Estilos arquitetônicos: Neoclassicismo
Por Victória Baggio
04 junho 2021
Ao longo do tempo, os valores das civilizações do mundo foram se transformando, novos modos de perceber o homem e o planeta; podemos ver isto claramente nas artes, como na literatura, na pintura, na escultura e também na arquitetura. O Neoclassicismo, por exemplo, foi um estilo arquitetônico que retomou valores e formas de construir de uma época bastante anterior: a arquitetura clássica greco-romana.
Apesar de ter surgido na Europa ocidental durante o século XVIII, o estilo Neoclássico espalhou-se pelo mundo, e hoje em dia podemos conhecer um arsenal de obras construídas a partir desse estilo arquitetônico.
Neoclassicismo
O Neoclassicismo foi um movimento artístico e cultural surgido na Europa no século XVIII, que visava resgatar os valores estéticos e culturais das civilizações clássicas.
Pode-se ler o Neoclassicismo como uma retomada dos valores da cultura clássica, das civilizações gregas e romanas antigas, materializados com novos objetivos e diferentes métodos construtivos.
O estilo Neoclássico está diretamente vinculado ao academicismo, defendendo a retomada da arte antiga e valorizando-a como um modelo de equilíbrio, proporção e simplicidade estética.
O estilo Clássico foi utilizado para a construção de obras monumentais, regidas pelas ordens arquitetônicas clássicas, simetria e proporção dos elementos e com o todo. O estilo Neoclássico revisitou tais características, porém a partir de uma nova concepção.
Na pintura e na escultura neoclassicistas, percebe-se a busca pela pureza e pela harmonia das formas. O equilíbrio das cores é uma característica essencial. Entre os principais artistas neoclássicos estão: Jacques-Louis David (1748-1825), Jean Auguste Dominique Ingres (1780-1867), Jean Baptiste Debret (1768-1848) e Antonio Canova (1757-1822), por exemplo.
Contexto histórico do Neoclassicismo
O Neoclassicismo surgiu na Europa após a Revolução Francesa (1789), durante o período da Primeira Revolução Industrial (1760-1820), no contexto do Iluminismo, chamado “era da razão”.
Tais revoluções geraram uma quebra do absolutismo e a instauração de uma democracia. O Neoclassicismo é uma busca por voltar ao estilo Clássico, a Atenas, com símbolo de equilíbrio que a época necessitava.
Outro fator importante da época foi a redescoberta da cidade de Pompéia, que propiciou o descobrimento de um mundo que ainda deveria ser explorado. A cidade, que havia sido destruída pela erupção do vulcão Vesúvio, em 79 d.C., foi redescoberta no século XVIII com uma série de escavações, revelando antigos painéis, objetos e a lógica construtiva da cidade e de seus espaços.
Com isso, filósofos e intelectuais começaram a resgatar os conceitos do estilo Clássico e deram origem ao Neoclassicismo.
Arquitetura neoclássica
A arquitetura neoclássica opõe-se aos estilos arquitetônicos anteriores, Barroco e Rococó, ao exagero dos detalhes ornamentais e à excessividade estética.
O estilo Neoclássico é a favor do rigor formal, da técnica apurada e do esboço, como processo prévio à construção da obra.
Uma arquitetura regida por ordens clássicas, em busca de limpeza e simplicidade.
Ao se tornar um fenômeno internacional, a arquitetura neoclássica teve diversas correntes, de acordo com características locais de cada país e época, afinal o estilo perdurou durante todo o século XIX.
As principais características da arquitetura neoclássica
A arquitetura neoclássica apresenta características referentes à arquitetura clássica grega, como uma busca por equilíbrio, proporção e clareza nos edifícios.
O academicismo é uma forte característica da arquitetura neoclássica, que levou ao culto à teoria de Aristóteles, de que precisamos imitar o que já existe na natureza. O Neoclassicismo, portanto, pode ser lido como culto à imitação da natureza.
A proporção e a simetria é algo aparente em todos os projetos neoclássicos; os edifícios eram regidos pelo rigor formal da ortogonalidade, resultando em plantas retangulares e simétricas.
As três ordens principais da arquitetura clássica grega ⏤ Dórica, Jônica e Coríntia ⏤ também são características predominantes na arquitetura neoclássica. Além da utilização de elementos clássicos como abóbadas, cúpulas e frontões triangulares.
Percebe-se também, nos edifícios neoclássicos, o uso de materiais nobres, como pedra, mármore, granito e madeira.
Processos técnicos avançados são combinados com sistemas construtivos simples.
Marcos da arquitetura neoclássica no mundo
Podemos observar obras de arquitetura neoclássica tanto em países europeus como França, Itália, Portugal e Inglaterra, como na Rússia, nos Estados Unidos e também na América Latina.
Embora o estilo Neoclássico possa ter sofrido influências locais em cada um desses lugares, é possível notar a presença de elementos-chave que compuseram o estilo Neoclássico, fiel à retomada da arquitetura clássica antiga.
Se por um lado o estilo Clássico fora utilizado basicamente para a construção de edifícios religiosos, de templos e igrejas, o estilo Neoclássico é implementado em uma variedade de edifícios, de igrejas e museus, como em sedes governamentais etc.
Apesar de terem funções bastante diferentes, todos os edifícios neoclássicos partem do modelo Clássico, de planta retangular e fachada com colunas e frontão, por exemplo.
Existem alguns edifícios neoclássicos que se tornaram verdadeiros marcos do Neoclassicismo, reconhecidos mundialmente. Conheça um pouco mais sobre alguns deles a seguir.
Panteão de Paris
O Panteão de Paris, um dos maiores exemplos da arquitetura neoclássica, está localizado no Quartier Latin, no 5º arrondissement de Paris, França.
Construído durante o século XVIII, o edifício homenageia pessoas que marcaram a história da França, 70 delas abrigadas na cripta do edifício, que vão de escritores a políticos, incluindo Napoleão Bonaparte.
O edifício é conformado por uma planta em forma de cruz grega, coroado por uma cúpula de 83 metros de altura. A fachada principal está decorada com colunas de estilo coríntio que sustentam um frontão triangular, obra do escultor David d’Angers.
O interior do edifício está decorado com pinturas também neoclássicas, de Pierre Puvis de Chavannes, Antoine-Jean Gros e Alexandre Cabanel.
Portão de Brandemburgo
O Portão de Brandemburgo, em Berlim, também é uma obra de forte presença do estilo Neoclássico na Europa.
O arco do triunfo da capital Alemã situa-se na parte ocidental do centro de Berlim e fora reconstruído durante o final do século XVIII no estilo Neoclássico.
Projetado por Carl Gotthard Langhans, o monumento é composto por 12 colunas da ordem Dórica, seis de cada lado. No topo do portal, está a Quadriga, estátua da deusa grega Irene, deusa da paz.
Igreja San Simeone Piccolo
A Itália foi o berço do estilo Barroco, que antecedeu o período Neoclássico, por conta disso, o estilo em questão tardou para realmente entrar em voga no país, e, mesmo uma vez em tendência, é possível perceber elementos do Barroco que permaneceram.
A Igreja San Simeone Piccolo, localizada às margens do Grande Canal de Veneza, é um exemplo da arquitetura neoclássica italiana.
Projetada por Giovanni Antonio Scalfarotto, construída entre 1718 e 1738, o edifício de planta circular é coroado por uma importante cúpula. A fachada é decorada com colunas coríntias que apoiam um frontal triangular.
Capitólio de Washington
O Capitólio de Washington, na capital estadunidense, é um dos principais exemplos da arquitetura neoclássica no país.
O imponente edifício é composto por um corpo central e duas alas laterais, cada uma para as câmaras do congresso. A cúpula é o principal destaque , localizado no centro do edifício. Coroando a cúpula está a Estátua da Liberdade, símbolo americano.
O neoclassicismo no Brasil
O estilo Neoclássico se instaura no Brasil somente um século depois de sua origem na Europa, no contexto do início do século XIX, época de chegada da família real portuguesa e mudança da capital brasileira para o Rio de Janeiro, que passa a ser o principal centro urbano do País e, portanto, lugar das construções mais importantes.
A arquitetura neoclássica surge, em tal contexto, como um novo estilo arquitetônico com objetivo de construir novos edifícios públicos, com certo aspecto nobre, sendo, portanto, o Clássico a maior influência. Esses novos edifícios serviriam de infraestrutura para o novo império.
O estilo Neoclássico se tornou então o “estilo oficial” do País e, após a fundação da Escola de Ciências, Artes e Ofícios, foi institucionalizado dentro do academicismo.
Além do Rio de Janeiro, cidades que também receberam edifícios neoclássicos foram as capitais de estados no nordeste do País, como Belém e Recife. Tais cidades funcionavam como ponto estratégico de vínculo entre Brasil e Europa.
Arquitetura neoclássica no Brasil
O estilo Neoclássico presente no Brasil foi uma derivação posterior do Neoclassicismo Europeu, compartilhando dos mesmos ideais, à época Clássica grega, seus valores e seus elementos arquitetônicos.
Mas, além disso, no Brasil, o estilo Neoclássico passou a ser sinônimo ideológico de progresso da sociedade e, posteriormente, inspirando uma civilização moderna e autônoma.
A arquitetura neoclássica brasileira está diretamente influenciada pelo modelo dos templos gregos, simétrico e proporcional, de planta retangular, com a fachada principal composta por uma série de colunas e coroado por um frontal retangular.
Palácio Imperial de Petrópolis
O Palácio Imperial de Petrópolis, região serrana do estado do Rio de Janeiro, foi construído durante a segunda metade do século XIX, com a função de residência de verão para Dom Pedro II e sua família.
O edifício foi projetado inicialmente por Júlio Frederico Köeler e depois modificado por Cristóforo Bonini, que incluiu mais detalhes decorativos. O Palácio também contempla um belíssimo jardim, projetado pelo paisagista Jean-Baptiste Binot, na década de 1850.
Atualmente, o Palácio funciona como Museu Imperial, aberto ao público, possibilitando conhecer de perto os aposentos reais da época do Brasil Imperial.
Igreja Nossa Senhora da Candelária Rio de Janeiro
A Igreja da Candelária é uma das principais obras arquitetônicas no estilo Neoclássico do Brasil. Localiza-se no centro do Rio de Janeiro.
Apesar de ser considerada neoclássica, o interior da igreja recebe uma exuberante decoração, em um misto de estilo Neoclássico, eclético e incluindo até referências barrocas.
A imponência da fachada principal da igreja é alcançada através do contraste entre as paredes brancas e os detalhes decorativos em granito escuro carioca, que fazem o perfil das janelas, as duas torres e o frontão clássico.
Quer saber mais sobre o estilo que deu origem ao Neoclássico, confira este conteúdo super completo que criamos sobre o estilo Clássico!
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