Brasil Arquitetura – Arquitetura pública e histórica brasileira
Por Victória Baggio
24 fevereiro 2021
Um dos mais relevantes escritórios de arquitetura do país, o Brasil Arquitetura foi premiado nacional e internacionalmente, com obras públicas e culturais de norte a sul do Brasil, materializando a função mais nobre da arquitetura: ser pública, lugar de encontro e de democracia na cidade.
História do escritório Brasil Arquitetura
O Brasil Arquitetura foi fundado em 1979 por Marcelo Ferraz, Francisco Fanucci e Marcelo Suzuki (que permaneceu na equipe até 1995), arquitetos, na época recém-formados, os quais haviam sido colegas durante a graduação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU – USP).
A obra realizada pelo Brasil Arquitetura tem sido objeto de prêmios de Bienais nacionais e internacionais e do Instituto de Arquitetos do Brasil. Os projetos estão presentes em diversas publicações em livros e revistas no País e no exterior.
Atualmente, o escritório é formado, além dos fundadores Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, por arquitetos e estagiários com formação em diferentes universidades do Brasil.
Marcelo Ferraz e o legado de Lina Bo Bardi no Brasil Arquitetura
Marcelo Ferraz, fundador do Brasil Arquitetura, foi colaborador de Lina Bo Bardi de 1977 até o fim da vida da arquiteta, em 1992. Começou como estagiário, na época em que se estava construindo o emblemático SESC Pompéia e, após concluir a graduação, seguiu trabalhando no canteiro de obras do edifício e, posteriormente, como um dos principais colaboradores da arquiteta, participando de todos os projetos de Lina Bo Bardi naquele período.
Tal experiência e proximidade de Marcelo Ferraz com Lina Bo Bardi foi fundamental para o arquiteto. A obra do Brasil Arquitetura reflete vários princípios e valores muito defendidos e materializados por Lina Bo Bardi.
Características como incluir materiais e técnicas regionais, projetar arquitetura como lugar para ser vivido, que faz parte de uma cultura local, são alguns dos aspectos de Lina Bo Bardi que reverberam no pensamento de Marcelo Ferraz e refletem na arquitetura do Brasil Arquitetura.
Arquitetura do Brasil Arquitetura
A arquitetura do Brasil Arquitetura é marcada por obras que lidam com construções preexistentes, em que o novo e o antigo dialogam com harmonia. Os programas dos seus principais edifícios são públicos, como museus e complexos culturais, conferindo edifícios que, além de abrigar a função em questão, são lugar de convívio e encontro.
Entre os projetos de revitalização de edifícios com valor histórico está o Museu Rodin Bahia (2006), em Salvador; o Teatro do Engenho Central (2011), em Piracicaba; o Conjunto KKK (1996), em Registro, São Paulo; o Museu do Pão, em Ilópolis; o Xais do Sertão, em Recife, entre outros.
Nos diferentes projetos, a intervenção vai além da reabilitação e da intenção de restabelecer a condição original dos edifícios. Primeiramente, há um cuidadoso olhar para perceber quais são os elementos antigos que devem ser mantidos e recuperados. Logo, o novo entra com o fim de potencializar o funcionamento e o uso do espaço. O novo é visivelmente diferente, muitas vezes, até oposto do antigo, porém, o respeita e o segue. O resultado é uma arquitetura contemporânea que dialoga com o passado pensando no futuro.
Praça das Artes
A Praça das Artes permite uma nova realidade de vida urbana no centro de São Paulo. Não por acaso, o emblemático edifício já recebeu importantes prêmios, como o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 2012, na categoria “Obra de arquitetura”.
O projeto foi elaborado pelo Brasil Arquitetura a partir da concepção inicial de implantação de Marcus Cartum, arquiteto da prefeitura de São Paulo.
Localizado em terreno que vincula três ruas: a Conselheiro Crispiniano, a Avenida São João e o Vale do Anhangabaú, o edifício se ajusta a trama urbana e construções preexistentes, deixando livre o miolo de quadra, criando um espaço público aberto que articula a passagem entre essas três ruas.
O complexo cultural abriga diversas atividades ligadas à música, à dança, ao teatro e às artes plásticas, funcionando como extensão das atividades do Teatro Municipal de São Paulo. É sede da Escola de Dança de São Paulo, da Escola Municipal de Música de São Paulo e da Sala do Conservatório.
Museu do Pão
A região serrana do Rio Grande do Sul está marcada por construções do começo do século passado, inteiramente feitas em madeiras, por famílias de imigrantes italianos, que são os moinhos para fabricar farinha.
Para transformar e revitalizar as edificações que, até então, se encontram em estado de abandono, em 2004 a fundação da Associação dos Amigos dos Moinhos do Alto de Taquari iniciou o trabalho com a recuperação do Moinho Colognese, inaugurando o Museu do Pão, em 2008, com o intuito de seguir esse trabalho para formar o Caminho dos Moinhos.
A obra do Brasil Arquitetura para o Museu do Pão vai além de recuperar o moinho, compõe a restauração e a adequação do antigo Moinho Colognese, e dois novos prédios, que abrigam o Museu do Pão e uma Escola de Confeiteiros.
A escola nasce com o objetivo de rearticular a comunidade através do ensino, restituindo, assim, o caráter produtivo do edifício e não o deixando apenas como monumento histórico.
Marcenaria Baraúna
Além do escritório de arquitetura, em 1986 os sócios criaram a Marcenaria Baraúna, como extensão dos seus projetos arquitetônicos, possibilitando maior integração entre arquitetura e mobiliário. Com mais de 30 anos de produção, a Marcenaria Baraúna é uma importante referência no design de móveis autorais brasileiro.
Tal como é intitulado o livro sobre a Baraúna: “Móvel como arquitetura”, os móveis e os objetos projetados na Baraúna são concebidos a partir dos mesmos princípios que a arquitetura do Brasil Arquitetura, com foco na estrutura, no comportamento e na resistência dos materiais, no conforto, na economia de meios e insumos e na essencialidade.
Todas as peças são produzidas de madeira maciça, sendo o encaixe o principal método construtivo utilizado na criação.
Para conceber os móveis, tal como os arquitetos fazem no escritório de arquitetura, buscam referências em soluções tradicionais da história do Brasil, técnicas regionais e desenho vernacular.
Entre as peças mais conhecidas e reconhecidas dentro e fora do Brasil, está a cadeira-girafa, que hoje forma uma linha que contém banco, banqueta, bordadeira e mesa. A peça foi criada em 1986, por Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, quando trabalhavam com Lina Bo Bardi para uma série de projetos na Bahia.
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