Nina Pandolfo – Biografia e obras

Nina Pandolfo – Biografia e obras
Giovana Costa

Por Giovana Costa

08 março 2021

Por meio de sua arte lúdica e encantadora, a artista, grafiteira, pintora, muralista e escultora brasileira Nina Pandolfo criou seu próprio universo, repleto de cores e cheio de expressão e sensibilidade em cada uma das composições.

Vinda de uma família com muitas mulheres, é por meio das figuras femininas de olhar hipnotizante, com sutileza e uma estética muito única que a artista começou seu trabalho no grafite, e, hoje, expõe sua arte em diversos países, em inúmeras exposições.

Neste 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, aproveite para reconhecer e celebrar o trabalho das mulheres. Conheça a seguir a trajetória e as obras de Nina Pandolfo, do Brasil para o mundo.

O primeiro contato com o grafite

Carina Aparecida Arsênio Pandolfo nasceu em 1977, na cidade de Tupã, no interior de São Paulo, mas mudou-se para a capital paulista ainda quando pequena.

Nessa época, Nina Pandolfo, como é conhecida a artista, já era apaixonada por cores e desenhos. Seu crescimento foi marcado por muita tinta, já que ela adorava pintar pedras, folhas e troncos de árvores.

Durante sua adolescência, aos 12 anos, surgiu a oportunidade de se inscrever em aulas de teatro de rua, influenciada por sua irmã mais velha. A partir desta experiência, Nina passou a olhar a rua com outros olhos.

Nina Pandolfo no início de sua carreira.
A artista pinta desde criança, mas foi aperfeiçoando suas técnicas a partir da adolescência. Fonte: Wix

Ao passo que utilizava as ruas como palco, começou a observar as paredes como pintura e a enxergar os muros da cidade como uma nova alternativa ao entrar em contato com o grafite pela primeira vez.

Até que participou de seu primeiro workshop sobre a street art. Foi aí que se iniciou sua busca por novos suportes para a arte que praticava desde criança: ela passou a entrar em contato com diferentes materiais, descobrindo novas técnicas e maneiras de se expressar artisticamente.

No curso de Comunicação Visual, o contato com o grafite foi crescendo. Com alguns amigos, Nina iniciou seus primeiros trabalhos com muita cor e elementos que remetiam à fauna e à flora.

O começo da trajetória de Nina Pandolfo

Mural do projeto The Wynwood Walls, em Miami, pintado por Nina Pandolfo.
Mural do projeto The Wynwood Walls, em Miami. Fonte: site oficial da Nina Pandolfo

Na década de 1990, a artista se lançou oficialmente na street art, tornando-se uma das pioneiras no grafite.

Num primeiro momento, foi notório o contraste que ela percebeu entre seus desenhos multicoloridos e os grafismos, cheios de letras criadas em preto e branco, na estética mais clássica do grafite, muito influenciado pela cultura hip-hop.

Nina, inclusive, já citou em algumas entrevistas o preconceito que sofreu durante sua carreira por não atender às expectativas de quem esperava retratos de b-boys (praticantes de breakdance, os quais usam o hip-hop como expressão) e grafites com letras word style em sua arte.

“Vai pintar em escolinha, o que você faz não é grafite”, essa é uma das frases que a artista escutou no início da sua carreira, por retratar figuras femininas e elementos delicados no seu grafite, numa área que ainda era dominada por homens.

Ainda existiam pessoas que alegavam que seu trabalho era infantil, mas este nunca foi um problema para ela. Com sua arte, Nina pretende despertar a criança que existe dentro de cada um, buscando o olhar curioso e puro de uma criança nos adultos que apreciam suas obras.

Obra intitulada Raquimona (2015), feita por Nina Pandolfo.
Obra intitulada Raquimona (2015). Fonte: Nina Pandolfo 

Com o passar dos anos, a artista passou a incorporar outros personagens como pequenos animais e elementos da natureza em sua arte. Ainda assim, sua marca principal, as meninas e as jovens mulheres de olhar encantador continuam presentes. 

Quando iniciou no grafite, ela já pintava telas. Desde pequena ela sempre soube que pertencia ao mundo das artes, portanto, os julgamentos e o preconceito nunca foram capazes de pará-la.

Aos 22 anos, ela fez sua primeira exposição, intitulada Um Minuto de Silêncio, na Fundação Nacional de Artes (Funarte), em São Paulo, em 1999. Essa mostra foi responsável por dar grande visibilidade para os artistas que estavam iniciando sua carreira no universo do grafite.

Em seguida, Nina participou da exposição Rede de Tensão, em 2001, no evento de comemoração dos 50 Anos da Bienal.

A artista expôs uma instalação de comunicação visual urbana, juntamente daqueles que alguns anos a seguir seriam seus parceiros em outros projetos, o grupo Caminho Suave, formado por OsGemeos e Vitché.

Novos caminhos na jornada de Nina Pandolfo

Nina Pandolfo posa em frente a uma parede com algumas intervenções artísticas coloridas e seu nome assinado.
As obras de Nina Pandolfo encantam o Brasil e também diversos outros países. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural

Nos anos 2000, muitos artistas passaram a ser reconhecidos por suas obras, inclusive internacionalmente. Desde então, Nina passou a marcar o mundo, muito além dos muros das ruas, e foi conquistando seu espaço. 

Uma de suas primeiras participações em exposições internacionais aconteceu em 2002, na coletiva intitulada I Don’t Know, na galeria Die Farberie, em Munique, na Alemanha.

Em 2007, em mais um projeto internacional, a artista participou de uma colaboração com OsGemeos e Nunca, na pintura da torre e da fachada sul do Castelo Kelburn, na cidade de Ayrshire, em Glasgow, na Escócia, a convite do Lorde de Glasgow. 

Castelo Kelburn, pintado por Nina Pandolfo, OsGemeos e Nunca.
Castelo Kelburn, pintado por Nina Pandolfo, OsGemeos e Nunca. Fonte: Pinterest

Passando por diversos países como Cuba, Estados Unidos, Grécia, Porto Rico, Espanha, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, entre outros, Nina foi criando um repertório muito rico, que cada vez mais contribuiu para intensificar sua produção artística.

Em 2011, a artista lançou seu primeiro livro, pela Editora Master Books, intitulado Nina. Com uma seleção de imagens que retratam sua trajetória, o livro apresenta suas obras e os momentos mais marcantes desde o início de sua carreira.

Além das artes nos muros e nos murais das cidades brasileiras e das participações em museus e galerias de arte de diversas partes do mundo, Nina também fez colaborações com reconhecidas marcas do mundo da moda.

Com a italiana Fendi, no projeto Fendi Artist Baguete, a artista customizou uma bolsa baguete que, posteriormente, foi leiloada em São Paulo e o valor arrecadado foi doado para o Instituto Verdescola.

Bolsa customizada por Nina Pandolfo para o projeto Fendi Artist Baguete, da Fendi.
Bolsa customizada por Nina Pandolfo para Fendi. Fonte: Glamurama | Uol

Os projetos nacionais também marcaram sua carreira e o grafite brasileiro. Em 2013, Nina realizou a exposição Serendipidade em São Paulo na Galeria Leme. 

Também colaborou com uma obra destinada ao leilão de arte realizado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), em prol do Hospital Pró Criança Jutta Batista, em 2014.

No ano seguinte, participou da quinta edição do AmFar Inspiration Gala São Paulo, para ajudar na arrecadação de fundos em prol da luta contra a AIDS. Sendo sua obra Maior que a imensidão da paz a doação vendida com o maior valor do leilão.

Obra Maior que a imensidão da paz (2015).
Obra Maior que a imensidão da paz (2015). Fonte: Nina Pandolfo

Em 2016, a artista lançou seu segundo e mais recente livro, Por Trás das Cores, a fim de compartilhar parte de sua inspiração, seus processos artísticos e suas obras do período de 2011 a 2016.

Sua arte se envolveu até mesmo com o cinema. Em 2019, por exemplo, ela assinou o cartaz da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Além disso, Nina também já fez parcerias com artistas precursores do grafite, como quando fez uma exposição, na Suécia, em parceria com Lady Pink, uma das mulheres pioneiras da street art nos Estados Unidos.

Obras de Nina Pandolfo

Nina Pandolfo e suas obras: uma na tela mais atrás e outra em escultura, mais a frente.
Nina Pandolfo e suas obras: na tela e na escultura. Fonte: Neoarte.net

Transbordando muito talento, sensibilidade e delicadeza em suas obras, durante seu processo criativo no ateliê em que trabalha com sua equipe, Nina utiliza principalmente tinta acrílica e spray.

Grande entusiasta da variedade de cores contrastantes, a artista preza por composições mais complexas, que contam com muita precisão, nas telas, nos prints ou nas esculturas.

Em suas obras, Nina reflete um novo olhar, cuidadoso, atento e inocente, numa busca por mais esperança, sinceridade e amor. Amor este que pode ser percebido com mais intensidade nas composições em que ela faz questão de incluir seus gatos de estimação.

Confira a seguir algumas das obras de Nina Pandolfo.

Mural em parceria com Nunca, OsGemeos, Finok e Zefix

Localizado na Avenida 23 de Maio, em São Paulo, está o mural que a artista criou em pareceria com outros colegas.
Localizado na Avenida 23 de Maio, em São Paulo, o mural é um marco no grafite paulistano. Fonte: OsGemeos

Com uma temática que inclui uma estética brasileira e também elementos da cultura hip-hop, este trabalho, em parceria com colegas como Nunca, OsGemeos, Finok e Zefix, foi feito em 2002.

Numa composição quase surrealista, a obra reúne muitas cores, elementos da natureza, figuras femininas e encanta pela criatividade e pela magia que emana para a cidade e as pessoas.

Sweet Ginger

Obra Sweet Ginger, criada por Nina Pandolfo.
Obra Sweet Ginger. Fonte: Nina Pandolfo

Além das meninas e das jovens mulheres nas telas e nos murais espalhados pelas cidades do mundo, Nina também as retratou em esculturas, como bonecas.

A Sweet Ginger (2012), por exemplo, reúne elementos místicos, como um olhar mágico e asas de fada.

Um amor sem igual

O gato gigante deitado é uma homenagem a Rakim.
Uma homenagem a Rakim. Fonte: Nina Pandolfo

A obra Um Amor Sem Igual (2013) consiste em uma escultura de um grande gato de pelúcia, que também conta com um sistema de som que reproduz um ronronar contínuo de felino.

Porém, não se trata de um felino qualquer. O rosto do gato de estimação da artista, o Rakim, foi esculpido em 3D com base em fotos que ela mesma tirou. Esta é uma das obras mais fotografadas desde a abertura do Museu de Arte Contemporânea (MAC-USP).

Meia Lua

Obra Meia Lua.
Obra Meia Lua. Fonte: Nina Pandolfo

Dentre as marcas mais fortes do seu trabalho está o uso de uma estética meiga em suas composições. Entretanto, a artista também inova utilizando diferentes visuais, sobretudo nas personagens de seus trabalhos.

Na obra Meia Lua (2012), por exemplo, Nina utilizou uma estética mais sombria, com elementos inspirados no estilo gótico, que conta com tons de roxo, preto e vermelho.

Mural Kusthpark

Família com olhos que mostram máscaras de Mickeys. Também é possível observar machucados e membros amputados, na obra Kusthpark de Nina Pandolfo.
O segredo da percepção desta obra está nos mínimos detalhes. Observe atentamente o olhar das personagens. Fonte: Jhê Delacroix

O mural Kusthpark (2005), criado em Munique, na Alemanha, foi feito com os mesmos traços delicados e estilo de desenho característico da artista, mas sua mensagem é diferente de outras obras da artista.

Nesta obra, Nina denuncia os abusos sofridos pela população durante a guerra do Iraque. Desta forma, é possível perceber os tanques de guerra, os membros amputados e os olhares que clamam por socorro.

Castelo Kelburn

Pintura na fachada do Castelo Kelburn, feita por Nina Pandolfo.
A composição da obra cria uma estética muito interessante. Fonte: Countryfile

Nina ficou responsável pela base da torre, criando o desenho de uma menina com cabelos coloridos e, claro, grandes olhos hipnotizantes. A obra também conta com outras figuras femininas, algumas inclusive de ponta cabeça.

A obra no castelo seria apenas uma instalação temporária, mas fez tanto sucesso que acabou se tornando cartão postal da região e também uma obra permanente. 

A arte de Nina Pandolfo é feita com amor

Nina e seu inseparável amigo, Rakim.
Nina e seu inseparável amigo, Rakim. Fonte: Época

Nina Pandolfo reflete em sua arte a beleza da vida e, sobretudo, a beleza da inocência de um olhar que não carrega preconceitos, mas sim uma maneira diferente e mais sensível de olhar o mundo.

Abrindo o caminho para mais jovens meninas e mulheres que desejam se entregar ao mundo das artes, a artista inspira a todos com a sua trajetória e deixa uma mensagem muito especial por meio de suas obras: acredite no seu próprio potencial e crie com coragem.

Qual é a sua obra favorita da artista? Deixe seu comentário!
Gostou do conteúdo? Então não deixe de conferir também o trabalho de Lygia Clark.

Categorias
Giovana Costa
Conteúdo criado por:Giovana Costa
Jornalista, apaixonada pela escrita, pela sétima arte e pelo audiovisual.

Quer deixar um comentário ou relatar algum erro?Avise a gente

Onde você deseja morar?More bem, viva melhor
Logo Apto Branco

LEIA TAMBÉM

Posts relacionados