Parque Ibirapuera: onde a natureza encontra a cultura
Por Victória Baggio
21 dezembro 2020
O Parque Ibirapuera, construído para comemorar o quarto centenário da cidade de São Paulo, em 1954, compõe um dos melhores parques urbanos do mundo, lugar onde o lazer e a natureza encontram a cultura em espaços projetados com maestria por Oscar Niemeyer, resultando em um ícone da arquitetura brasileira.
O projeto do Parque Ibirapuera
Em 1951, o Governo do Estado de São Paulo, para comemorar o quarto centenário da capital do estado, decidiu construir um parque para abrigar eventos econômicos e culturais da cidade, que, na época, vivia um período de alto crescimento industrial, sendo polo da América Latina.
Para projetar o parque, foi convidado o arquiteto Oscar Niemeyer, já prestigiado nacional e internacionalmente. A essa altura, o arquiteto já havia construído obras chaves para a sua carreira, como o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, o Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, em conjunto com Lucio Costa, com consultoria do renomado Le Corbusier, entre outros.
Para compor o complexo do Parque Ibirapuera, Niemeyer projetou seis edifícios dispersos na enorme área verde: o Palácio das Indústrias (atual Pavilhão da Bienal), o Palácio dos Estados (atual Pavilhão das Culturas Brasileiras), o Palácio das Nações (atual Museu Afro Brasil), o Palácio da Agricultura (atual Museu de Arte Contemporânea), o Palácio das Artes (atual Oca) e o Auditório Ibirapuera (ou Auditório Niemeyer), além do MAM e da marquise, que unifica o complexo de pavilhões.
Apesar de o projeto ser composto por partes, ou seja, pelas edificações dispersas pelo parque, é notável que fazem parte de um todo. O conjunto de pavilhões foi criado com base em uma lógica projetual comum. Isso fica visível quando percebemos o uso dos materiais concreto e vidro, das formas puras, certo ritmo e ortogonalidade das estruturas, que são comuns entre os pavilhões.
Além disso, outros conceitos projetuais mais empíricos colaboram para essa unidade do complexo. O percurso, ou passeio arquitetônico, é um recurso que aparece em todas as edificações do parque.
Ao entrar nos pavilhões, na Oca, ou andar pela marquise, somos guiados pelo arquiteto a percorrer o espaço de tal maneira que somos completamente envolvidos pela sua arquitetura, onde o caminhar torna-se um passeio, onde a paisagem vai se transformando.
Marquise do Ibirapuera
Como forma de articular os pavilhões, mas não só isso, o arquiteto projetou uma extensa marquise, que, ao contrário das formas puras dos edifícios, é orgânica, composta de curvas sinuosas, e parece estar em movimento para alcançar os edifícios.
A marquise passa a ser mais do que um elemento de circulação e contato para ser palco de especial atenção do gesto arquitetônico e também de diversas atividades.
Embora seja simplesmente chão e teto, um vazio controlado em meio ao entorno verde, e justamente por ser “só” isso, materializado com proporções exatas, permite a ocupação, a apropriação e uma infinidade de usos.
A marquise do Ibirapuera é lugar de encontro, de feiras de artesanato, de praticar esportes, de brincar, de viver. Lugar onde a vida acontece, amparando a passagem e, ao mesmo tempo, a permanência.
Não por acaso, é obra do arquiteto que dizia justamente que “a vida é importante, a Arquitetura não é”, porém, sabe, precisamente, os recursos materiais que fazem com que a vida aconteça dentro dos espaços.
Pavilhão da Bienal
O Palácio das Indústrias, atualmente Pavilhão da Bienal, é um edifício de planta retangular (250 m x 48 m) cujo exterior é marcado pelo ritmo da sua estrutura, que segue é seguida pela caixilharia.
Ao entrar no edifício, o visitante é surpreendido por formas curvas e movimento, que tomam conta do espaço. Lajes cortadas em formas sinuosas em volta de um vazio central, que é ocupado por uma rampa curva e um pilar de planta circular, do qual, como se fosse uma árvore, surgem galhos que abraçam tais lajes.
A espacialidade do edifício da Bienal permite ocupações múltiplas. O edifício dá lugar a eventos relevantes para a cidade de São Paulo além da Bienal de Arte, a Fashion Week, SP Arte, além de festivais e exposições de diversas temáticas.
Pavilhão das Culturas Brasileiras
Originalmente projetado como Palácio dos Estados, o edifício foi construído em apenas 11 meses. Trata-se de um volume prismático de planta retangular (150 m x 42 m), de concreto, que é apoiado em uma série de pilares organizados ortogonalmente, liberando a planta.
O pavilhão conforma uma marquise nos lados longitudinais, onde pilares assimétricos em “V” sustentam o edifício como mãos francesas. Os diferentes pavimentos do edifício são articulados por meio de largas rampas, reforçando a ideia de espaço contínuo do edifício, além de facilitar o transporte de obras para as exposições.
Museu Afro Brasil
O Museu Afro Brasil, originalmente Palácio das Nações, está implantado perpendicularmente ao edifício anterior e possui forma, dimensões e recursos arquitetônicos semelhantes aos dele.
Desde a inauguração do museu, em 2004, o pavilhão conta com mobiliário executado pela Marcenaria Baraúna. Equipamentos de madeira, como o balcão da recepção e o guarda-volumes, foram feitos em ripas de diversas madeiras, criando uma padronagem por meio das diferentes tonalidades de espécies utilizadas.
Museu de Arte Contemporânea – MAC USP
Ao contrário dos demais edifícios que compõem o conjunto do Parque Ibirapuera, o originalmente Palácio da Agricultura está instalado em um terreno em frente ao parque, sobre a Avenida 23 de Maio, e está conectado ao parque por uma esbelta passarela para pedestres que cruza a avenida em altura.
Atualmente, o edifício é sede do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, MAC USP, e é conhecido como um dos mais belos exemplos da obra de Niemeyer, com influências Corbusianas visíveis.
A lâmina que conforma o museu em altura chega ao solo por meio de importantes e sofisticados pilares em “V” brancos.
O edifício apresenta um embasamento, um desenvolvimento e um arremate. A base, que conforma os dois primeiros pavimentos, extrapola para o exterior com um terraço que é extensão do café. O desenvolvimento da lâmina acontece de maneira rítmica e ortogonal, onde estão as salas de exposições, de planta livre, com fachadas de brises verticais. Na cobertura, um terraço de onde se aprecia o parque em frente e um sofisticado restaurante.
O museu conta com um acervo bastante único, composto por obras de artistas modernos brasileiros e estrangeiros. Além do acervo próprio, ou exposições itinerantes animam constantemente os espaços do museu.
Museu de Arte Moderna – MAM
O Museu de Arte Moderna, MAM, está inserido sobre a marquise do Ibirapuera como um volume de vidro, que vai do piso ao teto da marquise, diferenciando-se dos outros volumes soltos sobre ela.
O museu, que não possui áreas técnicas e de acervo, funciona como uma galeria que recebe temporariamente obras e instalações.
Atualmente, além da área de exposições, o MAM conta com um restaurante para uma refeição mais sofisticada dentro do parque.
Oca
Conhecida como Oca por sua forma singular, que a diferencia completamente dos demais pavilhões, o edifício foi criado para abrigar exposições temporárias.
De planta circular coberta por uma fina “casca” de concreto armado, alcançado com um engenhoso sistema estrutural, onde o edifício é apoiado diretamente no solo em todo seu perímetro.
O interior do edifício é surpreendente pela forma inusitada. O espaço apresenta características acústicas únicas, onde o som ecoa de maneira bastante singular.
As lajes que conformam os quatro pavimentos interiores são independentes da estrutura da casca e não chegam a encostar no perímetro do edifício, que se articula através de sinuosas rampas. A luz natural entra na Oca através de 33 janelas circulares que rodeiam o perímetro.
Após alguns anos em desuso e sem manutenção, o edifício estava deteriorado até o ano 2000, quando a Fundação Bienal de São Paulo empreendeu a sua recuperação. Paulo Mendes da Rocha foi o responsável pelo projeto preliminar, e a equipe do escritório do MMBB, com quem trabalha em conjunto, pelo projeto executivo.
A recuperação do edifício consistiu em restauro, devolvendo-lhe as características do projeto original, além de incluir um sistema de ar-condicionado de acordo com o padrão museológico contemporâneo.
Auditório Oscar Niemeyer ou Ibirapuera
Diferentemente dos edifícios anteriores, construídos paralelamente e inaugurados em 1954, o auditório não foi realizado nessa época. Em 2002, foi retomado o projeto do auditório, e Niemeyer decidiu criar um novo projeto, diferente do original. Em 2004 foi inaugurado o Auditório Ibirapuera, também conhecido como Auditório Oscar Niemeyer.
O edifício estabelece relação com os anteriores por meio da sua forma geométrica pura, ao mesmo tempo em que é singular, triangular. O acesso ao edifício é anunciado pela marquise ondulada vermelha, que convida o espectador a entrar.
O edifício também é utilizado para a realização de concertos e apresentações ao ar livre, pois o palco do auditório possui uma generosa abertura posterior, que se abre a um gramado do parque.
Natureza exuberante no Parque Ibirapuera
Além da sua arquitetura icônica, como visto anteriormente, o Parque Ibirapuera conta com uma extensa área verde. Um lago atravessa o parque, refrescando o entorno. Para cruzá-lo, uma ponte pitoresca verde, compondo uma paisagem que parece a dos quadros de Monet.
Além dos jardins, caminhos entre o verde e a imensa clareira, Praça da Paz, que é o lugar ideal para descansar no parque, o Ibirapuera ainda conta com espaços únicos, como o Planetário e o Jardim Japonês, perfeito para quem busca tranquilidade em dias de mais movimento no parque.
O que fazer no Parque Ibirapuera
O Parque Ibirapuera apresenta tantos atrativos que é possível passar todo o dia e não conhecer tudo. Mas, além da esfera cultural, com exposições variadas que animam o parque constantemente, o Ibirapuera também é o lugar ideal para a prática de esportes ao ar livre.
O parque conta com uma rede de caminhos variada, com avenidas largas, ruas e trilhas ótimas para caminhadas, corridas e passeios de bicicleta. Além disso, existem quadras poliesportivas, onde é comum ver grupos de pessoas jogando basquete aos finais de semana.
Para a diversão das crianças, além das ruas para andar de bicicleta ou patins e do lago com patos e peixes, o parque ainda conta com vários playgrounds em diferentes áreas; espaçosos e equipados, são lugares para o encontro das crianças.
A clareira do parque e as áreas verdes sombreadas são os espaços ideais para reunir amigos para um piquenique, ou aproveitar um bom livro.
Informações úteis do Parque Ibirapuera
O Parque Ibirapuera tem entrada gratuita, que dá acesso a toda a área verde. A entrada nos pavilhões depende do evento, e o preço também varia de acordo com a exposição.
O parque conta com banheiros, bebedouros e cafés, além de vendedores de água de coco gelada e petiscos em toda a sua extensão.
O horário de funcionamento do Parque Ibirapuera é das 5 h da manhã até a meia-noite, porém, pode variar dependendo do portão. Por isso, é sempre bom checar no site antes de ir.
Endereço: Avenida Pedro Álvares Cabral, s/n, Vila Mariana, São Paulo – SP
Telefone: (11) 5575-5045
Horários: todos os dias das 5 h às 0 h
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