Louis Kahn – Biografia e obras
Por Thainá Neves
17 setembro 2021
Louis Kahn é considerado um dos mais importantes arquitetos a influenciar os estilos Modernista e Brutalista, afinal as suas obras extraem possibilidades surpreendentes da crueza do material e das formas.
A trajetória de atuação do arquiteto mostra toda a sua flexibilidade de trabalho na área teórica e também na projetual.
Louis Kahn e a vocação artística
Louis Isadore Kahn nasceu na Estônia em 1901 e aos cinco anos de idade mudou-se com a família para a Filadélfia, nos EUA, devido à guerra entre a Rússia e o Japão. Kahn naturalizou-se estadunidense e lá viveu durante toda a sua vida.
Desde muito jovem apresentou interesse artístico na música, sendo um habilidoso pianista, além de talento natural para o desenho. Tanto que, na infância, os gravetos queimados e os fósforos se tornaram material para a representação de seus traços.
Essa mesma habilidade levou Louis a cursar arquitetura, formando-se em 1924 pela Universidade da Pensilvânia.
A carreira de Louis Kahn
Os seus primeiros trabalhos no ramo foram em escritórios como o de Paul Philippe Cret, nos quais adquiriu experiência em projetos diversos, de residências a estruturas para exposições.
Nesse meio tempo, organizou um grupo de pesquisa para estudo das condições de moradia na Filadélfia, envolvendo-se intensamente com a produção de moradias para pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Essa primeira fase de sua carreira representa a solidificação do seu pensamento teórico e foi marcada também pelo ensinar arquitetura, pois, no ano de 1940, iniciou a sua carreira de professor. Louis Kahn lecionou até os últimos dias de sua vida, atuando em escolas de ensino superior como Yale e a própria Universidade da Pensilvânia, na qual se graduou.
O segundo período de sua carreira foi marcado por uma viagem que fez à Roma e à Grécia, deixando impressões que mudaram a sua vida para sempre. As impressionantes ruínas foram retratadas pelo arquiteto por meio de belos desenhos e pinturas à mão.
As ruínas e as construções monumentais serviram de referência para as obras de sua autoria, consolidando os seus pensamentos acerca da arquitetura.
Espírito nômade
No ano de 1930, Louis Kahn casou-se com Esther Virginia Israeli, com quem permaneceu durante toda a sua vida e teve uma filha, Sue Ann Kahn. No entanto, o seu modelo de vida e o formato de trabalho custou a convivência e a estabilidade familiar.
Segundo alguns colegas de trabalho, o arquiteto possuía espírito nômade, pois, assim que voltava de viagem, trabalhava no escritório por dois ou três dias intensamente e fazia novamente as malas para partir.
Outras pessoas com as quais trabalhou descreveram Louis como alguém que “amava a todos” e tinha uma nítida vontade de tornar melhor a vida do máximo de pessoas possível, por meio da arquitetura. Tanto que, por vezes, estava imerso em trabalho e não se dedicava aos mais próximos.
Anne Tyng foi uma dessas importantes conexões que influenciou na vida pessoal e no trabalho de Louis. A arquiteta trabalhou por anos no escritório dele, auxiliando na idealização dos projetos. Posteriormente, tiveram uma filha, Alexandra Tyng.
Harriet Pattison é outra figura marcante na vida e na obra de Louis. A arquiteta paisagista assinou projetos ao lado dele e dividiu uma grande porção de sua jornada, tendo um relacionamento amoroso que durou 15 anos com o arquiteto do qual teve um filho, Nathaniel Kahn.
Louis Kahn viveu e trabalhou intensamente, visitou diversos países e teve três filhos ao todo: Alexandra Tyng, Sue Ann Kahn e Nathaniel Kahn. Por fim, no ano de 1974, faleceu em uma estação de trem nos Estados Unidos.
O desejo de essencialidade
Segundo o arquiteto, da mesma maneira que “uma rosa quer ser uma rosa”, deve-se entender o que o edifício deseja se tornar. Assim, antes de projetar, Kahn procurava um estado de neutralidade para chegar a essa compreensão e, então, colocar as suas ideias no papel.
Essa vontade de descobrir o essencial para, posteriormente, colocar as suas ideias, foi uma das características mais marcantes em toda a obra de Louis Kahn. Acompanhando não só a sua carreira como projetista, mas também fazendo parte da teoria que difundiu nas universidades enquanto professor.
Importantes obras de Louis Kahn
A quantidade de projetos que levam a assinatura do arquiteto é relativamente pequena, mas, ao mesmo tempo, muito diversa, indo desde casas para famílias até monumentais edifícios públicos. De fato, é a qualidade de cada um de seus trabalhos, independentemente de números, que torna Louis Kahn mundialmente reconhecido.
Conheça, a seguir, algumas de suas principais obras:
Trenton Bath House
A casa de banho faz parte do Centro da Comunidade Judaica, localizado em Nova Jersey, e foi a primeira oportunidade que Louis encontrou para aplicar as suas impressões sobre a arquitetura antiga. Anne Tyng participou desse projeto, exercendo forte influência nas formas e na concepção da estrutura. Segundo ela, Louis se encontrou nesta obra.
A Trenton Bath House é composta por quatro volumes quadrados que se tocam em suas pontas, resultando em uma área central vazia. Dessa forma, a luz cria desenhos diversos ao longo do dia e adentra os telhados flutuantes.
Observando de todos os ângulos, é possível identificar o uso das formas geométricas puras, uma característica que define boa parte das obras de Louis e Anne.
Biblioteca Phillips Exeter
Para Louis Kahn, “uma biblioteca deve ser projetada como se jamais tivesse existido outra.” De fato, o projeto da Biblioteca Phillips Exeter segue essa linha de pensamento, afinal é a maior do mundo, considerando o número de exemplares que contém. São mais de 160 mil livros, e o espaço possui capacidade para abrigar até 250 mil.
Além da sua capacidade, o que chama atenção é a configuração da estrutura, com um átrio central que prioriza a luz natural e amplas janelas para os momentos de leitura.
O volume quadrado da construção, visto do lado externo, harmoniza com os outros edifícios em estilo gregoriano da universidade. No entanto, o trabalho detalhado em seu interior valoriza as mais diversas formas geométricas, criando uma estética em que a crueza dos materiais contrasta com a cor amadeirada das prateleiras.
Neste projeto, Louis provou não haver esgotamento das possibilidades nos movimentos Moderno e Brutalista, além de que é possível aliar estética e funcionalidade.
Museu de Arte Kimbell
O Museu foi projetado para Kay Kimbell a fim de abrigar a sua coleção de arte, sendo aberto oficialmente ao público em 1972. Ao longo do tempo, o local tornou-se uma das principais atrações da cidade.
A sua forma é bastante horizontal, com módulos de cobertura arqueada que deixam expostos o material natural como o concreto. Um deles é aberto nas laterais, funcionando como uma praça contornada por espelho d’água e natureza.
A cobertura proporciona uma leve luz filtrada ao interior das galerias, assim como as fendas nas extremidades da construção. Essa luz não apenas ilumina o interior das galerias, como também destaca o formato longilíneo.
No Museu de Arte Kimbell fica evidente o espírito criativo livre de Louis, sem se importar com tendências e padrões.
Memorial em Roosevelt Island
O Memorial foi construído em homenagem ao ex-presidente Franklin Roosevelt, como um lembrete das liberdades essenciais nas quais Roosevelt acreditava. São elas: liberdade de expressão, liberdade de culto, liberdade de necessidade e liberdade de medo.
A obra foi projetada em parceria com a arquiteta paisagista Harriet Pattinson e está localizada em Nova York. Ao subir as escadarias monumentais, há uma praça em formato triangular, que se estreita na direção do East River.
Na extremidade da praça, foi construída uma sala de aço e granito maciço, na qual está apoiada o busto de bronze do presidente homenageado. Essa posição, na ponta mais estreita, atrai, portanto, o olhar dos visitantes de imediato.
Salk Institute
O Salk Institute valoriza a água e, assim como o Memorial em Roosevelt Island, conduz o olhar para o horizonte. De acordo com Louis, o extenso pátio central que aponta para o Oceano Pacífico é como uma fachada para o céu.
Esta obra foi construída considerando o elemento tempo para emocionar gerações mesmo que se passem muitos anos. Assim, a forma e a disposição dos edifícios são o ponto de partida e, apesar de serem independentes, formam um conjunto entrelaçado.
Sob o mesmo ponto de vista, foi feita a escolha dos materiais. O concreto que forra o chão e os edifícios se mistura com o mármore travertino do pátio, proporcionando fluidez e continuidade.
Louis Kahn é silêncio e luz
Para o historiador Vincent Joseph Scully, que foi também amigo pessoal do arquiteto, apreciar a luz nos projetos de Louis Kahn, em silêncio, chega a dar calafrios, porque é como se comunicar com Deus. Vicente chegou a afirmar que “Deus está em seu trabalho”.
Em 1973, Louis Kahn recebeu a Medalha de Ouro do Royal Institute of British Architects, reconhecendo que a sua carreira contribuiu para o ensino e a prática da arquitetura. Os fascinantes detalhes da vida e da obra de Louis Kahn foram retratados também no premiado documentário My Architect, dirigido por seu filho Nathaniel Kahn.
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