Parque da Juventude: novos recomeços em meio à história e à natureza

Parque da Juventude: novos recomeços em meio à história e à natureza
Giovana Costa

Por Giovana Costa

03 setembro 2021

O Parque da Juventude Dom Paulo Evaristo Arns, popularmente conhecido como Parque da Juventude, está localizado na Zona Norte de São Paulo. Trata-se de um verdadeiro complexo cultural, cercado por vegetação nativa, atividades de recreação, práticas esportivas e recomeços.

O parque é conhecido pela sua ampla área verde, seus espaços recreativos e pela valorização que proporcionou à região. Afinal, após ocupar o espaço que antes era destinado ao Complexo Penitenciário Carandiru, trouxe novas possibilidades para todos.

Marcando a região por meio da ressignificação que fez no ambiente, o Parque da Juventude carrega consigo muito da história de São Paulo (e até mesmo do Brasil), oferecendo novas perspectivas para quem o visita.

Origens relacionadas ao Complexo Penitenciário Carandiru

Em 1956, na região do córrego Carandiru, também conhecido como Carajás, foi inaugurado o maior presídio da América Latina, o Complexo Penitenciário Carandiru. 

O complexo penitenciário surgiu da junção da Penitenciária do Estado, criado em 1920, e da Casa de Detenção, inaugurada em 1965.

Ainda no entorno da região foram instalados o Presídio de Mulheres (1942), que passou a ser chamado Penitenciária Feminina da Capital em 1973. Posteriormente, em 1983, foi inaugurado o Centro de Observação Criminológica.

Antiga Casa de Detenção de São Paulo, numa foto antiga, em preto e branco, da década de 1960.
Antiga Casa de Detenção de São Paulo. Fonte: SP In Foco

Quando foi originado sob a tutela do escritório Ramos de Azevedo, o presídio estava localizado em uma região pouco habitada, como normalmente acontece com outros locais que funcionam como cárceres. 

Entretanto, com o desenvolvimento urbano na região, o local passou a ser cercado por uma maior densidade populacional.

E, assim, durante décadas, a presença do presídio naquele espaço passou a ser enxergada como uma contradição. Afinal, as diversas tentativas de fuga de alguns detentos e o clima de hostilidade ameaçavam a segurança no local e contribuíam com a desvalorização da região.

Imagem aérea vista de cima do Complexo Penitenciário Carandiru quando ainda estava ativado.
Imagem aérea do Complexo Penitenciário Carandiru quando ainda estava ativado. Fonte: SP In Foco

A prisão funcionava com superlotação, chegando a abrigar mais de 8 mil presos, e foi palco de muita violência, incluindo um dos piores episódios da sua história. Em 1992, por exemplo, 111 pessoas foram mortas e a brutalidade marcou o espaço, levando à desativação do presídio.

Até que, em 2002, o Complexo Penitenciário Carandiru foi implodido, e então, o Governo do Estado de São Paulo decidiu utilizar o espaço de outra forma, transformando-o em um parque dedicado ao lazer e ao contato com a natureza.

História do Parque da Juventude

Croqui desenvolvido pela arquiteta e urbanista Rosa Kliass para as áreas do Parque da Juventude.
Croqui desenvolvido pela arquiteta e urbanista Rosa Kliass. Fonte: Pinterest

Com a proposta de ressignificar o espaço, para assim valorizar a região e possibilitar uma nova perspectiva aos moradores daquela área, o Governo do Estado de São Paulo promoveu um concurso público para criar um projeto arquitetônico para dar vida ao parque, em 1998. 

O escritório Aflalo e Gasperini foi o vencedor, o qual trabalhou em conjunto com a arquiteta paisagista brasileira Rosa Grena Kliass, responsável por desenvolver o projeto de todas as áreas do parque.

Rosa Kliass, que inclusive participou da reforma da Avenida Paulista, em São Paulo, em 1973, é reconhecida pelo seu talento em projetar espaços livres, respeitando questões ambientais, de maneira a inspirar a vivacidade das cidades.

Projeto arquitetônico do Parque da Juventude

Imagem área vista de cima das três áreas propostas do projeto arquitetônico de Rosa Kliass, que foram concebidas em etapas graduais.
As três áreas propostas do projeto arquitetônico de Rosa Kliass foram concebidas em etapas graduais. Fonte: Pinterest

Kliass desenvolveu o projeto do Parque da Juventude de maneira a segmentá-lo em três áreas:

  • 1) Área Esportiva: espaços onde estão localizadas as pistas de caminhadas e de skate e as quadras poliesportivas, com entrada pela Avenida Zaki Narchi, em Santana;
  • 2) Área Central: ambientes onde os visitantes têm a possibilidade de aventurar-se em trilhas e descobrir um pouco mais da história do local;
  • 3) Área Institucional: locais direcionados à educação e ao aprendizado. Nela é possível encontrar a Biblioteca de São Paulo (BSP) e as ETECs (Escolas Técnicas: Parque da Juventude e das Artes).

Área Esportiva

Ampla área verde do Parque da Juventude, onde pessoas caminham e andam de bicicleta.
O Parque da Juventude possui grandes porções de vegetação nativa. Fonte: Áreas Verdes das Cidades

Durante a construção da Área Esportiva, com 35 mil m², em sua primeira etapa, além das quadras e das pistas de skate, Kliass fez questão de focar no paisagismo.

O Parque da Juventude foi inaugurado em 2003, revelando uma reserva natural com mais de 55 mil m² de Mata Atlântica. Assim, contando com diferentes espécies nativas da flora brasileira, o que também faz do parque um espaço de preservação da área verde remanescente em meio à trama urbana.

Além da bela área verde, o complexo também conta com instalações para práticas esportivas, incluindo quadras poliesportivas e pistas de skate que estão localizadas na Área Esportiva, áreas de lazer (inclusive para os pets), bem como espaços para atividades ao ar livre e, até mesmo, para apresentações culturais e outros eventos.

Jovens treinam suas manobras nas pistas de skate e jogam basquete nas quadras reservadas para a prática esportiva no Parque da Juventude.
Jovens treinam suas manobras nas pistas de skate e jogam basquete nas quadras. Fonte: Nelson Kon

Apesar das podas recentes que surpreenderam os frequentadores mais assíduos do parque, o complexo sempre recebeu novos plantios de espécies nativas e ameaçadas de extinção. Portanto, complementando a paisagem do local e promovendo mais segurança para a fauna, sobretudo de aves, e a flora, possui muita diversidade ambiental.

Área Central

Espaço da área central do parque que foi proposto para contemplação, conta com pequenas mudas de árvores, banquinhos minimalistas brancos e tijolinhos em tons de bege no chão.
Um espaço proposto para contemplação. Fonte: Nelson Kon

Contando com 95 mil m², a Área Central do projeto foi inaugurada em 2004 e seu espaço foi criado especialmente para servir como um local de contemplação. É cercado por bancos para que o público possa sentar-se e relaxar observando a paisagem bucólica.

O projeto da arquiteta também contou com as áreas verdes de modo a integrar-se aos ambientes do parque. Ou seja, por meio da terra em espaços com gramados, o público pode acessar áreas caminháveis por meio de aberturas feitas pela topografia moldada no local.

Passagem com estruturas do antigo complexo penitenciário são envoltas da vegetação nativa na área Central do Parque da Juventude.
Passagem com estruturas do antigo complexo penitenciário. Fonte: Nelson Kon

Através da integração entre a vegetação e os pisos e tetos criados a partir de estruturas, o apoio das árvores e suas folhagens criam sombras, filtrando a luz e complementando o espaço como paredes.

Alguns elementos históricos foram preservados, é o caso de partes das estruturas dos antigos pavilhões do Complexo Penitenciário Carandiru, por exemplo. Posteriormente, estas partes foram conectadas a novos suportes, de modo a propiciar um espaço único para observação, incluindo a história neste diálogo com a natureza.

Antigas estruturas do complexo como pilastras e outras que se parecem com corrimões foram mantidas em meio à área verde do parque.
As estruturas foram mantidas, de modo a integrar-se com a passagem. Fonte: Nelson Kon

As antigas passarelas de vigia e os muros do presídio foram mantidos, dessa forma funcionam como uma espécie de observatório, em que a história se torna parte da conversa do público que passa por ali, levando um novo simbolismo às estruturas.

Área Institucional

Na Área Institucional é possível ver a Biblioteca de São Paulo e alguns espaços reservados para caminhada, onde pessoas transitam em meios às arvores.
O parque também oferece um espaço dedicado à educação. Fonte: Cidade de São Paulo

Intitulado Área Institucional, com 120 mil m², o espaço, no qual é possível acessar a Biblioteca de São Paulo e as ETECs, foi inaugurado em 2007.

Trata-se de um conjunto de edifícios criados pelo escritório Aflalo & Gasperini, em que a educação e o aprendizado são os principais pilares do complexo.

Contando com um fácil acesso, os prédios estão muito bem-localizados ao lado da estação Carandiru (linha 1 – Azul do metrô de São Paulo). Afinal, ela facilita o fluxo de estudantes e funcionários que utilizam o espaço.

ETEC Parque da Juventude

Além do paisagismo, outra preocupação foi a implantação da ETEC Parque da Juventude, com o intuito de contribuir com a construção de uma nova perspectiva do espaço.

Todas as ETECs fazem parte do programa governamental que objetiva a formação de profissões de nível técnico no Estado de São Paulo.

Sendo assim, a ETEC Parque da Juventude foi uma das implementações que contribuiu com o estímulo às atividades educacionais e esportivas no espaço, mais uma vez reforçando a sua ressignificação.

Com uma vista mais aérea da área interna da ETEC Parque da Juventude é possível observar bancos coloridos nas cores amarelo, verde, laranja, azul e vermelho, onde os estudantes estão sentados e outros transitam.
O espaço é bem amplo e permite que os alunos possam se reunir em locais específicos para estudar. Fonte: Centro Paula Souza

Localizada na área Institucional do parque, as suas atividades tiveram início em março de 2007, através dos cursos de Informática, Museu e Enfermagem.

Atualmente, a instituição oferece cursos técnicos de diversas áreas, desde Administração, Desenvolvimento de Sistemas, Programação de Jogos Digitais, Recursos Humanos, até Biblioteconomia, Finanças, Marketing, entre outros.

Na área da ETEC também é possível visitar o Espaço Memória Carandiru, local que preserva a memória dos moradores do antigo Complexo Penitenciário Carandiru. O espaço foi constituído em 2007, através do Decreto n° 52.112, pelo então governador José Serra, e estava sob jurisdição da Secretaria de Relações Institucionais. 

Biblioteca de São Paulo

Fachada da Biblioteca de São Paulo.
Fachada da Biblioteca de São Paulo. Fonte: Jornal SP Norte

A Biblioteca de São Paulo é mais um espaço dedicado ao incentivo à cultura dentro do Parque da Juventude. 

Anteriormente inaugurada em 8 de fevereiro de 2010, faz parte da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo e é gerida pela Organização Social SP Leituras.

Uma das premissas da BSP é o incentivo à leitura, um ponto que encanta seus frequentadores, que, por sua vez, encontram muito conforto e autonomia no espaço. A entrada é gratuita e a programação é muito diversificada.

Interior da Biblioteca de São Paulo, onde é possível encontrar espaços reservados para a leitura, escadas e corredores com estantes recheadas de livros.
Interior da Biblioteca de São Paulo. Fonte: Gazeta do Povo

Em uma área de cerca de 4 mil m², a biblioteca conta com terminal de autoatendimento, recursos tecnológicos, como computadores e Wi-Fi, e inclui desde livros tradicionais a obras que agregam acessibilidade, como braille e leituras em áudio. Além de também oferecer jogos, DVDs e CDs.

Inspirada na Biblioteca de Santiago, no Chile, a BSP também funciona como laboratório de práticas da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação e sedia cursos e eventos organizados pelo Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas (SisEB).

Além disso, a biblioteca também foi uma das finalistas do Prêmio Excelência Internacional 2018, na categoria Biblioteca do Ano, ao lado de países como Dinamarca e Noruega, promovido pela feira The London Book Fair International Excellence Awards.

Parque da Juventude Dom Paulo Evaristo Arns

Em 2018, o Parque da Juventude passou a receber um outro nome: Parque da Juventude Dom Paulo Evaristo Arns. Então, assim foi criada uma homenagem especial ao arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016).

O rebatismo do nome do parque foi feito dois anos após a morte do cardeal, que é reconhecido pela luta contra a ditadura militar no País, além de que ele foi um dos maiores defensores das causas dos direitos humanos no Brasil.

Dom Paulo Evaristo Arns (ao centro) presente em uma das reuniões da Comissão Nacional da Verdade acompanhado de mais três homens que estão presentes na foto. Eles estão sentados em frente a uma mesa, onde há um buquê de flores e há uma faixa suspensa com os dizeres: "Onde estão nossos familiares mortos e/ou desaparecidos?", em referência ao período ditatorial no Brasil.
Dom Paulo Evaristo Arns (ao centro) presente em uma das reuniões da Comissão Nacional da Verdade. Fonte: CNBB

Considerando o momento delicado em que a ditadura militar é equivocadamente ressaltada como um momento positivo da história do País por alguns políticos, apesar de todo o horror escancarado do período, exaltar figuras como o cardeal num ambiente tão significativo confere um pouco de esperança para o futuro.

Assim, num local onde o início da sua história ficou marcada pela violência, o toque da natureza, as novas perspectivas e a homenagem a Dom Paulo Evaristo Arns contribuem com um novo recomeço para o espaço e para a sociedade como um todo.

Projeto Verdejando

Além de passeios, práticas esportivas, treinos de skate e, até mesmo, os eventos de swordplay, uma espécie de simulação de luta medieval, o Parque da Juventude sempre atraiu diversas atividades culturais e também sustentáveis.

Durante seis anos, o parque também recebeu a ação do projeto Verdejando, uma iniciativa criada pelos profissionais do Jornalismo e da Comunicação da emissora Globo em São Paulo, com o objetivo de estimular o plantio de árvores na cidade.

Voluntários do projeto Verdejando no Parque da Juventude posam para a foto ao lado de algumas mudas e vestem camisetas verdes estampadas com a palavra "Verdejando".
Voluntários do projeto Verdejando no Parque da Juventude. Fonte: Fernando Pilatos | Glob

Durante o período em que acontecia o projeto, foram realizadas mais de 36 ações pela cidade, além de diversos mutirões de reflorestamento, quando foram plantadas mais de 3 mil árvores.

O projeto contou com apoio das Prefeituras Regionais de Cidade Tiradentes, Mooca, Casa Verde e Butantã, das Prefeituras de Guarulhos, Mauá, Osasco e São Caetano do Sul e da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. 

Visite o Parque da Juventude

Estruturas, escadas e vegetação se unem formando uma bela composição entre a história e a natureza, na Área Central do Parque da Juventude.
Estruturas e vegetação se unem formando uma bela composição entre a história e a natureza. Fonte: SP City

O projeto do Parque da Juventude teve sua construção finalizada em 2007 e assim, foi premiado pela Bienal de Arquitetura de Quito, em 2004.

Com uma história forte e repleta de reviravoltas inesperadas, o Parque da Juventude ressignifica perspectivas de uma maneira delicada, por meio do toque da natureza, mas, ao mesmo tempo, preserva a memória e traz importantes reflexões para a sociedade.

Mapa do Parque da Juventude atualmente.
Mapa do Parque da Juventude atualmente. Fonte: Governo do Estado de SP

Com fácil acesso ao metrô Carandiru da linha 1 – Azul do metrô de São Paulo, a entrada para o parque é gratuita. 

Contando com áreas arborizadas e espaços destinados à prática de atividades e exercícios, o Parque da Juventude é um ótimo passeio para quem busca uma opção tranquila para relaxar, passear ou estudar.

Endereço: Av. Cruzeiro do Sul, n° 2630 – Carandiru, São Paulo – SP, 02030-100

Telefones: (11) 2089-8600

Horário de funcionamento: de segunda a domingo, das 6h às 19h.

Mapa do Google, onde ao clicar você será direcionado(a) para a localização exata do Parque da Juventude.

Gostou de conferir detalhes do Parque da Juventude e a sua história? Descubra mais conteúdos que envolvem a Zona Norte de São Paulo:

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Giovana Costa
Conteúdo criado por:Giovana Costa
Jornalista, apaixonada pela escrita, pela sétima arte e pelo audiovisual.

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