Neuroarquitetura – Como o ambiente impacta nosso humor e comportamento
31 maio 2019
Avanços científicos comprovam, características físicas do ambiente em que estamos despertam sensações e influenciam nosso comportamento. Saiba um pouco mais sobre essa área de estudo e como aplicar esse conhecimento à decoração da sua casa.
A neurociência é a ciência que se dedica ao estudo, análise e observação do sistema nervoso, ou seja, o comportamento do nosso cérebro. Somado à arquitetura, a neuroarquitetura propõe-se a desvendar os efeitos do ambiente (percepção espacial, luz, cores, temperatura…) no cérebro e consequentemente no comportamento humano.
Não é difícil nos lembrarmos de sensações despertadas pelo ambiente em que estávamos. Quem nunca se sentiu desconfortável e apreensivo diante da luz forte e fria de uma cadeira de dentista, ou pequeno diante do majestoso e imponente altar de uma igreja?
Segundo Sarah Williams Goldhagens, autora do livro Welcome to Your World: How the Built Environment Shapes Our Lives, essas sensações são apenas a ponta do iceberg, pois em torno de 90% das cognições são inconscientes, ou seja, os ambientes transformam nosso humor e comportamento sem que percebamos.
É comum observarmos restaurantes e lojas que, conscientes do poder de influência do ambiente em nossas decisões, utilizam técnicas a fim de atrair o público desejado e encorajar o consumo.
Esse conhecimento, porém, pode ser aplicado à diversos outros campos a fim de melhorar a qualidade de vida das pessoas.
A construção de um ambiente acolhedor que gere a sensação de segurança e bem estar pode auxiliar na recuperação de pacientes em uma clínica, por exemplo. O ambiente escolar também pode promover a criatividade, concentração e socialização através de elementos físicos e visuais.
Um lugar para criar e produzir
O crescimento meteórico de empresas de tecnologia e startups, revelando o triunfo do novo, do disruptivo sobre o tradicional, tornou a aplicação da neuroarquitetura em ambientes corporativos mais notória. Hoje, os famosos escritórios do Google e Facebook são modelos para quem acredita que ambientes mais amigáveis produzem funcionários mais felizes, produtivos e colaborativos.
Considerando que o trabalho é, por vezes, onde os funcionários passam a maior parte do dia, é inteligente criar um ambiente em que se queira estar, com escapes para o stress e a fadiga, encorajando a socialização e a criatividade.
Neuroarquitetura na escala urbana
Andreas Meyer-Lindenberg, da Universidade de Heidelberg“A vida urbana pode mudar a biologia cerebral em algumas pessoas”
Pouco se fala sobre as influências do projeto urbano no comportamento humano, mas importantes estudos na área revelam como a cidade e suas proporções impactam nossa saúde física e mental.
Em 2017, a Conscious Cities Conference, em Londres, reuniu profissionais engajados em desvendar e monitorar como estruturas urbanas, como os edifícios, arranha-céus e espaços vazios, afetam psicologicamente os cidadãos, seus estados mentais e humor.
Colin Ellard, pesquisador na Universidade de Waterloo, no Canadá, observou que as pessoas são fortemente afetadas pelas fachadas dos edifícios. Aceleram o passo diante de uma fachada monótona como se estivessem fugindo daquela zona morta, mas se sentem estimuladas e engajadas diante de fachadas complexas e interessantes.
Provando que a proximidade com a natureza pode alterar quimicamente e biologicamente o nosso organismo, um estudo realizado com a população da Inglaterra em 2008 constatou que a vulnerabilidade e o risco de doenças circulatórias entre a população mais pobre é menor em áreas mais verdes.
Neuroarquitetura aplicada à decoração da sua casa
Mesmo sem ser arquiteto, com alguns conhecimentos básicos é possível aplicar os princípios da neuroarquitetura à sua decoração. Anote as dicas a seguir para criar um ambiente aconchegante e familiar que transmita sensação de segurança e acolhimento na sua casa.
Personalização: Objetos que contam a sua história – objetos de família, fotos, lembranças de viagem – despertam o sentimento de familiaridade e pertencimento.
Estimule os sentidos: A visão não é a única via sensorial a ser explorada. Aromas e texturas também são ferramentas que enriquecem o ambiente.
Cores: As cores estimulam nosso cérebro de diferentes formas, por isso são parte fundamental na decoração. Tons terrosos funcionam bem na criação de ambiente aconchegantes e acolhedores.
Iluminação: Fuja da luz fria se deseja um criar uma atmosfera de descanso de relaxamento. A luz quente é ideal para dormitórios e salas de estar. De dia, a luz natural traz conforto além de dos benefícios a saúde.
Conforto acústico: Barulhos e ruídos também são estímulos que impactam nosso humor, por isso o conforto acústico da nossa casa não deve ser ignorado.
Elementos naturais: Contato com a natureza gera bem estar e nos impacta positivamente. Vale investir em plantas para ambientes internos ou revestimentos naturais como pedra e madeira.
Organização: Estar em um ambiente limpo e organizado pode ajudar a tranquilizar e organizar os pensamentos também. Confira aqui algumas dicas para pôr a casa em ordem hoje mesmo.
Para aprender mais:
Welcome to Your World: How the Built Environment Shapes Our Lives, da autora Sarah Williams Goldhagens.
Happy City: Transforming Our Lives Through Urban Design, do autor Charles Montgomery.
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