Renzo Piano – Biografia e obras
Por Victória Baggio
05 janeiro 2023
Renzo Piano, arquiteto italiano contemporâneo singular, cuja vasta obra materializa seu constante exercício do pensar e do materializar arquitetura, concebida a partir de um preciso diálogo entre técnica, criação e inovação.
Altamente premiado e reconhecido, com edifícios projetados em diversos países, Renzo Piano é representante da prática e do exercício de projetar incansavelmente. Como resultado, sua obra é bastante experimental e moderna, uma arquitetura atrelada à técnica e aos materiais.
Confira a seguir a história do arquiteto, suas influências, suas parcerias ao longo da carreira, algumas de suas obras e mais!
Biografia de Renzo Piano
Nascido em Gênova, na Itália, em 1937, neto, filho e sobrinho de construtores, Renzo Piano reconhece a influência que a família teve e tem na sua trajetória profissional.
A paixão pela técnica, por projetar e fazer parece ter continuado seu percurso geracional também através de Piano, afinal dois de seus três filhos seguiram por este caminho, Carlo, jornalista, Matteo, designer industrial, e a caçula Lia, arquiteta.
Arquitetura e influências
Formado em arquitetura na renomada escola Politécnica de Milão, em 1964, começa seu percurso como arquiteto, concentrando-se na experimentação de novos materiais.
Esse é, certamente, o reflexo das obras, figuras e conceitos emergentes na época, como as do grupo Archigram, de cidades móveis, máquinas arquitetônicas e construções efêmeras, as membranas de Frei Otto. O seu foco, portanto, esteve nos termoplásticos, com o objetivo de alcançar formas orgânicas.
Em paralelo, as pesquisas construtivas dos italianos Marco Zanuso e Franco Albini servem de inspiração e conhecimento para o jovem arquiteto. Essas o instruíram à cultura do fazer arquitetura atrelada ao processo projetual artesanal, em que desenho a lápis e modelos físicos à escala real são essenciais.
Entre os importantes mestres para Piano, também esteve Louis Kahn, com quem trabalhou entre 1968 e 1969, em Filadélfia, e o francês Jean Prouvé, que, além de colega, foi grande amigo.
A experimentação, sem dúvida, é uma das principais características da obra de Renzo Piano, uma constante na sua forma de pensar, presente em todas as suas fases profissionais, que passou por diferentes mestres e chefes, sócios e equipes.
Escritórios e parcerias de Renzo Piano
Em 1968, surge o primeiro escritório-laboratório do arquiteto, o Estúdio Renzo Piano, em Gênova, Itália, permitindo colocar seus estudos experimentais em prática, de maneira a dar continuidade à pesquisa enquanto faz arquitetura.
Em 1989, Renzo Piano recebe sua primeira grande encomenda para o Pavilhão Industrial da Itália na Expo de Osaka de 1970. Construído em uma estrutura de cabos de aço que sustenta uma caixa em poliéster reforçado, levantada do solo, o projeto ganhou uma dimensão internacional de arquitetura High Tech.
Além disso, o projeto foi responsável pelo início da aproximação entre o arquiteto e Richard Rogers, que, após conhecer a obra, percebeu a similaridade de interesses e modo de conceber arquitetura entre eles.
Em 1971 surge, portanto, o escritório Piano & Rogers, com sede em Londres, composto pela dupla Renzo Piano e Richard Rogers. No mesmo ano, vencem o concurso para o Centro Pompidou, em Paris, obra que adquiriu importância substancial para a carreira de ambos arquitetos.
O processo da obra do Pompidou exigiu que o arquiteto morasse na capital francesa durante alguns anos, comprometendo seu casamento com Magda Arduino, mãe de seus três filhos, também de Gênova, que preferiu permanecer na Itália.
Posteriormente, em 1977, Piano associou-se ao arquiteto Peter Rice, dando surgimento ao escritório Piano & Rice Associates.
Desde 1981, o arquiteto dá início ao Renzo Piano Building Workshop, com sede em Paris e Gênova, onde jovens provenientes de todo o mundo dão seguimento ao método projetual próprio do arquiteto. Realizado de modo grupal, com particular atenção aos detalhes, seja qual for a escala do edifício, o método garante o sucesso de cada obra realizada.
Em 1989, Piano conheceu Emilia Rossato, quando a arquiteta começou a trabalhar no seu escritório. Em seguida, começaram a namorar, casaram-se alguns anos depois, em 1992, e permanecem juntos até os dias atuais.
O reconhecimento mundial da carreira de Renzo Piano
O reconhecimento de Renzo Piano vai além de seus escritos, seus projetos e suas obras construídas, mas é refletido em importantes prêmios ao longo de sua trajetória; em 1989 recebeu a Medalha de Ouro do Royal Institute of British Architects (RIBA); em 1990, o Prêmio Kyoto; em 1998 foi vencedor do Prêmio Pritzker. Mais recentemente, em 2008, recebeu a Medalha de Ouro do American Institute of Architects (AIA) e o Prêmio Sonning.
Obras de Renzo Piano
A obra de Renzo Piano reflete sua relação com o conceber arquitetura, um processo que parte do real, servindo a um conceito abstrato, criado por meio do entendimento do lugar, do objetivo, do cliente. Assim, nasce uma arquitetura a partir do material, da técnica, relacionada com o lugar, a natureza, o objeto a partir do qual se inscreve.
O vasto conjunto de edifícios que compõem a obra de Renzo Piano, de diversas escalas, países e funções, tem como lógica comum o primor da técnica e a proporção. Edifícios que servem às suas cidades com o intuito de possibilitar novos modos de habitá-las.
Renzo Piano é, inegavelmente, um claro exemplo do exercício paralelo e complementar de teoria e prática, a partir da pesquisa e da experimentação. Uma obra marcada pela busca de leveza e flexibilidade espacial.
Centro Pompidou
Entre as obras mais relevantes da trajetória de Renzo Piano está o Centro Pompidou, museu de arte moderna e contemporânea localizado em Paris.
Projetado em 1969 com o arquiteto Richard Rogers, simbolizou um marco da arquitetura, uma passagem do Modernismo em direção ao estilo Pós-moderno.
Escolhido através de um concurso, o projeto da dupla de arquitetos inovadores é radical, de tal forma que torna o edifício o novo emblema para a clássica cidade francesa. Isso porque é como um contraponto às construções de seu entorno.
Colorido, brilhante, transparente, liso, público, o edifício parte da intenção projetual de uma planta livre, que permite amparar exposições e eventos diversos. Para isso, desloca toda a infraestrutura técnica de instalações e circulação para o perímetro, de maneira a dar protagonismo a elementos que normalmente são escondidos.
Canos coloridos de diâmetros importantes, que servem o edifício de infraestruturas, aparecem nas fachadas pintados com cores vibrantes. Surpreendentemente, uma escada rolante ainda percorre o lado principal do museu, através de um tubo metálico.
Um edifício que, na época, causou grandes discussões, mas que posteriormente e até os dias atuais é reconhecido pelo seu simbolismo de uso da linguagem arquitetônica e primor da técnica de projetar e materializar arquitetura.
Fundação Beyeler, Suíça
O edifício do museu para a Fundação Beyeler, em Riehen, na Suíça, realizado entre 1991 e 1997, representa um papel fundamental na obra de Renzo Piano, pois é neste projeto que o arquiteto experimenta e elabora mecanismos técnicos e materiais que mais tarde utiliza em diversas obras, como o seguimento de um exercício que se adapta e se aprimora com o tempo e a prática.
O projeto para o museu deveria cumprir dois objetivos: ter iluminação natural e estar integrado com a natureza.
Para alcançar o primeiro, o arquiteto elaborou um complexo sistema de cobertura, a partir do qual se obtém uma iluminação zenital, portanto indireta e uniforme, em todas as salas, resultando em um sofisticado elemento, que banha os espaços interiores com uma luz tranquila.
A integração com a natureza existente no entorno é feita através de diversos recursos arquitetônicos, como fachadas de vidro transparente, espelhos d’água, medidas de planos verticais opacos, ideais para permitir visuais e paisagismo, o que faz com que o edifício se torne parte da natureza que o rodeia e que dialogue com esta de maneira a valorizá-la ainda mais.
Edifício residencial na Rue de Meaux, Paris
Adorado pelos arquitetos que carregam a nostalgia do Modernismo, porém pouco conhecido fora desta esfera, está o edifício de apartamentos na Rue de Meaux. Projetado por Renzo Piano em 1987, e finalizado em 1991, apresenta uma arquitetura nobre e discreta, um segredo no habitar na capital francesa.
Tendo como objetivo a criação de um condomínio com 220 apartamentos e uma obra de custo reduzido, o projeto parte da escolha de materiais. Como resultado, surge uma arquitetura simples, com blocos de cerâmica e estrutura metálica à vista.
Desse modo, a sofisticação é alcançada a partir do rigor da técnica, projetual e construtiva, harmonia de proporções e ritmo afinado.
Desde a rua, um volume central entre dois que conformam as laterais, um espaçamento, que sugere o acesso ao edifício. Ao entrar, revela-se um pátio, onde eucaliptos dão a cor do espaço a partir da folhagem de cada estação.
As árvores esbeltas e de vegetação dinâmica dão vida à praça interna, enquanto servem de filtro entre um lado do edifício e o outro. Além de ser um respiro para a construção, moldam a paisagem interior dos apartamentos, que participam do espaço coletivo, da vizinhança e da natureza projetada.
Vinícola La Roca, Itália
A região da Toscana, na Itália, é famosa pela sua paisagem serena, com plantações de uvas e vinícolas. Partindo desse programa, o arquiteto Renzo Piano desenhou um projeto nos primeiros anos 2000, combinando tal como o de um hotel.
Aqui, o diálogo entre passado e presente, entre o contexto direto e o global, é materializado em um edifício. Por uma parte se adapta ao terreno e parece surgir dele, adotando cores do entorno, o terracota típico das construções italianas, e o verde da vegetação; por outro lado, tende a despegar-se deste, em um volume leve, que pousa sobre o pesado.
O hotel e vinícola La Roca é um exemplo da arquitetura própria de Renzo Piano, que resgata o tradicional e dialoga com o inovador. Tal paralelo se faz visível através de um sofisticado encaixe das partes, que, por mais que tendam ao antagonismo, são partícipes de uma mesma lógica.
Habitar a novidade
A obra de Renzo Piano é conhecida pelo seu caráter de inovação, não tanto ou apenas pelo uso de novos materiais, mas pelas descobertas de maneiras de combiná-los para a criação de espacialidades desejadas.
Uma arquitetura que nasce do desejo de um espaço, que só é possível a partir de lógicas materiais, cuja forma surge do resultado de seu comportamento técnico, mantendo, contudo, a relação com o conceito projetual abstrato, que representa o objeto para o qual cada arquitetura é criada.
Edifícios para serem estudados, percorridos, habitados, de maneira racional e emocional. Uma arquitetura que, tal como a sua definição, une engenharia e arte.
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