Você sabe o que é Retrofit?
03 outubro 2019
Apesar de bastante recorrente no mercado imobiliário e na construção civil, o termo retrofit ainda gera muita confusão. Seria retrofit uma reforma? A restauração de um edifício? Conheça o que caracteriza um retrofit e porque ele tem se mostrado uma solução viável e vantajosa.
Retrô Fit
Antigo conhecido das capitais europeias, o retrofit surgiu como uma solução para a modernização dos edifícios antigos e preservação do patrimônio histórico e arquitetônico das cidades.
Em tradução livre, o termo significa “dar uma nova forma ao antigo” e é aplicável a equipamentos, instalações, sistemas, edificações e até espaços urbanos. Nas construções, ele se dá pela atualização dos sistemas, acabamentos e, às vezes, até do uso, de forma a valorizar e prolongar a vida útil do edifício.
Muito utilizado em edifícios tombados, o grande trunfo do retrofit é trazer modernização e tecnologia às edificações enquanto valoriza sua história, podendo manter algumas de suas características arquitetônicas como fachada, acabamentos e esquadrias originais.
Sua equação econômica envolve valores intangíveis como memórias de uma comunidade, patrimônio cultural e histórico. Ainda sim, se colocado na ponta do lápis, se mostra uma solução muito positiva.
Em entrevista à Folha de São Paulo, Raquel Tomassini, gerente da área técnica e de produtos e parcerias da Lello, diz que um retrofit valoriza em média 40% a mais que um prédio tradicional, e pode até dobrar o valor do imóvel. Sem contar a melhoria do entorno.
A escassez de terrenos nos grandes centros também impulsiona a prática. Pois mesmo que, devida sua complexidade, o retrofit não seja uma obra barata, muitas vezes o valor da localização compensa o investimento.
Reforma x Restauração x Retrofit
Não é tudo a mesma coisa. A reforma é a atualização ou alteração de algo que não envolva grandes questões conceituais ou legais, como um tombamento, por exemplo. Pode ser a mudança de uma parede, de um piso ou outro acabamento. Serve para a manutenção e prolongamento da vida útil da construção.
A restauração, por sua vez, é sempre uma obra realizada em um bem tombado pelos órgãos de Defesa do Patrimônio Histórico. O Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo, por exemplo, ou IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional. O tombamento existe para preservar e proteger nosso patrimônio histórico e por isso restringe intervenções arquitetônicas que descaracterizem a edificação.
Em 2017 a USP divulgou o projeto vencedor do concurso promovido para a restauração do Museu Paulista, no Ipiranga. Em seu site, Hereñú & Ferroni Arquitetos, o escritório vencedor, explica o que norteou o projeto: “O conjunto de intervenções propostas não quer ter destaque. O objetivo geral não é impor a face do novo, mas revelar de maneira nova o que já estava lá, por meio de articulações, disposições espaciais e percursos que as intervenções discretamente propiciam.”
Já o Retrofit, visa modernizar o edifício ao mesmo tempo que valoriza suas características originais, podendo ser um edifício tombado ou não. O processo serve ainda para a normatização às regulações atuais, aumento da eficiência energética e de manutenção e readequação de uso.
Considerado por 20 anos o edifício mais alto de São Paulo, o edifício Altino Arantes, famoso prédio do Banespa, passou a integrar o patrimônio do Santander em 2000. Em 2018, após dois anos fechado para obras, o edifício foi inaugurado como Farol Santander.
A fachada tombada em 2014 continua a mesma, mas todo o espaço interno foi remodelado. Hoje está aberto ao público com salas de exposições, lofts para locação disponíveis no AIRBNB e até pista de skate. Todas as atrações estão disponíveis no site.
O renascimento de um ícone municipal
O Othon Palace Hotel, inaugurado em 1954, já foi um dos melhores e mais luxuosos hotéis da cidade de São Paulo. A torre de 25 andares de estilo Art Decó ocupa um terreno de 720m² próximo ao Viaduto do Chá.
A partir dos anos 80, o centro começa a sofrer um declínio com a migração do fluxo econômico para a Av. Paulista e Berrini. A fachada do prédio foi tombada em 1992. Em 1999 o hotel foi posto à venda e em 2008, desativado por falta de recursos.
No final de 2015 inicia-se a obra do retrofit projetado pelo Arquiteto Walter Makhohl. Em entrevista à Pini, o arquiteto conta os maiores obstáculos enfrentados no processo. Foi preciso adequar e reforçar o sistema estrutural existente. Além disso, foi encontrado uma mina de água no subsolo, a qual descobriram posteriormente ser capaz de fornecer água para as descargas do edifício.
O arquiteto conta que um dos maiores desafios foi a descaracterização do prédio causada por ocupações por movimentos sociais de moradia entre 2012 e 2014. “Levaram metais, mármores dos banheiros, lustres e até madeiramento do chão” lembra. O que dificultou muito a preservação histórica.
Hoje o edifício abriga a sede da Secretaria da Fazenda do município. “Temos um edifício 100% inteligente, mas com linhas antigas. Unimos o que há de mais moderno em central digital, sistema de segurança, iluminação, hidráulica e elevadores sincronizados à memória da cidade” conta o arquiteto à Pini.
Os moradores agradecem
O Rio By Yoo, empreendimento da Cyrela, é um clássico exemplo do uso do retrofit como solução à escassez de terrenos em localizações privilegiadas.
Após décadas de abandono,o edifício Hilton Santos, que já foi sede social do Clube de Regatas Flamengo, abrigará o edifício residencial de alto padrão. Em raríssima localização remanescente na região do aterro do Flamengo o empreendimento se beneficiará de uma vista privilegiada para Baía de Guanabara.
O escritório britânico Studio By Yoo é responsável pelo projeto de requalificação do antigo prédio que conta com 23 andares e 148 apartamentos.
Vale a pena conhecer um pouco mais da história do edifício Hilton santos e os detalhes do projeto que está em fase de lançamento.
Tendência no Brasil
Estes são apenas alguns exemplos de como essa prática já tem transformado nossas cidades para melhor.
Tendo em vista todos os ganhos tangíveis ( localização, modernização, investimento) e intangíveis ( preservação do patrimônio cultural e histórico ), assim como na Europa, o retrofit tem tudo para se consolidar e virar um processo mais vez mais comuns nas grandes cidades Brasileiras.
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