Sala São Paulo – Que prédio é esse?

Sala São Paulo – Que prédio é esse?
Thainá Neves

Por Thainá Neves

01 outubro 2021

A Sala São Paulo faz parte de um importante conjunto arquitetônico e patrimônio histórico da cidade de São Paulo, sendo palco para orquestras, corais, grupos de dança, atores e solistas do mundo todo se apresentarem.

A qualidade da estrutura e dos espetáculos oferecidos faz do local uma referência como espaço cultural. Além disso, a história da sua construção reserva detalhes únicos, adicionando um valor a mais.

História da Sala São Paulo

O edifício no qual atualmente funciona a sala de espetáculos nem sempre foi um espaço cultural. Na verdade, a estrutura foi erguida para dar suporte à estrada de ferro Sorocabana e, ao mesmo tempo, representar a riqueza que a comercialização do café gerou para o Brasil.

Vista aérea da Sala São Paulo durante a noite, com luzes em toda a sua fachada e torre.
O edifício atualmente abriga a Sala São Paulo e a Estação Júlio Prestes. Fonte: Sala São Paulo

Na época, o bairro Campos Elíseos concentrava moradores da elite e os barões do café. Por esse motivo, foi escolhido para abrigar a monumental construção da Estação Júlio Prestes, que data do ano de 1925.

Após alguns anos de funcionamento do local, houve uma queda acentuada nos preços do grão, impactando também o uso das estruturas construídas para essa finalidade. Somado a isso, a empresa que realizava a gestão do sistema começou a enfrentar fortes problemas econômicos.

Para reverter a situação, parte do edifício foi requalificada para se transformar na famosa Sala São Paulo, oficialmente inaugurada em 1999. Na outra porção do edifício, a estação de trem continua em funcionamento até os dias atuais.

Interior da Estação Júlio Prestes atualmente, com catracas delimitando o acesso às plataformas.
A Estação Júlio Prestes foi construída com a finalidade de atender às demandas do comércio do café e continua em funcionamento até hoje. Fonte: Metrô CPTM

Em conformidade com a importância histórica que a construção adquiriu, a estrutura é tombada como patrimônio histórico, sendo também um importante ponto turístico e cultural da cidade.

Arquitetura da Estação Júlio Prestes

O projeto inicial do edifício foi elaborado por Christiano Stockler das Neves, seguindo o estilo Luís XVI simplificado. A estética escolhida para a Estação Júlio Prestes fica evidente na rica ornamentação, presente em cada mínimo detalhe do exterior ao interior.

Fotografia antiga mostrando a vista externa da edificação.
A fachada do edifício combina linhas retas e curvas, de acordo com o luxuoso estilo Luís XVI. Fonte: Pinterest

A Grand Central Station e a Pennsylvania Station também foram importantes referências para o projeto, levando tecnologias essenciais para a construção de uma estação ampla que atendesse bem ao transporte de cargas e à circulação de pessoas.

Vista do acesso para a Estação Júlio Prestes, com a indicação "Estrada de Ferro Sorocabana" na fachada.
O edifício possui fachada ritmada e simétrica. Fonte: Sala São Paulo

A fachada da construção segue um ritmo, com janelas e colunas dispostas em distâncias exatamente iguais. Além disso, há uma torre de 75 metros de altura que chama atenção por conta dos entalhes e do relógio marcando o tempo.

Torre da Sala São Paulo, coberta por uma cúpula e uma haste segurando uma bandeira.
O relógio da Estação Júlio Prestes é um marco para a paisagem. Fonte: Flickr

A torre possui acesso pelo elevador e por mais dois lances de escada. O relógio é considerado o maior do Estado de São Paulo, e cada uma de suas faces possui quatro metros de diâmetro.

Arquitetura da Sala São Paulo 

O edifício original passou por um processo de requalificação e restauro para abrigar a Sala São Paulo e suas dependências. Na porção escolhida para implantar o projeto, antes havia um enorme jardim de inverno para recepção das pessoas de primeira classe que embarcavam nos trens.

Vista do antigo jardim de inverno da Estação Júlio Prestes, com palmeira imperiais marcando o espaço.
A Sala São Paulo foi implantada no antigo jardim de inverno da Estação Júlio Prestes. Fonte: Sala São Paulo, Instagram 

O arquiteto e autor do projeto, Nelson Dupré, conservou também a amplitude de todos os espaços que contornam a sala de concertos. 

Espaços imponentes

Ao chegar na Sala São Paulo, uma espécie de praça com cobertura translúcida conduz quem chega caminhando, ou de carro, até a bilheteria. Esse boulevard possui pé-direito ampliado, que imediatamente conduz o olhar para cima, além dos bustos das deusas da arquitetura, engenharia, pintura e escultura.

Boulevard da Sala São Paulo, com bustos e paisagismo com pedras decorando o caminho principal.
O boulevard da Sala São Paulo é como um jardim coberto para acesso à bilheteria. Fonte: Sala São Paulo, Instagram

Passando pela bilheteria, que possui um pé-direito mais baixo, novamente o espaço parece se abrir com muita luz e detalhes. No hall principal, os arcos ficam mais presentes, bem como os entalhes e os frisos no topo das colunas.

Vista do teto do hall principal, com cúpula e detalhes arredondados.
Na cobertura do hall principal, uma cúpula envidraçada marca o centro do espaço. Fotografia tirada pela autora Thainá Neves

Ao seguir pelos corredores laterais, chega o saguão que dá entrada para a sala de espetáculos. O formato retangular comporta áreas de espera, bem como uma livraria, um café e um restaurante.

Vista da área do café, com mesas e cadeiras ocupando o centro do ambiente.
A Sala São Paulo possui café, restaurante e livraria. Fonte: Flickr

Os amplos saguões funcionam muito bem como ambientes de espera, mas também são utilizados para outras funções. Se você deseja realizar um grande evento nas dependências deste edifício histórico, existe a possibilidade de aluguel para eventos particulares.

Vista do hall principal da Sala São Paulo com totens exibindo obras de arte.
O hall principal da Sala São Paulo recebeu a exposição Música para os olhos em 2019. Fonte: Sala São Paulo, Instagram

Detalhes da sala de espetáculos

Os materiais utilizados na construção nova contrastam com o concreto e o granilite do edifício original. Enquanto a primeira construção possui tons de rosa-claro e bege, as intervenções posteriores utilizam madeira pau-marfim, aço, alumínio e tons de azul profundo.

Vista da Sala São Paulo com o palco ocupado por cadeiras e instrumentos musicais.
Os materiais utilizados para a construção da Sala São Paulo contrastam e complementam a estrutura original. Fonte: Flickr

A sala de espetáculos tem capacidade para receber 1.498 pessoas e também possui dimensões monumentais. Do piso principal ao forro, por exemplo, a altura é de 25 metros, dimensão que é regulável de acordo com o formato de apresentação.

Disposição do palco e dos assentos

O palco possui soluções que facilitam a rotina de apresentações, como, por exemplo, as plataformas retráteis para elevar grandes instrumentos, como piano. Além disso, há possibilidade de ampliar as acomodações para grupos grandes, o que torna possível receber mais de 200 músicos e instrumentistas ao mesmo tempo.

Vista da Sala São Paulo, a partir do palco. Ao fundo estão as cadeiras da plateia.
Os assentos são setorizados em diversos níveis, proporcionando vistas privilegiadas para o palco. Fonte: Flickr

A setorização dos lugares, no interior do teatro, acontece em níveis, a fim de aproveitar toda a verticalidade do ambiente. A plateia central, portanto, está imediatamente à frente do palco, no nível mais baixo do piso.

A partir daí, há subníveis da plateia elevada, nos quais estão os assentos acessíveis próximos das portas laterais.

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Os balcões e os camarotes são acessados pelo piso superior. Fonte: Flickr

Com vistas privilegiadas, estão os camarotes, com, no máximo, 12 assentos, configurando pequenos espaços exclusivos para assistir às apresentações. É comum ver famílias e grupos de amigos ocupando esses assentos, afinal são espaços mais intimistas para se reunir.

Para quem deseja assistir à programação ainda mais de perto, há o coro, localizado ao fundo do palco. Apesar de oferecer uma experiência pouco convencional, de assistir do lado posterior no qual os músicos estão de costas, esse setor proporciona uma incrível visão de toda a plateia.

O preço de cada um dos lugares varia de acordo com a qualidade da vista oferecida e com o tipo de apresentação.

Qualidade acústica

Muitos detalhes contribuem para a qualidade acústica da Sala São Paulo, desde a geometria dos espaços até a espessura das paredes e a disposição dos lugares dentro da sala de espetáculos.

No entanto, há um detalhe que chama bastante atenção: o forro acústico que se movimenta. A estrutura é composta por placas independentes em madeira, a fim de aprimorar a acústica e adaptá-la aos diversos formatos de apresentações.

Vista do forro da ala São Paulo
O forro com placas móveis auxilia na adaptação acústica da sala de apresentações. Fonte: Flickr

Dessa maneira, o forro pode ser deslocado para cima, tornando o tempo de reverberação dos sons mais longos e vivos, ou rebaixado em direção à plateia, encurtando e proporcionando um efeito mais intimista.

Vista da estrutura das placas acústicas.
As placas acústicas são suspensas por cabos de aço, permitindo mobilidade independente. Fonte: Sala São Paulo, Instagram 

Além dos detalhes que garantem qualidade aos sons internos do espaço, a sala é como uma caixa totalmente isolada, impedindo que os ruídos externos interfiram nas programações e vice-versa.

Entre o ambiente de apresentações e as plataformas do trem, um amplo espaço vazio minimiza a troca de ruídos. 

Os vitrais com pigmentos vivos, os lustres pendentes e os padrões do piso tornam-se protagonistas deste, que parece ser apenas um espaço de passagem. No entanto, desempenha importante funcionalidade para todo o conjunto.

Vista do ambiente de espera da estação, com vitrais coloridos nas extremidades do espaço.
A sala Estação das Artes era um ambiente de espera antes da requalificação. Fonte: Flickr

A sala é chamada de Estação das Artes e foi mantida com o intuito de proporcionar qualidade acústica e mínima interferência entre as diversas funções do edifício.

Iluminação

A iluminação da sala trabalha diferentes tons e intensidades de luz, de maneira que fica nítida a diferenciação entre o antigo e o novo. Os materiais em tons mais claros, que fazem parte da construção original, se destacam e criam um pano de fundo que remete ao passado do local.

Vista do interior da Sala São Paulo, com colunas iluminadas.
 A iluminação da sala contribui para ressaltar o belo contraste entre o antigo e o novo. Fonte: Flickr

A verticalidade das colunas é acentuada por meio de fontes de iluminação na base e no topo. De modo semelhante, os arcos e os entalhes ganham destaque.

Toda a iluminação é feita por meio da tecnologia LED, possibilitando até mesmo a variação das cores para programas que necessitam de efeitos diferenciados.

Vista do interior da Sala São Paulo, com iluminação azul nas colunas.
A iluminação em LED permite a variação de cores para efeitos especiais. Fonte: Lighting Philips

A iluminação é bastante flexível e possui boa independência entre as fontes, podendo ser ajustada de acordo com o objetivo em intensidade e quantidade.

Em geral, no momento das apresentações, as luzes diminuem e focam apenas no palco, indicando que o espetáculo irá começar.

Pianista se apresentando ao centro do palco.
Durante as apresentações, há uma luz focal no palco, enquanto a intensidade das outras é diminuída. Fonte: Sala São Paulo, Instagram

Concertos e programações da Sala São Paulo

A Sala São Paulo já possui mais de 20 anos de atividades e, todos os anos, grandes nomes da música mundial passam por lá. 

A Orquestra Filarmônica de Viena foi o primeiro desses grandes nomes a se apresentar, no ano da inauguração, em 1999. A partir daí, foram incontáveis espetáculos de qualidade com nomes brasileiros e internacionais.

OSESP

A Sala São Paulo é também a sede da Orquestra Sinfônica de São Paulo (OSESP), que está em atividade desde 1954. O grupo realiza turnês anuais e, claro, possui presença constante na agenda da Sala São Paulo.

Vista do palco da Sala São Paulo durante apresentação da OSESP.
A OSESP tem a Sala São Paulo como sua sede. Fotografia tirada pela autora Thainá Neves

A orquestra está entre as mais prestigiadas do mundo e acumula inúmeros prêmios e títulos, como de Melhor Concerto Sinfônico e também de Câmara, pela Revista Concerto. 

Com o intuito de preparar novos músicos e oferecer transformação social por meio da música, foi criada em 2005 a Fundação OSESP, que possui ênfase na música de concerto, instrumental e vocal.

Concertos gratuitos

Os estudantes de ensino superior têm a oportunidade de adquirir o Passe Livre Universitário, que permite acompanhar concertos gratuitos durante todo o ano. Após a inscrição, basta aguardar os e-mails enviados pela OSESP informando as apresentações disponíveis para o benefício.

Para o público geral, há os concertos matinais gratuitos aos domingos, com repertório variado, que proporciona contato com músicas de variados estilos e épocas. A aquisição dos ingressos pode ser feita na segunda-feira anterior ao concerto, a partir das dez horas da manhã, pelo site da Sala São Paulo ou diretamente nos totens do local.

Informações e acesso à Sala São Paulo

Todos os eventos são divulgados com bastante antecedência no site da Sala São Paulo, facilitando a sua organização e escolha do que deseja assistir. Quando há abertura para compra dos ingressos, basta escolher o assento, finalizar a compra e chegar com antecedência ao espetáculo.

Além das apresentações que podem ser assistidas na Sala São Paulo, você pode participar de visitas monitoradas por meio de agendamento realizado por e-mail.

Como chegar: o local está junto à Estação Júlio Prestes e bastante próximo da Estação da Luz, portanto oferece fácil acesso de metrô e trem por meio das linhas azul, amarela, coral, safira e diamante.

Se for de transporte particular, o espaço conta com um estacionamento que possui entrada pela Rua Mauá.

Endereço: Praça Júlio Prestes, n° 16 – Campos Elíseos, São Paulo – SP, 01218-020

Mapa mostrando a localização da Sala São Paulo.
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Thainá Neves
Conteúdo criado por:Thainá Neves
Arquiteta, apaixonada pelo mundo das artes e dedicada à pesquisa desde o início de sua formação, está sempre atenta ao que surge de melhor para a criação de cidades mais sustentáveis e moradias mais adequadas.

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