Estilos arquitetônicos: Bizantino

Estilos arquitetônicos: Bizantino
Thainá Neves

Por Thainá Neves

01 dezembro 2021

O período Bizantino tem como característica marcante a expansão cristã por regiões do vasto Império de Constantino. Portanto, a produção desenvolvida nesse momento apresenta traços que são uma combinação entre diferentes estilos, como o romano e o muçulmano.

Outro aspecto relevante foi a expansão do cristianismo à medida que a quantidade de territórios sob o domínio do imperador Constantino aumentava, fato que reflete a ligação direta entre os poderes político e religioso da época.

Contexto histórico do período Bizantino

Esse período teve início com a queda do Império Romano e com a invasão de Roma por Constantino. Logo após assumir o poder da região, o imperador fez de Bizâncio a capital, localização que posteriormente foi nomeada como Constantinopla.

Com o estabelecimento do Édito de Milão impedindo a perseguição de grupos por conta de crenças e práticas espirituais, o Império adquiriu posição de neutralidade diante dos diferentes credos religiosos. Essa lei foi outorgada por Constantino e significou segurança para professar a fé, impulsionando a expansão do cristianismo por todo o Império. 

Arte bizantina retratando imperador ao lado de um líder religioso.
O imperador Constantino favoreceu a ligação entre os poderes político e religioso. Fonte: Pinterest

Pouco a pouco o cristianismo substituiu os deuses da antiguidade e as produções artísticas e arquitetônicas adquiriram características voltadas para esses aspectos sagrados e religiosos. 

A arte bizantina

A arte desenvolvida no período Bizantino não possui características realistas, pois a ideia era retratar aspectos interiores, em oposição à vaidade. Portanto, as figuras humanas têm os seus traços bastante simplificados e são envoltas por detalhes que remetem à religiosidade.

No lugar do realismo, há figuras longas e magras com o rosto voltado sempre para a frente. Por outro lado, os olhos são grandes e amendoados para intensificar as expressões do rosto e demonstrar fervor religioso.

Arte bizantina representando uma cena com ovelhas e um pastor envolto por uma áurea dourada.
A arte bizantina possui temática voltada para a religião. Fonte: Pinterest

Cada aspecto da arte bizantina é cuidadosamente controlado, a fim de atingir o objetivo maior. Assim, as cenas estão representadas em duas dimensões, sem a utilização de profundidade, com bastante simetria e cenários predefinidos. Até mesmo as cores utilizadas são marcantes e repletas de significados.

Mosaicos do interior da igreja.
Mosaicos da igreja de São Salvador em Chora, Istambul. Fonte: Flickr

Em síntese, o dourado representa a presença divina, utilizado nas figuras do próprio Cristo e de seres consagrados, como os senhores feudais e os imperadores. A cor branca significa a nova vida que espera os que se convertessem à religião, enquanto o preto é sinônimo de vazio e simboliza também o período desconhecido pós-morte. O vermelho é o sangue de Cristo e a atitude altruísta de doar a sua própria vida em favor da humanidade.

Arquitetura bizantina 

Em razão do contexto no qual surgiu, a arquitetura bizantina tem grande parte de sua produção composta por catedrais, templos religiosos e construções que servem à igreja. O Bizantino se desenvolve em função da fé, reafirmando o poder da igreja, assim como os estilos arquitetônicos Gótico e Barroco.

A busca por uma arquitetura divina resultou em inovações nos materiais utilizados para erguer os edifícios. Com o fim de obter obras mais leves e flexíveis, as convencionais paredes em pedra foram substituídas por tijolos.

Vista da fachada com tijolos e massa intercalados.
A Igreja de São Salvador, em Chora, possui tijolos expostos em sua fachada. Fonte: Flickr

O formato das edificações também adquiriu características específicas, com planta em cruz. As configurações com braços de tamanhos iguais são as mais comuns das construções bizantinas. No encontro entre as duas extensões, o pé-direito torna-se amplo e recebe uma cúpula extremamente decorada.

Gravura representando a fachada da Igreja dos Santos Apostolos, com traços bizantinos presentes na cúpula e nos mosaicos.
Ilustração retratando a antiga Igreja dos Santos Apóstolos, com temática religiosa e cores intensas. Fonte: Pinterest

Além das cúpulas, as estruturas em arcos e os mosaicos vítreos complementam as construções. 

Cúpulas amplas

As cúpulas são elementos sempre presentes na arquitetura bizantina. No entanto, diferentemente do observado em outros períodos, as cúpulas bizantinas possuem diâmetro monumental e aspectos únicos relacionados à iluminação no interior das construções.

Vista das cúpulas com pináculos dourados.
As cúpulas da Basílica de Santa Sofia foram importantes referências para a construção no período bizantino. Fonte: Flickr

As cúpulas bizantinas se apoiam em paredes com colunas internas e arcos para a contenção de todos os esforços, estruturas que são valorizadas por meio de ornamentos e esculturas. 

O uso do tijolo na arquitetura bizantina tornou a construção mais leve, permitindo amplas aberturas mesmo nas cúpulas. É comum observar uma espécie de anel com janelas em torno dessas estruturas, garantindo luz indireta que destaca o interior do centro das construções.

Vista interna da cúpula, com estátuas entalhadas em cada um dos arcos que sustenta a estrutura.
A cúpula do Batistério Neoniano está apoiada em arcos dispostos lado a lado. Fonte: Pinterest

A complexidade do interior dessas estruturas e a riqueza de detalhes  contrastam completamente com os exteriores das construções bizantinas, os quais são despidos de ornamentação. Dessa maneira, é passada a mensagem de que o homem deve ser muito simples por fora, enquanto o seu interior é repleto de fé e devoção.

Mosaicos vítreos

Os mosaicos são pequenas peças de pedra ou materiais vítreos coloridos que, dispostos em conjunto, formam imagens. Na arquitetura bizantina, esses elementos se unem para retratar cenas bíblicas e figuras sagradas.

Imagem de Cristo Pantocrator em mosaicos.
O Cristo Pantocrator é uma representação bizantina bastante presente nos painéis. Fonte: Zondervan Academic

O Cristo Pantocrator está entre as representações mais comuns dos mosaicos bizantinos, seguindo padrões que reforçam a sua importância para o Império. A figura está sempre formando letras de seu nome em uma das mãos e, na outra, segura o livro sagrado.

Posto que os poderes político e religioso se mesclam durante esse período da história, Jesus Cristo e o imperador possuem a semelhança de utilizarem roupas luxuosas e gloriosas, como um reflexo do reino sagrado de Deus, repleto de riquezas.

Vista interna da cúpula revestida por mosaicos. Ao centro, uma cruz gravada em um círculo azul.
Assim como a Basílica Sant’Apollinare in Classe, as construções bizantinas possuem interiores completamente revestidos por mosaicos. Fonte: Pinterest

Ravena possui sítios reconhecidos pela Unesco como patrimônios da humanidade, sendo considerada o maior berço de mosaicos bizantinos do mundo.

As obras marcantes da arquitetura bizantina

A arquitetura bizantina possui obras marcantes em diversos países, como Turquia, Itália, Grécia, Rússia e Egito, por conta do enorme alcance do Império Bizantino. Conheça, a seguir, algumas obras que reúnem as principais características desse estilo arquitetônico.

Basílica de Santa Sofia

Essa obra é o marco da arquitetura bizantina e está na porção mais alta de Istambul, antiga Constantinopla, destacando-se na paisagem para demonstrar a grandeza do Império.

Vista da Basílica de Santa Sofia durante o inverno, com uma fina camada de neve cobrindo a praça que leva até a entrada principal.
A Basílica de Santa Sofia está no ponto mais alto de Istambul. Fonte: Flickr

A Basílica de Santa Sofia possui um efeito de camadas que se erguem, sendo a cúpula principal o ponto de destaque, com seus 31 metros de diâmetro. O elemento é, portanto, como uma reinterpretação da cúpula do Panteão, totalmente contornado por 40 janelas que resultam em um efeito bastante luminoso quando visto do interior.

Interior da Basílica com revestimentos dourados na cobertura e diversas janelas favorecendo a entrada de iluminação na parte superior.
O adornado interior da Basílica é iluminado por janelas que contornam as cúpulas. Fonte: Flickr

Além disso, a decoração da basílica é extremamente ornamentada, com inúmeros painéis de mosaicos. Neles, as figuras sagradas são valorizadas por formas geométricas e orgânicas, como flores, folhagens e aves. Para atingir esse resultado, mais de dez mil artesãos trabalharam na criação da obra.

Coluna em tons de verde marmorizado e com detalhes superiores entalhados.
As colunas da Basílica são repletas de detalhes e relevos em temática naturalista. Fonte: Flickr

O aspecto naturalista também está presente nos capitéis esculpidos das colunas, as quais possuem o eixo em mármore esverdeado que complementa com requinte a decoração do espaço. 

Basílica de São Marcos

Essa referência de arquitetura bizantina está localizada em Veneza, na Itália, sendo considerada uma construção importante para a vida pública e religiosa da cidade. Além disso, a sua marcante história envolve ataques, incêndios e duas reconstruções, fatos que garantiram uma mistura de estilos arquitetônicos à Basílica de São Marcos.

Fachada da basílica com elementos arqueados em fundo dourado e cúpulas em camadas.
A Basílica de São Marcos reúne, além de características bizantinas, traços de outros estilos arquitetônicos. Fonte: Flickr

A parte externa da alvenaria recebeu revestimentos e entalhes gradualmente ao longo dos anos, resultando na riqueza de detalhes observada atualmente. Acima dos arcos, cinco cúpulas coroam o edifício, cada uma delas com quase 13 metros de diâmetro.

No interior da construção, a decoração de mosaico acontece sob fundo dourado, totalizando mais de 8 mil m² de área coberta. Da mesma maneira, o piso é composto por peças de mármore e vidro, assim a luz que adentra os ambientes reflete as superfícies coloridas em uma variação de cores simbolizando a luz do paraíso.

Vista interna da cúpula com fundo em tom dourado reluzente e 12 figuras santas.
O interior da Basílica de São Marcos possui um fundo dourado e mosaicos coloridos formando figuras santas. Fonte: Flickr

A iluminação interna do edifício também evidenciam os cuidados no projeto, trabalhando as cores douradas e o ouro para demonstrar a riqueza da cidade de Veneza.

Basílica de San Vitale

Localizada em Ravena, na Itália, a Basílica de San Vitale faz parte de um berço no qual se encontram diversos patrimônios históricos bizantinos. O formato octogonal da estrutura foi construído em tijolos, proporcionando um aspecto externo de arquitetura romana, enquanto a cúpula foi moldada em terracota.

Fachada da igreja em formato octogonal e com estrutura composta por tijolos terracota.
A Basílica de San Vitale possui arquitetura com características externas que remetem às construções romanas. Fonte: Flickr

O teto central abobadado possui apoio direto em arcos que distribuem o peso por toda a estrutura. Grande quantidade de mármore cobrem as paredes da construção, especialmente no interior, com mosaicos retratando cenas bíblicas com folhas, frutos e flores arrematando o contorno das cenas.

Vista interna da cúpula, decorada com imagens de flores e figuras geométricas.
Os arcos que sustentam a cúpula são decorados com elementos de temática natural. Fonte: Flickr

No ano de 1996, a Basílica de San Vitale foi considerada Patrimônio Mundial pela Unesco, assim como outras diversas obras localizadas em Ravena.

Bizantino no Brasil

A arquitetura bizantina alcançou até mesmo algumas cidades das regiões sul e sudeste do Brasil.

Obviamente que as influências chegaram de maneira tardia e passaram por um processo de tropicalização. Os edifícios receberam elementos construtivos brasileiros, tornando o uso de madeira mais frequente do que no estilo original.

Catedral Ortodoxa Antioquina

Localizada em São Paulo, a Catedral Ortodoxa Antioquina possui cúpulas de metal dourado que remetem à Basílica de Santa Sofia e foi construída com o auxílio de doações de famílias ortodoxas árabes de todo o País.

Vista externa da cúpula principal e das meia cúpulas, apoiadas na parede. Ambas com inspiração da Basílica bizantina de Santa Sofia.
A luxuosa Catedral Ortodoxa Antioquina possui um púlpito ornamentado e repleta de figuras santas. Fonte: Flickr

Da mesma forma que a arquitetura bizantina original, as cúpulas são dispostas em camadas, criando um efeito de cascata no exterior do edifício.

O luxo está sempre presente em cada detalhe do interior da construção, desde os vitrais até os afrescos e as paredes internas da catedral. Ao fundo do púlpito, onde acontecem as cerimônias religiosas, há uma espécie de painel com portas em madeira e espécies de quadros retratando figuras santas.

Vista da nave interna da Catedral, com amplo pé-direito.
A luxuosa Catedral Ortodoxa Antioquina possui um púlpito ornamentado e repleta de figuras santas. Fonte: Flickr

A cúpula principal é sustentada por dois andares de arcos que terminam em colunas marmorizadas em tons de azul. Do mesmo modo, o cenário representado na cúpula possui um fundo azulado que destaca a figura central.

As janelas dispostas lado a lado, na base da cúpula, iluminam a arte que está no teto e, da mesma forma, as paredes que se estendem até o púlpito, valorizando a atmosfera de reflexão.

Vista interna da cúpula central inspirada na arquitetura bizantina, com fundo azul e lustre pendente.
A cúpula principal da catedral é complementada por um luxuoso lustre. Fonte: Flickr

Igreja de São Josafat

A Igreja de São Josafat é outro ícone da arquitetura bizantina no Brasil. Localizada em Prudentópolis, no Paraná, o edifício foi erguido por famílias ucranianas católicas no ano de 1923, seguindo aspectos construtivos de seu país de origem.

Vista aérea da igreja, coroada por uma cúpula em tons de cinza que se destaca da construção.
A Igreja de São Josafat possui uma cúpula central e planta em formato de cruz. Fonte: Flickr

A igreja possui estrutura em alvenaria de tijolos, além de uma cúpula central com interior adornado. No entanto, é o trabalho em madeira que capta a atenção de imediato ao adentrar essa construção.

O elemento principal funciona como divisão entre a nave dos fiéis e o santuário, contando com 12 cenas de passagens bíblicas retratadas. Nas laterais da nave, há dois altares em disposição simétrica.

Fotografia do interior da igreja com traços bizantinos, com amplo painel em madeira ornamentado.
O interior da igreja possui fino trabalho em madeira com tons escuros. Fonte: Flickr

A Igreja de São Josafat é tombada como patrimônio do Paraná, processo que aconteceu no ano de 1979 para reconhecimento da riqueza cultural e artística que essa obra representa para o estado.

O impacto do período Bizantino na história

A produção relacionada à arte e à arquitetura bizantina se estendeu por todo o território do Império de Constantino e, até mesmo, por países asiáticos e do sudeste europeu. O amplo alcance se deu pela quantidade de regiões conquistadas e pela duração do Império Bizantino, afinal foram mais de mil anos dessa organização política no poder.

De fato, esse período desenvolveu a base para movimentos que vieram a seguir. No Gótico, por exemplo, são nítidas as influências do Bizantino, por conta de suas características construídas a serviço da fé e da religião.

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Thainá Neves
Conteúdo criado por:Thainá Neves
Arquiteta, apaixonada pelo mundo das artes e dedicada à pesquisa desde o início de sua formação, está sempre atenta ao que surge de melhor para a criação de cidades mais sustentáveis e moradias mais adequadas.

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