Alejandro Aravena – Biografia e obras
Por Giovana Costa
15 janeiro 2021
O arquiteto chileno Alejandro Aravena nasceu em Santiago, no Chile, no dia 22 de junho de 1967.
Considerado um dos arquitetos mais importantes da América do Sul, desenvolveu projetos ao longo de sua trajetória que refletem sua preocupação com os mais diversos problemas ambientais, econômicos e sociais nas áreas urbanas.
Além disso, é conhecido por seus projetos de construção socialmente conscientes.
O começo da carreira de Alejandro Aravena
Conhecido por seu trabalho em promover o desenvolvimento social, com o objetivo de superar as disparidades, Aravena se formou em arquitetura pela Pontifícia Universidade Católica do Chile, em 1992.
Posteriormente, fez uma especialização em História e Teoria pela Universidade Iuav de Veneza (IUAV), na Itália, no ano de 1994. Nesse mesmo momento, o arquiteto passou a participar de alguns projetos de construção para a universidade.
Até que, a partir dos anos 2000, Aravena se destacou de tal maneira que foi convidado para dar aulas na Harvard Graduate School of Design (Harvard GSD), localizada em Cambridge, Massachusetts, nos Estados Unidos.
Durante esse período, em 2001, o arquiteto realizou uma parceria com o engenheiro de transporte Andrés Lacobelli, uma iniciativa acadêmica, num primeiro momento, que, mais tarde, se tornaria uma das maiores marcas da sua trajetória: a Elemental, um projeto que assumiu distintas formas ao longo do tempo.
Desde então, Aravena iniciou seus primeiros trabalhos com moradias sociais, seus primeiros projetos arquitetônicos que marcariam sua trajetória para sempre. Entre eles estão: iniciativas de infraestrutura e transporte, reorganização de espaços públicos e criação de edifícios cívicos.
O modelo de moradia incremental
Um dos primeiros projetos de habitação social criados pelo arquiteto foi o Quinta Monroy, na cidade chilena de Iquique, um dos mais marcantes de sua carreira.
Desde 1888, as políticas de habitação social no Chile dependiam da ação de agentes privados, sendo poucas as vezes as quais o Estado assumiu a frente e realizou intervenções notórias.
Por outro lado, a implantação do modelo neoliberal durante a ditadura de Pinochet reforçou uma ideia de que a moradia seria um bem de consumo, e não um direito, transformando a ação do aparato estatal e tornando-a mínima, ao passo que a ideia central era liberar terrenos para a especulação imobiliária.
Somente entre 1953 e 1973, durante o funcionamento da Corporação da Moradia, foi instituída uma redução do déficit habitacional, a partir da construção de moradias.
Porém, somente a partir do início do século XXI que o Estado passou a impulsionar programas com o objetivo de solucionar o déficit de habitações, ao passo que surgia uma geração de arquitetos que se preocupava com a relação entre as políticas públicas e os cidadãos chilenos.
A história do projeto Quinta Monroy se dá em uma área central da cidade, que estava nos planos de especulação imobiliária, enquanto cerca de cem famílias estavam vivendo em um loteamento irregular em condições precárias, desde a década de 1960, momento no qual esse espaço era uma área agrícola.
Durante os anos 1990, as pessoas que ali moravam sofriam com a falta de saneamento básico e se encontravam cercadas por uma infraestrutura péssima. Até que a agência governamental comprou o terreno e criou o programa “Vivienda social dinamica sin duda”, a partir do qual concedeu o valor de 7500 dólares para que cada família pudesse comprar seu terreno e construir sua casa.
Entretanto, o valor era suficiente somente para construir uma casa de apenas 36 m², ou seja, o espaço era reduzido, a verba era pequena e a necessidade era gigante, considerando que a população que vivia naquele espaço de maneira ilegal enfrentava uma situação perigosa e reinvindicava seu direito fundamental à moradia.
Então, em 2004, por meio do escritório Elemental S.A., com o objetivo de solucionar o problema do espaço, surgiu a possibilidade de ajudar os moradores, mantendo-os no lugar proposto, porém, com uma condição: a construção de “meias-casas”.
Foram entregues somente as metades mais complexas de cada casa, ou seja, as partes que continham cômodos como cozinha, banheiros, paredes divisórias e escadas. A finalidade era possibilitar que os moradores pudessem ampliar os espaços aos poucos até chegar na metragem de 72 a 80 m², o padrão da época de casas de famílias de classe média.
Assim, contando com uma ampla participação dos moradores, que relatavam suas experiências e expunham suas dificuldades para os arquitetos, além de muitos estudos, foi fundado o projeto Quinta Monroy, dando vida às moradias incrementais.
Reconhecimento do arquiteto
Ao longo de sua trajetória, Aravena sempre valorizou a habitação pública e tentou enxergar possibilidades apesar da escassez, contribuindo também com a reconstrução de espaços em caso de desastres naturais.
Assim, após criar projetos destacados em diversas partes do mundo, como Estados Unidos, México, China e Suíça, e por meio de uma carreira consolidada, o reconhecimento também se refletiu em diversos âmbitos.
Suas criações estiveram presentes em importantes exposições ao redor do mundo, incluindo a Bienal de São Paulo (2007).
Além disso, ele já foi reconhecido em importantes premiações, como: Prêmio Saint-Gobain de Arquitetura (França, em 2007), 11ª Exibição Internacional da Bienal de Veneza (2008), onde recebeu o renomado Leão de Prata, Prêmio 2010 Marcus for Architecture, Prêmio Global Zumbotel (Áustria, em 2014) e, inclusive, recebeu o prêmio de Design do Ano (London Design Museum, em 2015).
O arquiteto também recebeu o Prêmio Pritzker de 2016, tornando-se o quarto latino-americano premiado, após o mexicano Luis Barragán, premiado em 1980, e os brasileiros Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha, premiados em 1988 e 2006, respectivamente.
Além disso, foi nomeado presidente do júri da próxima edição, que ocorrerá em 2021.
Aravena também é membro de importantes conselhos, como: Conselho do Programa Cidades da London School of Economics, desde 2011; Conselho Consultivo Regional do Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos; Swiss Holcim Foundation, desde 2013, entre outros. Ele também é líder do Helsinki Design Lab para SITRA, o Finnish Government Innovation Fund.
Nomeado um Fellow Internacional do Royal Institute of British Architects (RIBA), também recebeu exposições sobre suas obras que foram realizadas em Harvard GSD (2004), Bienal de São Paulo (2007), Bienal de Arquitetura de Veneza e Trienal de Milão (2008), entre outras.
Aravena também já escreveu alguns livros como “Los Hechos de la Arquitectura” (1999), “El Lugar de la Arquitectura” (2002) e “Material de Arquitectura” (2003).
Obras de Alejandro Aravena
Hoje em dia, Aravena é o diretor-executivo do escritório Elemental S.A., uma organização civil que tem como objetivo criar e desenvolver trabalhos de infraestrutura, que contribuem com a restauração de áreas públicas e melhorias na habitação social.
Foi a partir do seu escritório que ele pôde contribuir com a arquitetura e com a sociedade de maneira tão consistente. Confira a seguir algumas obras de Alejandro Aravena.
Habitação Monterrey
A estratégia de projeto de investir os recursos estatais na construção da metade “mais complicada” da habitação foi incorporada no projeto Habitação Monterrey, no México.
O projeto é constituído por um edifício contínuo de três pisos de altura, no qual é possível observar a sobreposição de uma habitação e um apartamento duplex. Desta maneira, todas as unidades foram projetadas de uma forma que facilita a técnica e o custo, já que são entregues somente a “primeira metade” de 40m².
O arquiteto observou o potencial de auto-construção no bairro de Santa Catarina, no México, e por esse motivo optou por esta maneira de conduzir projeto.
Assim como também avaliou esta mesma capacidade na Habitação Villa Verde, um bairro residencial para 484 das famílias afetadas. Para ajudar com a falta de moradias populares em todo o mundo, bem como com a rápida urbanização, Aravena disponibilizou quatro de seus projetos de habitação social para uso público.
Habitação Villa Verde
A Habitação Villa Verde foi desenvolvida a partir de um plano de apoio feito para a empresa florestal Arauco, para contribuir com que os trabalhadores tivessem acesso à casa própria definitiva, em 2009.
O projeto foi feito utilizando o sistema de pré-fabricação wood frame, isto é, uma construção com peças de madeira. Além disso, elas seguem a ideia de moradia incrementada, pois foram construídas de modo que podem ser personalizadas e aumentadas.
Reconstrução sustentável da cidade de Constitución
Aravena desempenhou um árduo trabalho na reconstrução da cidade Constitución, no Chile, após o terremoto e o tsunami de 2010, que foi devastada, entre muitos mortos e milhares de desabrigados.
Seus projetos resultaram na criação de uma floresta para atenuar os possíveis efeitos futuros de outros desastres naturais que possam vir a acontecer na cidade.
Alejandro Aravena coleciona diversas obras notáveis como os dormitórios para a Universidade St. Edward, no Texas; o Parque Infantil Bicentenário e o Centro de Inovação UC da Pontifícia Universidade Católica, em Santiago, entre outras.
Sua trajetória é marcada por práticas socialmente conscientes, pelo engajamento social e pela construção de uma arquitetura orientada a desenvolver projetos de habitação social revolucionários e, desta forma, ele continua sendo uma forte inspiração para diversos profissionais.
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