Estilos arquitetônicos: Renascentista
Por Thainá Neves
23 julho 2021
O período renascentista
O período renascentista revolucionou a Idade Média com descobertas, invenções e novos pensamentos que surgiram a partir da interação entre culturas.
Assim, o ser humano ganhou maior protagonismo, um lugar de privilégio, deixando de ser considerado submisso para ser agente ativo nos propósitos da igreja.
Contexto histórico do Renascimento
As cruzadas e as expedições militares que precederam o período renascentista influenciaram a gradativa mudança de pensamento. A cultura europeia teve contato com outras diversas, abrindo-se para possibilidades antes desconhecidas e desprendendo-se, portanto, de alguns pensamentos do período Gótico.
Nesse contexto, houve o surgimento da tipografia, desenvolvimento dos saberes científicos e do comércio. Esse último fator influenciou no rompimento com o sistema feudal, de maneira que o urbanismo das cidades foi modificado para receber o novo período da história.
O movimento Renascentista ganhou uma força enorme na Itália, especialmente em cidades como Roma e Florença, que possuíam vida urbana vívida, além de concentrarem parte da população rica e de prestígio, tornando-se receptoras diretas das influências.
A partir daí, espalhou-se com diferentes graus de efeito por diversos países da Europa e do mundo inteiro, como França, Alemanha, Inglaterra e Rússia, que possuem amostra do período renascentista até os dias atuais.
As características do movimento Renascentista
O Renascimento é considerado um movimento intelectual e artístico, afinal se manifestou em diversas áreas, desde o conhecimento científico e filosófico até as artes.
A redescoberta das referências culturais da antiguidade clássica resultaram em um resgate de elementos que adquiriram novos significados. Com isso, o chamado antropocentrismo coloca o ser humano em uma posição central para o entendimento do mundo, transformando-o em ser racional, crítico e responsável por seus próprios pensamentos e ações.
Leonardo da Vinci foi uma figura extremamente importante para o período, pois, além de multiartista, foi um cientista, matemático, inventor e estudioso da anatomia humana. Em suas obras e registros, fica evidente a preocupação em entender o ser humano e desvendar inúmeros mistérios do mundo.
O Homem Vitruviano, desenhado por Da Vinci, marcou o Renascimento, pois a obra vai além dos aspectos físicos e representa a nova relação da humanidade com a natureza e com a igreja.
Na pintura, os santos começam a ser retratados como seres humanos de aparência comum; e na escultura, as figuras possuem volume e altura realista. Como resultado, os rostos e os corpos passam a ser valorizados em seus traços e sua individualidade.
A busca por realismo é vista no uso da perspectiva de tal forma que há harmonia nas imagens, um resultado alcançado por meio da matemática. Além disso, o uso da luz é bastante trabalhado, de maneira que os efeitos de claro e escuro auxiliam na diferenciação de planos e destaque das imagens principais.
Michelangelo, Rafael Sanzio, Sandro Botticelli e Giorgio Vasari foram alguns dos artistas mais representativos do período, responsáveis pelos novos rumos que as artes tomaram.
Características da arquitetura renascentista
As obras renascentistas iniciais possuem características bastante experimentais por conta das novas técnicas aplicadas, misturando elementos de estilos arquitetônicos anteriores.
No entanto, há algumas características principais que compõem essa arquitetura, facilitando a identificação das obras:
Referências da arquitetura clássica
Enquanto parte dos arquitetos se inspirava em construções contemporâneas à época, outra parte olhava para a consistência da arquitetura clássica. A funcionalidade das plantas e a solidez dos materiais foram transportadas para a arquitetura renascentista.
Em alguns momentos, até mesmo as icônicas colunas entalhadas aparecem nas obras. Nesse momento, elas são combinadas, portanto, uma mesma construção pode apresentar a ordem dórica, jônica e coríntia.
Simetria e geometrização
As plantas quadradas e simétricas estão entre as características mais marcantes da arquitetura renascentista, com linhas perfeitas que convergem para os pontos de fuga ao centro. Mas diferentemente da arquitetura clássica, as medidas são adaptadas às proporções humanas, sem grande monumentalidade.
Portanto, a matemática e a geometria tiveram papel fundamental na construção dessa arquitetura. Os edifícios possuem formas puras, como quadrados e círculos, assim como ordenação regular de pilares, janelas e elementos decorativos.
Essa ordenação dos elementos proporciona uma harmonia estética que beira a perfeição, o que é uma busca constantemente observada na arquitetura renascentista.
Sintetizando esse pensamento, Alberti criou um tratado que detalhou matematicamente os principais elementos da arquitetura: quadrado, cubo, círculo e esfera. Dessa maneira, o arquiteto chegou à conclusão de que a construção deve ser um reflexo das proporções divinas, harmônica e simétrica em sua integridade.
Dimensões pensadas para a proporção humana
A arquitetura renascentista considera a escala humana, de maneira que a verticalidade não é tão explorada. Nas obras desse período, é mais comum que os traços horizontais sejam as referências da construção.
Para começar, nesse período as igrejas já não contam com as suas torres extremamente altas, mas sim com cúpulas e lanternas.
Marcos da arquitetura renascentista
As principais construções desse período foram as de caráter religioso, como as igrejas. Da mesma maneira, algumas residências com localização mais afastada da cidade se destacaram.
Até mesmo a Basílica de São Pedro, que marca a transição entre períodos, recebeu alguns elementos renascentistas em sua reforma.
Santa Maria Del Fiore
O projeto arquitetônico da igreja Santa Maria Del Fiore foi elaborado por Arnoldo di Cambio e posteriormente complementado pela inovadora cúpula do arquiteto Filippo Brunelleschi.
A diferença entre essa e as outras tantas cúpulas de edifícios públicos e religiosos da época está em sua estrutura autoportante. Assim, a cúpula não necessita de escoras ou estruturas laterais para se manter erguida.
Para esse projeto, Brunelleschi utilizou conhecimentos de matemática e geometria, inovando na maneira de construir. Essa cúpula representou a ascensão da cidade e também a supremacia construtiva em relação às outras cidades de Roma e da Europa.
Por dentro, a estrutura é decorada por afrescos do pintor Giorgio Vasari e conta com vitrais laterais que permitem a entrada de luz. Filippo Brunelleschi foi uma peça-chave para impulsionar a arquitetura renascentista, influenciando diversos artistas a incorporarem características únicas em suas obras, especialmente a cúpula autoportante.
Villa Rotonda
A Villa Rotonda foi projetada por Andrea Palladio e possui esse nome por conta do salão circular central de onde desponta uma cúpula. Somado a essa característica está a sua localização, no topo de uma colina, valorizando ainda mais a sua estrutura e a própria paisagem.
A planta quadrada possui quatro fachadas quase idênticas que contam com pórticos ressaltados por onde se estendem longas escadarias. Como resultado, os pilares que sustentam a estrutura remetem à arquitetura clássica.
Tempietto di San Pietro
Essa obra de Donato Bramante foi inspirada na arquitetura clássica dos templos romanos circulares, tendo o formato como elemento estético principal. Desse modo, a construção foi pensada por Donato Bramante como um anexo da igreja de São Pedro em Montorio, muito mais como elemento escultural do que arquitetural.
As colunas em granito possuem entalhes da ordem dórica, combinadas à escadaria e à balaustrada. Além disso, a altura até a base da cúpula é exatamente igual à largura da construção, reforçam a geometria circular e proporcional de toda a construção.
O impacto da arquitetura renascentista
A mudança das relações ser humano – sagrado – natureza foi um dos principais legados do período renascentista, impactando os momentos da história que vieram logo após.
O fato de o ser humano agora ser o protagonista mudou a maneira de se comunicar, construir, produzir arte e viver, assim como para Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”. Para os arquitetos renascentistas, as edificações e as cidades consideram os usos e as necessidades, proporcionando um desenvolvimento consciente dos saberes.
Quer deixar um comentário ou relatar algum erro?Avise a gente