Ilhas de calor – Por que o centro das cidades é mais quente?
Por Lucas Vogan
29 outubro 2019
Talvez você já tenha percebido, talvez não, que o centro de grandes cidades pode chegar a ter uma temperatura 10 graus acima da das áreas rurais ao redor dele, um fenômeno conhecido como ilha de calor.
Um forninho de concreto
Os maiores motivadores dessa diferença climática são os materiais que revestem a cidade, em sua maior parte o concreto, que absorve muito calor e não é capaz de refletir a energia proveniente dos raios solares.
Embora possamos encontrar vídeos de pessoas fritando ovo na calçada, é pouco provável encontrar alguém fritando ovo na terra ou na grama. Isso porque esses materiais trocam calor com o ambiente de maneira mais equilibrada.
Conforme as cidades foram substituindo os revestimentos naturais por materiais que retêm calor, o ambiente se tornou muito mais quente.
Água, o grande climatizador
Outro fator que impacta esse aumento da temperatura é a falta de evaporação de água no ambiente.
Para mudar do estado líquido para o gasoso, a água rouba muito calor, o que pode ser demonstrado pelo próprio sistema de refrigeração do nosso corpo, o suor.
Quando as gotículas de suor evaporam de nossa pele, elas resfriam o corpo.
Esse mesmo processo acontece com o ambiente nas cidades, ou pelo menos deveria acontecer, mas elas são repletas de revestimentos que não absorvem água, que acaba indo parar nos bueiros.
As plantas também são responsáveis por diminuir a temperatura do ambiente por meio da evapotranspiração, assim, quanto menos plantas possuímos, mais a temperatura local aumenta, criando uma ilha de calor.
A quantidade de água que evapora também é responsável pela umidade do ar, por isso, quanto menor a umidade, maior a sensação de calor.
Curiosidade: Em muitos países, os bombeiros, ao confrontar incêndios, esquentam a água antes de jogá-la contra o fogo, assim ela evapora mais rápido e rouba mais calor do ambiente.
Uma parede contra os ventos
Outra forma utilizada pelo ambiente para se resfriar é a troca de ar, que acontece geralmente através dos ventos. Esse fenômeno é muito fácil de ser percebido quando ligamos um ventilador.
Em uma grande cidade, com vários prédios, um ao lado do outro, o vento encontra dificuldade para se mover, pois cada prédio é um obstáculo que diminui a sua velocidade.
Isso retarda a troca do ar, que naturalmente acontece, fazendo o ar da cidade permanecer mais tempo no ambiente. O que significa, mais tempo esquentando, criando as ilhas de calor que causam uma alta na temperatura.
Milhares de fontes de calor no mesmo local
O Sol é responsável pela maior parte do aquecimento da atmosfera, já que é uma grande fonte de calor; mas nós também somos, mesmo que em uma escala muito menor.
Se você já esteve em um ambiente pequeno com várias outras pessoas, é fácil perceber como o local vai ficando gradualmente mais quente; isso acontece porque o corpo humano irradia calor o tempo todo.
As atividades do corpo humano funcionam, de maneira ideal, a uma temperatura de 36,5 ºC, em média, e nós estamos constantemente trocando calor com o ambiente. Por esse motivo, nosso corpo precisa constantemente produzir calor para nos esquentar, o que acaba esquentando o ambiente ao mesmo tempo.
Então, mesmo que não seja tão fácil sentir, os milhões de corpos humanos presentes nas grandes cidades contribuem para o aumento da temperatura do ambiente.
E o nosso corpo não é o único motor produzindo calor nos grandes centros urbanos, existem milhões de outros.
Todos os carros presentes nos congestionamentos, produzindo cada vez mais calor enquanto explosões controladas acontecem dentro de seus motores movidos a combustão, esquentam o ambiente. Assim como o subproduto dessa reação, o gás carbônico quente que sai dos escapamentos e mistura-se com o ar.
Lâmpadas, computadores e demais fontes de calor que podem ser encontradas na cidade, mesmo que à primeira vista pareçam causar um aquecimento irrisório, quando combinadas, contribuem para a criação das ilhas de calor.
Existe salvação para as ilhas de calor
É preciso ter calma e não se desesperar, pois existem muitas coisas que podem ser feitas para combater as ilhas de calor:
A adoção de materiais para o calçamento de ruas, por exemplo, que absorvam a água, algo que seria muito bom para contornar o problema das enchentes também.
A instalação de materiais que refletem a luz solar, uma medida mais efetiva quando empregados em revestimentos de coberturas.
A criação de fontes e espelhos d’água, para aumentar a evaporação de água no ambiente.
E, claro, uma das medidas mais efetivas para resolver o fenômeno das ilhas de calor são as plantas, muitas plantas, pois elas conseguem refrescar o ambiente de maneira muito eficiente.
Esse fenômeno é muito perceptível em ruas muito arborizadas, como a rua mais bonita do mundo.
É perceptível a mudança de temperatura se compararmos uma rua cheia de árvores com uma rua sem qualquer planta, mesmo elas estando uma ao lado da outra.
De acordo com o Departamento de Preservação e Recreação de Massachusetts, as regiões urbanas com muitas árvores apresentam 60% menos partículas de poluição, comparando com as zonas urbanas convencionais.
As plantas também possuem a capacidade de diminuir a poluição sonora, e morar em uma rua arborizada pode refletir em uma grande valorização do imóvel.
Às vezes, os grandes centros urbanos sofrem com a falta de espaço, dificultando a inserção de plantas, por isso uma nova tendência vem surgindo: os telhados verdes.
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