Mobilidade urbana: o que é e como ela se apresenta nas cidades?
Por Giovana Costa
19 fevereiro 2021
A mobilidade urbana é um tema muito recorrente, principalmente em cidades dinâmicas, como as capitais do Brasil.
Para melhorar a qualidade de vida e a uma movimentação mais saudável, a mobilidade urbana é pensada com o objetivo de melhorar o deslocamento das pessoas em uma cidade.
Atualmente, grande parte das cidades brasileiras procura desenvolver planos de ação pensados na mobilidade e também, essencialmente, na sustentabilidade, afinal, são muitos os desafios para transformar cidades de maneira responsável.
Confira a seguir importantes detalhes que compõem a mobilidade urbana, bem como avaliá-la em cada localidade, seu surgimento, além de um completo panorama sobre a mobilidade urbana no Brasil e a possibilidade de alcançar uma mobilidade mais sustentável.
O que é mobilidade urbana?
A mobilidade urbana é um conceito referente às formas pelas quais a população urbana pode se locomover nas cidades.
Seja de maneira individual, ou seja, a pé, de bicicleta, de carro ou motocicleta, seja de maneira coletiva, por meio dos ônibus, metrôs ou trens da cidade, por exemplo, as pessoas estão sempre em movimento.
Desta forma, o objetivo das discussões que envolvem a mobilidade urbana é promover relações sociais, econômicas e ecológicas capazes de desenvolver cidades de maneira a propiciar a qualidade de vida das populações.
Por este motivo, o poder público tem um compromisso com a população, ele deve se comprometer e oferecer à população um plano de mobilidade urbana baseado em políticas públicas viáveis e responsáveis, que visem ao planejamento das cidades e garantam a qualidade de vida das pessoas.
Como avaliar a mobilidade de uma cidade?
Em cidades movimentadas como São Paulo, por exemplo, pode parecer difícil avaliar como a mobilidade urbana é projetada em toda a sua extensão.
Afinal, sem boas condições de mobilidade urbana, é quase impossível garantir que a experiência de viver na cidade seja minimamente agradável.
Para que isso aconteça, é essencial exigir boas gestões para o trânsito e para a segurança, assim como a diversificação e a integração dos modais de transporte ⏤ como rodoviário, aquaviário e ferroviário (subterrâneo ou de superfície) ⏤ e bons investimentos em infraestrutura.
Mas para garantir que o plano de desenvolvimento, a qualidade de vida e o dinamismo das cidades sejam realmente contemplados, é possível avaliar alguns pontos, como:
- Organização do território;
- Organização dos transportes;
- Fluxo de transporte;
- Fluxo de pessoas;
- Fluxo de mercadorias;
- Quais são os meios de transportes utilizados.
Como surgiu a mobilidade?
Sendo a mobilidade urbana um sistema que existe para satisfazer necessidades das pessoas nos deslocamentos das cidades, é natural que a demanda tenha surgido há muito tempo.
Mas como o termo e os planos de ação surgiram para modificar a realidade das populações nas cidades?
Muitos anos atrás, os desafios encontrados por nossos antepassados nômades envolviam irrigar plantações para subsistência, desviar abrigos dos cursos dos rios, abastecer e guiar rebanhos, entre outros.
Avançando um pouco na história, por meio de uma nova organização social e também uma maior concentração de pessoas, a troca de mercadorias e as vivências, por meio da movimentação, passaram a moldar as cidades.
Logo, a partir do uso da bicicleta, que por volta de 1890 já fazia a alegria dos pedestres, a pé ou por meio de veículos de tração animal, como carroças e carruagens, as pessoas já se movimentavam a fim de desbravar as cidades.
Até que, a partir do século XX, os deslocamentos passaram a ser feitos de outras maneiras, pois as pessoas passaram a utilizar outro método de locomoção: o automóvel.
Essa mudança foi capaz de modificar as formas de locomoção ao redor do mundo inteiro, facilitando percursos e incentivando certos graus de imediatismo, num dinamismo ainda maior.
Mobilidade urbana no Brasil
No Brasil, o tema da mobilidade urbana gera muitos questionamentos e até certo grau de preocupação, afinal, espera-se que o País realmente possa usufruir de políticas públicas dedicadas o suficiente a atingir os resultados esperados, dado seu potencial.
A mobilidade urbana no Brasil se relaciona diretamente com o processo de urbanização no Brasil iniciado a partir do final do século XIX, por meio da industrialização, que se consolidou em 1930, a partir da Revolução Industrial Brasileira.
A partir desse período, a urbanização foi desenvolvendo-se cada vez mais por meio da automatização de processos manuais que aconteciam no meio rural.
Porém, a automatização acabou substituindo a mão de obra humana e, dessa forma, o desemprego no campo aumentou e contribuiu para a migração das pessoas para as cidades.
A expansão das indústrias e o aumento de ofertas de trabalho na cidade também contribuíram para essa movimentação que causou diversos deslocamentos e, assim, o Brasil passou a ter cidades muito populosas.
Da mesma maneira, também passou a ter alguns problemas, como a falta de infraestrutura para atender toda a população e dar o suporte necessário para o desenvolvimento urbano.
Lei da mobilidade urbana
A mobilidade urbana é um conjunto que agrupa infraestrutura, transporte, serviços e mais, por isso é essencial criar um plano de ação completo e bem-articulado.
No Brasil, a Lei n° 12.587/12, conhecida popularmente como Lei da Mobilidade Urbana, foi instituída em 3 de janeiro de 2012, durante o governo de Dilma Rousseff.
Essa lei institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana e, portanto, determina aos municípios o compromisso de criar um planejamento e executar a política de mobilidade urbana.
Dentre seus princípios estão:
- “Acessibilidade universal;
- Desenvolvimento sustentável das cidades, nas dimensões socioeconômicas e ambientais;
- Equidade no acesso dos cidadãos ao transporte público coletivo;
- Eficiência, eficácia e efetividade na prestação dos serviços de transporte urbano;
- Gestão democrática e controle social do planejamento e avaliação da Política Nacional de Mobilidade Urbana;
- Segurança nos deslocamentos das pessoas;
- Justa distribuição dos benefícios e ônus decorrentes do uso dos diferentes modos e serviços;
- Equidade no uso do espaço público de circulação, vias e logradouros;
- Eficiência, eficácia e efetividade na circulação urbana.” (Política Nacional de Mobilidade Urbana – Lei n° 12.587/12)
Pela lei, a gestão do Sistema Nacional de Mobilidade Urbana ⏤ isto é, o conjunto organizado e coordenado dos modos de transporte, de serviços e de infraestruturas de mobilidade dos municípios ⏤ visa garantir que os municípios possuam os instrumentos necessários para melhorar as condições de mobilidade nas cidades brasileiras.
Desafios da mobilidade urbana
Para apoiar o planejamento e a formulação de políticas públicas para a mobilidade urbana nacional, a Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional e Urbano realiza levantamentos com 3.476 municípios, mais o Distrito Federal, para entender os processos de elaboração de seus Planos de Mobilidade Urbana.
Por este motivo, dentre os acordos, estão as datas-limite para que os planos sejam elaborados e aprovados:
“I – até 12 de abril de 2022, para Municípios com mais de 250.000 (duzentos e cinquenta mil) habitantes;
II – até 12 de abril de 2023, para Municípios com até 250.000 (duzentos e cinquenta mil) habitantes.” (Política Nacional de Mobilidade Urbana – Lei n° 12.587/12)
De acordo com o levantamento de 2020, o Brasil possui 5.569 municípios mais o Distrito Federal (segundo o IBGE), entretanto apenas 67% (2.315 municípios) declararam ter um plano para seu território.
Além disso, o levantamento também mostra que essa parcela de municípios que possui um plano é maior nas regiões Sul (76%) e Sudeste (77%).
Por esse motivo, um dos maiores desafios da mobilidade urbana nacional é o envolvimento de todos os municípios em prol do estabelecimento de políticas públicas capazes de trazer o suporte suficiente para garantir a melhoria das condições de mobilidade nas cidades brasileiras.
De acordo com uma pesquisa feita em 2020 pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), chamado “Mobilidade de baixas emissões, qualidade do ar e transição energética no Brasil”, 42% dos entrevistados utilizam ônibus como principal meio de transporte ao longo do dia.
Entretanto, a qualidade do transporte público ainda é questionada pela população, sendo este mais um dos desafios da mobilidade urbana nacional.
Por esse motivo, é muito importante que sejam criadas políticas públicas que realmente atendam aos principais problemas relatados pela população.
Mobilidade urbana sustentável
A pesquisa feita pelo iCS também revela que três em cada quatro pessoas, dentre os entrevistados, possuem veículo de uso particular, afinal, o carro ainda é um meio de transporte muito recorrente nas grandes cidades.
Enquanto isso, para os entrevistados, dentre as palavras que melhor resumem “carro”, algumas delas chamam a atenção: “conforto”, “necessidade” e “trânsito”.
De acordo com o estudo Mobility Futures, feito pela consultoria Kantar, que analisou o futuro da mobilidade urbana em 31 cidades do mundo, até 2030, o uso de bicicletas deve aumentar 47% em São Paulo, contra um aumento de 10% no uso de transporte público e 25% nas caminhadas.
Outro ponto notável é que o uso de carro como meio de transporte deve cair 28% na capital na próxima década, afinal, o estudo também mostra que São Paulo é a terceira cidade do mundo onde os moradores estão mais dispostos a mudar o uso de meios de transportes.
Aliás, no centro da cidade de São Paulo já é possível perceber que abandonar o uso dos carros é uma tendência.
Seja por causa do estresse gerado pelo trânsito, seja pela poluição atmosférica causada pelas substâncias tóxicas emitidas pelos automóveis, muitas pessoas têm optado pela bicicleta ou pelo deslocamento a pé.
Essa tendência também tem impactado o mercado imobiliário. Em entrevista exclusiva ao Live, Mariana Belomo, gerente de marketing da Magik JC, e André Cassiano, que atua como gerente comercial, explicaram como o perfil dos compradores dos empreendimentos da linha Bem Viver está alinhado com a ideia de viver utilizando outras formas de deslocamento, aproveitando tudo o que o centro da cidade fornece.
Mariana Belomo, gerente de marketing da Magik JC.“A infraestrutura no centro é completa e, além disso, no centro também estão as maiores oportunidades de emprego… Agora existe esse perfil de novos compradores, de 25 a 35 anos… Na época dos meus pais, as pessoas queriam comprar uma casa, um carro, seguindo umas regrinhas, como metas a serem batidas durante a vida. E em relação ao uso do carro, a geração que veio agora já provou que não quer necessariamente ter um”.
No empreendimento Bem Viver Centro Novo, por exemplo, não existem vagas de garagem. Cassiano comenta que o fator que explica essa situação é a preocupação com a sustentabilidade:
André Cassiano, gerente comercial da Magik JC.“A mobilidade urbana está ligada à questão financeira, a uma questão cultural e à sustentabilidade… então [as pessoas] criam alternativas sem ter que utilizar o carro, por exemplo. São jovens, pessoas ativas que buscam a independência, conhecer coisas novas e sabem da importância de morar próximo do trabalho”.
É possível perceber que ainda que a mobilidade urbana encontre algumas dificuldades pelo caminho, existe uma tendência a encontrar novas formas de deslocamento que também sejam capazes de promover maior qualidade de vida.
Você conhece o plano de mobilidade do seu município? Gosta do transporte público ou utiliza bicicletas compartilhadas? Prefere utilizar carro? Deixe seu comentário!
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