova Artigas

Essa casa foi construída por Vilanova Artigas para ele mesmo e sua família. É um projeto muito arrojado, que quebrou os padrões da época, sendo um marco tanto na arquitetura quanto na sociedade. 

A casa Vilanova Artigas é um projeto único e muito diferente do que já havia se visto. O acesso da casa é delimitado pelos muros da garagem e a entrada da casa é o retângulo do portão da garagem.  

A casa possui nove cômodos Os espaços privativos são pequenos, mas a sala de estar é grande e integrada a um estúdio elevado e ao jardim, que foi projetado por Burle Marx
Entre esses espaços estão a garagem, o acesso, a lavanderia, o dormitório, a cozinha, a sala de estar e a Casinha. Essa casinha foi projetada para um casal sem filhos, com influência organizacionalista de Frank Lloyd Wright, que quebra totalmente a questão do “quarto para empregados”.

Parte interna da Casa Vilanova Artigas.
Parte interna da Casa Vilanova Artigas. Fonte: Archdaily

Sua arquitetura é simples, o espaço social tem um pé-direito duplo e é separado por paredes com altas janelas que proporcionam uma vista para o terraço. O telhado da casa, na verdade, não é um telhado, ele é uma laje de concreto com forma de asas de borboleta. 

As cores da casa são em tons de vermelho, azul, amarelo e branco. As paredes são de tijolos maciços que foram pintados com essas cores, sem nenhum reboco, apenas a pintura. 

Hoje essa casa é tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (CONDEPHAAT), por ser uma arquitetura revolucionária. Atualmente é ocupada pelo grupo editorial Giz Brasil, que organiza palestras, visitas guiadas e outras atrações.

Edifício Louveira

Edifício Louveira. Fonte: Vilanova Artigas
Edifício Louveira. Fonte: Vilanova Artigas

Na mudança do século XIX para o século XX, São Paulo passou por uma fase de crescimento, isso por causa da industrialização. O ambiente urbano foi mudando e começou um processo de verticalização na área central da cidade. 

Nessa época, no bairro Higienópolis eram concentrados os palacetes mais elegantes da cidade de São Paulo e, consequentemente, tornou-se o endereço dos prédios de alto padrão, cuja maioria era assinada por arquitetos importantes. 

O Edifício Louveira tem uma integração interessante com seu entorno. Por estar em um terreno de esquina, ele acompanha a rua lateral, conversando com o espaço. 

São dois blocos paralelos, um com sete andares e outro com oito, possuindo entre eles um pátio interno.

As frentes principais dos blocos são voltadas para o noroeste; já as fachadas do fundo são voltadas para o sudoeste e apresentam um elemento central marcante, onde os parapeitos de alvenaria resguardam o corredor de serviços. 

O edifício foi tombado e muito bem-cuidado, destacando-se,  até hoje, pelo diálogo que possui com o entorno, o qual emoldura a Praça Vilaboim, que contém uma arquitetura modernista e também foi tombada pela prefeitura.

Ginásio de Guarulhos

Parte interna do Ginásio de Guarulhos.
Parte interna do Ginásio de Guarulhos. Fonte: Vilanova Artigas

O ginásio está em um terreno desnivelado e o arquiteto aproveitou esse desnível ao fazer o zoneamento do projeto, o qual possui três faixas longitudinais, cada uma em um nível diferente. 

Como é característico de João Vilanova Artigas, os materiais utilizados são simples; o projeto possui uma estrutura de concreto armado. Os pilares se diferem em seus desenhos, pois os pilares externos possuem um recorte no canto inferior e são pintados de azul e vermelho. 

Já os pilares internos têm a mesma espessura dos externos, porém seu recorte se diferencia, pois, em vez de ter um recorte no canto inferior, ele tem um modelo mais plástico. 

O projeto conta com um pátio central com abertura zenital (que é um tipo de abertura no teto para entrada de luz natural). O arquiteto também quis reforçar o ambiente comunitário da escola, que é uma característica forte na arquitetura brutalista, principalmente nas que possuem interesse público, como é o caso do Ginásio de Guarulhos. 

Vilanova Artigas fez a diferença em todos os seus anos de atuação até a sua morte, sempre colocando seus ideais e seus conceitos presentes em suas obras. 

“Se me chamarem de idealista; concordo inteiramente. Sei que fiz uma poesia desse processo todo, fiz uma imensa poética. Que fiz, fiz dos primeiros aos últimos versos.” – João Batista Vilanova Artigas.

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Beatriz Dilascio
Conteúdo criado por:Beatriz Dilascio
Arquiteta apaixonada por arte e decoração, sempre buscando por inovações e aprender cada dia mais.

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