Edifício Louveira – Que prédio é esse?
Por Victória Baggio
09 abril 2022
Gentil e elegante, o Edifício Louveira foi um marco na arquitetura moderna brasileira; sua localização privilegiada em São Paulo, apartamentos com ambientes especiais e o charme da década de 50 tornam este um dos mais queridos da cidade.
Sua arquitetura, projetada por José Vilanova Artigas, que combina formas geométricas puras com linhas orgânicas, em diálogo com o paisagismo tropical, faz com que o Edifício Louveira roube a atenção de quem passa na praça em frente ou pelas ruas do entorno.
Tombado pelo Condephaat em 1993, o edifício é cuidadosamente preservado mantendo seu aspecto original integral.
A sutileza do limite entre cidade e casa
Estar caminhando pela calçada e entrar em um edifício sem se dar conta é algo raríssimo de acontecer hoje em dia, principalmente em cidades como São Paulo, porém algo possível e corriqueiro no Edifício Louveira
Sem grades ou muros, a gentileza da arquitetura do edifício estabelece limites entre a rua e o condomínio de modo delicado, através da vegetação do jardim, de uma marquise, de desníveis construídos.
Localizado em um terreno de esquina, com fachada de maior dimensão para rua Piauí e a menor para a Praça Vilaboim, um triângulo verde no cruzamento entre três ruas, o Edifício Louveira surge criando uma extensão da praça.
A partir de duas lâminas residenciais, paralelas ao lado de maior dimensão do terreno, construídas com um espaço entre elas, cria-se uma praça verde, um pátio que articula as duas torres através de um desenho orgânico de passarelas em rampas.
O caminho entre um edifício e outro é feito sobre uma vegetação tropical, elevada do solo, proporcionando visuais para o térreo urbano e os apartamentos.
A vida da cidade participa da do condomínio, e vice-versa. Uma arquitetura que forma urbanidade à escala de bairro.
A arquitetura do Edifício Louveira
Construído em 1950, projetado pelos arquitetos João Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, o Edifício Louveira foi criado a partir de conceitos e utilizando a linguagem do Modernismo, que, no Brasil, teve novas leituras e adaptações por conta do clima tropical.
Duas lâminas que parecem voar sobre um térreo livre, dotado de vegetação tropical e acessos sinuosos, cores sutis em tons pastéis, em contraste com elementos cor laranja vibrante.
Os dois edifícios que compõem o condomínio contêm a mesma planta e fachadas, sua única diferença está no térreo, onde a lâmina que conforma a esquina do terreno contém apenas um apartamento, deixando a metade livre, onde está o acesso ao residencial.
O racionalismo moderno se materializa claramente neste projeto através da planta. Tirando partido da orientação solar, o projeto dispõe de áreas de estar, sociais e íntimas, dos apartamentos para a fachada nordeste, enquanto as zonas de serviços, banheiros e cozinhas ficam para o lado sudeste.
Tal resolução em planta é refletida nas fachadas longitudinais dos edifícios, enquanto o lado nordeste é feito praticamente inteiro por aberturas; ora panos de vidro transparentes, ora venezianas de correr de madeira, a fachada sudeste recebe um tratamento próprio de áreas de serviço, combinado com uma circulação vertical aberta.
Já as laterais dos edifícios são empenas cegas, revestidas de pequenos ladrilhos quadrados de cor azul claro, criando um enquadramento para as fachadas longitudinais, onde primam aberturas e vãos.
A harmonia do Edifício Louveira, algo notável a simples vista ao condomínio, pode ser explicada devido à modulação, que rege inteiramente sua arquitetura. A partir da criação de um módulo, o edifício estabelece relações de proporções e submódulos, fazendo com que tudo encaixe perfeitamente, brindando o projeto com unidade e consistência.
Outro mecanismo modernista presente no Edifício Louveira são os elementos de circulação e acesso no térreo do edifício. Em oposição à ortogonalidade do conjunto, estes são criados a partir de linhas orgânicas, formas sinuosas, sem seguir a modulação e a ortogonalidade da arquitetura.
A rampa passeio que conecta os dois edifícios, a escada de acesso ao condomínio na esquina do terreno, rotacionada a respeito da estrutura, elementos entendidos como únicos, criados como personagens especiais do projeto, brindando-o com um fator surpresa, de movimento, tal como o dos moradores e dos visitantes ao utilizar tais mecanismos.
Os apartamentos do Edifício Louveira
Espaços arejados, bem-iluminados, espaçosos ao mesmo tempo que aconchegantes, são algumas das características dos apartamentos do Edifício Louveira, um dos mais desejados de São Paulo.
Cada lâmina contém duas unidades por planta, todas com a qualidade de ser passantes, isto é, que permitem ventilação cruzada, ao ter frente para duas fachadas opostas.
A estrela do apartamento é a varanda, uma extensão da área social, totalmente envidraçada, cuja dimensão que tende ao quadrado possibilita múltiplos usos, com a qualidade de um ambiente coberto da intempérie, ao mesmo tempo que partícipe da natureza que o circunda.
Os arquitetos do Edifício Louveira
O Edifício Louveira foi projetado pelos arquitetos João Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi.
Artigas, arquiteto e professor, foi um dos maiores representantes do Brutalismo no Brasil, autor de projetos emblemáticos como o edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, totalmente em concreto aparente.
Cascaldi fora aluno de Artigas, entre 1948 e 1955, trabalhou em conjunto como antigo professor em diversos projetos, públicos e privados, tanto em São Paulo como no Paraná.
O Modernismo tropical de Higienópolis
O Modernismo foi um estilo arquitetônico adotado em diversos lugares do mundo, incluindo o Brasil, mas aqui tal linguagem foi nutrida de elementos puramente nacionais e colocada em conjunto a um paisagismo de espécies tipicamente nacionais, fazendo um estilo internacional passar a ter um aspecto tropical, criando um Modernismo que só é encontrado em terras brasileiras.
O Edifício Louveira é um claro exemplo disso, onde as linhas rígidas do Modernismo racional encontram a curva, a cor vibrante, as vegetações rasteiras de folhas exuberantes, como a Costela de Adão.
Além desta obra, o bairro de Higienópolis conta com joias modernistas que também partilham tal aspecto brasileiro. Térreos onde o verde toma conta e estabelece interessantes jogos com elementos curvos de circulação, com murais de artistas nacionais, esculturas, brises etc. Um campo rico de estudo para amantes desse período arquitetônico.
Outro conhecido exemplo deste Modernismo tropical é o Parque Guinle, no Rio de Janeiro, obra do arquiteto Lucio Costa, conhecido pelo uso do cobogó.
Visite o Edifício Louveira
Apesar de ser um condomínio residencial, é possível visitar a área exterior do Edifício Louveira, admirar sua implantação, o belíssimo desenho das fachadas, sua arquitetura modernista como um todo. Ainda é possível observar o jardim, onde a vegetação tropical cria uma atmosfera única.
Endereço: Rua Piauí, n° 1081, Higienópolis, São Paulo
Aproveite o entorno para fazer um circuito arquitetônico
Ao se encontrar no coração de Higienópolis, uma boa dica é aproveitar o passeio e conhecer outras pérolas da arquitetura modernista presentes no bairro, como o Edifício Lausanne, do arquiteto alemão Franz Heep, obras de Artacho Jurado, como o Edifício Cinderela, o Edifício Bretagne e o Edifício Parque das Hortênsias, além de tantos outros belos edifícios espalhados pelas arborizadas ruas da região.
Caso deseje seguir com o passeio arquitetônico, aproveite a proximidade de Higienópolis com o Centro de São Paulo, o Copan pode estar bem mais perto do que você imagina.
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