Exposição Infinito Vão: 90 anos de arquitetura brasileira
Por Victória Baggio
13 janeiro 2021
“O verdadeiro amor é vão Estende-se infinito Imenso monolito Nossa arquitetura”
Trecho da música “Drão” de Gilberto Gil, 1982.
Esta é a música que embala a exposição “Infinito Vão: 90 anos de arquitetura brasileira”. Presente tanto no nome, como na trilha sonora de quem visita à mostra, sugere bastante a atmosfera e o que é exibido.
A exposição aconteceu primeiramente em Portugal, entre 2018 e 2019, na Casa da Arquitectura, em Matosinhos. Com curadoria feita por Guilherme Wisnik e Fernando Serapião, ambos brasileiros, e pelo português Nuno Sampaio, diretor da Casa.
Após algum tempo com tentativas de trazer a exposição para o Brasil, conseguiu-se que ela viesse a São Paulo, sendo instalada no coração da cidade, no Sesc 24 de Maio, projetado por Paulo Mendes da Rocha e MMBB.
A exposição “Infinito Vão” busca mostrar aos brasileiros, de maneira visual, de fácil compreensão e com empatia, a história da arquitetura moderna brasileira até os dias atuais. Uma exposição de arquitetura, não só para arquitetos, e sim para todos aqueles que tenham curiosidade histórica, cultural e também arquitetônica do nosso País.
O vão da arquitetura moderna brasileira
O título da exposição “Infinito vão”, é justificado por esse movimento arquitetônico, que, com o desejo de soltar-se do chão, desafiando as leis da física e da engenharia, propõe um espaçamento significativo entre apoios do edifício, gerando um extenso espaço livre, sobre o qual parece voar o construído, sendo tal recurso chamado de vão livre.
O crítico Mário Pedrosa afirma que o Brasil é um país “condenado ao moderno”, sendo tal condenação entendida como libertação das tradições. Esse desejo de liberdade é materializado na arquitetura moderna brasileira através do vão livre, do uso do concreto armado sem nenhum reboco ou pintura, entre outros elementos.
Infinito Vão: Uma exposição em seis tempos
A exposição “Infinito Vão” tem como objetivo mostrar a produção moderna brasileira desde seu início até os dias de hoje. Para isso, foi necessário realizar uma desafiadora síntese do construído.
Para expor os 90 anos da arquitetura brasileira, a mostra passa por seis núcleos cronológicos, dispostos linearmente, como uma longa e rica linha do tempo, na qual se vai percorrendo e descobrindo, revivendo a história do Brasil, e a arquitetura que foi construída ao longo desse tempo.
Cada núcleo percorre aproximadamente 15 anos de história, sendo exibidos, além dos projetos selecionados para representar cada período, desenhos, textos, poemas, publicações, objetos e mobiliário da época. Assim, o visitante vai se envolvendo e desfrutando o percurso de nove décadas.
Os projetos apresentados vão desde clássicos de Lelé, Oscar Niemeyer e Burle Marx, a Villanova Artigas, com o simbólico edifício da Faculdade de Arquitetura da USP. Passada a época da ditadura, veem-se os projetos de Lina Bo Bardi, como o Sesc Pompéia e o MASP, passando por Paulo Mendes da Rocha, com o MUBE, e até contemporâneos como SPBR e Carla Juaçaba.
Música, literatura e política como contexto para uma arquitetura
Antes de começar cada núcleo cronológico, o visitante percorre um espaço no qual é exibido um vídeo, com imagens de acontecimentos do período e com a trilha sonora de uma música emblemática, da mesma época.
O primeiro núcleo é apresentado ao som da marchinha de Lamartine Babo, que pergunta: “quem foi que inventou o Brasil…”. Em seguida, o segundo módulo é aberto com a construção de Brasília, tocando “Samba de uma nota só”, de João Gilberto; passando por Caetano Veloso em “Tropicália”; e logo com “Bye bye Brasil” de Chico Buarque.
As imagens apresentadas, muitas vezes fortes, que ficaram para a história do Brasil, marcam situações políticas, culturais e de vida nas cidades.
Assim, a arquitetura exibida não permanece como algo isolado e sim incluída em um contexto específico, político e também literário, através das músicas bastante representativas de cada momento.
Isso faz com que a arquitetura brasileira possa ser lida como algo que participa de um processo cultural nacional, fazendo com quem visita à exposição tenha maior empatia por aquilo que vê e possa compreender, de maneira mais clara, a história da arquitetura brasileira como a do Brasil em sua totalidade.
A exposição “Infinito Vão” termina com o rap dos Racionais MC’s: “Aqui vagabundo guarda sentimento na sola do pé”, colocando o visitante diante de questões dos dias atuais das cidades brasileiras, fazendo-se necessária uma reflexão sobre a desigualdade e o direito à cidade no Brasil.
Visite a exposição Infinito Vão: 90 anos de arquitetura brasileira
Endereço: Sesc 24 de Maio. Rua 24 de Maio, 109, República, São Paulo – SP
Telefone: (11) 3350-6300
Período de exibição: 25 de novembro de 2020 a 21 de junho de 2021
Horário: das 10h às 18h
Entrada gratuita mediante reserva prévia no Portal do Sesc São Paulo.
Protocolos de segurança: a utilização de máscara, cobrindo boca e nariz, durante toda a visita, assim como a medição de temperatura dos visitantes na entrada da unidade são obrigatórias.
Para mais informações, visite o site do Sesc.
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