José Carlos de Figueiredo Ferraz – Biografia e obras

José Carlos de Figueiredo Ferraz – Biografia e obras
Lucas Vogan

Por Lucas Vogan

07 agosto 2020

Natural de Campinas, interior de São Paulo, José Carlos de Figueiredo Ferraz foi um conceituado engenheiro, formado em 1940 pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Depois de concluir sua graduação, passou a ser professor em diversas universidades, chegando ao cargo de prefeito da cidade de São Paulo entre 1971 e 1973. Ele nasceu em 1918 e faleceu em 1994, aos 75 anos. 

Figueiredo Ferraz foi professor titular das aulas de Resistência de Materiais e Estabilidade de Construções na Poli-USP e de outras disciplinas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, também na USP. Lecionou Cálculo Vetorial e Análise Matemática na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, bem como Concreto Protendido na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Esses são apenas alguns capítulos do currículo vasto de Ferraz, que participou das bancas examinadoras das principais escolas de engenharia do país.

Engenheiro

MASP
Seu escritório, Figueiredo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projetos, assinou, entre tantas obras, o Museu de Arte de São Paulo (MASP). Fonte: Pinterest

Com mais de 50 anos de carreira, Figueiredo Ferraz fundou um escritório, que existe até hoje, responsável pela assinatura de mais de 3.500 projetos, entre os quais algumas das principais obras arquitetônicas da cidade de São Paulo.

Criado em uma família de engenheiros – seu pai e seu avô também tinham essa profissão – vislumbrou, na década 1930, os primeiros grandes feitos da tecnologia local e do concreto armado. Inclusive escreveu, com apenas 11 anos, sobre sua admiração pela engenharia em uma composição escolar.

O lema de Figueiredo Ferraz, ainda na década 1940, depois que se formou, era “a liberdade de projetar e construir, a liberdade de criar”. Foi o que o impulsionou, na década de 1950, época propícia a novas técnicas, a apostar na protensão, uma técnica que aumenta a resistência do elemento estrutural ao utilizar cabos de aço ou ferro difundido na massa de concreto para adicionar um reforço interno à estrutura e permitir que o concreto trabalhe sob compressão frente às tensões de tração exercidas sobre ele.

Foi a protensão que removeu uma série de limitações, até então impostas ao design de construções, e possibilitou o desenvolvimento de lajes, pisos, pontes, viadutos e vãos mais suportados, oferecendo uma série de vantagens cada vez mais utilizadas pela engenharia civil. Projetos com estruturas de concreto mais leves e menos profundas, mas ainda assim fortes, são resultado dessa técnica, patenteada por Figueiredo Ferraz.

Obras

Catedral da Sé, São Paulo
Catedral da Sé, São Paulo. Fonte: Wikipédia

Seu escritório, Figueiredo Ferraz Consultoria e Engenharia de Projetos, assinou, entre tantas obras, o Museu de Arte de São Paulo (MASP), a cúpula e as torres da Catedral da Sé, o Planetário do Ibirapuera, o Paço Municipal de Santo André (SP) e o Edifício Cásper Líbero, todos conhecidos por seus marcantes vãos. 

O Masp é o exemplo mais significativo de protensão. A Catedral da Sé, por sua vez, estava incompleta e quase paralisada quando caiu nas mãos de Figueiredo Ferraz, que falava da obra com muito entusiasmo. “Os pilares eram de alvenaria de pedra e seu peso dava ensejo à ocorrência de recalques diferenciais”, explicou o engenheiro. Com a técnica que patenteou, o engenheiro trabalhou em um projeto de uma cúpula com espessura de 6 cm e vãos de 30 cm, apoiados em oito pilares, a fim de evitar futuras fissuras, o que conseguiu com sucesso.

Planetário do Ibirapuera.
Planetário do Ibirapuera. Fonte: Planetário Ibirapuera

Mas não apenas de obras famosas viveu Figueiredo Ferraz: o engenheiro buscava soluções simples e adequadas ao país. Para ele, tecnologia não era sinônimo de invenções mirabolantes. “Tecnologia é a ‘arte de fazer’, mas não se confunde somente com requintes e grandes avanços”, opinou.

Foi com esse pensamento que Figueiredo Ferraz modificou a localização das caixas-d’água. “Perguntei-me por que essas peças eram sempre enterradas”, contou o engenheiro. Após pesquisas, descobriu que as caixas-d’água ficavam no subsolo para impedir o acesso de animais e, pioneiramente, idealizou as peças em posição elevada. 

Além disso, Figueiredo Ferraz é autor de inúmeras obras no setor de transportes, que englobam rodovias, hidrovias e ferrovias – estas últimas suas favoritas por serem um meio de transporte que ele defendia e não entendia o pouco uso no Brasil. “É ainda a solução natural para cargas pesadas, em que não há urgência de entrega”, dizia. 

O trecho da serra da Rodovia dos Imigrantes (SP), erguido quase todo sobre pilares para interferir o menos possível na paisagem e na natureza; a Ferrovia do Aço, no trecho entre Belo Horizonte e Volta Redonda; a Ponte Tancredo Neves, que liga o Brasil à Argentina; o sistema de saneamento e abastecimento do Alto Tietê (SP); o planejamento e a edificação do Núcleo Urbano de Carajás (PA) e a Companhia Siderúrgica de Tubarão (ES) são outros belos exemplos do trabalho de Figueiredo Ferraz. 

Atleta

Além de seu extenso currículo acadêmico e empreendedor, Figueiredo Ferraz também se destacou no âmbito esportivo, sendo campeão universitário, brasileiro e sul-americano dos 100 metros rasos em sua juventude. “Eu sempre considerei importante o binômio esporte-estudo. Creio que as duas atividades são inerentes à vida dos jovens”, explicou.

“Minha carreira se iniciou praticamente por acaso, pois eu praticava remo devido à proximidade da Escola [a Poli-USP rio Tietê ficava perto do rio Tietê, onde eram praticadas diversas modalidades de esportes aquáticos], e da facilidade, pois nós remávamos de manhã cedo antes da aula. Um dia tive curiosidade de assistir ao treinamento de um grupo de amigos que se preparavam para disputar uma competição universitária. Assim me interessei pelo atletismo, apesar de ter sido desencorajado pelos amigos com relação à rapidez de obtenção de resultados. A despeito disso, nesse mesmo dia, houve um tiro de 100 metros e eu ganhei de todos eles apesar de estar correndo de tênis e todos os outros com sapatos de prego. Menos de um ano depois eu já era vice-campeão sul-americano dos 100 metros rasos com menos de 18 anos”, relembrou o engenheiro em uma entrevista de 1979.
“Eu só competi de 1936 a 1940, durante os 5 anos que cursei a Escola, e 1941 quando disputei o sul-americano de Montevidéu, sendo novamente vice-campeão nos 100 metros rasos e campeão no revezamento 4×100 metros. Além dos sul-americanos, participei de várias competições nacionais e FUPE”, contou Figueiredo Ferraz.

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Lucas Vogan
Conteúdo criado por:Lucas Vogan
Natural de Porto Alegre. Artificial de São Paulo. “O que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano.”

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