Estilos arquitetônicos: Art Déco
Por Nathália Zanardo
18 junho 2021
O Art Déco foi um estilo artístico de caráter decorativo que surgiu na França no século XX, durante o período entreguerras. Marcado pela sua visão de progresso e modernidade, o estilo afirmava o luxo, o glamour e a exuberância em suas obras.
Conhecido também como estilo dos anos 20, em seu ápice se espalhou por diversas partes do mundo. Com formas geométricas, linhas retas e desenhos abstratos, o Art Déco influenciou e se destacou nas mais diversas áreas das artes.
O Art Déco
Como uma tendência artística vigente em uma época de rápidas transformações sociais e tecnológicas, o Art Déco foi a resposta dos artistas que buscavam a modernidade e o progresso, afastando-se do modelo clássico.
Assim, o estilo se manifestou em variadas áreas e influenciou em criações das artes visuais, da arquitetura, da moda, do desenho industrial, do cinema, do design de interiores, entre outras artes. Marcando um estilo de vida luxuoso, no qual o desenho moderno era combinado a elementos artesanais e materiais nobres.
Contexto histórico
Surgindo na França no começo do século XX, um pouco antes da Primeira Guerra Mundial, o Art Déco aparece como um estilo meramente decorativo, considerado elegante, funcional e ultramoderno, já que representava a grande crença no progresso social e tecnológico do continente europeu.
Em 1925, ocorre um grande marco para o estilo, a Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais Modernas, realizada em Paris. Nesse momento, o Art Déco foi apresentado para o mundo e consolidado como um novo estilo artístico.
Além de ser um grande sucesso que atraiu milhões de visitantes e reuniu expositores de diversos países, a exposição foi responsável por dar o nome ao estilo, já que o termo “Art Déco” tem origem da abreviação de artes decorativas.
A exposição também foi responsável por dar ênfase ao novo estilo luxuoso e refinado, que valorizava a geometria, as linhas retas, a decoração, os materiais nobres e o trabalho artesão, por isso estava muito ligado à burguesia europeia.
Em 1934, com a exposição Art Déco no Metropolitan Museum de Nova Iorque, o estilo se popularizou pelo mundo com a aproximação da produção industrial, com materiais mais baratos e métodos de serem produzidos em massa.
Isso fez com que o Art Déco chegasse a grande parte da população e começasse a fazer parte da vida cotidiana, assim o estilo passou a ser utilizado em publicidades, objetos de uso doméstico, joias, moda e mobiliário.
Com a Grande Depressão nos Estados Unidos em 1929, seguida pelo início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, novas necessidades aparecem, em que as obras deveriam ser funcionais e sem adornos, fazendo com que o Art Déco fosse substituído por estilos como o Modernismo.
Diferentemente do Art Nouveau, o Art Déco não pode ser considerado um movimento, e sim um estilo artístico, pois, mesmo em um período de muitos progressos e inovações, ele não foi inspirado em uma causa social nem tinha uma doutrina própria, preocupando-se essencialmente com a parte decorativa.
O estilo teve grandes nomes marcados, como: Ernst Ludwig Kirchner, Fritz Bleyl, Paul Poiret, Sonia Delaunay, René Lalique, William Van Alen, Maurice Ascalon, Erich Heckel, Émile-Jacques Ruhlmann, Walter Gropius, Joost Schmidt, entre outros destaques em variados segmentos das artes.
As características do estilo Art Déco
Com fortes influências do construtivismo, do futurismo e do cubismo, o Art Déco rompe as características utilizadas pelo Art Nouveau, como a irregularidade das curvas, a assimetria e os elementos da natureza, afastando-se ainda mais do modelo clássico.
Assim o estilo decorativo inicialmente foi marcado pelo uso de muitas cores, brilho e estampas florais; quando passa a ter grande influência do cubismo, a geometria fica ainda mais valorizada. Próximo à Grande Depressão, o estilo fica mais modesto, diminuindo seus ornamentos, mas ainda mantendo a elegância.
Suas obras ficaram marcadas por características como a luxuosidade, as formas geométricas, a simetria, o design abstrato, o emprego de materiais nobres, como marfim, jade e prata, e de novos materiais, como o alumínio, o cromado e o baquelite, a utilização de figuras femininas e de animais, a busca pela inspiração no progresso, na modernidade e nas máquinas.
Art Déco na arquitetura
O Art Déco na arquitetura foi marcado por construções que usavam concreto armado, linhas retas, simetria e formas retangulares, com ornamentos pontuais e cores neutras nas fachadas, afastando-se da linguagem arquitetônica proposta anteriormente.
Dois grandes nomes foram responsáveis por marcar a utilização do estilo na arquitetura, Auguste Perret e Henri Sauvage, ambos arquitetos franceses que destacaram e demonstraram o potencial do Art Déco em Paris na década de 20.
No início de sua carreira, o arquiteto modernista Le Corbusier trabalhou com Auguste Perret, momento em que ele teve a oportunidade de aprender um pouco sobre as técnicas do concreto armado, material principal utilizado nas construções do Modernismo.
Logo após a Primeira Guerra Mundial, as construções que utilizavam concreto armado e aço se tornaram mais comuns e começaram a aparecer pela Europa e pelos Estados Unidos na arquitetura de edifícios governamentais, cinemas e estações ferroviárias.
Com essa popularização pelo mundo, em seu ápice, o Art Déco foi utilizado na arquitetura dos arranha-céus americanos, sobretudo em Nova Iorque, com os famosos edifícios Chrysler Building, Empire State Building e Rockefeller Center, representando não só o estilo decorativo, mas também avanços na engenharia que marcavam a sociedade moderna e tecnológica.
A partir de 1930, as ideias modernistas de Le Corbusier começam a ganhar força, assim as artes e a arquitetura começam a se afastar das ideias propostas pelo Art Déco e o estilo começa a ser substituído por uma arquitetura funcional e simplificada.
As características do Art Déco na arquitetura
Na arquitetura, o Art Déco se destacou pelo rigor geométrico e pela predominância de linhas verticais, assim como o uso de materiais como o concreto armado e o aço nas estruturas. Também utilizou marquises, colunas, pilastras, formas simplificadas e platibandas em suas construções.
O estilo foi marcado por algumas características principais que destacavam o caráter decorativo e as inovações propostas, apresentadas a seguir.
Ornamentação
Sendo um estilo artístico de caráter decorativo feito para a classe social em ascensão da época, a burguesia, o Art Déco mesmo na arquitetura representava todo luxo e glamour que se poderia ter em uma construção.
Assim, os edifícios eram feitos com muitos ornamentos que se estendiam da fachada para o interior, utilizando materiais nobres; as decorações eram, muitas vezes, esculpidas, criando uma riqueza de detalhes em todos os elementos.
Geometria
A geometria é uma das características mais marcantes do estilo, proporcionando ritmo, dinâmica e modulação a suas construções. O caráter é desenvolvido com linhas retas estilizadas ou circulares, design abstrato e formas puras e geométricas.
Materiais
Outro marco no estilo foram os materiais utilizados. O Art Déco segue duas linhas de materiais: os nobres e os inovadores. Essa mistura possibilitou o uso de diferentes texturas e cores nas edificações, e várias estéticas foram exploradas.
Inspiração na modernidade
Mesmo não surgindo por uma causa social ou doutrina própria, o estilo apareceu em um momento de muitas transformações que buscavam o ultramoderno em suas criações.
As construções refletiam o mesmo pensamento, em que os edifícios se inspiravam na aerodinâmica e na estética das invenções para formas e fachadas das construções. Com isso, muitos edifícios possuíam elementos náuticos que se assemelhavam com um navio, refletindo os transatlânticos.
Marcos da arquitetura ao redor do mundo
Como um verdadeiro estilo internacional que se espalhou pelo mundo, o Art Déco teve obras que representaram o caráter decorativo e o apreço pelo progresso, marcando o início do século XX.
Teatro de Champs-Élysées
Inaugurado em 1913, o edifício foi projetado pelo arquiteto francês Auguste Perret e se tornou uma das primeiras construções de referência do Art Déco. O edifício nasce com uma proposta de contraste às instituições tradicionais, como a Ópera de Paris, assim criando uma sala de espetáculos adequada para música contemporânea, dança e ópera.
Construído totalmente em concreto armado, o edifício se tornou um marco no novo e eficiente método construtivo. Foi um importante marco para a arquitetura que se afastava da linguagem proposta pelo Art Nouveau e consolidava as características do estilo decorativo.
O edifício de formato retangular com volume limpo, com linhas retas e decoração geométrica possui três salas de espetáculo e um restaurante. Com uma fachada decorada com esculturas em placas de Antoine Bourdelle, uma cúpula decorada de Maurice Denis e pinturas de Édouard Vuillard, deixou sua marca e pode ser considerado como o início de um estilo.
Empire State Building
Localizado no centro de Manhattan, em Nova Iorque, o Empire State Building marca a paisagem local, com 102 andares e com 443 m de altura. Por sua grandiosidade, o edifício se manteve como o mais alto do mundo por 40 anos e é um símbolo na cultura estadunidense.
Inaugurado em 1931, o edifício Art Déco foi planejado em um período difícil da história americana, no qual o país passava por uma grave crise financeira. Então surgiu a ideia de criar uma torre de escritórios que representasse a grandeza e levasse esperança para o povo.
A monumental obra contou com 3.400 trabalhadores e uma estrutura inovadora com 210 colunas de fundação e 50.000 vigas de aço montadas e revestidas com vidro, tijolos e calcário, o que possibilitou sua finalização em tempo recorde de 1 ano e 45 dias.
Art Déco em Miami
Conhecido como Art Deco District, esse conjunto de edificações em Miami é considerado o maior aglomerado arquitetônico de Art Déco no mundo. Construído entre 1920 e 1940, na parte sul de South Beach, o circuito conta com variadas edificações, como casas, prédios, hotéis, bares e museus.
Essa região de Miami conta com mais de 900 edificações históricas construídas no estilo. Com linhas retas e formas geométricas, fogem um pouco do padrão em sua ornamentação, com tonalidades pastéis e elementos que remetem à fauna, à flora e ao oceano, podendo ser considerado este um regionalismo do Art Déco.
O estilo artístico no Brasil
No Brasil, o Art Déco surgiu ainda no final da década de 1920 e teve sua notoriedade na arquitetura, na qual seus exemplares são facilmente encontrados nas grandes capitais do País.
A relação com o estilo no País é tão grande que o Rio de Janeiro é considerado a capital do Art Déco na América Latina, com um acervo de quase 300 edificações. A cidade também possui um exemplar marcante do estilo, o Cristo Redentor, a maior escultura Art Déco do mundo.
Mesmo marcando a arquitetura nacional, o estilo conseguiu expressar toda sua modernidade em outras áreas das artes, destacando-se na escultura e na pintura com dois grandes nomes: Vicente do Rego Monteiro e Victor Brecheret.
Arquitetura Art Déco no Brasil
O Art Déco na arquitetura brasileira se difundiu entre os anos de 1930 e 1940 e continuou o legado proposto em sua criação. Diversas capitais ficaram marcadas com construções do estilo, além do Rio de Janeiro, São Paulo, Goiânia, Belo Horizonte, Campo Grande e Porto Alegre, que possuem bons exemplares do estilo.
Marcos na arquitetura brasileira
Mesmo com um começo um pouco tardio quando comparado à Europa, o Art Déco na arquitetura brasileira marcou a paisagem do País e se destacou principalmente nas variadas construções públicas.
Elevador Lacerda
Localizado em Salvador, o Elevador Lacerda surgiu para resolver o problema do relevo da cidade, que fazia os deslocamentos serem difíceis e desgastantes. Portanto, a construção surgiu com o objetivo de conectar o centro histórico, parte alta da cidade, ao centro comercial e financeiro, a parte baixa da cidade.
Considerado o primeiro elevador urbano do mundo, o Elevador Lacerda foi inaugurado em 1873, sendo um projeto idealizado pelo empresário de transportes Antônio de Lacerda. Com 63 metros, uma torre e duas cabines, seu funcionamento era feito através de uma máquina a vapor e foi uma grande inovação.
Em 1930, a construção passa por reformas, em que elementos do estilo Art Déco são inseridos. Com a reforma, a estrutura do elevador ganha também mais uma torre, duas cabines e uma passarela de aço e concreto.
Estádio do Pacaembu
Inaugurado em 1940, o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, ou Pacaembu, começou a ser construído para ser um complexo esportivo e de lazer para a cidade de São Paulo, com um campo de futebol ao centro, rodeado por arquibancadas e do lado sul do restante do complexo.
Com a adoção de um novo regime político em 1937, algumas mudanças no projeto inicial foram realizadas, já que as construções da época deveriam demonstrar a força do País. Com isso, o projeto se tornou ainda mais grandioso, tornando a capacidade do estádio para 70 mil torcedores.
A construção monumental foi marcada pela arquitetura Art Déco, mas com uma inspiração náutica, com linhas curvas e simétricas, as aberturas redondas na fachada e as estruturas que lembram mastros, remetendo a elementos utilizados em navios.
Estação Central do Brasil
A Estação Central do Brasil é uma estação de trens metropolitanos localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro, sendo um dos exemplos da utilização do estilo Art Déco na arquitetura carioca.
Composto por uma torre e dois volumes baixos, a edificação possui um grande relógio de quatro faces com dez metros de altura. Além disso, a construção demonstra muita simetria, características geométricas, ritmo e uma fachada marcada por ornamentos em frisos.
Art Déco, um estilo marcado pelo decorativo
Sendo um estilo de caráter decorativo, o Art Déco conseguiu se destacar nas mais diversas artes, possibilitando a exploração da geometria e do desenho abstrato aliados a diferentes materiais.
Na arquitetura, ficou marcado pelos ornamentos e pelas construções rítmicas, com linhas retas e formatos simples, que demonstravam o avanço e a procura pelo moderno como suas estruturas feitas por concreto armado e aço.
Com o tempo, o estilo foi substituído, mas deixou um grande legado para trás, sendo o primeiro estilo internacional a se espalhar pelo mundo.
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