Empreendimentos multifuncionais e seu impacto nas cidades

Empreendimentos multifuncionais e seu impacto nas cidades
Carolina Scordamaglio

Por Carolina Scordamaglio

09 maio 2019

Com o incentivo do poder público, empreendimentos multifuncionais e fachadas ativas ganham força e contribuem com cidades mais humanas, seguras e amigáveis aos pedestres.

A vida da cidade está na multiplicidade

Apesar de serem a resposta para questões muito atuais de deslocamento e mobilidade nas grandes cidades, a ideia de edifícios de uso misto ou mixed-use não é nova. Historiadores relatam que desde as cidades medievais os comerciantes passaram a morar em seus próprios estabelecimentos para evitar longas viagens com mercadorias.

A partir da revolução industrial passou-se a incentivar a setorização das cidades, o que acarretou diversos problemas urbanos como congestionamentos, degradação e falta de segurança em ruas ociosas. Por isso, hoje em dia o uso misto é fortemente incentivado, principalmente pelo poder público.

O Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo aponta diretrizes para o adensamento dos corredores dos transportes públicos estimulando o máximo aproveitamento do terreno por parte das incorporadoras.

Com o incentivo do PDE, projetos como o Facto Paulista, na Bela Vista, deverão ser cada vez mais vistos pela cidade. Localizado entre as estações Higienópolis-Mackenzie e Consolação do metrô, o empreendimento de 2 torres terá lojas, salas comerciais e unidades residenciais com entradas independentes, sem abrir mão do lazer completo.

Acesso do empreendimento Facto Paulista, localizado na Bela Vista, na cidade de São Paulo.
Acesso do empreendimento Facto Paulista, localizado na Bela Vista.
Facto Paulista. Duas torres com salas comerciais, lojas e unidades residenciais.
Facto Paulista. Duas torres com salas comerciais, lojas e unidades residenciais.

Além dos benefícios práticos aos usuários, reunir diferentes funções urbanas – morar, trabalhar, se divertir, trocar e se locomover – em um único edifício, quarteirão ou bairro, empreendimentos multifuncionais fazem da cidade um ambiente mais saudável e seguro de se viver.

É isso que defende Jane Jacobs, grande nome do urbanismo, autora do livro Morte e vida das grandes cidades (1961). Isso porque o uso misto confere vida e movimentação constante ao lugar. De dia pelo comércio e a noite pelas residências, cafés e restaurantes.

The point of cities is multiplicity of choice.” Jane Jacobs

Outra vantagem dessa prática é a valorização mútua entre as diferentes ocupações. Um apartamento inserido em um complexo multifuncional certamente será mais valorizado devido a proximidade com comércios e serviços. Da mesma maneira, será vantajoso aos comerciantes.

A cidade é feita para as pessoas, não o contrário

“No processo de planejamento, em vez da sequência que prioriza os edifícios, depois os espaços e depois (talvez) um pouco de vida, o trabalho com a dimensão humana requer a vida e os espaços sejam considerados antes das edificações” Jan Gehl, autor do livro Cidade para pessoas (2010).

Chamamos de fachada ativa o uso do pavimento térreo aberto ao livre fluxo da população transeunte, podendo ser ocupado por praças, cafés, comércios e diferentes serviços. É como se o edifício emprestasse o térreo para a cidade. Essa prática característica de edifícios multifuncionais contribui para uma cidade mais humana e amigável ao pedestre.

Um grande exemplo disso é o Conjunto Nacional de David Libeskind, grande ícone da Avenida Paulista. A divisão entre o passeio público e o térreo do edifício é quase imperceptível para quem caminha por ali. As pedras portuguesas que revestem a calçada adentram o prédio e convidam a população a tomar um café, almoçar, comprar um livro ou assistir um filme. Constantemente o espaço também recebe exposições e manifestações da arte.

O edifício é composto por um bloco horizontal, que abriga três pavimentos de uso comercial além do terraço jardim, e um bloco vertical de uso residencial.

Conjunto Nacional, ícone da Avenida Paulista é um exemplo bem sucedido de fachada ativa na cidade.
Conjunto Nacional, projeto de David Libeskind. Imagem: Hugo Segawa. Via Arquigrafia.

Ouvindo a demanda

Como já citado no início do texto, edificações de uso misto surgiram espontaneamente a partir de uma necessidade dos cidadãos. Essa mesma necessidade continua existindo e os edifícios multifuncionais surgem independente de padrão, tamanho, forma e planejamento, sempre que é necessário suprir uma lacuna. Sendo assim, porque não ouvir a demanda da população e fazer bem feito?

Não basta apenas replicar uma fórmula mágica e achar que isso será sempre benéfico á cidade independente do contexto. É preciso estar atento ao que a cidade pede.

Foi o que a You, Inc. fez ao criar o projeto Core Home Pinheiros com duas torres, uma residencial com aptos de 24m² a 88m² e a outra com 103 salas de consultório de 31m² a 465m².

Core Home Pinheiros. Uma torre residencial e outra apenas de consultórios.
Core Home Pinheiros. Uma torre residencial e outra apenas de consultórios.
Acesso residencial do Core Home Pinheiros, na cidade de São Paulo.
Acesso residencial do Core Home Pinheiros.

O empurrão que faltava

Entre outras vantagens, empreendimentos multifuncionais proporcionam um ambiente dinâmico e saudável à população e contribuem com cidades mais humanas. Com o incentivo do governo e podem ser um importante agente no movimento de devolução das cidades aos pedestres.

Carolina Scordamaglio
Conteúdo criado por:Carolina Scordamaglio
Arquiteta, pós graduada em Negócios Imobiliários, apaixonada por comunicação e por tudo que envolva o verbo morar.

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