O poder da arquitetura sensorial

O poder da arquitetura sensorial
Victória Baggio

Por Victória Baggio

30 março 2022

Você já parou para pensar que sentimento um determinado ambiente provoca em você? Aconchego, medo, surpresa, calma, ansiedade etc. A arquitetura sensorial pode explicar muito sobre isso, além de possibilitar maior integração entre as pessoas e os ambientes construídos.

Passamos a maior parte do tempo dentro de espaços, habitando lugares e sendo condicionados por estes. Algo que, por mais que inconscientemente, envolve os sentidos e é capaz de provocar sensações completamente diferentes. 

Um mesmo ambiente pode, através de recursos materiais, ser confortável ou não, direcionar esferas diferentes da psique e transformar a maneira como somos e utilizamos aquele lugar. O quarto de uma criança pode tanto conduzi-la ao lúdico e à brincadeira, como ao sono e à calma, por exemplo.  

A seguir, descubra o que é arquitetura sensorial, jardim sensorial e conheça obras pelo mundo que enfatizam os sentidos. Inspire-se para criar ambientes específicos de acordo com a sua função e seus desejos. 

O que é arquitetura sensorial

Arquitetura sensorial é aquela projetada considerando os sentimentos que podem derivar a partir dos sentidos que o ambiente coloca em evidência. 

Mas como isso é criado? A partir da manipulação de elementos arquitetônicos, como dimensões, iluminação, materiais e cores, por exemplo. Enquanto o concreto visto pode levar frieza para um ambiente, a textura de madeira e o uso de cores quentes colaboram para a criação de um espaço mais acolhedor. 

Casa projetada por Luis Barragán, México.
Casa projetada por Luis Barragán, México. Fonte: Kevin Scott

Mas se o concreto visto é combinado com elementos vivos, como plantas e elementos de cores vibrantes, a sensação de frieza pode ser transformada para a de vivacidade. 

Tal como parece, na arquitetura sensorial os recursos e as combinações são infinitas, assim como os sentimentos que podem causar. O importante aqui é considerar as características de cada elemento arquitetônico e o conjunto da obra, sempre tendo como foco principal os sentidos. 

Para guiar um projeto com olhar preciso à arquitetura sensorial, uma boa dica é elencar os sentidos um a um, conforme exemplificado a seguir. 

Ver  

Quando o tema é o que vemos no espaço, a iluminação natural e o uso de cores são os dois focos principais, responsáveis por melhorar os níveis de energia e humor sentidos no espaço, que reflete diretamente em ações comportamentais, como concentração, disposição e, até mesmo, apetite.

Cozinha da casa do arquiteto Peter Zumthor, o luxo da vista.
Cozinha da casa do arquiteto Peter Zumthor, o luxo da vista. Fonte: CGarchitect

A nossa relação com a luz solar é algo essencial para o regulamento do relógio biológico e, portanto, deve ser um fator primordial no projeto de arquitetura sensorial. Pensar em como e quando a iluminação natural entra no ambiente permite maior conforto ao usuário.

Além disso, as cores também são capazes de nos provocar sentimentos específicos de maneira bastante relevante no nosso bem-estar, por isso escolher a cor adequada para cada ambiente é essencial. Enquanto tons frios, como azul, causam frieza e distanciamento, cores quentes passam aconchego. 

Ouvir o espaço 

Manipular a acústica do espaço pode ser essencial de acordo com a sua função. Abafar, isolar, amplificar o som. Mas, além disso, pensar no som que o espaço produz ⏤ através da sua arquitetura, do material do piso ao caminhar, e não só, através de músicas a tocar no espaço e enchê-lo de vida e sensações. 

Museu Ara Pacis, Projetado por Richard Meier, Roma.
Museu Ara Pacis, Projetado por Richard Meier, Roma. Fonte: Blog Progettazione Urbanistica 

A água, por exemplo, pode ser um elemento que faz parte da arquitetura e colabora para uma atmosfera sonora própria, transmitindo calma e foco. 

Tocar o ambiente

Ao habitar um espaço, estamos em contato direto com este, corpo a corpo, que se tocam, provocam sensações e induzem ações. Um chão deslizante para dançar, ou macio para brincar; um banco fofo aconchegante ou duro para a espera.

Serpentine Gallery Pavilion 2015.
Serpentine Gallery Pavilion 2015. Fonte: Public Delivery

Além disso, a temperatura e a umidade também são aspectos sentidos pelo nosso tato, que podem ser controladas e manipuladas através da arquitetura sensorial. 

Para uma maior integração com o espaço, uma ótima resolução é introduzir materiais maleáveis e dispositivos interativos, como vento e vapor. 

O cheiro da arquitetura 

O cheiro é um sentido carregado de memória afetiva, que ajuda a nos situar no espaço. Cheiro da casa da avó, do doce preferido da infância, da pessoa amada, quem nunca foi surpreendido pelo olfato e transportado para um momento? 

Projetar arquitetura sensorial é também pensar e planejar os aromas de um determinado espaço, através do natural como do artificial. O cheiro do ambiente pode brindá-lo com personalidade e marca própria, fazendo com que os usuários recordem do espaço para além do visual e tátil. 

Le Grand Musée du Parfum, Paris.
Le Grand Musée du Parfum, Paris. Fonte: Di-Conexiones

Por este fator, o aroma de um ambiente é algo muito utilizado em comércios, como lojas de cosméticos, roupas etc., como estratégia de marketing, que pode levar a relevantes resultados para a influência da marca em questão. 

O olfato pode ser utilizado para aproximar-nos tanto de lugares interiores como abertos, e pode ser pensado também como elemento-chave em um projeto de paisagismo, através de plantas e flores, que exalam cheiros únicos no lugar. 

Quando utilizar arquitetura sensorial

A arquitetura sensorial é um modo de pensar o projeto de exteriores e interiores, podendo ser aplicado nos mais diversos tipos de ambientes, pelas mais distintas razões, desde sua casa, o ambiente de trabalho, escolar, comercial etc.

Para introduzir a arquitetura sensorial dentro de casa, um bom jeito de iniciar é pensando que sentimentos você gostaria que determinado ambiente proporcionasse e, a partir disso, aplicar os conceitos de cada sentido. Isso pode ser feito de maneira simples, ao pintar uma parede, regular a iluminação, trocar móveis e introduzir objetos, sempre com foco no sentimento a alcançar.

Arquitetura sensorial aplicada em escolas.
Arquitetura sensorial aplicada em escolas. Fonte: Pinterest

A arquitetura sensorial também é muito bem-vinda em espaços onde bebês e crianças são os principais usuários, como escolas, creches, bibliotecas, espaços de lazer, e também o quarto da criança. Introduzir elementos que conduzam aos cinco sentidos colabora para o desenvolvimento motor e psíquico infantil.

Além disso, a arquitetura sensorial é muito utilizada em ambientes comerciais, restaurantes e hotéis, com o objetivo de marcar aquele lugar na vida do usuário e proporcionar experiências que ficarão na memória. 

Jardim sensorial

Além da arquitetura, projetos de paisagismo e jardins também podem ser criados a partir de um projeto sensorial, aproximando-nos do espaço e colaborando para determinadas sensações. 

Serpentine Gallery Pavilion 2011, projetado por Peter Zumthor.
Serpentine Gallery Pavilion 2011, projetado por Peter Zumthor. Fonte: Dezeen

O jardim sensorial é um espaço que nos aproxima dos cinco sentidos por meio de  elementos naturais, como plantas, flores e frutos. Este espaço aberto verde pode ser um ótimo atrativo para escolas e espaços públicos. 

Para a criação de um jardim sensorial, uma ótima maneira é, além de guiar-se pelos cinco sentidos, projetar um percurso no qual o usuário possa ir experimentando e sentindo sensações diferentes conforme passeie pelo espaço. Neste, as pessoas têm livre acesso às plantas para sentir suas texturas, formas, aromas e gostos. 

Arquitetura sensorial aplicada em condomínios residenciais

O mercado imobiliário, buscando aprofundar a relação entre morador e condomínio, vem aplicando conceitos da arquitetura sensorial em diversos empreendimentos residenciais. O resultado são espaços de lazer únicos, capazes de proporcionar sentimentos variados, como relaxamento, calma e prazer. Conheça a seguir alguns exemplos no Brasil.

Aproximar-se da natureza mesmo que dentro de grandes cidades é algo cada vez mais desejado; para isso, o jardim sensorial vem se mostrando como um lugar-chave em condomínios, proporcionando o contato direto com o verde. O empreendimento Bem Viver General Jardim contém um projeto de paisagismo criado ao detalhe, com área de horta e espaço de compostagem. 

Churrasqueira integrada ao paisagismo do Isla by Cyrela.
Churrasqueira integrada ao paisagismo no Isla by Cyrela. Fonte: Apto

Já no Isla by Cyrela, o espaço da churrasqueira integra-se ao paisagismo, que contém uma horta, possibilitando o preparo de refeições com temperos recém-colhidos. 

A arquitetura sensorial infantil também já está presente em residenciais como o Belli Exclusive Home, que conta com espaços de lazer criados em harmonia com a paisagem, spa completo e o ambiente splash kids, com jogos de águas para explorar sensações. 

Sauna do spa do Infinity Santo Antonio.
Descanso da sauna do spa do Infinity Santo Antonio. Fonte: Apto

Mas para quem busca relaxamento, o espaço zen do Infinity Santo Antônio é o ideal, projetado a partir da arquitetura sensorial para transmitir calma e atmosfera desejada; conta com fonte de água, explorando a calma a partir dos sons.

Sentidos por toda parte

Os cinco sentidos estão constantemente espalhados em todo lugar que vamos e habitamos, e são grandes responsáveis por nos fazer sentir de determinada forma, muitas vezes de maneira inesperada.

Por tanto, estar atento ao que cada ambiente nos traz é algo essencial para conhecermos mais a nós mesmos e aos espaços. Ao identificar associações de sentidos, sentimentos e arquitetura, adquirimos a capacidade de saber qual ambiente é melhor para determinada atividade, além de colaborar para o nosso desenvolvimento psíquico. 

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Victória Baggio
Conteúdo criado por:Victória Baggio
Arquiteta com formação no Uruguai e Portugal, atualmente mestranda em projeto de arquitetura. Apaixonada pelo fazer e escrever sobre arquitetura.

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