Desmistificado: Fachadas de vidro em residenciais
Por Vince
19 junho 2019
O uso do vidro na arquitetura é uma prática bem antiga que já representou poder e status para famílias nobres, e, atualmente, é visto até mesmo em fachadas residenciais.
De diferentes formas, ao longo do tempo, o vidro esteve sempre presente para garantir transparência, leveza e luz ao interior das edificações. O fato é que até hoje esse elemento exerce o seu fascínio por conta de todas as possibilidades que oferece.
Fachadas de vidro na história da arquitetura
O vidro foi descoberto há, pelo menos, 4.000 anos, sendo aplicado por diferentes civilizações em objetos como vasos, jarras e espelhos. Posteriormente, a familiaridade com o material e o avanço das técnicas para a sua produção permitiram aplicação em áreas maiores, criando, por exemplo, os vitrais.
As construções, que antes recebiam paredes espessas e poucas aberturas, ganharam vidros circulares, coloridos e geométricos durante o movimento Gótico. Isso foi possível, com toda a certeza, graças a um conjunto de avanços, inclusive na qualidade do material, cada vez mais resistente.
Contudo, no contexto brasileiro as janelas com vidro surgiram entre os séculos 17 e 18, inicialmente em construções religiosas ou ligadas à nobreza. O aparecimento tardio do material se deve tanto ao contexto econômico do País como pela dificuldade de importação, afinal trazer de Portugal sem danos poderia ser quase impossível considerando os detalhes da viagem.
Com a revolução industrial, a produção de vidro passou de processos artesanais, como sopro e prensagem, para métodos fabris que permitem resultados em grande escala.
Durante o movimento modernista, portanto, o vidro ganhou maior protagonismo na construção, garantindo a entrada da luz natural no interior dos ambientes e também a conexão com o exterior. O material está nas construções desse período em perfeita harmonia com o concreto puro, sem revestimentos.
As obras de Oscar Niemeyer apresentam o uso do vidro em diferentes contextos, desde igrejas até residências e edifícios públicos. Do mesmo modo, a Casa de Vidro e o próprio MASP, de autoria da reconhecida arquiteta Lina Bo Bardi, são marcos que refletem a valorização do vidro no movimento modernista.
Das fachadas corporativas às residenciais
Atualmente, as tecnologias dos vidros permitem que fachadas inteiras sejam constituídas pelo material, criando inúmeras possibilidades de projeto. Em edifícios corporativos, os chamados panos ou cortinas envidraçadas são bastante comuns, de tal forma que as torres espelhadas se tornaram marca registrada de grandes centros financeiros do mundo todo.
O material possui versões tão resistentes que é possível moldar fachadas de vidro independentes da estrutura do edifício. Essa é uma vantagem que possibilita construções em formatos mais diversos, incluindo circulares e orgânicos.
Já no interior dos edifícios, a fachada de vidro possibilita iluminação natural nos ambientes de trabalho, especialmente quando o escritório é totalmente integrado. Além disso, a vista para a cidade garante conexão com a área externa, cenário que desperta a criatividade e pode aumentar a produtividade nas tarefas.
Bastante comum em edifícios comerciais, a fachada de vidro vem sendo cada vez mais utilizada como solução para empreendimentos residenciais, enquanto abre novas possibilidades de projeto, contribui para a valorização estética do imóvel e, consequentemente, para o aumento do seu valor de mercado.
Conheça, a seguir, residenciais projetados com fachada totalmente envidraçada.
Central Park Tower
Em Nova York, junto ao Central Park, há uma torre totalmente envidraçada que é o edifício residencial mais alto do mundo. São 470 metros de altura e uma fachada vítrea que reflete o céu.
As áreas comuns do empreendimento contam com clubes privativos, além de ambientes totalmente voltados para o bem-estar e espaços para oferecer eventos luxuosos. Além disso, há previsão para que o complexo ofereça aulas particulares de natação, treinadores, serviços de treinamento pessoal e tratamentos restauradores.
Nas residências, as áreas sociais são dispostas nos cantos da planta para maximizar o aproveitamento das vistas externas. Desse modo, os raios de sol entram livremente pelo living, envolvendo o espaço em uma atmosfera de sofisticação perfeita para receber convidados.
565 Broome SoHo
Outro projeto residencial com fachada de vidro é o 565 Broome SoHo, projetado pelo escritório Renzo Piano Building Workshop. O edifício se destaca pela aplicação pura dos materiais, garantindo luxo e sofisticação para viver todos os dias.
Os cantos arredondados do edifício garantem vistas contínuas a partir do interior dos apartamentos, detalhe pensado para que os moradores aproveitem ao máximo a paisagem de Nova York e apreciem pontos emblemáticos como o Rio Hudson. Em algumas das residências, essa relação com o exterior é ampliada por meio do pé-direito duplo.
Vitra
O Vitra está localizado no Itaim Bibi, em São Paulo, e foi considerado pela revista Worth um dos dez melhores edifícios residenciais do mundo no ano de 2012. Assinado pelo premiado arquiteto Daniel Libeskind, o projeto rompe com a tradicional ideia de empreendimento residencial, afinal possui fachada de vidro e um surpreendente formato geométrico.
“Vitra é um novo conceito de residência em condomínio. Com sua forma esculpida e cristalina, cria um novo ícone para a cidade de São Paulo.” – Daniel Libeskind.
O edifício possui também a certificação AQUA, provando que a fachada de vidro pode trabalhar em conjunto com as práticas sustentáveis e ser amiga do meio ambiente.
Com plantas que variam de 565 m² a 1.145 m², os apartamentos do residencial possuem a exclusividade de ocupar totalmente os pavimentos, sem dividir com outras unidades. Assim, as unidades possuem vista para todas as direções do bairro.
Downtown República
Localizado no bairro da República, o Downtown República possui fachada de vidro que se destaca em meio aos tradicionais edifícios do centro antigo de São Paulo. Esse residencial possui unidades compactas configuradas como studio ou apartamentos de um dormitório, todas com varandas envidraçadas que permitem ampla vista para o exterior.
Horizonte JK
O edifício multifuncional Horizonte JK possui unidades para morar e unidades corporativas, com acessos totalmente independentes entre si. O vidro, bastante presente em toda a fachada, garante estética uniforme entre os dois usos, além de conectar o empreendimento ao seu entorno.
A localização do empreendimento, junto às avenidas Juscelino Kubitschek e Faria Lima, é repleta de edifícios corporativos que seguem a linguagem da fachada espelhada. Portanto, o Horizonte JK é parte integrante da paisagem.
As controvérsias da fachada de vidro
Quando o assunto é vantagens e desvantagens, a fachada de vidro é controversa, pois, ao mesmo tempo que permite maior incidência solar, pode aumentar o calor interno do edifício quando não aplicada da maneira correta. Essa característica já a fez ser considerada a vilã dos edifícios sustentáveis.
Outro aspecto é a refletividade, que pode ser danosa para o local no qual o empreendimento está. Há, porém, algumas alternativas para driblar essas questões, mantendo a ampla iluminação natural no interior dos ambientes.
O primeiro cuidado deve ser tomado ainda no momento do projeto. As características físicas do local devem ser consideradas, bem como o clima da região e a orientação solar do edifício. Da mesma forma, brises e outros elementos construtivos também são ferramentas eficientes para barrar o calor excessivo.
No entanto, na maioria das vezes, a especificação correta do vidro pode ser o fator decisivo. Graças às novas tecnologias do setor, é possível que um prédio com fachada de vidro tenha um bom desempenho energético, térmico e acústico.
O vidro certo no lugar certo
As tecnologias de acabamento dos vidros vão das mais simples, como a textura serigrafada, por exemplo, às mais sofisticadas, como vidros com baixo índice de refração de ondas infravermelhas, que diminuem a passagem de calor.
Em entrevista à AECweb, a arquiteta Claudia Mitne, especializada e atuante no segmento há mais de 15 anos, fala sobre a especificação de vidros adequados a cada projeto:
“Vai depender do tipo de atenuação desejada, porque a frequência é uma variável muito importante que define qual o tipo de vidro será a melhor barreira. Às vezes, é resolvida somente com a espessura do vidro, em outros casos, necessita-se de vidro + PVB (polivinilbutiral). E chegamos ao máximo com vidros duplos insulados compostos com vidros laminados, produzindo uma barreira diferenciada.”
Modelos de vidro e aplicação na fachada
Existem vidros com diferentes características no mercado, sendo o vidro float o mais comum deles. Esse modelo serve de base para a produção dos temperados, laminados, serigrafados, espelhos e mais.
Para fachadas de vidro, a depender da finalidade, há inúmeras opções disponíveis:
- Vidro temperado: é cinco vezes mais resistente que um vidro comum de mesmo tamanho e espessura, sendo comumente aplicado em espaços públicos como shoppings, lojas e restaurantes;
- Vidro laminado: possui duas ou mais lâminas em sua composição, além de uma espécie de resina que evita o espalhamento dos fragmentos quando o vidro se quebra. Esse tipo de vidro é bastante utilizado em pisos, guarda-corpos e fachadas;
- Vidro autolimpante: por meio dos raios UV que incidem sobre o material, possui um sistema capaz de repelir a poeira, dispensando a limpeza constante;
- Vidro insulado: composto por duas ou mais camadas, esse modelo de vidro pode receber algum tipo de gás nas câmaras intermediárias, diminuindo a condução do calor e do som entre os ambientes;
- Vidro de controle solar: seja reflexivo ou com tecnologia low-e, os vidros de controle solar são formados a partir de camadas metalizadas e funcionam como um filtro que bloqueia a entrada de calor.
Para desfrutar dos benefícios do vidro em um edifício residencial, aproveitando a luz solar sem comprometer o conforto térmico do ambiente, são priorizados os vidros com acabamentos mais neutros que permitem conexão com o ambiente externo.
Com a evolução da tecnologia, os empreendimentos cada vez mais irão receber vidros de alto desempenho, propiciando ambientes agradáveis para viver. E você, moraria em um residencial com fachada de vidro?
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