Grafites em SP: artistas e história
Por Giovana Costa
22 maio 2020
O grafite tem origem no final da década de 1960, em Paris, com o movimento de contracultura iniciado em maio de 1968, e também na cidade de Nova York, nos Estados Unidos. Nos dois lugares, os jovens começaram a utilizar as paredes da cidade para criar mensagens e protestos por meio de desenhos artísticos.
Você conhece a história dos grafites? Já parou para pensar em como e quando eles surgiram no Brasil? Se interessou em conhecer suas histórias e os artistas por trás de cada obra? Então confira o conteúdo a seguir!
O que é grafite?
A palavra “grafite” vem do italiano graffiti, plural de graffito, e significa “escrita feita com carvão”. O grafite das cidades faz alusão à inscrição nas superfícies, sejam elas paredes ou muros, o que retoma as inscrições que já existiam desde o Império Romano quando palavras de protesto eram escritas nas paredes dos monumentos.
Além da arte, o grafite, também chamado de street art, é uma manifestação a favor da expressão artística. Um dos movimentos ao qual está atrelado é o hip-hop, que também utiliza a arte como linguagem e é um canal de expressão e denúncias.
Ao final dos anos 1970, Jean-Michel Basquiat, considerado um dos mais importantes representantes do neoexpressionismo, foi o artista responsável por despertar a atenção do mundo para a arte do grafite, quando revolucionou a arte nova iorquina com suas mensagens e seus desenhos poéticos cheios de expressão, senso crítico e energia.
Os grafites no Brasil
Foi nesse mesmo período que o grafite também começou a ganhar espaço no Brasil, mais precisamente em São Paulo, como uma forma de intervenção artística na cidade, num período conturbado por causa da Ditadura Militar. Momento em que a arte tinha uma força especial e representava a expressão democrática, num ato a favor da liberdade que intimidava o caráter repressor do regime.
Considerado um dos melhores do mundo, o grafite brasileiro é feito por diversos artistas que integram sua arte à cidade, com frescor, por meio de cores vibrantes, uma boa dose de senso crítico e traços gráficos.
Em 2009, parte dos artistas do grafite recebeu notoriedade por seus trabalhos com a exposição De dentro para fora, de fora para dentro. O momento marcou a história, pois foi a primeira vez que o Museu de Arte de São Paulo (Masp) recebeu a arte de rua.
Desde então, seja feita com spray, estêncil ou tinta automotiva, a arte do grafite inspira novos artistas, uma maior expressão cultural e até mesmo ações sociais nas ruas.
E apesar de ainda lidarem com a intolerância, o toque de modernidade de suas obras destaca-se em meio à efemeridade da cidade que nunca para, bem como também revela a essência e a verdadeira identidade de São Paulo, tão plural e cheia de movimento.
A seguir, conheça algumas obras e os artistas responsáveis por elas.
Alex Vallauri
O artista etíope naturalizado no Brasil foi um dos pioneiros da arte do grafite no país. Com temáticas sobre o consumismo e a pop art, suas xilogravuras já foram base de importantes movimentos políticos, como as “Diretas Já!”, por exemplo.
Alex Vallauri foi responsável por obras emblemáticas, como o grafite Boca com Alfinete (1973) e a instalação Festa na Casa da Rainha do Frango Assado para a 18ª Bienal de São Paulo: “O Homem e a Vida”, em 1985.
OsGemeos
Os irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, conhecidos como OsGemeos, são dois dos artistas mais reconhecidos do grafite no Brasil. Iniciaram a carreira por meio das artes, da pintura e da escultura, no bairro Cambuci, hoje repleto de grafites. Suas obras caracterizam-se pelo tamanho grande e pela influência do folclore brasileiro.
Além do Brasil, a dupla já atuou em países como Estados Unidos, Espanha, Alemanha e Inglaterra. Um de seus trabalhos mais aclamados é o Mural da Avenida Vinte e Três de Maio, uma colaboração com outros artistas.
Kobra
Conhecido como Eduardo Kobra, o artista ganhou notoriedade pelas cores vibrantes, pelas texturas e pelos gigantes retratos de personalidades em seus grafites. Ele detém o recorde de maior mural grafitado do mundo com a obra Etnias, mural pintado para celebrar os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, com 2,5 mil metros quadrados.
Porém, em 2017, o artista superou seu próprio recorde com uma obra em homenagem ao chocolate, baseada em um retrato feito pelo fotógrafo Lailson Santos, num paredão de 5.742 metros quadrados às margens da Rodovia Castello Branco, na Região Metropolitana de São Paulo.
No edifício Ragi Buainain, na Praça Oswaldo Cruz (região da Avenida Paulista), Kobra prestou uma homenagem ao arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer. O desenho do rosto do arquiteto, mesclado com suas obras, é um dos grafites mais icônicos da cidade.
O artista é reconhecido por todo o mundo como um dos maiores muralistas da street art.
Zezão
José Augusto Amaro Handa começou sua carreira criando grafites ainda na década de 1990. Por meio da influência da arte abstrata, da caligrafia e das obras de Basquiat, iniciou seu trabalho criando arte em paredes de canais de esgoto.
Zezão tinha como premissa tornar visíveis paisagens urbanas mais abandonadas para que fossem realmente vistas. Suas obras podem ser identificadas na cidade por sua marca: a palavra “VÍCIO”, em forma abstrata, escrita em azul.
Nina Pandolfo
Com traços finos, grafia delicada e personagens de olhar doce e cativante, os grafites de Nina Pandolfo trazem um toque lúdico e inocente à cidade. A ideia é trazer mais leveza e uma perspectiva com mais esperança e doçura.
A artista iniciou seu trabalho na década de 1990, no bairro Cambuci, e, hoje em dia, expõe seus traços em museus de países como Estados Unidos, Alemanha e Suécia. Uma de suas obras mais famosas está na Avenida Vinte e Três de Maio, numa colaboração com outros artistas.
Binho Ribeiro
Fabio Luiz Santos Ribeiro é um dos precursores do grafite no Brasil. Desde 1984 ele trabalha com a street art, além de trabalhar muito com a técnica da caligrafia e realizar a curadoria de importantes instituições, como o Museu Aberto de Arte Urbana de São Paulo (MAAU), por exemplo.
Binho Ribeiro também já atuou em projetos em parceria com a Bienal Internacional Graffiti Fine Art, grandes empresas e também com artistas internacionais. Hoje em dia, tem como principal objetivo difundir a arte urbana no Brasil.
Crânio
Fábio de Oliveira Parnaíba, conhecido como Crânio, reflete a crítica social e política em sua arte. Por meio de um índio, personagem que representa seus grafites, seus trabalhos são muito reconhecidos pelas ruas de São Paulo.
Dentre suas principais influências está o pintor espanhol Salvador Dalí. Suas obras sempre permeiam temáticas relacionadas à identidade do povo brasileiro e questões contemporâneas problemáticas, como a desigualdade social e a destruição do meio ambiente, por exemplo.
Minhau
Com grafites repletos de traços fortes e cores vibrantes, Camila Pavanelli produz uma arte divertida e meiga por meio da figura dos gatos.
Responsável por obras no Parque do Ibirapuera e também no Museu da Imagem e do Som (MIS), a artista iniciou sua carreira por meio do trabalho com colagens que fazia na cidade.
Grafite nas ruas e além delas
Muitos dos artistas que trabalham com grafite já foram convidados para expor suas artes em importantes museus ao redor do mundo, além dos convites para direção de arte no cinema, ilustração de álbuns, dentre outros projetos.
A arte do grafite constrói-se na trama urbana de São Paulo. O Museu Aberto de Arte Urbana (MAAU), por exemplo, está a céu aberto nas ruas da Zona Norte de São Paulo, no trecho elevado da Linha Azul, entre as estações Tietê, Santana e Carandiru.
Trata-se de um painel com obras de inúmeros artistas da cena, nas pilastras de sustentação das estações do metrô. Não há nada que separe o público das obras, e é possível vê-las a pé ou até mesmo dentro do carro ao longo da Avenida Cruzeiro do Sul.
A contestação, a liberdade e a expressão que a street art carrega em cada obra é a maior prova de que o grafite é uma intervenção artística essencial, ainda mais numa cidade tão diversa como São Paulo.
O grafite é uma arte livre, que pode alcançar todas as pessoas, basta olhar ao redor e refletir.
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