Richard Rogers – Biografia e obras

Richard Rogers – Biografia e obras
Victória Baggio

Por Victória Baggio

24 novembro 2022

Richard Rogers foi um dos principais expoentes do estilo High-Tech no mundo, cuja obra resultou em verdadeiros emblemas dos lugares onde estão. 

Edifícios que não passam despercebidos a uma simples vista, devido à sua escala, à sua linguagem e à sua composição, foram, muitas vezes, resultados de parcerias com outros arquitetos renomados, como Norman Foster e Renzo Piano. 

Defensor de um mundo democrático, adaptável e abrangente, que o materializa a partir de uma arquitetura flexível, colorida, leve e transparente. 

Biografia de Richard Rogers

Nascido em Firenze, na Itália, em 23 de julho de 1933. Rogers era de família anglo-italiana judaica. Em 1938 se mudam para a Inglaterra, como movimento de fuga do regime fascista imposto por Mussolini na Itália daquela época.

Esta mudança de país marcou a vida de Richard Rogers de maneira decisiva principalmente, no seu modo de ver e encarar o mundo e o seu entorno. A democracia e os aspectos sociais como temas recorrentes nas suas obras. 

Imagem de Richard Rogers com camisa verde e calça preta, com algumas imagens impressas de projeto na parede que está atrás dele.
Richard Rogers. Fonte: Archdaily

Além disso, a característica tecnológica de Londres, desde aquela época, teve uma influência direta no interesse do futuro arquiteto, a partir de uma perspectiva das inovações materiais e digitais, como símbolos de uma nova era social em constante transformação. 

Durante a infância, Richard Rogers sofreu com certo “atraso” acadêmico, que em seguida foi diagnosticado como dislexia. Isso acabou refletindo tanto em notas baixas e reprovações na escola como também na faculdade de arquitetura. 

Logo após sua formatura na Architectural Association School of Architecture de Londres, em 1959, o arquiteto se muda para os Estados Unidos, em 1961, com o objetivo de desenvolver seu mestrado na Yale School of Architecture, em Connecticut, amparado de uma bolsa da Fundação Fulbright.

O surgimento do Team 4

Mais uma vez houve uma mudança de país, refletindo na sua vida pessoal e profissional, sendo esta chave para o início da sua carreira como arquiteto.

Foto em branco e preto dos quatro membros do Team 4.
Os quatro membros do Team 4. Fonte: Urbipedia

Logo após retornar à Inglaterra, em 1963, com sua esposa, também arquiteta, Su Brumwell, seu colega de mestrado, Norman Foster, e sua esposa Wendy Cheeseman Foster, associam-se dando origem ao Team 4, escritório de arquitetura, de discussão e projeto.

As obras do Team 4 estiveram marcadas de preocupações tecnológicas e industriais, compondo principalmente reflexões entre teoria e prática da arquitetura até os dias atuais. Em parceria com demais profissionais relevantes na época, como Frank Lloyd Wright, Mies van der Rohe, Paul Rudolph, o casal Eames e Richard Neutra, que estiveram em contato em viagens no período em que os quatro moravam nos Estados Unidos.

Richard e Su Rogers

O casal Richard e Su Rogers teve como início da carreira profissional o projeto de casas para os seus familiares. A princípio, nesses projetos, os arquitetos começam a ensaiar conceitos e materialidades, que depois aplicariam em obras de maior escala, responsáveis pela linguagem específica de seus projetos. 

Richard e Susan Rogers abraçados sentados em uma escada.
Richard e Susan Rogers. Fonte: The Guardian

Elementos de estrutura metálica à vista colorida, bem como transparência e adaptabilidade espacial são alguns dos aspectos das casas projetadas pelo casal na época. 

A casa Rogers, por exemplo, teve papel fundamental no percurso profissional do arquiteto, pois, a partir da sua investigação tecnológica e construtiva, aproximou-o de Renzo Piano, arquiteto que, na época, também pesquisava sobre estruturas leves.

Rogers e Piano

Os interesses em comum uniram os arquitetos Richard Rogers e Renzo Piano. A dupla atuou com louvor durante vários anos, embora para a sociedade da época seu reconhecimento não foi o mesmo que o conquistado posteriormente.

Foto em preto e branco de Renzo Piano e Richard Rogers.
Renzo Piano e Richard Rogers. Fonte: Centre Pompidou

Conhecidos como bad boys, a dupla desenvolveu o projeto para o Centro Pompidou, em Paris. Este é um edifício que inverteu os valores arquitetônicos da época, materializando-se através da leveza estrutural, do uso das cores e da flexibilidade.  

Em 1971, a dupla inicia uma série de trabalhos em conjunto, formando a sociedade com o nome Rogers + Piano. Neste mesmo ano, os arquitetos venceram o importante concurso do Centro Pompidou, em Paris, que marcaria a carreira de ambos para sempre. 

Rogers + Partners 

De 1978 até o final da sua vida profissional, Richard Rogers trabalha com uma série de arquitetos, utilizando o nome de Rogers + Partners. 

Durante os mais de 40 anos de carreira que o seguiram, o arquiteto continuou a prática de uma arquitetura inovadora, flexível, honesta e democrática. 

Em 2006 e 2009, Rogers recebeu o Prêmio Stirling, nesse meio tempo, em 2007 foi premiado com o Prêmio Pritzker de Arquitetura.

Richard Rogers faleceu dia 18 de dezembro de 2021, com 88 anos, em Londres. 

Obra de Richard Rogers 

A obra de Richard Rogers situa-se no período do movimento arquitetônico High-Tech, marcado pelo uso das novas tecnologias da época.

A estrutura passa a ser protagonista dos edifícios, frequentemente expressionista, deixando aparente para além da estrutura instalações técnicas do edifício, como equipamentos e tubulações; uma interpretação contemporânea da arquitetura industrial, utilizada numa variedade de programas funcionais, e não só fábricas. 

Quatro prédios com alturas diferentes mas com a mesma estrutura.
A estrutura expressionista é uma característica marcante nas obras de Richard. Fonte: Archdaily

A flexibilidade e a adaptabilidade espacial é um conceito constantemente abordado por Rogers em sua obra. A justificativa para isso é que, neste mundo contemporâneo, de alta velocidade de constante mudança, o papel da arquitetura era amparar tal imprevisibilidade; ou seja, ser capaz de adaptar-se ao longo do tempo para receber diferentes funções.

Para possibilitar tal flexibilidade e protagonismo estrutural inovador, o arquiteto toma partido das estruturas pré-fabricadas metálicas, nas suas formas mais variadas, resultando em uma arquitetura nada standard, mas feita a partir de modelos-padrão. 

Confira, a seguir, algumas obras que marcaram a trajetória de Richard Rogers ao longo da sua vida profissional.

Casa Rogers

Casa Rogers.
Casa Rogers. Fonte: Archdaily

A casa Rogers foi um projeto de Richard e Su Rogers para os pais do arquiteto, em 1989, a partir do princípio de ser um protótipo, criado tendo como base peças-padrão pré-fabricadas, podendo ser uma casa adaptada e replicada utilizando o sistema, nomeado pelo casal, “Zip-up”.

A partir de um sistema construtivo de pórticos de aço, surge uma nave, com laterais opacas e faces opostas transparentes.

Parte interna da Casa Rogers, onde a cor amarela predomina na cor dos móveis e nas vigas e pilares.
Casa Rogers. Fonte: Archdaily

Um ambiente polivalente, flexível, subdividido sutilmente a partir de mobiliário fixo. Uma arquitetura livre, adaptável, em constante mudança. 

Mais do que o projeto de uma residência isolada. Esta obra serviu de laboratório de experimentação para os arquitetos e pode ser vista como uma síntese de conceitos, materiais e linguagem arquitetônica defendida por eles, que logo foi utilizada para projetos de grande escala. 

Centro Pompidou

Centro Pompidou.
Centro Pompidou. Fonte: Archdaily

Em 1969, o então presidente da França, decidiu criar um concurso de arquitetura para o projeto do Centro Nacional de Arte e Cultura em Paris.

O projeto escolhido é o da dupla, até então pouco conhecida, Richard Rogers e Renzo Piano. Idealizado a partir de um conceito inovador, onde toda a estrutura e a infraestrutura de instalações necessárias para este importante edifício eram externalizadas, colocadas para fora, nas fachadas, como um esqueleto aparente que cobre o corpo vazio do interior.

O projeto do Centro Pompidou teve um papel-chave na carreira dos dois arquitetos, principalmente por ser responsável por colocar os seus nomes no espectro arquitetônico da época. O edifício foi um verdadeiro marco para o século XX, reforçando a ruptura do estilo Modernista e levando a discussão da arquitetura contemporânea para outras esferas. 

Centro Pompidou.
Centro Pompidou. Fonte: Paris Tourist Office 

Esta exteriorização estrutural e infraestrutural do edifício possibilita, contudo, que o seu interior seja completamente livre de obstruções, algo sempre desejado em lugares culturais.

Um edifício que, por fora, quer aparentar suas funções, identifica por cores seus componentes: branco para ventilação, instalações hidráulicas de verde, sistema elétrico em amarelo, prateado e vermelho para circulação. Ou seja, o resultado é um grande volume de estrutura metálica, onde percorrem tubulações coloridas de tamanhos consideráveis.

A circulação do edifício pode ser feita por um elevador, ou em um percurso feito através de uma série de escadas rolantes. Um caminho transparente, em constante relação com visuais para a cidade de Paris. 

Centro Pompidou.
Centro Pompidou. Fonte: Curbed

Em frente ao edifício, uma praça levemente inclinada, como um anfiteatro onde o palco é a arquitetura. Ou seja, um vazio urbano, constantemente apropriado por seus habitantes e seus visitantes. 

Inaugurado em 1977, ele abriga o Museu Nacional de Arte Moderna, conta com um acervo próprio e recebe exposições temporárias de todo o mundo. 

Lloyd’s Bank

Edifício Lloyd’s Bank.
Edifício Lloyd’s Bank. Fonte: Wikimedia Commons 

Alguns anos após a conclusão do Pompidou, Richard Rogers foi convidado para projetar a nova sede da seguradora Lloyd’s, em Londres. A obra foi finalizada em 1986.

A ideia de Rogers foi agregar inovação e tecnologia ao distrito financeiro medieval de Londres, um diálogo entre o novo e o antigo através da arquitetura.

Para o projeto, o Richard Rogers recorre à estratégia semelhante à utilizada no Pompidou, colocando para fora toda a infraestrutura funcional do edifício, liberando, o espaço interior.

A partir da criação de um átrio transparente, cria-se três torres, cada uma anexada a uma torre de serviço. 

O edifício apresenta-se à cidade com sobriedade e personalidade; as escadas circulares, revestidas com painéis metálicos prateados, adquirem presença especial no projeto. 

Terminal do Aeroporto Madrid-Barajas 

Terminal do Aeroporto de Madri-Barajas.
Terminal do Aeroporto de Madri-Barajas. Fonte: Archdaily

Inaugurada em 2006, o Terminal T4 do Aeroporto Madrid-Barajas, na capital espanhola, foi um projeto do escritório de Richard Rogers em parceria com o de Antonio Lamela, que constitui no complexo edifício de um terminal novo, a cerca de 3 quilômetros dos antigos. 

O projeto divide-se em três partes: o edifício do terminal que abriga voos domésticos e da área Schengen, com aproximadamente meio milhão de metros quadrados (distribuídos em seis níveis), bem como um edifício satélite, a cerca de 2 km deste, para a chegada de voos internacionais, com cerca de 300.000 metros quadrados, e o de estacionamento. 

Os dois primeiros são criados a partir da mesma lógica, de repetição de estrutura combinada de metal e concreto, onde pousa uma cobertura revestida de madeira no interior e metal no exterior.

Imagem da parte interna do Terminal do Aeroporto de Madri-Barajas, com seus pilares coloridos.
Terminal do Aeroporto de Madri-Barajas. Fonte: Archdaily

O conjunto de estrutura e cobertura compõe a estética do projeto, o uso da cor aparece nos pilares em “V” metálicos como forma de organizar a nave, possibilitando sua categorização. 

A cobertura ondulada parece flutuar sobre o edifício. Tal ilusão de ótica é alcançada através da “pele” de vidro que cobre as faces do edifício, bem como pela delicadeza da qual a cobertura apoia na estrutura. 

As claraboias generosas colaboram, portanto, para o banho de iluminação do espaço interior da nave. Um aeroporto criado para a fluidez espacial a grande escala, que permite seu uso intenso, de maneira organizada, simples e funcional. 

Para além do ser arquiteto 

Richard Rogers, além de ser conhecido como um arquiteto renomado, era também alguém muito querido entre seu círculo pessoal e profissional, como um amigo carismático, espontâneo e generoso. 

Rogers materializou, seus ideais sociológicos através da sua arquitetura; de um mundo mais democrático e livre, valores intrínsecos ao seu ser, desde muito pequeno. 

Através do entendimento do verdadeiro valor do arquiteto a quem projeta edifícios capazes de amparar as transformações sociais do mundo contemporâneo em constante mudança, Rogers criou edifícios flexíveis e generosos, como um reflexo de si no mundo coletivo. 

De acordo com as palavras do seu colega e amigo Renzo Piano:

”Richard Rogers é um grande arquiteto. É o único arquiteto que conheço que pode ser humanista às 9 horas da manhã, construtor às 11h, poeta antes do almoço e filósofo à hora do jantar. É o que chamo de grande arquiteto.”

Linha do tempo de Richard Rogers.
Ilustração da biografia de Richard Rogers. Fonte: Live
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Victória Baggio
Conteúdo criado por:Victória Baggio
Arquiteta com formação no Uruguai e Portugal, atualmente mestranda em projeto de arquitetura. Apaixonada pelo fazer e escrever sobre arquitetura.

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