Kazuyo Sejima – Biografia e obras

Kazuyo Sejima – Biografia e obras
Beatriz Dilascio

Por Beatriz Dilascio

20 novembro 2021

Kazuyo Sejima é uma arquiteta japonesa consolidada por seus projetos que se caracterizam por suas formas limpas e seu estilo leve e fluido. Para ela, a arquitetura é como as pessoas se encontram no espaço, onde elas possam se reunir e conviver em harmonia.

História e conquistas de Kazuyo Sejima

Nascida em Ibaraki, Japão, no ano de 1956, encantou-se com o mundo da arquitetura ainda criança. Após ver uma foto de uma casa projetada por Kazuo Shinohara, ela gostou tanto que decidiu estudar arquitetura. 

E assim fez. Sejima cursou arquitetura na Universidade Feminina do Japão, uma universidade progressista que trabalhava com projetos em pequena escala. Ela se dedicou ao estudo minucioso da moradia. 

Sua primeira experiência foi no escritório do renomado arquiteto Toyo Ito e trabalhou lá até o ano de 1987. Nesse mesmo ano, Sejima fundou o seu próprio escritório Kazuyo Sejima & Associates, em Tóquio.

Já em seus primeiros projetos, é revelada uma preocupação com a transitoriedade e a neutralidade, e foi por essa visão que, em 1992, ela foi nomeada Jovem Arquiteta Japonesa do Ano do Instituto dos Arquitetos do Japão. 

Em 1995, Sejima, em parceria com seu ex-funcionário, criou um escritório de arquitetura chamado SANAA.

Arquiteta japonesa Kazuyo Sejima.
Arquiteta japonesa Kazuyo Sejima. Fonte: Pinterest

No ano de 2004, Kazuyo Sejima foi ganhadora do prêmio Leão de Ouro na Bienal de Veneza, com o projeto do Museu de Kanazawa. E, anos mais tarde, vieram mais premiações, como em 2005, o Schock Prize; e o Kunstpreis Berlin, em 2007.

Entre os anos 2005 e 2008, Sejima, com Nishizawa, ocupou a Cátedra Jean Labatut, na Escola de Arquitetura da Universidade de Princeton, em Nova Jersey, onde também atuou no conselho consultivo por muitos anos.

Mas foi no ano de 2010 que a arquiteta colocou o seu nome na história da arquitetura, ganhando o Prêmio Pritzker pelo seu trabalho com o seu sócio com os projetos New Museum, em Nova York, e o Centro Rolex, na Suíça.

Sejima and Nishizawa and Associates (SANAA)

A SANAA é um escritório de arquitetura fundado em 1995 por Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, ex-funcionário da arquiteta. Ela foi criada com o intuito de encarar e competir em equipe em grandes projetos e concursos internacionais. 

Entretanto, cada um dos arquitetos reserva um tempo para projetos menores que eles resolvem individualmente, como projetos residenciais, de interiores, entre outros. 

Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, fundadores do escritório de arquitetura SANAA.
Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, fundadores do escritório de arquitetura SANAA. Fonte: RealEstate

Como parte dos grandes projetos feitos pelo escritório, temos o New Museum de Nova York, IVAM na Espanha, Rolex Learning Center na Suíça e o Louvre-Lens na França. No Japão, projetaram os dois museus nacionais de arte mais importantes, o Museu de Arte Contemporânea do século XXI de Kanazawa e o O-Museum de Nagano.

A dupla explorava muito a relação entre o interior e o exterior, em que Sejima cita o ambiente natural de um edifício como sua principal inspiração, valorizando o espaço contínuo, a leveza e a transparência. E, por conseguir um ótimo equilíbrio, eles foram reconhecidos por serem, ao mesmo tempo, consistentes e por preservarem particularidades sobre sua localização. 

Muitas pessoas acreditam que Sejima e Nishizawa  trabalham com a arte contemporânea, justamente por realizarem esse estilo de arquitetura.

Como são desenvolvidos os projetos da SANAA

Os projetos da SANAA são pensados de maneira minuciosa, para que reflitam as características do escritório sem deixar de considerar as particularidades de cada um.

Primeiramente é estabelecido um programa de necessidades para começar a desenvolvê-los, depois as plantas, com as disposições dos ambientes todos pensados da melhor forma possível.

Outra característica muito forte do escritório é a preocupação com a topografia do terreno e do seu entorno imediato e também a interação entre os espaços e seus potenciais.

E todo esse processo, com reflexões importantes e cuidadosas, revela um estilo muito especial de arquitetura. Os projetos possuem uma aparência simples e refinada, com elementos lúdicos, formas livres e curvas.

Essa liberdade criativa é o que fez os trabalhos desse escritório serem reconhecidos no mundo todo.

Kazuyo Sejima na Japan House

A Japan House pode ser entendida como um ponto de difusão de todos os elementos da cultura japonesa. No ano de 2019, a Japan House, dentro de uma nova iniciativa, criou o projeto “O Japão no Pritzker – Legado arquitetônico no cenário contemporâneo”, que celebrava a representatividade do Japão no prêmio.

E quem abriu as palestras desse projeto foi a arquiteta Kazuyo Sejima, segunda mulher na história a ganhar o prêmio Pritzker. Sua palestra foi referente à sua trajetória solo e também dentro de seu escritório SANAA.

Entre-Tempo: Vistas de Tóquio

Mais um projeto realizado pela Japan House com participação de Sejima. Trata-se de uma série de vídeos em que o ponto de partida são as janelas, com o objetivo de mostrar as diversas possibilidades e perspectivas.

Foram convidadas cinco personalidades importantes para compartilhar suas visões e sensações a partir das aberturas de seu cotidiano ⏤ suas casas, ateliês, escritórios, entre outras. 

Em seu quarto episódio, a série conta com o depoimento de Kazuyo Sejima, e ela fala sobre a perspectiva de seu escritório, sobre a construção de aberturas e suas relações entre o interior e o exterior. 

No vídeo, ela também menciona a importância das suas vindas ao Brasil para a composição de sua própria janela, com abertura para seu lindo jardim, o qual Sejima chama de “jardim brasileiro”, pois, em sua última vinda ao Brasil, ela se encantou com o jardim de um amigo e quis fazer um parecido. 

As encantadoras obras de Kazuyo Sejima

Rolex Learning Center

O Rolex Learning Center foi inaugurado em 2010, e é um espaço de biblioteca e aprendizagem por meio de diferentes métodos. 

Foi financiado pela Confederação e por grandes empresas suíças. O local conta com uma das maiores coleções de literatura científica da Europa, possuindo mais de 500.000 volumes.

Possui também tecnologias educacionais com inovações para abordagem do público com textos e aprendizagem; essas tecnologias estão presentes tanto em sua construção quanto em seu layout.

O piso com ondulações do Rolex Learning Center.
O piso com ondulações do Rolex Learning Center. Fonte: Archdaily

O edifício possui uma planta retangular, porém o seu piso e o seu telhado possuem uma ondulação deixando a forma do edifício mais orgânica. 

O local oferece salas de trabalho, um grande auditório e alguns “pátios” externos um pouco arredondados que funcionam como espaços sociais que criam uma ligação entre o interior e o exterior. 

Além disso, a topografia é utilizada de maneira muito inteligente para organizar o programa de necessidades de modo que os espaços estejam separados e conectados ao mesmo tempo.

O Rolex Learning Center é um edifício que possui o rótulo Minergie, um padrão utilizado na Suíça para medir a excelência ambiental dos edifícios, por ter um baixo consumo de energia.

Louvre Lens

O Louvre Lens é um museu localizado em um terreno que antigamente era uma grande mina de carvão, e esse espaço foi escolhido pela intenção de este participar na conversão da área de mineração, mantendo a riqueza do seu passado industrial. 

Os arquitetos pensaram nesse projeto de modo que a estrutura fosse baixa e de fácil acesso, para que este se integre ao local sem ter tanta imponência. Ao total, são cinco edifícios formados por aço e vidro, quatro deles com formato retangular e um quadrado.

Museu Louvre Lens feito pelo escritório SANAA
Museu Louvre Lens feito pelo escritório SANAA em colaboração com o estúdio Imrey Culbert, a paisagista Catherine Mosbach e os museógrafos do Studio Adrien Gardère. Fonte: Archdaily

Suas fachadas refletem o parque à frente, o que garante a continuidade entre o museu e a paisagem. 

A luz natural entra nas galerias por painéis de vidro no telhado, porém eles não recebem uma entrada direta de luz natural, isso porque existem fileiras de persianas que impedem essa entrada. 

Por fim, o museu também possui um espaço grande, porém invisível, que é dedicado às funções de serviço para o público e também para armazenamento e funções logísticas.  

Novo Museu de Arte Contemporânea

O Novo Museu de Arte Contemporânea foi fundado há muito tempo por Marcia Tucker, em 1977, no bairro de West Village. Sua missão era promover a nova arte e as novas ideias. 

Ele foi reaberto três décadas depois no distrito de Bowery, em Nova York, ainda com a proposta de estar em um local de experimentação contínua. Essa nova construção dá um ar elegante e urbano ao edifício, com formas simples procurando integrar-se com o bairro comercial de Bowery.

Novo Museu de Arte Contemporânea em Bowery.
Novo Museu de Arte Contemporânea em Bowery. Fonte: CasaeJardim

A ideia desse espaço é torná-lo tanto um lugar para abrigar a arte quanto ser uma incubadora de novas ideias para o futuro.

O edifício possui sete andares, feitos com sete cubos retangulares desconexos, brincando com a luz do dia. Dessa forma, a estrutura parece ser monolítica, porém com o seu interior dinâmico. 

Galeria Nacional de Budapest

O projeto foi desenvolvido pelo escritório SANAA, após ganharem um concurso em 2015 que teve empate técnico entre eles e o escritório Snohetta. 

Martha Thorne, diretora-executiva do Prêmio Pritzker e professora da Faculdade de Arquitetura e Design da IE University, explica que o escritório SANAA levou a competição, pois, mesmo que os dois tenham realizado um bom trabalho, o governo da cidade optou pela proposta do SANAA. 

A Galeria Nacional de Budapest está no mesmo edifício do Museu Ludwig, mas são administrados separadamente. A Galeria abriga uma coleção de arte húngara e internacional, já o Museu Ludwig é destinado à arte contemporânea. 

Galeria Nacional de Budapest desenvolvida pelo escritório SANAA.
Galeria Nacional de Budapest desenvolvida pelo escritório SANAA. Fonte: Archdaily

Porém, mesmo operando de modo independente, o projeto terá no mesmo andar as galerias de exposições permanentes das duas instituições.

Sobre o projeto, Sejima diz que a escala do projeto é apenas um detalhe, o que importa é que ela se adéque ao entorno, para que ele converse bem com o espaço em que se localiza. 

Essa construção faz parte de um projeto chamado Liget Budapest, o qual tem como objetivo renovar o parque Városliget, que possui 200 anos de existência. Além da galeria e do museu, existem outros cinco projetos, em que um deles foi projetado pelo arquiteto Sou Fujimoto. 

Escritório SANAA vence um concurso internacional em 2021

Kazuyo Sejima e seu sócio Ryue Nishizawa ganharam o Concurso Internacional de Arquitetura, com a proposta denominada The Cloud on the Ocean para o novo Museu Marítimo de Shenzhen, na China. 

Foram mais de 88 projetos julgados nesse concurso, os quais foram desenvolvidos em parceria entre mais de 170 escritórios de arquitetura com 20 diferentes nacionalidades. 

Já na segunda etapa deste concurso, apenas 15 equipes participaram, e a grande vencedora foi a proposta apresentada pelo escritório SANAA.

Como o próprio nome sugere, a inspiração para o projeto do novo museu foi a paisagem natural, as montanhas e o mar, para criar um edifício moderno e, ao mesmo tempo, com as raízes da cultura local. 

O projeto terá uma grande coleção de objetos e obras de arte, um centro de formação e pesquisa em ciências marinhas e também será um novo centro de referência para a vida cultural em Shenzhen.

A proposta ainda visa ampliar o parque ecológico no qual ele está inserido para transformá-lo em um centro cultural.  

Sua cobertura foi idealizada a partir de uma estrutura espacial em aço, fazendo com que a construção seja mais leve, delicada e suave, integrando o edifício à paisagem litorânea. 

Museu Marítimo de Shenzhen, projetado pelo escritório SANAA.
Museu Marítimo de Shenzhen, projetado pelo escritório SANAA. Fonte: Archdaily

O museu possui em toda a sua extensão espaços abertos, o que permite criar um jogo de luzes e sombras e brincar com a questão do interior e do exterior. Já a superfície da cobertura é o que forma a “nuvem” flutuante onde se encontra o programa do museu. 

Essa solução construtiva permitiu a criação de espaços sem estruturas secundárias, ou seja, os famosos pilares que ficam no meio dos edifícios. Isso proporcionou uma maior conexão e autonomia dos espaços do museu. 

Foram utilizados nesse projeto materiais leves e transparentes para criar algumas soluções espaciais, que são os espaços transparentes, opacos e translúcidos, onde cada um deles é pensado de acordo com as características de cada programa.  

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Beatriz Dilascio
Conteúdo criado por:Beatriz Dilascio
Arquiteta apaixonada por arte e decoração, sempre buscando por inovações e aprender cada dia mais.

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