Angelo Bucci — Biografia e obras
Por Victória Baggio
24 junho 2020
Símbolo da arquitetura contemporânea paulista, o arquiteto Angelo Bucci é reconhecido internacionalmente pela forma como faz arquitetura. Leve, tendo como elemento principal da obra a sua estrutura, o arquiteto tem um jeito único de materializar ideias.
Com personalidade simples e calma, Bucci cria uma obra forte, de casas a hospitais e edifícios de apartamentos, que demonstram seu preciso domínio da técnica arquitetônica.
O caminhar de Angelo Bucci na arquitetura
Angelo Bucci nasceu em Orlândia, interior de São Paulo, em 1963. Vem para a capital do estado cursar arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), onde se gradua em 1987.
Em 1989, Bucci, em conjunto com os arquitetos Álvaro Puntoni e Álvaro Razuk, funda o escritório Arquitetura Paulista, em São Paulo, onde exercem a profissão até 1992. É durante esse período que os arquitetos vencem o concurso do Pavilhão do Brasil na Expo’92, em Sevilha, com um projeto marcado pela forte influência dos mestres Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha.
Com os arquitetos Milton Braga, Fernando de Mello Franco e Marta Moreira, também formados pela FAU/USP, funda o escritório MMB em 1996. Escritório de prática constante da arquitetura, atualmente realiza vários projetos em conjunto com Paulo Mendes da Rocha.
Em 1998, Bucci obtém o título de mestre pela FAU/USP e, a partir de então, começa a carreira na docência de projeto de arquitetura na mesma faculdade. Em 2005 alcança o título de doutor, também pela faculdade de origem.
Um ano após se afastar do MMBB, em 2003, Angelo funda seu próprio escritório, o SPBR, ao lado do arquiteto Álvaro Puntoni, onde exerce arquitetura desde então.
Arquiteto, professor e pesquisador, atualmente Bucci exerce a carreira docente em instituições internacionais renomadas, como professor convidado, na Universidade de Harvard, no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e na Universidade de Veneza.
Uma arquitetura leve e, ao mesmo tempo, forte
A arquitetura criada por Angelo Bucci reflete a lógica e a racionalidade da arquitetura modernista, que é reinterpretada e materializada de forma contemporânea pelo arquiteto.
Com base na herança da faculdade onde estudou, e dos mestres que teve como professores, Bucci traz a valorização da estrutura em sua obra. A estrutura é o primeiro elemento e o mais importante do projeto. Seus edifícios são, muitas vezes, só estrutura, que passa a ser a cara das obras.
O impressionante do fazer arquitetura de Bucci é a leveza que ele consegue dar aos seus edifícios. Estruturas delicadas e precisas são acompanhadas de materiais ligeiros, como madeira, aço e vidro.
Bucci faz de seus projetos campos a explorar, reinventa soluções, descobre novas maneiras de trabalhar com os materiais. O resultado é uma obra experimental, inovadora e muito particular.
Casa de fim de semana
Glória Kalil, conhecida jornalista e consultora de moda, e seu marido estavam cansados de passar o final de semana ao volante tentando ir de São Paulo para o litoral aos finais de semana.
Foi quando procuraram o arquiteto Angelo Bucci para que projetasse uma espécie de casa de fim de semana na cidade de São Paulo.
Diferentemente do projeto de uma casa convencional, os principais espaços desse projeto são o jardim, a piscina e o solário. Ambientes convencionais como o quarto e o espaço de estar são complementares.
Por se tratar de um terreno na malha urbana do bairro Jardim Europa, em São Paulo, a altura máxima permitida para a construção é de 6 metros. Para que a piscina pudesse receber o máximo de sol possível, o arquiteto fez o inesperado: a piscina flutuar a 6 metros do chão, criando um novo térreo elevado.
Essa solução incomum libera o solo de construções, que se transforma no jardim.
A casa divide-se em três andares com atmosferas completamente diferentes: o nível do terreno, ocupado pelo jardim, seguido pelo andar do apartamento e o da cobertura.
Edifício em Lugano, obra internacional de Angelo Bucci
Bucci começa a frequentar a Suíça após se tornar professor convidado na renomada Academia de Mendrisio. É em uma destas instâncias de estadia no país europeu, que o arquiteto é convidado a projetar um edifício de apartamentos na cidade de Lugano.
Para este projeto, Bucci tem o objetivo de colocar em diálogo dois contextos culturais bastante distintos: o brasileiro e o suiço.
Ele traz a leveza da sua arquitetura, em conjunto com a modernidade da arquitetura brasileira que carrega, e adapta-a ao lugar, uma cidade histórica, pesada. Onde tudo parece nascer a partir do solo, como uma árvore, Bucci cria um edifício que flutua.
A planta livre e transparente do térreo do edifício, com poucos pontos de apoio, possibilita atravessar de uma rua para a outra.
Arquitetura e mercado imobiliário em conjunto
Bucci vem demonstrando, nos últimos anos, desejo de colaborar na criação de cidades mais humanas. Ele defende a importância do trabalho em conjunto entre arquitetos e o mercado imobiliário.
Segundo o arquiteto, em entrevista para a Casa Vogue, através dessa aproximação se começa a reconhecer que os edifícios não são obras anônimas: “A autoria é algo que faz você ver a humanidade das coisas. Existe uma pessoa por trás, você percebe como ela pensa.” Essa aproximação torna possível a existência de cidades que resolvam as demandas de cada lugar, tendo em conta as particularidades, e não uma reprodução de genéricos que em nada conversam com o entorno.
“O movimento de reaproximação do mercado com uma arquitetura melhor é uma mudança cultural, de entender a importância do projeto. […] A partir do momento em que empreendedores […] reconhecem o valor do projeto, o mercado muda. Quando você traz uma arquitetura mais bem cuidada, gera uma demanda dirigida, surge um nível de exigência maior.”
Nesse contexto, o arquiteto vem demonstrando seu domínio por meio de diferentes projetos de edifícios residenciais, como o edifício Nomad e o Float by Yoo.
Float by Yoo, o novo projeto de Angelo Bucci
Localizado na Vila Olímpia, em São Paulo, o edifício Float by Yoo diferencia-se dos empreendimentos que estamos acostumados a ver na cidade dos materiais à disposição dos apartamentos.
A estrutura do edifício, feita em concreto armado, é aparente. O vidro aparece nos fechamentos verticais, nas janelas e portas, e no guarda-corpo. A madeira aparece de forma pontual, em detalhes e no acesso. O edifício parece ser feito somente desses três elementos, surgindo na cidade como uma obra leve e inovadora.
Para gerar uma maior independência entre os apartamentos, Bucci explica: “No Float, fizemos três blocos separados, em que as unidades não dividem paredes, e o núcleo, que costuma ser fechado, é todo aberto, como uma varanda.”
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