Rosa Kliass – Biografia e obras
Por Thainá Neves
05 fevereiro 2021
Rosa Grena Kliass é uma importante arquiteta paisagista brasileira, com uma trajetória que revolucionou a maneira de projetar espaços livres e de tratar as questões ambientais.
Ainda hoje, no auge de seus 88 anos de idade, a paisagista influencia fortemente a construção do país, afinal, seu olhar único está impresso em obras icônicas espalhadas por diversos estados do Brasil.
Caminhos que são um mistério: Rosa Kliass e o paisagismo
Nascida em São Roque, São Paulo, no ano de 1932, Rosa Kliass considera o cenário de sua infância como sendo onde tudo começou.
Foi nessa cidade interiorana que belas histórias e experiências envolveram sua vida de forma marcante. Tempos depois, aos 11 anos de idade, Kliass mudou-se para São Paulo com o objetivo de estudar.
Na capital, finalizou seus estudos regulares e também completou sua graduação pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), em 1955.
A paisagista considera a sua decisão de cursar arquitetura como sendo um grande mistério, que não sabe ao certo como explicar.
No último ano de sua graduação, após o contato com o professor e paisagista Roberto Coelho Cardozo, Kliass tomou a decisão de seguir os rumos da arquitetura paisagística. O fato é que essa decisão resultou em uma carreira com reconhecimento internacional.
Rosa Kliass também se destaca pelo envolvimento com instituições que valorizam a profissão do paisagista. Entre elas está a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas – ABAP, da qual Kliass foi a fundadora em 1976.
Do mesmo modo, coordenou equipes multidisciplinares para a construção de diretrizes para o planejamento de diversas localidades, como é o caso do Vale do Paraíba e do departamento de Parques e Áreas Verdes da Prefeitura de São Paulo (Depave) que atualmente leva o nome de Coordenação de Gestão de Parques e Biodiversidade (CGPABI).
O projeto dos espaços livres e a síndrome de Deus
Para Rosa Kliass, criar espaços com elementos vivos, como a vegetação, sempre foi algo maravilhoso. Isso porque a vida se desenvolve independentemente do autor, de forma que os resultados são gerados pela própria natureza.
“Você cria espaços reais, que vão crescer independente de você. Você não domina totalmente o espaço que você vai criar”, afirmou Rosa Kliass em entrevista para o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR). A isso ela deu o nome de síndrome de Deus, afinal, o desenvolvimento dos espaços é independente do autor, assim como acontece com as criações divinas.
Além do cuidado com a preservação ambiental, é visível a atenção em criar espaços que contemplam a diversidade e tornam a cidade viva.
Kliass acredita que a arquitetura da paisagem e a arquitetura de edificações devem manter uma conexão que resulte em harmonia total.
A arquiteta paisagista visitou mais de 20 países e os diversos biomas do Brasil, nos quais explorou atentamente cada detalhe paisagístico. Essas experiências contribuíram para projetar suas belas obras.
Avenida Paulista
Rosa Kliass participou da reforma da Avenida Paulista, em São Paulo, em 1973, propondo canteiros ao nível do piso, o que representou a volta dos jardins ao local. Além disso, os acessos e as metragens da via foram pensados para intensa circulação.
Além disso, a comunicação visual desenvolvida pelo escritório Cauduro Martino Arquitetos Associados foi de extrema importância para consolidar a identidade da Avenida Paulista.
As reformas posteriores pelas quais a Avenida passou não eliminaram a essência do projeto de Kliass, pelo contrário, as calçadas amplas e as largas faixas de pedestres são emblemáticas e permanecem como característica única da região.
Os caminhos do Vale do Anhangabaú
Os canteiros do Vale do Anhangabaú estão dispostos em desenhos que ora são geométricos, ora são orgânicos, criando uma série de espaços ao longo do trajeto. Dentre eles, um caminho principal está em destaque, com cores de piso que se diferenciam.
O Vale liga importantes marcos da história de São Paulo, como o Viaduto do Chá e o da Santa Ifigênia, além de conectar os dois acessos de metrô.
As amplas áreas criadas pela paisagista Rosa Kliass são cenário para grandes eventos da cidade.
O Parque da Juventude é uma união entre o presente e o passado
O Parque da Juventude Dom Paulo Evaristo Arns, também em São Paulo, é um projeto premiado pela Bienal de Arquitetura de Quito, em 2004. Isso porque esse projeto deu novo uso ao terreno onde antes estava localizado o Complexo Penitenciário do Carandiru e, ao mesmo tempo, preservou algumas estruturas existentes.
O local foi transformado por Rosa Kliass em um verdadeiro complexo cultural, com biblioteca, escola técnica, área esportiva, modificando, assim, a impressão que a população tinha da região.
Mas o que chama a atenção é a maneira como as ruínas de celas e as muralhas preservadas dialogam com a natureza. As árvores e os arbustos transformam-se em paredes e também em coberturas que sombreiam e, igualmente, filtram a luz.
O Mangal das Garças é um verdadeiro ponto turístico
O objetivo do Mangal das Garças, localizado em Belém do Pará, é conectar a cidade e a orla do rio de forma que as pessoas aproveitem o espaço e a natureza em seu cotidiano. Assim sendo, Rosa propôs a remoção do muro de contenção existente, bem como o alagamento de alguns pontos do terreno.
Além disso, a paisagista manteve as espécies de vegetação existentes no local. A aninga, por exemplo, uma planta típica de áreas litorâneas do norte do Brasil, foi mantida no projeto.
Envolvidos por esse cenário estão um borboletário, o Memorial Amazônico, o Orquidário e uma passarela que conecta o restaurante ao Mirante do Rio. Deste último é possível ver as torres das igrejas, que compõem uma bela paisagem no entorno.
Parque do Forte: o paisagismo do lugar bonito
A vista única que o parque, localizado em Macapá (AP), proporciona para o entorno foi o que determinou todo o projeto. Portanto, para que a bela paisagem não fosse interrompida, Rosa Kliass propôs desenhos no piso e composições com vegetação rasteira.
Toda a composição segue uma simetria que chama atenção, formando uma espécie de estrela em visão aérea. A beleza do local tornou-o conhecido como lugar bonito, o que também o consolidou como um verdadeiro ponto turístico em Macapá.
Há também um espaço recreativo, localizado fora da delimitação da “estrela”. Essa área também faz alusão ao rio do entorno e tem como tema principal a água.
Os frutos do trabalho de Rosa Kliass
Atualmente a arquiteta vive em São Paulo e segue colhendo os frutos de toda a sua produção, tanto projetual como teórica, que inclui livros, teses e artigos.
Em 2019, a arquiteta tornou- se a primeira mulher a receber o Colar de Ouro pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), um importante prêmio que reconhece profissionais de arquitetura que tenham contribuição notável.
Além disso, a ABAP criou em sua homenagem o Prêmio Rosa Kliass, um concurso universitário que reconhece os melhores trabalhos de graduação em Arquitetura e Urbanismo que tenham a paisagem como sua temática principal.
Kliass demonstra muita gratidão tanto pelo percurso vivido como pelo momento presente, o que se reflete em sua alegria constante. Segundo profissionais que convivem com a arquiteta, o otimismo é também uma de suas marcas, além de ser uma inspiradora profissional e peça importante para o desenvolvimento do país.
As contribuições de Rosa Kliass ultrapassam os limites do tempo, pois serviram de base para a construção do paisagismo no Brasil. Isso a coloca, portanto, ao lado de importantes nomes como Roberto Burle Marx.
Quer deixar um comentário ou relatar algum erro?Avise a gente