Mies van der Rohe – Biografia e obras

Mies van der Rohe – Biografia e obras
Victória Baggio

Por Victória Baggio

07 janeiro 2021

Mestre da arquitetura moderna, Mies van der Rohe, arquiteto alemão naturalizado estadunidense, criou uma obra que segue influenciando a arquitetura até os dias atuais. 

Mies defendia e criava uma arquitetura em que conceitos como o da racionalidade e o da funcionalidade guiavam os projetos, e a beleza do edifício era resultante disso, o que chega ser duvidoso, afinal, seus edifícios apresentam uma beleza estética notável. Famoso pela frase “Less is more” (menos é mais), o arquiteto materializou uma arquitetura em síntese, de vanguarda, abstrata, para além do seu tempo. 

Biografia de Mies van der Rohe

Ludwig Mies van der Rohe nasceu em Aachen, cidade que, na época, fazia parte do Reino Alemão, em março de 1886. É nessa pequena cidade histórica que Mies vive sua infância e adolescência, quando começa a trabalhar como desenhista em empresas construtoras, onde tem a oportunidade de desenvolver uma capacidade extraordinária no desenho à mão livre e inicia seu envolvimento na arquitetura.

Após alguns anos trabalhando como desenhista para algumas empresas da cidade, o jovem foi encorajado, por um arquiteto local, a buscar emprego como projetista em Berlim. 

Entre 1908 e 1911, Mies colaborou com o arquiteto Peter Behrens, que na época era um profissional de destaque. Durante esse período, Mies conheceu Walter Gropius e Le Corbusier, arquitetos vanguardistas que influenciaram sua trajetória que, em 1912, com apenas 25 anos, levou-o a abrir seu próprio escritório de arquitetura.

Pavilhão Alemão em Barcelona.
Pavilhão Alemão em Barcelona.

Após a Primeira Guerra Mundial, Mies foi envolvido pelo desejo de construir de maneira funcional e objetiva, apropriando-se dos novos materiais e métodos construtivos industriais e influenciado pelos novos grupos que estavam surgindo, como o De Stijl, o construtivismo russo e a participação na revista G, que unia os movimentos de vanguarda. 

Com conceito arquitetônico notado, Mies foi convidado a lecionar na Bauhaus, fundada por Walter Gropius. Na última fase da escola, em Berlim, Mies atuou como diretor e foi quando o foco do ensino passou a ser a arquitetura. Porém, essa passagem foi breve, já que em 1933 a escola foi fechada pelo governo nazista.

É por causa do crescente nazismo que dominava a Alemanha que Mies, arquiteto socialista, decidiu abandonar o país para começar uma nova fase da vida nos Estados Unidos.

Mies estabeleceu-se em Chicago, onde assumiu o cargo de diretor no Instituto de Tecnologia de Illinois (IIT) durante 20 anos, além de projetar edifícios para o campus universitário, como o Crown Hall, sede do departamento de arquitetura do IIT. 

Nos seus 30 anos seguintes de vida, Mies viveu, projetou e construiu nos Estados Unidos, país do qual se tornou cidadão em 1949. Foi nessa segunda etapa de sua vida que o arquiteto desenvolveu sua obra em maior escala e de acordo com seus ideais. 

Arquitetura de Mies van der Rohe

A arquitetura de Mies van der Rohe é marcada por alguns recursos e conceitos que fazem com que seja, além de única, de extrema vanguarda para seu tempo. 

O arquiteto buscava, além de ir contra a arquitetura neoclássica e eclética, criar uma arquitetura modernista e internacional. 

Sua obra é marcada pelo uso de novos materiais industriais, estruturas metálicas e planos de vidro. A abstração é levada ao máximo, é conceito, é não ornamento, é materializada em racionalidade e funcionalidade.

A busca da essência construtiva é que guia as obras do arquiteto, em que os edifícios passam a ser estrutura, e a estrutura torna-se o edifício. Estrutura esta que é projetada com precisão, com cuidado no encontro de materiais e esquinas. 

Para Mies, o trabalho do arquiteto era justamente criar espaços vazios, para logo serem apropriados e preenchidos pela vida.

Casa Farnsworth 

A Casa Farnsworth, construída entre 1945 e 1951 em Plano, Texas, Estados Unidos, é a materialização do manifesto de Mies van der Rohe. Abstrata, simples e transparente como os principais objetivos do projeto. 

Edith Farnsworth, médica e docente, encarga Mies da construção de uma casa de final de semana no subúrbio de Plano, em um terreno rodeado de verde, que costuma alagar em tempos de chuva.

Casa Farnsworth, de Mies Van der Rohe.
Casa Farnsworth. Fonte: Pinterest

Dada essa particularidade do terreno, o arquiteto propõe uma casa elevada do solo, que parece pousar delicadamente no gramado. A casa, de planta retangular, é composta de poucos elementos e sua estrutura é feita a partir de lajes que se apoiam em pilares metálicos. O acesso se dá por dois pequenos lances de escadas, e entre eles um patamar, uma laje intermediária. 

Entre a laje de piso e a de cobertura está o vidro, que rodeia todo o perímetro do prisma. O fechamento vertical da casa é, portanto, transparente, desaparece, faz com que o exterior natural entre no interior artificial construído, desconstruindo o limite entre fora e dentro.

Um único elemento opaco e maciço, de madeira, serve a casa com cozinha, banheiros e armários. 

A inovação construtiva e o uso de materiais nobres resultaram em um custo excessivo, que, junto ao resultado final da obra, gerou desilusão e logo confronto da cliente com o arquiteto. 

Hoje em dia, a Casa Farnsworth funciona como casa-museu aberta ao público. Para isso, a casa passou por uma pequena reforma para refletir sua aparência na década de 1950. 

Pavilhão Alemão em Barcelona

No verão de 1928, quando Mies ainda residia na Alemanha, o governo do país  encomendou-lhe o projeto para o Pavilhão Alemão da Exposição Internacional de Barcelona, que aconteceria no ano seguinte.

Dada a escassez de um programa a seguir, a liberdade projetual tomou conta do arquiteto, que pôde, com esse projeto, materializar todos seus desejos arquitetônicos, de acordo a sua lógica vanguardista, moderna e internacional.

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Pavilhão Alemão em Barcelona. Fonte: Archdaily

O pavilhão é composto por pilares metálicos em cruz e planos verticais revestidos de pedras nobres, sobre os quais se apoiam finas lajes. A continuidade espacial e a perda de limites entre exterior e interior se dão de maneira fluida. 

Dois espelhos-d’água refletem a obra de maneira poética. A composição dos planos verticais acontece de forma harmônica. 

Por se tratar de uma exposição temporária, o pavilhão foi desmontado em 1930. Com o decorrer do tempo, o projeto passou a ser peça chave na trajetória de Mies e também da arquitetura do século XX. 

Tal reconhecimento possibilitou a reconstrução do pavilhão em 1983. Em 1986, o edifício foi reinaugurado no seu lugar original, em Montjuic, Barcelona.

O Pavilhão Alemão em Barcelona funciona como museu, é organizado pela Fundação Mies van der Rohe Barcelona e está aberto ao público. Pode ser visitado de maneira livre, percorrendo-se todo o espaço. 

Galeria Nacional de Berlim

O Projeto da Galeria Nacional de Berlim, museu para abrigar a arte do século XX, marca o retorno de Mies van der Rohe à Alemanha, depois de mais de 30 anos nos Estados Unidos.

Galeria Nacional de Berlim.
Galeria Nacional de Berlim. Fonte: Architectuul

Para o projeto, Mies utilizou vários de seus recursos recorrentes. Primeiramente, a criação de um solo artificial, a partir do qual estabelece relação com a cidade. Nesse caso, tal recurso é bastante oportuno, por tratar-se de um lugar que fora devastado pela guerra. 

O granito cinza é semienterrado e abriga coleções permanentes do museu. O espaço é iluminado por uma lateral completamente transparente, de vidro, que se comunica com um pátio, uma praça seca, com esculturas e árvores esbeltas. 

Acima da base, sólida e pesada, apoia-se um edifício contundente, leve e transparente, que contrasta com o primeiro. O edifício é composto por uma importante cobertura metálica quadrada, que se apoia em oito pilares também metálicos. Tais pilares localizam-se no perímetro dos lados do quadrado, deixando livres as quatro esquinas da cobertura e possibilitando uma enorme sala única, livre de apoios. 

O fechamento vertical de vidro transparente está alguns metros recuado do perímetro da estrutura, o que ressalta a continuidade espacial e a estrutura do edifício. O espaço único, aberto e homogêneo, dá lugar às exposições temporárias do museu. 

Dois núcleos fechados, revestidos de mármore, aparecem como os únicos elementos opacos e fixos no espaço, que servem o espaço com banheiros e escadas que conduzem à área semienterrada.

Parque Lafayette

Localizado em Detroit, Estados Unidos, o Parque Lafayette, inaugurado em 1959, constitui o maior conjunto de edifícios projetados por Mies van der Rohe. 

Em entorno verde com mais de cinco hectares, com paisagismo cuidadosamente projetado por Alfred Caldwell, surgem os edifícios habitacionais modernistas de Mies. O projeto foi elaborado em um contínuo trabalho em conjunto com o arquiteto, paisagista e planificador Ludwig Hilberseimer, que resulta em um complexo habitacional organizado, funcional, cuja beleza se dá pelos jardins, que se transformam a cada estação, em contraste com a arquitetura, fixa, ortogonal e industrial.

Parque Lafayette.
Parque Lafayette. Fonte: Dezeen

O conjunto de edifícios projetados por Mies van der Rohe para Lafayette é diverso em dimensões e programas: vai desde torres à construções de dois andares. A unidade do complexo está na estrutura e nos materiais dos edifícios.

De plantas retangulares, a estrutura dos edifícios é marcada pela ortogonalidade, por perfis metálicos e austeridade. Planos de vidro aparecem como o segundo material das construções, permitindo que o entorno verde se reflita nelas.

As torres, compostas por 22 andares, são a materialização do desejo de uma arquitetura puramente modernista, de uma cidade composta por torres em entorno verde. 

Parque Lafayette.
Parque Lafayette. Fonte: Dezeen

Os blocos baixos, de dois andares, conformam conjuntos de casas, uma ao lado da outra, e tal proximidade permite a variação da tipologia, que pode ser de 1, 2 e 3 dormitórios, sempre com a área do pavimento inferior diferente da do superior.

O Parque Lafayette segue conservado e ocupado por famílias até os dias atuais, como prova da atemporalidade e maestria do projeto. 

Casa Tugendhat, projeto de Mies Van der Rohe

Ao mesmo tempo em que Mies van der Rohe projetou o Pavilhão em Barcelona, criou a casa Tugendhat, encomendada pelo casal Tugendhat, conhecidos de Mies e admiradores da obra do arquiteto. Tal aproximação entre cliente e arquiteto foi o que possibilitou a liberdade tanto projetual quanto econômica dada ao arquiteto.

Casa Tugendhat.
Casa Tugendhat. Fonte: Archdaily

Localizada em um terreno íngreme, com vista para a cidade histórica de Brno, na República Tcheca, a obra é composta por volumes prismáticos que parecem se acomodar de acordo com a declividade do lugar, sendo os mais opacos e fechados aqueles que abrigam espaços de serviços, enquanto as salas de estar, de jantar e os dormitórios são abertos por planos de vidro generosos.

Um único espaço dá lugar às salas de jantar, de estar, à recepção e ao estúdio. Para subdividi-los, aparece um único elemento, um plano curvo de madeira, que contém a mesa de jantar. 

Móveis foram projetados especialmente para a casa, em colaboração com Lilly Reich. Essas peças logo se tornaram símbolos de Mies e do design modernista.

Tal como outras obras de Mies, atualmente a Casa Tugendhat funciona como museu aberto ao público. A casa está mantida como na época na qual foi construída, como emblema da arquitetura do arquiteto e história da arquitetura.  

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Victória Baggio
Conteúdo criado por:Victória Baggio
Arquiteta com formação no Uruguai e Portugal, atualmente mestranda em projeto de arquitetura. Apaixonada pelo fazer e escrever sobre arquitetura.

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