Gislenne Zamayoa – Biografia e obras
Por Nathália Zanardo
06 maio 2022
Gislenne Zamayoa é uma arquiteta, urbanista e ativista mexicana reconhecida como uma das mulheres transgênero mais influentes da América Latina. Assim, sendo considerada também como uma das maiores personalidades que empodera a diversidade e quebra padrões no mercado de trabalho.
História de Gislenne Zamayoa
Nascida no México em 1974, Gislenne Zamayoa também possui nacionalidade colombiana e suas ancestralidades fizeram com que a arquiteta tivesse grande interesse em melhorar a qualidade da arquitetura e das cidades de ambos os países, onde a maioria dos seus projetos foram realizados.
Focada na arquitetura sustentável e especialista em design autossustentável, a arquiteta, com muita determinação, conseguiu enfrentar as barreiras e destacar seu talento. Além de ser reconhecida por suas obras, em 2016, a BBC a nomeou como uma das seis mulheres transgênero mais importantes da América Latina.
Mas nem sempre a realidade da arquiteta foi essa. Ao longo da sua vida, Gislenne Zamayoa sofreu com problemas de estresse por não encontrar seu eu verdadeiro e, durante seu processo, sofreu discriminações e preconceitos.
Redescobrindo seu verdadeiro eu
Desde cedo, Gislenne já não se identificava com seu gênero de nascimento. Aos quatro anos, durante uma brincadeira, ela teve que vestir as roupas de sua irmã e, nesse momento, a arquiteta descobriu algo sobre si: “Senti algo totalmente diferente, me senti confortável […] E então percebi que não era um menino. Era uma menina.”
Mas sua transição começou apenas quando Gislenne tinha 36 anos, momento em que diversas crises mentais e físicas começaram a acontecer com ela devido à sua vontade de finalmente se expressar como uma mulher. Durante sua carreira corporativa, a arquiteta aproveitava viagens de negócios para levar uma bagagem cheia de roupas e itens considerados femininos, ela se vestia e saía para se sentir em sua verdadeira pele.
Formada em arquitetura e urbanismo com especialização em gestão urbana, Gislenne ainda estendeu sua carreira acadêmica com os mestrados em design corporativo na Universidad de Los Andes, em arquitetura industrial na Universidad Bolivariana de Medellín e em design sustentável na Universidad Católica do Chile.
Com muita determinação, seu trabalho e dedicação foram reconhecidos. Antes da sua transição, a arquiteta e urbanista chegou a trabalhar para a Coca-Cola e para FEMSA; já como uma mulher transgênero, Gislenne foi contratada para construção de oito lojas da Apple no México.
Gislenne Zamayoa e o início de sua jornada própria
Logo depois, Gislenne fundou o próprio escritório especializado em construções e projetos verdes. Chamado + ARQUIA, o escritório é focado em remodelar conjuntos habitacionais na Colômbia e no México. Mas o ambiente de trabalho também funciona como um espaço de luta pela diversidade e inclusão da comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho.
Ganhando cada vez mais fama e reconhecimento por seu trabalho, a arquiteta chegou a ser a única mulher transgênero credenciada pela Proteção Civil mexicana para realizar laudos estruturais após o terremoto de 19 de setembro de 2017.
Sua especialidade por sustentabilidade também é reconhecida. Recentemente uma grande empresa alemã contratou a arquiteta para a realização de um projeto para o novo Aeroporto Internacional da Cidade do México voltado para energia sustentável.
Inclusão e diversidade
Além de deixar sua marca pessoal em cada projeto, a busca pela diversidade vem desde a inclusão de profissionais em seu escritório, dando oportunidade para pessoas que sofrem inúmeros preconceitos na jornada profissional.
A arquiteta destaca: “Busquei me tornar independente e fazer meu próprio escritório onde, não só me dediquei a colocar uma pequena marca nele, […] mas tento incluir ou contratar pessoas trans para continuar dando aquele empurrãozinho e mostrar um pouco para a sociedade que o mundo não é só patriarcado”.
O reconhecimento
Seu reconhecimento permite que cada vez mais Gislenne Zamayoa ganhe missões de projetar edifícios imponentes na América Latina, como quando foi convidada para projetar o primeiro Museu Muxe no México, um dos seus últimos trabalhos de destaque.
Mesmo vivendo há duas décadas como mulher transgênero, Gislenne Zamayoa continua sendo vítima de diversos assédios e discriminações no ambiente de trabalho, mas nada a impediu de continuar sua transição e jornada como arquiteta. Segundo ela: “Temos que aprender a entender que gênero não define as pessoas, é simplesmente a maneira como elas se sentem confortáveis”.
A arquiteta e urbanista também se dedica ao ativismo, fundadora do Trans X Objetivos, uma comunidade que torna as pessoas trans mais visíveis. Gislenne busca um ativismo inteligente ao conscientizar, ensinar e educar a sociedade mostrando que pessoas trans são como todas as outras e precisam ser respeitadas.
Quando questionada sobre o que ela espera para um futuro da diversidade no México, a arquiteta responde: “Eu gostaria de ver mais pessoas trans nas áreas de arquitetura, design e construção. O desenvolvimento da imagem pessoal e, também, de uma marca é um meio de empoderamento. O futuro do design é inclusivo. Imagino um crescimento da expressão artística trans.”
América Latina e a violência contra pessoas transgênero
Sendo uma das regiões mais perigosas para a comunidade LGBTQIA+, a América Latina é um dos lugares onde o ódio e o desrespeito por pessoas transgênero se manifestam de modo mais brutal através de diversos crimes violentos.
Situado apenas atrás do Brasil, o México ocupa o segundo lugar no ranking de países com maior índice de crimes homofóbicos do mundo, mostrando como um pensamento discriminatório e preconceituoso está enraizado na sociedade. Além da violência brutal, essa comunidade ainda sofre diversos ataques e dificuldades no dia a dia, principalmente no mercado de trabalho.
Mas Gislenne Zamayoa vem para quebrar esses paradigmas sociais ao ser uma com grande destaque em sua área de atuação, reconhecida por seus trabalhos e lutas.
Mostrando que mesmo em passos lentos, cada vez mais a diversidade está sendo levada para posições de maior destaque e dando a possibilidade de mudança para uma comunidade tão atacada.
Empoderando sua identidade, levantando sua bandeira e destacando sua luta, Gislenne afirma que perfeição ainda está muito longe, afinal para ela a comunidade ainda está em uma situação muito vulnerável: “Precisamos de muitas coisas, pessoas trans continuam a morrer, continuam a ser estigmatizadas e discriminadas”.
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