Benedito Abbud – Biografia e obras
Por Thainá Neves
01 julho 2020
Com mais de 45 anos de atuação, Benedito Abbud é um reconhecido paisagista brasileiro e também um dos mais influentes, ao lado de Burle Marx e Rosa Kliass. A extensão de sua obra ultrapassa os limites do Brasil, chegando a países como Argentina, Uruguai e Angola.
Sua atuação impressiona pela flexibilidade e permeia diversas escalas e usos, desde grandes áreas verdes que impactam cidades, até empreendimentos corporativos e residenciais. De praças a shoppings centers, de parques a residências, Benedito desenvolve um trabalho cheio de personalidade.
Passos na arquitetura e a paixão pelo paisagismo
Graduado em Arquitetura pela Universidade de São Paulo (FAU-USP) no ano de 1974, Benedito Abbud considera o período em que estagiou no escritório do também arquiteto Luciano Fiaschi como o ponto definidor de sua trajetória.
A vivência diária como um paisagista, aliada à sua paixão por desenhar, fizeram-no ter certeza de que seguiria na carreira, pois essa área da arquitetura dá liberdade para desenhos mais livres e soltos.
Ao fim do curso montou um escritório ao lado de Suely Suchodolski, parceria que rendeu importantes projetos, como o Parque do Jaraguá, em São Paulo.
Mas foi em 1981, ao fundar sua própria empresa, a Benedito Abbud Arquitetura Paisagística, que sua carreira começou a ganhar renome internacional. Atualmente já realizou mais de 5 mil projetos no Brasil e em outros países do mundo.
A pesquisa sempre esteve presente em sua vida e, mesmo após concluir a pós-graduação e o mestrado pela FAU-USP, continuou desenvolvendo novas técnicas de ensino, posteriormente aplicadas em seu tempo como docente. Como fruto desse trabalho nasceu o livro Criando paisagens: guia de trabalho em arquitetura paisagística, publicado em 2006.
O pensamento paisagístico de Benedito Abbud
Benedito Abbud vivenciou a transformação do olhar da sociedade em relação à importância do projeto paisagístico. No início de sua carreira, a profissão do arquiteto paisagista ainda estava ganhando espaço no Brasil, então era comum que as construtoras não tratassem essas questões como prioridade.
A obra de Benedito possui uma essência que rompe com a ideia de que pensar áreas verdes é algo puramente estético, pois está sempre pautada numa preocupação muito grande com a sustentabilidade nas esferas ambiental, social e pessoal.
Em relação à esfera ambiental, enfatiza a importância de entender as características locais – bioma e clima – e procurar soluções de baixo impacto ambiental.
Na esfera social, as áreas verde e de lazer devem valorizar o espaço e a cultura em que estão inseridas, para que a experiência de quem utiliza o local seja muito agradável e conectada com a cidade.
Outro aspecto que chama atenção em seu trabalho é a experimentação do espaço em diversos níveis, incluindo os cinco sentidos humanos: tato, visão, olfato, audição e paladar. Assim, para Abbud, o “paisagismo é uma das pouquíssimas expressões artísticas, talvez a única, em que você possa enaltecer os cinco sentidos.” Isso é feito pelo uso de espécies que produzem ou não frutos e possuem diferentes texturas, cheiros e cores.
A obra de Benedito Abbud
Observa-se um equilíbrio belo entre os cheios e os vazios em sua obra. As alturas e os agrupamentos variados da vegetação são trabalhados de forma a valorizar a paisagem existente e criar um potencial em áreas não tão interessantes.
Os caminhos conectam atividades de variadas naturezas, tornando os percursos intuitivos e atrativos.
No início de sua carreira realizou mais de 600 obras em parceria com a Encol, importante empresa do setor da construção civil nos anos 1980, o que concedeu prestígio ao paisagista no mundo imobiliário.
O Latitud Condominium Design é um exemplo de como os conceitos são aplicados em empreendimentos privados com a mesma qualidade, tornando a vegetação parte do extenso lazer.
Praça Victor Civita
No passado, o local abrigava um incinerador que contaminou o solo por anos, mas, após uma parceria entre a Prefeitura da Cidade de São Paulo e a Editora Abril, foi transformado em um museu aberto de sustentabilidade, concluído em 2008.
À medida que o visitante explora o caminho principal, através do deck fluido, depara-se com áreas que o convidam a entender cada elemento colocado no espaço. A ideia é que a história da recuperação seja contada em tempo presente de maneira interativa.
A praça reúne atividades voltadas à educação ambiental, oficinas, palestras, atividades para a terceira idade e conta com um espaço para apresentações artísticas. Além disso, possui sistema de captação de águas da chuva e irrigação subterrânea, além de plantio focado na produção de energia limpa com espécies que auxiliam na reabilitação do solo.
O projeto é um símbolo de como áreas degradadas e contaminadas podem ser devolvidas à cidade.
Arte Arquitetura Vila Mariana
Contrapondo elementos minerais e orgânicos, a lateral do edifício transforma-se em obra de arte que une a escultura de metal, do artista plástico Artur Lescher, ao paisagismo de Benedito Abbud.
O grande jardim vertical estende-se até as paredes internas do edifício, criando assim uma sensação de continuidade que abraça a área de lazer.
A ideia transforma a empena cega, nome dado às paredes sem nenhuma abertura, em um ponto interessante que extrapola os limites do condomínio e cria uma relação com o exterior. Dessa forma, a cidade também é beneficiada.
Praça ao lado do Shopping Cidade São Paulo e da Torre Matarazzo
Localizada no encontro da Avenida Paulista com a Rua Pamplona, a praça é um espaço de respiro em meio aos altos edifícios da região. O verde permeia cada parte do espaço, garantindo sombras agradáveis durante o dia e cenários encantadores durante a noite.
Como premissa do projeto, o paisagista utilizou a necessidade de manter o solo permeável e preservar a vegetação remanescente da antiga mansão Matarazzo. Portanto, os espaços de convivência, com mobiliário, são conectados por escadarias, e o piso possui grelhas que captam águas da chuva para reúso.
As soluções sustentáveis, a cidade e as pessoas coexistem em um único espaço, evidenciando o conceito de sustentabilidade em três aspectos defendido por Benedito.
Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha
O projeto de arquitetura paisagística do Estádio Mané Garrincha idealizava uma grande mudança para o local que abriga um estacionamento asfaltado com aspecto árido. Integrando os 600 mil m² no entorno da arena, foram projetadas áreas de estar e de práticas esportivas envolvidas por árvores que dão sombreamento e equilibram o microclima.
A vegetação, em conjunto com a lâmina d’água, proporciona conforto térmico e funciona como belo recurso visual. Além disso, os caminhos são demarcados por espécies de diferentes colorações e alturas, que resultam num paisagismo rico.
Um futuro mais verde
Mesmo com todo o talento, Benedito não se considera um autodidata, mas um profissional dedicado e aberto a novos conhecimentos. Ele acredita que o paisagismo é a profissão do futuro e que a construção de cidades sustentáveis e mais amigáveis é responsabilidade de todos. Como forma de democratizar o conhecimento, compartilha conteúdos em seu canal no Youtube, Criando Paisagens.
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