Robert Venturi – Biografia e obras
Por Beatriz Dilascio
04 fevereiro 2022
Robert Venturi foi um famoso arquiteto defensor do Pós-Modernismo e crítico do estilo da época, defendido por alguns dos maiores arquitetos, o Modernismo. Com suas ideias inovadoras, ele foi responsável por alguns dos projetos que mudaram a paisagem urbana dos Estados Unidos da América.
A história de Robert Venturi
Nascido no dia 25 de junho de 1925, na Filadélfia, Venturi era filho de pais pertencentes a uma comunidade cristã inglesa, que sempre foram muito preocupados com a formação de seus filhos.
Por isso, o arquiteto estudou na Academia Episcopal de Merion, na Pensilvânia. Após formado, em 1947, Venturi ingressou no curso de arquitetura na Universidade de Princeton, o qual era ligado ao departamento de arte e arqueologia, fazendo com que ele se interessasse muito pela história da arquitetura.
Ainda em sua graduação, ele ganhou o Prêmio D’Amato em Arquitetura. No ano de 1950, terminou sua formação na Universidade de Princeton e seus primeiros projetos foram com artistas conhecidos como Eero Saarinen, autor da famosa Cadeira Tulipa, e com o arquiteto Louis Kahn.
Enquanto estava desenvolvendo seus primeiros projetos, Venturi ganhou uma bolsa de estudos na Academia Americana de Artes em Roma, onde ganhou o Prêmio Roma Fellowship.
Abre o escritório de arquitetura
Ao retornar de Roma, Venturi abriu o seu próprio escritório de arquitetura com John Rauch. Nessa mesma época, entre 1954 e 1965, o arquiteto começou a lecionar na Universidade da Pensilvânia, trabalhando como assistente de ensino do arquiteto Louis Kahn.
E foi nessa universidade que Venturi conheceu sua esposa, a arquiteta e urbanista Denise Scott Brown, com quem se casou em 1967. Os dois construíram uma parceria muito bem-sucedida, tanto pessoal quanto profissionalmente.
Denise Scott Brown começou a trabalhar no escritório de arquitetura de Venturi com Rauch, onde fizeram diversos projetos residenciais e institucionais. Mais tarde, em 1989, Rauch deixou o escritório o qual passou a se chamar Venturi, Scott Brown and Associates.
O escritório se tornou um dos mais influentes dos Estados Unidos e chegou até a ganhar alguns prêmios, como o American Institute of Architects. Juntos, eles criaram projetos famosos, como o Museu de Arte de Seattle.
Ganhador do Prêmio Pritzker
No ano de 1991, Venturi ganha o maior prêmio do mundo da arquitetura, o Pritzker. Porém, houve uma polêmica em torno dessa premiação, uma vez que sua esposa, Denise Scott Brown, também teria participado ativamente do projeto, mas não foi indicada ao prêmio.
A comissão do Pritzker alegou ser uma premiação individual, por isso somente Venturi ganharia o prêmio. Em reconhecimento à sua esposa, ele dedicou também o prêmio a ela em seu discurso.
Venturi ainda lecionou na Yale School of Architecture e foi, com sua esposa, professor convidado na Graduate School of Design da Universidade de Harvard, em 2003.
Em 18 de setembro de 2018, o arquiteto Robert Venturi faleceu por complicações causadas pela doença de Alzheimer, deixando um legado de obras icônicas projetadas pelo casal, assim como seus livros e artigos, os quais estão em seu escritório VSB VenturiScottBrown.
Além de arquiteto, escritor
Em sua jornada, o arquiteto, além de projetos, escreveu livros muito famosos e emblemáticos, em que defendia um ponto de vista diferente dos demais. Separamos dois dos mais famosos livros escritos por Venturi. Confira!
Complexidade e Contradição em Arquitetura
O livro mais famoso de Venturi, Complexidade e Contradição em Arquitetura, foi publicado no ano de 1966 no Museu de Arte Moderna em Nova York. Nesse livro, o arquiteto faz críticas ao idealismo do movimento da época, o Modernismo e sua relação com o tradicional.
Nele, Venturi defende que a arquitetura é um elemento de comunicação e propõe a construção dela a partir da junção de elementos contraditórios e complexos. Hoje o livro é um ícone da cultura pós-moderna.
Nessa obra, Robert Venturi emplacou uma de suas frases mais famosas, se não a mais famosa: “Less is bore” (Menos é chato), uma provocação à famosa frase do arquiteto Mies van der Rohe “Less is more” (Menos é mais).
Isso porque, diferentemente do que o Modernismo defendia sobre o minimalismo, Venturi acreditava em uma arquitetura mais rica, ornamental e detalhada.
Aprendendo com Las Vegas
Este livro foi escrito por Venturi com sua esposa e Steven Izenour. Também foi um livro que ficou muito famoso, pois nele os autores apresentam um estudo sobre o crescimento de uma cidade em prol dos jogos de azar, da paisagem urbana da Strip e o seu simbolismo na arquitetura.
O livro foi feito a partir de um projeto de pesquisa da Universidade de Yale, com o objetivo justamente do desenvolvimento da cidade, que é repleta de letreiros, estacionamentos e cassinos, em um novo ponto de vista sobre a arquitetura.
Pensando nisso, os autores destacam na obra que os letreiros e outdoors presentes na cidade são mais marcantes na paisagem urbana do que os próprios edifícios, o que não é algo positivo para a arquitetura do local, o que deveria ser analisado.
Obras pós-modernista de Robert Venturi
Durante todos os seus anos de trabalho, o arquiteto Robert Venturi desenvolveu diversos projetos, tanto sozinho quanto no seu escritório de arquitetura. Eles ajudaram Venturi a se tornar uma das principais personalidades da arquitetura do século passado.
Vanna Venturi House
Essa é uma obra no qual o arquiteto projetou e construiu uma casa para a sua mãe Vanna Venturi, em um terreno isolado, com várias árvores ao redor, o qual se tornou conhecido por ser o primeiro exemplo de projeto da arquitetura moderna.
Foi nesse projeto que Venturi começou a testar suas crenças sobre a complexidade e a contradição na arquitetura, das quais ele fala no seu livro.
O espaço interno da casa é todo voltado em torno de uma lareira onde, ao todo, são cinco salas, dispostas em dois andares. O primeiro andar conta com a sala, a cozinha e um quarto; já no segundo andar, estão um terraço, um local de armazenamento e um segundo quarto.
Mas claro que Venturi não faria uma casa simples, existem também as contradições e as complexidades na residência. A primeira delas é a escada do segundo andar, que se integra ao espaço central e que não leva a lugar nenhum, ela possui uma inclinação muito acentuada e sua função não é muito bem-definida.
Outra seria o uso de diferentes escalas no projeto, uma vez que alguns elementos são muito grandes e outros muito pequenos, por exemplo, o tamanho e a altura da lareira em relação ao restante do espaço.
As portas utilizadas são largas, mas baixas, para que ele pudesse criar um contraste maior entre elas e o espaço de entrada. Ele diminuiu bastante os espaços de circulação da casa para ter grandes cômodos e divisões pequenas entre eles.
Dessa forma, podemos dizer que essa casa foi feita como uma composição de diferentes elementos, que juntos criam exatamente a sensação que Venturi gostaria de passar, sua forma, ainda na época, muito diferente de ver a arquitetura.
Guild House
A Guild House é um projeto feito pelo escritório de Venturi em parceria Rauch e outros dois arquitetos. Ele é um conjunto habitacional para idosos e é considerado uma das principais obras de Venturi, pois em seu projeto houve muitos marcos do Pós-Modernismo.
O projeto buscou se inserir no entorno, respeitando o gabarito da vizinhança, utilizando os típicos tijolinhos escuros e, até em sua implantação, que foi feita tradicionalmente do edifício em relação à rua. Porém, os arquitetos fizeram referência ao palazzo italiano (um estilo arquitetônico que era baseado nos palácios construídos por famílias ricas do Renascimento italiano), com uma estrutura geral tripartida.
No ano de 2004, a Guild House foi incluída como um dos bens de interesse patrimonial da Philadelphia Historical Commission. O projeto teve que passar por uma grande intervenção em 2009, a qual foi realizada pelo escritório de Venturi e sua esposa, o Venturi, Scott Brown & Associates.
Nessa intervenção, a Guild House teve que se adaptar às novas exigências de acessibilidade exigidas, suas instalações e seus elementos arquitetônicos foram modernizados, o letreiro com o nome do edifício foi restaurado, entre outros reparos que tiveram que acontecer.
Gordon Wu Hall
Esta obra é um salão multifuncional construído no centro da Universidade de Princeton, feito pelo escritório de arquitetura VSB VenturiScottBrown. Ele foi construído como um espaço social para os estudantes poderem interagir, tanto entre si quanto com os professores, assim eles poderiam aprender em um espaço além da sala de aula.
O Gordon Wu Hall pode receber cerca de 500 pessoas e tem uma identidade própria, que conversa muito com o seu entorno, que, nesse caso, é o campus da universidade, e seu contexto histórico, mas, ainda assim, mantém uma identidade própria.
A circulação de pessoas foi um quesito muito pensado neste projeto, portanto ele faz a ligação entre os dormitórios estudantis, além de buscar a acessibilidade aproveitando a inclinação do terreno projetando rampas para facilitar o acesso.
A fachada do edifício é de tijolos, muito típico das construções, porém surpreende com elementos de padrão abstrato, com combinações de cores e formas, que são similares às cúpulas de outro edifício feito por Venturi, o edifício Dhaka.
Nesse projeto, Venturi conseguiu mostrar muito do que ele acredita, uma vez que há desalinhamentos e repetições com uma abordagem mais realista e aberta a interpretações.
Robert Venturi foi muito importante na história da arquitetura, proporcionando uma nova visão de acordo com seus ideais e todo o seu estudo. Ele foi contra o estilo da época, sendo considerado o pai do Pós-Modernismo. Venturi fez história e se tornou um arquiteto de prestígio.
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