Conheça a atuação de importantes arquitetas ao longo da história
Por Thainá Neves
18 março 2022
As mulheres arquitetas representam mais de 60% dos profissionais registrados, de acordo com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo brasileiro. No entanto, mesmo que sejam a maioria em números, o reconhecimento de figuras femininas se manteve baixo ao longo dos anos, como mostra o 1° diagnóstico de Gênero na Arquitetura e Urbanismo.
Esse paradoxo fica evidente quando se observam as grandes diferenças nos salários recebidos entre os gêneros, além do fato de as mulheres ocuparem menos cargos de gestão, entre outras questões como a maternidade e o assédio no ambiente de trabalho.
As dificuldades relacionadas ao gênero nesse setor existem desde o surgimento da arquitetura como profissão, quando era considerada uma atividade estritamente desenvolvida por homens. No entanto, apesar de todo o contexto repleto de barreiras, há mulheres arquitetas com carreiras impressionantes e com produção com elevada qualidade.
Mulheres na arquitetura eclética
As primeiras mulheres chamadas arquitetas, por exercerem a carreira profissionalmente, possuem em comum a busca da harmonia entre o antigo e o novo. Dessa maneira, mesmo os mais conservadores de seus projetos possuem algum elemento novo que pode ser comparado à busca por liberdade na profissão.
Marion Mahony Griffin
Marion é considerada uma das primeiras mulheres a percorrer os caminhos profissionais na arquitetura, resultando em um vasto trabalho com exemplares na Austrália e em países da América do Norte. A arquiteta foi a segunda mulher a se formar em arquitetura, concluindo o curso pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) no ano de 1894.
Sua mãe foi uma figura extremamente importante para a trajetória disruptiva da arquiteta, pois desde sempre participou de grupos que lutavam pelos direitos das mulheres e traçou uma carreira de destaque na área da educação escolar.
A relevante contribuição de Marion Mahony Griffin é vista em diversos projetos do arquiteto Frank Lloyd Wright, com quem trabalhou durante anos. Posteriormente, Marion casou-se com o arquiteto Walter Burley Griffin, com quem desenvolveu inúmeras obras seguindo os conceitos do estilo arquitetônico denominado Prairie School.
O estilo de projeto da arquiteta é bastante eclético, contando com elementos que apontam para o início da arquitetura moderna.
Julia Morgan
Julia Morgan foi a primeira mulher a fundar o próprio escritório de arquitetura nos Estados Unidos, chegando a produção de mais de 700 obras ao longo de sua carreira. Arquiteta e engenheira formada, Julia esteve sempre próxima de associações femininas que acabaram por compor a sua cartela de clientes e fortalecer a carreira.
Seus projetos possuem características bastante ecléticas, demonstrando a flexibilidade da arquiteta em projetar de acordo com o contexto. Como resultado, há cenários encantadores e extremamente funcionais nos interiores de suas construções.
A arquitetura moderna desenhada por arquitetas
Com a entrada de mais mulheres para a arquitetura, a contribuição de arquitetas ficou ainda mais evidente no Movimento Moderno.
Aino Aalto
Aino Aalto recebeu o título de arquiteta no ano de 1920 por conta de seu trabalho diversificado no design e na arquitetura construtiva. A arquiteta contribuiu de maneira ativa no design de interiores, no desenho de mobiliário e de objetos em vidro, trabalhos com forte conceito da arquitetura funcionalista do Modernismo.
Aino chegou a vencer uma competição de design com seus célebres copos desenvolvidos em vidro, remetendo a anéis de água. Objetos que até hoje inspiram releituras de renomados designers.
Após se casar com o arquiteto Alvar Aalto, quase todos os projetos passaram a ser desenvolvidos em conjunto. Considerando que Alvar é reconhecido por suas obras, essa parceria só valoriza o trabalho da arquiteta visto que ela esteve envolvida na maior parte deles.
Lina Bo Bardi
Lina Bo Bardi nasceu na Itália e se naturalizou no Brasil, abraçando movimentos revolucionários que propunham espaços nos quais a cultura popular pudesse se manifestar. A arquiteta foi uma figura extremamente importante para o Modernismo brasileiro, tanto que diversas de suas obras se tornaram marcos históricos, especialmente no estado de São Paulo.
Para Lina, a completude de um edifício acontece por meio do uso dado pelas pessoas e, por isso, a sua obra tem um caráter popular único. É o caso do edifício do MASP, que complementa a paisagem da Avenida Paulista, sendo um importante centro para as manifestações políticas, sociais e artísticas.
Pós-Modernismo pensado por arquitetas
O Pós-Modernismo foi um momento de produções importantes, representando a necessidade de mudança e rompimento com padrões que já não faziam sentido para a realidade das pessoas. Grandes arquitetas contribuíram para o desenvolvimento de novos pensamentos projetuais nesse momento.
Denise Scott Brown
Com posição crítica em relação ao Modernismo, Denise Scott Brown publicou livros e desenvolveu obras em parceria com seu esposo Robert Venturi. Além disso, a arquiteta lecionou em instituições como as Universidades da Califórnia, Yale e Harvard.
Denise possui um olhar bastante investigativo em relação à maneira como a cultura pop molda a arquitetura, portanto, defende uma maneira mais eclética de se projetar, abandonando parâmetros que limitam a criatividade. Da mesma forma, defende a criatividade conjunta que se expressa como trabalho colaborativo que caminha por diversas áreas do conhecimento.
Ao longo de sua carreira, recebeu diversos prêmios como o AIA Firm Award e o Visionary Woman Award, mas um fato que marca a carreira da arquiteta é o recebimento do prêmio Pritzker unicamente por Robert Venturi em um trabalho realizado por ambos.
Gae Aulenti
Arquiteta e designer de produtos, a italiana Gae Aulenti produziu obras autênticas em estilo Neoliberty, um movimento surgido no período pós-guerra que possui olhar atento à produção detalhada e artesanal. Na época, Gae era uma das poucas mulheres a atuar no setor, o que faz seu trabalho ainda mais especial.
Os primeiros de seus trabalhos foram executados no ano 1950, tendo como marca registrada o seu estilo que se opunha às tendências passageiras. A arquiteta atuou em arquitetura construtiva, cenografia teatral, design de interiores e, além disso, possui vasta produção de mobiliário e objetos decorativos.
Mulheres na arquitetura contemporânea
Com estilos distintos entre si, há mulheres arquitetas que fizeram e fazem toda a diferença na maneira de pensar as cidades do século XXI. Novos caminhos para a arquitetura ainda hoje são descobertos por conta do trabalho dessas brilhantes arquitetas que dedicam suas vidas a projetar o futuro.
Zaha Hadid
Dama Zaha Hadid é sinônimo da arquitetura desconstruída e pouco óbvia, aspecto que rendeu à arquiteta o Prêmio Pritzker 2004. Zaha foi a primeira mulher a receber a premiação e, sem dúvidas, a sua existência representou um avanço inestimável para a arquitetura.
Suas obras parecem desafiar as leis físicas do universo por conta da estética totalmente única e futurista. Isso porque seguem o estilo desconstrutivista, celebrando a irregularidade e se distanciando do que seria o edifício ideal, de acordo com os padrões de cidade.
Um dos objetivos de Zaha era criar arquiteturas que só existem na imaginação, e atualmente o seu escritório segue materializando essas obras.
Kazuyo Sejima
Dona de um estilo que prioriza a relação entre o interno e o externo, Kazuyo Sejima possui traços que lhe renderam o título de Jovem Arquiteta Japonesa e outros tantos prêmios, incluindo o Leão de Ouro na Bienal de Veneza e o prêmio Pritzker 2010.
A transparência que conecta espaços, os traços leves e fluidos são marcantes em suas obras, conforme fica evidente na filial do Museu do Louvre, na França. O edifício parece construído em metal, vidro e luz, intervindo minimamente na paisagem do parque que o contorna.
À frente do estúdio SANAA, a arquiteta segue desenvolvendo projetos por todo o mundo.
Jeanne Gang
Formada pela Harvard Graduate School of Design, Jeanne Gang possui um currículo repleto de experiências, incluindo a colaboração no escritório do renomado arquiteto Rem Koolhaas.
Jeanne Gang é a primeira arquiteta do mundo a projetar um arranha-céu. Gang defende que esse modelo de construção é o ideal para acompanhar o futuro das cidades, visto que elas tendem a crescer em níveis que a expansão horizontal não poderia suportar.
O que mais chama atenção no discurso de Gang é a possibilidade de aliar verticalização à sustentabilidade, resultando em projetos inteligentes e com estética única. Para a arquiteta, o design possibilita que mesmo torres super altas funcionem com eficiência na escala do bairro, sem que se transformem em barreiras para a cidade e para o meio ambiente.
Odile Decq
Odile Decq é uma premiada arquiteta francesa que possui um estilo bastante único em seus projetos. Além disso, possui uma vida dedicada à luta por equidade de gêneros no mundo da arquitetura.
Odile é fundadora do Studio Odile Decq, o qual trabalha em diversas escalas, desde urbanismo até design de interiores e de mobiliário. Para ela é importante que os jovens arquitetos sejam ousados, tenham uma personalidade própria e se expressem com força e clareza.
É exatamente o que Odile faz em seu trabalho, pois a luz e a cor assumem protagonismo, criando cenas impactantes e espaços funcionais.
Para a arquiteta, as jovens não são educadas para serem suficientemente seguras de si em qualquer profissão. No entanto, isso deve mudar, pois nós, mulheres, somos totalmente capazes de exercer a tarefa que desejarmos e de ocupar os mais diversos espaços profissionais.
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