Estilos Arquitetônicos: Ecletismo
Por Victória Baggio
25 junho 2021
Todos temos aquele amigo que ama ouvir estilos de música opostos, o eclético da turma, mas você sabia que este termo vai além da música e que já foi um estilo arquitetônico, conhecido como Ecletismo?
Pois então, embora o Ecletismo tenha sido um estilo arquitetônico em voga entre o século XIX e início do século XX, segue-se utilizando o termo eclético, que significa algo composto por diferentes estilos, doutrinas ou perspectivas, por exemplo.
O Ecletismo
Ecletismo é o termo usado para referir-se à liberdade de escolha, sem preconceito e apego a um determinado estilo, sendo muito utilizado nas artes e na política.
Dentro da temática da arquitetura, o termo ecletismo ou eclético faz referência à mistura de estilos arquitetônicos do passado. Nessas obras, é possível perceber uma combinação de elementos que são característicos de estilos diferentes, combinados, conformando um novo estilo arquitetônico.
Contexto histórico do Ecletismo
O Ecletismo foi um estilo arquitetônico que surgiu na Europa na segunda metade do século XIX e permaneceu em voga até a entrada do século XX. Já na América, incluindo o Brasil, o estilo marcou a arquitetura das primeiras décadas do século XX.
Este foi o estilo que antecedeu o Modernismo, sendo o último estilo da história que se voltava ao passado e tinha como essência arquitetônica linguagens anteriores.
O Ecletismo surgiu como resultado de uma série de fatores sociais, políticos e culturais que o mundo estava atravessando na época, e, tal como os demais estilos artísticos, é um reflexo da visão de uma sociedade em um período específico, responsável por marcar uma época.
Após a revolução industrial, as principais capitais da Europa, como Paris e Londres, viveram um período de êxodo rural, uma importante expansão para as cidades, em busca de melhores condições de trabalho e de vida, e, portanto, de necessidade de planejamento urbano.
Nesse período é que surge a arquitetura industrial, os edifícios projetados para abrigar produções, como fábricas, oficinas, laboratórios e estações ferroviárias, passam a ser os mais importantes da cidade, afinal, era a partir deles que a cidade enriqueceria, e de fato enriqueceu.
Essa época foi marcada por uma revolução socioeconômica, na qual o triunfo da burguesia levou a uma melhorada progressiva da posição social do proletariado, também como a ascensão da pequena e da média burguesia.
O acontecimento mais marcante, e de maior influência para o Ecletismo, foi a Escola de Belas Artes de Paris, cidade mais importante no campo das artes naquela época. A educação acadêmica centrou-se no domínio de estilos antigos, originando o que foi chamado de estilo “Beaux-arts”, que mesclava o Clássico, o Renascimento e o Barroco, que mais tarde se transformaria no estilo Eclético.
Embora o Ecletismo tenha constituído uma prática arquitetônica de grande importância histórica e cultural, era, para críticos intelectuais, a representação do mundo burguês e vitoriano, sendo muito rejeitado por arquitetos e intelectuais da época.
Arquitetura eclética
A arquitetura eclética é um estilo que combina elementos arquitetônicos e decorativos de correntes passadas, em busca de uma nova harmonia através do antigo.
O arquiteto e teórico francês César Denis Daly (1811-1893) define o Ecletismo como “o livre uso do passado”.
Ao contrário do Historicismo, corrente que surgiu na Europa durante o século XVIII e atingiu o auge no século XIX, dedicando-se a imitar estilos da antiguidade, como o clássico greco-romano, o Ecletismo incorpora características de diferentes culturas e arquiteturas, combinando-as em uma só obra.
Portanto, o Ecletismo não se trata de uma simples cópia do passado, e sim da habilidade de combinar características principais de diferentes estilos em edifícios para abrigar programas da demanda da época.
Através dessa combinação, o Ecletismo buscou uma nova linguagem para compor as transformações pelas quais a sociedade estava passando.
Tais combinações que poderiam vir de vários estilos arquitetônicos passados: Clássico, Renascentista, Barroco, Gótico, entre outros.
Características da arquitetura eclética
Apesar de a arquitetura eclética combinar elementos de estilos passados diferentes, existem características principais que norteiam o estilo e compõem uma constante presente em todas as obras ecléticas.
A época em que está inserido o Ecletismo foi marcada pelo período industrial e pela introdução de novos materiais nas construções, como ferro, aço e concreto. O Ecletismo, embora resgate elementos antigos, usufrui destes novos materiais e sistemas construtivos nas obras.
A arquitetura eclética está marcada por uma busca pela grandiosidade e pela riqueza, que é materializada através da exuberância decorativa, muitas vezes até excessiva, e o uso da cor dourada em elementos ornamentais.
Entre as principais características da arquitetura eclética também está a simetria, e o rigor hierárquico dos ambientes internos.
Marcos do Ecletismo pelo mundo
O estilo Eclético foi utilizado para compor edifícios relevantes até os dias atuais em cidades da Europa, como Paris, Milão, Lisboa, Madrid, também como nas Américas, incluindo o Brasil.
Embora muito criticado na época por intelectuais e arquitetos, o estilo Eclético é a marca de um período de desenvolvimento socioeconômico, sendo tais obras símbolos de riqueza e luxo da sociedade.
Ópera Garnier, Paris
Uma das obras mais emblemáticas do Ecletismo no mundo é, sem dúvida, o Teatro Ópera Garnier, em Paris, projetado pelo então jovem arquiteto Charles Garnier, responsável por diversos edifícios importantes na capital francesa.
A Ópera foi construída durante o contexto da grande reformulação urbana de Paris, liderada por Georges-Eugenes Haussmann, em 1859, Segundo Império de Napoleão III.
O edifício tem como objetivo principal ser símbolo da alta burguesia, da riqueza, lugar de prestígio. Assim, a obra é materializada de maneira monumental, com decoração exuberante, tanto no exterior como nos espaços interiores.
O peculiar terreno de 12 mil m², de esquina dupla, é composto por uma fachada principal e duas laterais, um desafio que o arquiteto Garnier tirou bastante proveito, criando um edifício luxuosamente ornamentado, com colunas decoradas, estátuas e figuras de anjos em dourado.
Entre os principais espaços interiores está o auditório, onde predomina o veludo de cor vermelha e o dourado; já o vestíbulo foi inspirado na Galeria dos Espelhos de Versalhes, com elementos decorativos característicos do estilo Barroco.
Galleria Vittorio Emanuele II
Localizada do lado da Duomo, catedral de Milão, está a luxuosa Galleria Vittorio Emanuele II, símbolo da arquitetura eclética na Itália. A galeria é composta por uma rua coberta que vincula a Piazza Duomo à Piazza della Scala, ponto de referência para a moda e o luxo, onde lojas de alta costura italiana e europeias esbanjam vitrines que unem sofisticação e tendência até os dias atuais.
A Galeria, construída em 1865 e inaugurada em 1887, foi projetada por Giuseppe Mengoni, então jovem engenheiro italiano, e é marcada por uma decoração exuberante e pelo uso de novos materiais.
Composta com uma planta em cruz, a Galeria tem duas ruas perpendiculares, cobertas por uma estrutura arqueada de ferro e vidro, permitindo que os corredores sejam banhados de iluminação natural. No cruzamento das duas ruas, uma imponente cúpula transparente dá espaço ao lugar mais emblemático da galeria, cujo piso é composto por um sofisticado desenho com formas geométricas e brasões coloridos.
Edifício Metropolis, Madrid
Localizado no centro de Madrid, na esquina entre a rua Alcalá e a Avenida Gran Via, o Edifício Metrópolis é mais um exemplo de arquitetura eclética pelo mundo. Com 45 metros de altura, até 1921 foi o edifício mais alto da capital espanhola.
O edifício foi construído entre 1907 e 1911, com estilo Eclético de forte influência francesa. Sua fachada é decorada com um conjunto de esculturas de diversos artistas, com figuras que representam a mineração, o comércio, a agricultura e a indústria, motores do país naquela época.
O edifício é coroado por uma cúpula que se apoia uma estátua, originalmente, esteve coroado por uma estátua de bronze que representa Ganimedes sobre uma fênix. Porém, após o edifício ter novos proprietários, tal estátua foi substituída por uma da figura de Victoria Alada, e a figura original direcionada a um jardim da cidade.
O Ecletismo no Brasil
O Ecletismo esteve presente na arquitetura brasileira entre o final do século XIX e as primeiras duas décadas do século XX, até 1922, quando aconteceu a Semana de Arte Moderna, dando início a era do Modernismo no Brasil.
É possível observar edifícios ecléticos em diversas cidades do País, que abrigam diversos programas, como teatros, bibliotecas, palácios, escolas e, até mesmo, edifícios comerciais, como é o caso da Confeitaria Rocco, em Porto Alegre.
Arquitetura eclética no Brasil
O estilo Eclético difunde-se pelas Américas marcando as construções do novo mundo, industrializado e urbanizado. No Brasil, é o estilo responsável pelo visual das cidades durante os planos de urbanização, após a Proclamação da República, que aconteceram nas cidades mais importantes do País na época, como Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Bastante inspirados pelo Plano Haussmann, em Paris, tais reformas urbanas no Brasil tinham como objetivo embelezamento, modernização e limpeza das cidades, e foi o estilo Eclético aplicado nas construções dos amplos bulevares abertos na época, como o caso da Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, na capital carioca.
Teatro Municipal do Rio de Janeiro
O Teatro Municipal do Rio de Janeiro é uma das obras mais relevantes do estilo Eclético no Brasil, construído entre 1905 e 1909, no contexto de reurbanização da cidade e abertura da Avenida Central, onde se localiza o teatro, obra do governo de Pereira Passos.
Ao observar rapidamente o edifício, é possível perceber a forte inspiração que os autores, Francisco de Oliveira Passos e Albert Guilbert, tiveram da Ópera de Paris, como nos elementos decorativos da fachada principal, estátuas douradas, escadarias e interior sofisticado, por exemplo.
A fachada do teatro combina elementos característicos dos estilos Clássico e Barroco, além das esculturas do artista brasileiro Bernardeli e dos vitrais alemães.
Museu do Ipiranga, São Paulo
O Museu do Ipiranga foi construído entre 1884 e 1890, localizado no lugar da Proclamação da República, com o objetivo de simbolizar a independência do Brasil.
Projetado pelo engenheiro italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi, o Museu do Ipiranga é marcado pelas diretrizes do estilo Eclético, em voga na Europa na época, que popularizou-se no Brasil alguns anos mais tarde, marcando a transformação arquitetônica de várias cidades, como a de São Paulo.
Teatro Amazonas, Manaus
O Teatro Amazonas é um dos principais cartões-postais da cidade de Manaus, símbolo de cultura e um dos mais importantes teatros do Brasil.
Localizado no Largo de São Sebastião, no centro histórico de Manaus, foi inaugurado em 1896 e tombado como Patrimônio Histórico Nacional em 1966.
Para além da sua grandiosidade, a cor rosa das fachadas e a colorida cúpula fazem do edifício um verdadeiro monumento para a cidade. A imponente cúpula que coroa o edifício foi composta por 36 mil peças nas cores da bandeira do Brasil, importadas da Europa, assim como grande parte do material utilizado para sua construção.
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