Marion Mahony Griffin – Biografia e obras
Por Victória Baggio
14 março 2022
Determinação, coragem e talento são os termos que definem a história de vida pioneira de Marion Mahony Griffin, a primeira mulher a se tornar arquiteta, cuja obra, por mais que belíssima, foi, durante mais de 100 anos, esquecida.
Hoje, colocamos à vista a trajetória e a obra de Marion, cujos desenhos são exibidos em exposições, estudados e admirados até os dias atuais. Um exemplo que merece atenção e valorização.
Por mais que, atualmente, o campo da arquitetura seja composto por profissionais de todos os gêneros, há não muito tempo a situação era bastante diferente. Uma área de conhecimento e de profissão majoritariamente masculina, machista e hierárquica, em que as poucas mulheres que tomavam a decisão de persuadir na carreira eram colocadas à sombra de homens, muitas vezes seus companheiros de vida.
Biografia de Marion Mahony Griffin
Marion nasceu em fevereiro de 1871, em Chicago, Estados Unidos, mesmo ano que aconteceu o Grande Incêndio de Chicago, o qual fez com que a família se mudasse para Winnetka, onde Marion cresceu.
Seu pai, Jeremiah Mahony, jornalista, faleceu quando Marion tinha apenas 11 anos, o que levou a mãe, Clara Hamilton, a estudar e a tornar-se professora. Determinada e feminista, fazia parte do Chicago Woman’s Club, que defendia os direitos das mulheres. Após anos de profissão, estabeleceu-se como uma respeitada diretora de escola.
O exemplo da mãe, com tal personalidade e ambição, refletiu no modo de pensar e atuar de Marion, e a impulsionou a, após terminar a escola, inscrever-se no curso de arte do desenho e da construção, no renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT), que na época era um ambiente, em sua maioria, masculino, especialmente nesta área de conhecimento e profissão.
Mas isso não intimidou Marion durante os anos de estudo, ao contrário, fez ser ouvida em salas onde ela era a única mulher. Tal força de vontade e foco tornou-a, em 1894, a segunda mulher a se formar como arquiteta, e a primeira a exercer a profissão.
A primeira a se formar, Sophia Hayden, desistiu de seguir o caminho como arquiteta, devido a fortes frustrações no tratamento entre colegas. Algo bastante compreensível em uma época na qual esta e outras áreas eram realizadas unicamente por homens, em que o machismo era uma constante, difícil de enfrentar sozinha.
Depois de formada, Marion viajou pela Europa e, logo ao retornar, deu início à sua carreira profissional. Colaborou no escritório de arquitetura de seu primo, Dwight Perkins, que dividia um espaço com outros arquitetos, entre eles, Frank Lloyd Wright. Apenas um ano após terminar a faculdade, em 1895, foi contratada para trabalhar com o renomado arquiteto, sendo a primeira mulher escolhida para fazer parte da equipe.
Marion permaneceu no escritório de Wright durante quase 15 anos, onde projetou casas, edifícios, móveis, vitrais, painéis decorativos e desenhou belíssimas perspectivas em aquarela. Apesar disso, todos os créditos do que realizava no escritório eram sempre destinados à Wright, encobrindo o talento da jovem arquiteta.
Durante toda a sua vida, Marion esteve à sombra de homens que eram os chefes dos escritórios para os quais trabalhou. Somente um século depois, após a sua morte, é que a arquiteta recebeu reconhecimento como a maior desenhista de arquitetura da sua geração, segundo o historiador Reyner Banham.
Foi através do filho de Frank Lloyd Wright, John Lloyd Wright, também arquiteto do escritório, que as contribuições de Marion Mahony Griffin começaram a ser visíveis, pois o arquiteto reconhecia o trabalho dela e de outros membros da equipe, e os valorizava como fundamentais para o desenvolvimento do prairie style, utilizado para as construções de casas nos subúrbios de Chicago na época.
Em 1907, Marion tem seu primeiro projeto próprio, de uma residência para o seu irmão, Gerald Mahony, em Elkhart, Indiana.
Quando Wright viajou para a Europa, em 1909, Marion assumiu o papel de arquiteta e desenhista de inúmeros projetos do escritório.
Em 1911, Marion Mahony se casa com o arquiteto e paisagista Walter Burley Griffin. Após isso, a arquiteta decide sair do escritório de Wright para trabalhar com o marido, tendo papel fundamental para o progresso do escritório.
As aquarelas desenhadas pela arquiteta para o concurso de projeto urbanístico em Canberra, na Austrália, foram essenciais para a vitória da equipe, que marcou a vida dos dois.
A maneira de projetar de Marion e suas representações gráficas continham um estilo único, que, neste caso, se tornou um dos maiores exemplos de arquitetura da cidade de Camberra. Contudo, tal contribuição feminina no projeto só viria a ser devidamente reconhecida muitos anos depois.
Por conta do triunfo no concurso, em 1914 o casal se mudou para a Austrália, com o objetivo de supervisionar a construção em Canberra. Enquanto isso, Marion também gerenciou o escritório do casal em Sydney, onde também realizava projetos privados em parceria com o marido.
Alguns anos depois, o casal se mudou para a Índia, onde Marion supervisionou projetos de mais de cem casas. Mas, após a morte do marido, em 1937, na Índia, Marion decide finalizar os trabalhos e voltar para os Estados Unidos.
Nos 24 anos que seguiram, como viúva, Marion continuou atuando como arquiteta, projetando, escrevendo e dando palestras.
A arquiteta faleceu em 1961, com 90 anos, em Chicago. Na época, ela lutava contra a demência, o que fez com que Marion morresse como indigente, e seu atestado de óbito não coincidisse com quem realmente era, professora e solteira.
Em sua memória, atualmente existe uma pequena placa no Cemitério de Graceland, em Chicago.
O lado de Marion da história
Após uma vida sendo colocada à sombra de colegas de profissão, e inclusive de seu marido, Marion Mahony Griffin foi “redescoberta” através de historiadores contemporâneos.
A publicação alemã, Ausgeführte Bauten und Entwürfe, que reúne uma coleção de desenhos de Frank Lloyd Wright, por exemplo, após o estudo de historiadores atuais, atribui à Marion mais da metade desses desenhos, aquarelas que, ao longo dos anos, foram reconhecidas entre as melhores já produzidas.
As belíssimas perspectivas em aquarelas, feitas por Marion Mahony, compuseram a obra de Frank Lloyd Wright, como marca do estilo do arquiteto e das prairie houses, embora este nunca tenha revelado que eram feitas por ela.
Algo semelhante ao que aconteceu em Canberra, na Austrália, onde desde a ideia de participar do concurso, como o projeto entregue e construído, era basicamente a partir de ideias e representações de Mahony, cujo reconhecimento foi dado automaticamente ao marido, Griffin.
Passado apagado e futuro à vista
Assim como Marion Mahony, muitas outras arquitetas e artistas foram apagadas, esquecidas na história da arquitetura. Felizmente, nos últimos anos, novas investigadoras têm feito minuciosos trabalhos de pesquisa sobre algumas delas.
Através da recuperação de materiais gráficos e escritos, leituras pessoais, análise de documentos etc., tem sido possível escrever um novo lado da história, de profissionais talentosíssimas, responsáveis por criações essenciais para a história e a contemporaneidade, que, ao longo das suas vidas e por muito tempo depois, haviam sido esquecidas, atrás de nomes masculinos que recebiam todos os créditos.
Além de Marion, importantes nomes foram colocados à vista, muitas delas, assim como a arquiteta, cujo trabalho foi feito ao lado dos seus parceiros amorosos e de profissão. Este é o caso de Ray Eames, Aino Aalto, Denise Scott Brown, por exemplo, além das artistas da Bauhaus.
Exemplos a ser seguidos, como de Lina Bo Bardi, Kazuyo Sejima, Carla Juaçaba, entre tantas outras, dão esperança de um futuro mais igualitário, no qual o poder feminino finalmente tem a oportunidade de iluminar o palco.
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