Lygia Clark – Biografia e obras
Por Victória Baggio
21 janeiro 2021
Lygia Clark é considerada uma das artistas brasileiras mais relevantes do século XX, reconhecida e celebrada tanto no Brasil como também no exterior. Pintora e escultora, sua obra segue atual nos dias de hoje por sua contemporaneidade.
Provavelmente você já tenha visto e manipulado uma de suas esculturas da série “Bichos”, os famosos objetos metálicos articulados, que ultrapassam o âmbito da escultura, passando a ser decoração e, até mesmo, um brinquedo, à venda em gift shops de museus pelo mundo.
Biografia de Lygia Clark
A artista mineira viveu durante seus 67 anos de vida entre Rio de Janeiro e Paris, lugares onde estudou e trabalhou no âmbito da arte. Começou sua trajetória artística na pintura, momento em que teve importantes professores. Ao longo de seu percurso, foi deixando a pintura de lado, dedicando-se à escultura e, em uma última etapa, às performances, nas quais o corpo faz parte da obra de arte.
Lygia Clark nasceu em outubro de 1920, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Começou seu percurso artístico em 1947, quando se mudou para o Rio de Janeiro, orientada por Burle Marx.
De 1950 a 1952, viveu em Paris com seus três filhos, onde estudou com os pintores Fernand Léger, Arpad Szenes e Isaac Dobrinsky. Sua primeira exposição individual ocorreu em 1952, em Paris, no Institut Endoplastique.
No mesmo ano, a artista retornou ao Brasil, onde expôs no Ministério da Educação e Cultura, no Rio de Janeiro, e começou a integrar o vanguardista Grupo Frente, liderado pelo pintor Ivan Serpa.
Foi uma das fundadoras do Grupo Neoconcreto e participou da primeira Exposição Neoconcreta, em 1959.
Nesse período, começou a introduzir em suas pinturas uma força tridimensional, criando telas que parecem querer extrapolar a superfície plana. Isso é visível em trabalhos como “Superfícies Moduladas”(1952-57) e “Planos em Superfície Modulada”(1956-58).
Aos poucos, foi substituindo a pintura pela escultura, fazendo experimentações com objetos tridimensionais. Em 1960, realizou a série “Bichos”, composta por objetos metálicos manipulados pelo espectador.
Durante o mesmo ano, foi professora de artes plásticas no Instituto Nacional de Educação dos Surdos.
Entre 1970 e 1976, retornou a Paris, onde viveu e lecionou na Faculté d´Arts Plastiques St. Charles, na Sorbonne. Nesse período, seu trabalho se afastou da produção de objetos, voltando-se a experiências corporais.
Em 1976, Lygia Clark voltou ao Brasil, época em que se dedicou a estudar sobre as possibilidades terapêuticas da arte sensorial e dos objetos relacionais.
No final da sua vida, a artista passou a considerar seu trabalho alheio à arte e mais próximo à psicanálise.
Sua obra ganhou reconhecimento internacional e seu trabalho está exposto em importantes museus pelo mundo, como no MoMA, em Nova Iorque, e no Centre Pompidou, em Paris.
A obra de Lygia Clark
O percurso da obra de Lygia Clark pode ser dividido em três fases: a primeira, destinada à pintura; a segunda, na qual a escultura toma o papel principal; e a terceira e última etapa da artista, marcada por experimentações sensoriais.
Desde seu início, a obra da artista é abstrata, de vanguarda, feita a partir do desejo de aproximar a arte da vida.
A primeira fase da obra da artista teve início no Brasil e logo recebeu forte influência europeia, no período em que Lygia morou em Paris, estudou com importantes pintores vanguardistas e envolveu-se com a obra de Piet Mondrian, influência marcante em sua trajetória.
O segundo período é marcado pelo envolvimento de Clark com o neoconcretismo, em que ela começou os estudos tridimensionais, a manipulação de formas e a criação de objetos abstratos geométricos. Nessa fase, a interação entre espectador e arte torna-se parte da obra.
Na última fase da artista, a experiência torna-se o foco principal, sempre vinculada a sensações e ao campo psicanalítico. Esse período é marcado por instalações, performances e espaços onde o visitante entra, percorre e sente.
Pintura de Lygia Clark
A obra de Lygia Clark rompe o espaço bidimensional, levando a pintura para a terceira dimensão.
A artista expande a pintura para além do limite da moldura. Entre 1957 e 1959, Clark realizou composições em preto e branco, formadas por placas de madeira sobrepostas.
Tal radicalidade explorada por Lygia Clark na expressividade dos planos leva a artista a ir além do bidimensional e desdobrá-los; nesse momento, a artista começa seu trabalho exploratório no campo da escultura. A obra “Casulos”(1959) é composta de placas metálicas fixadas na parede, dobradas de tal maneira a criar um espaço interno. Entende-se que a série “Bichos” é uma continuidade dessa obra.
Bichos
Em 1960, Lygia Clark realizou a série “Bichos”, composta por objetos metálicos geométricos, que se articulam através de dobradiças. A obra requer a participação do espectador, que manipula o objeto e cria novas configurações.
Ao dobrar os planos metálicos, a obra vai adquirindo volume, formando o que a artista chamou de “bichos”. Os objetos podem ser constituídos a partir de várias formas de movimentos, que são estruturadas através das linhas das dobradiças, as quais funcionam como vértebras.
Lygia Clark acreditava no propósito de aproximar a arte da vida, afirmava que os “bichos” têm vida própria. Ainda, de acordo com a artista:
“Um bicho não é apenas para ser contemplado e mesmo tocado. Requer relacionamento. Ele tem respostas próprias, e muito bem definidas para cada estímulo que vier a receber.”
Essa série de obras, a qual foi homenageada com o prêmio de melhor escultura nacional na VI Bienal de São Paulo, configura um dos trabalhos mais conhecidos de Lygia Clark. É possível admirar peças da série “Bichos” no MASP, em São Paulo, como também no MoMA, em Nova Iorque.
Caminhando
“Caminhando” é uma obra de Lygia Clark de 1964, na qual a artista manipula uma Fita de Mobius, que, após ser torcida e unida pelas suas pontas, forma um objeto que representa o infinito. A artista faz recortes e convoca o público a fazer o mesmo exercício.
A obra é, portanto, feita pelas mãos do público, que passa de espectador a agente da ação. Para Clark, a atividade tem como objetivo ser uma experiência para refletir sobre a vida.
A Casa É o Corpo: Labirinto
A obra “A Casa É o Corpo: Labirinto” é uma instalação, feita em 1968, formada por uma estrutura de 8 metros de longitude. O espectador adentra a obra e percorre um percurso onde os ambientes simbolizam as fases do surgimento da vida.
Tal como é comum nas obras de Lygia Clark, nesta o espectador é convidado a viver uma experiência sensorial e reflexiva sobre a vida.
Máscara abismo
A “Máscara abismo” foi uma peça criada por Lygia Clark em 1976 e faz parte de um conjunto de obras, intitulado “Objetos Relacionais”, no qual a artista propõe interação dos objetos com o público, o qual, ao manipulá-los ou vesti-los, é colocado em situações incomuns.
A máscara é feita com uma sacola de material sintético com formato de rede, comumente usada para embalar verduras e frutas. Tal tela é envolvida por um saco plástico com ar.
O objeto, que se prolonga até quase encostar o chão, é colocado no rosto do espectador, o qual, no momento, está utilizando um tapa-olhos.
A máscara passa a ser um prolongamento do corpo do visitante, como a tromba de um animal.
Associação Cultural Lygia Clark
Fundada em 2001, a Associação Cultural Lygia Clark realiza um importante trabalho de acervo da obra de Lygia Clark. A instituição é responsável pela catalogação de todo material produzido pela artista, o qual é disponibilizado para pesquisadores, tanto do Brasil quanto do mundo.
O acervo conta com mais de 6 mil imagens e 15 mil documentos, entre textos, cartas e publicações acadêmicas.
Além disso, a Associação também promove e organiza eventos e exposições sobre a artista.
O objetivo da Associação é propagar as ideias de Lygia Clark tal como ela desejava que sua obra fosse vivenciada: como um estímulo à vida.
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