Estilos Arquitetônicos: Rococó

Estilos Arquitetônicos: Rococó
Nathália Zanardo

Por Nathália Zanardo

09 julho 2021

O Rococó foi um estilo artístico europeu que surgiu no século XVIII, primeiramente se desenvolvendo na França. Marcado pelas transformações políticas e sociais que aconteciam no território, o estilo aparece como uma estética decorativa que representava seu período.

Assim o estilo refletia a aristocracia, retratando o dia a dia, valorizando o hedonismo e trazendo temas históricos e mitológicos. Com grande leveza, graça, linhas delicadas e cores claras, o Rococó carregava superficialidade e harmonia em suas obras.

O estilo Rococó

Manifestando-se na pintura, na escultura, na decoração e na arquitetura, o Rococó surge como uma resposta ao Barroco. Mesmo com algumas semelhanças, o estilo se afasta da rigidez e da temática religiosa, mantendo apenas a decoração e a ornamentação em suas obras.

O estilo rompe com preceitos usados anteriormente, criando uma arte leve e intimista, caracterizada por adornos e refletindo sua época. 

Seu termo se deriva da palavra francesa “rocaille”, que significa concha, por isso conseguimos notar o uso de linhas estilizadas que se assemelham ao formato de uma concha nos elementos decorativos do estilo.

Contexto histórico do Rococó

Desde o início do século XVIII até meados do século XIX, muitas mudanças políticas e sociais aconteciam na Europa, refletindo seu período turbulento nas diversas artes produzidas.

Durante o reinado de Luís XIV, a França vivia um governo centralizador e autoritário que utilizava o estilo Barroco em suas obras. Com a morte do rei, a corte francesa se muda de Versalhes para Paris e uma nova classe social surge.

Nesse contexto de grandes mudanças nasce o Rococó, surgido na França, em Paris, no início do século XVIII, por volta de 1720, como um estilo artístico com uma estética refinada e decorativa utilizada nas variadas vertentes das artes. 

O estilo aparece durante o Iluminismo e marca o período de transição entre o Barroco e o Neoclassicismo, distanciando-se da dramaticidade anterior e introduzindo alguns valores do futuro movimento.

Igreja de São Carlos nas Quatro Fontes.
Igreja de São Carlos nas Quatro Fontes, uma obra Barroca com caráter religioso e dramático. Fonte: Pinterest

O estilo aparece durante o reinado de Luís XV, quando a corte francesa se muda para Paris e a ascensão da classe média acontece. Assim, o Rococó se torna um estilo desejado que se espalha pela alta classe parisiense e depois por outros países da Europa.

Nas diferentes artes, o Rococó foi utilizado para representar o pensamento da aristocracia da época, que acreditava ter encontrado um equilíbrio entre a razão e a fé. Para agradar a alta sociedade, o estilo passou a ser produzido em quadros pequenos, estatuetas de porcelana e objetos de uso doméstico.

Com forte presença de elementos decorativos, formas curvas e tons pastéis, o Rococó se tornou um estilo leve e delicado que se manifestou em várias áreas, mas teve sua notoriedade destacada na decoração dos interiores. 

Sua arte refletia a elegância, a exuberância e o intimismo, destacando-se na arquitetura com amplas aberturas nos edifícios, na escultura com peças de tamanho reduzido que utilizavam novos materiais como o gesso e a madeira, e na pintura com a retratação da vida da elite europeia com muita delicadeza e suavidade.

Quadro A leitora de Jean-Honoré Fragonard, uma obra do Rococó.
Quadro A leitora de Jean-Honoré Fragonard, uma obra do Rococó que retrata a vida da aristocracia. Fonte: Pinterest

O estilo durou até o final do século XVIII, com o surgimento dos ideais revolucionários influenciados pelo Iluminismo, a Revolução Francesa chega e o estilo é substituído.

Grandes nomes foram responsáveis por marcar o estilo Rococó, como: François Boucher, Giovanni Battista Tiepolo, Jean-Antoine Watteau, Jean-Honoré Fragonard, Johann Baptist Zimmermann, Johann Michael Fischer, Nicolas Pineau, entre outros nomes de destaque.

As características do estilo

Representando a aristocracia, o Rococó é um estilo que carrega superficialidade, opondo-se às características mais marcantes do Barroco, como temas religiosos, e mantendo a ornamentação excessiva, mas de maneira leve e sutil.

O estilo artístico desenvolveu uma estética decorativa marcada pela representação de uma vida luxuosa alheia às temáticas sociais, retratando o culto ao próprio prazer, a tranquilidade e a liberdade da alta sociedade.

Quadro O balanço de Jean-Honoré Fragonard.
Quadro O balanço de Jean-Honoré Fragonard, uma obra que demonstra o aristocrata e o leve caráter do Rococó. Fonte: Pinterest

Assim, o Rococó caracterizou-se por uma ornamentação excessiva com um aspecto mais decorativo, pelo emprego de cores pastéis que davam suavidade e leveza às obras, por linhas sinuosas e curvas que remetiam o formato de concha e pela valorização da iluminação que dava um aspecto claro.

Criando composições dinâmicas, graciosas e assimétricas, nas quais a beleza da forma era realçada, o estilo possui texturas suaves e temas leves que demonstravam os interesses hedonistas e aristocráticos de maneira harmônica e bela.

Arquitetura Rococó

Palácio de Würzburg, um representante do Rococó alemão
Palácio de Würzburg, um edifício representante do Rococó alemão. Fonte: Pinterest

A arquitetura Rococó se manifestou principalmente nos espaços internos, que se tornaram menores e intimistas. Com uma sociedade que prezava elegância e suavidade em suas construções, o estilo foi retratado no interior de residências e hotéis usados pela aristocracia.

Sendo a representação de um estilo mais leve, gracioso e ornamentado de modo sutil, sua arquitetura enfatiza a assimetria das formas e a temática descontraída, utilizando curvas, decorações e cores claras.

A preocupação com a luminosidade dos ambientes internos fez com que as construções passassem a ter amplas aberturas. Seus edifícios possuíam proporções menores com dois andares, com uma fachada alinhada e decoração centrada nas portas e nas janelas, enquanto o interior era extremamente ornamentado e detalhado.

História da arquitetura Rococó

A arquitetura Rococó nasce com o estilo em Paris, mas tem seu auge marcado por volta de 1770. Desenvolvendo-se inicialmente no território francês, onde ganhou características que marcaram as construções, foi consolidada como um novo estilo da arquitetura.

Com seu valor reconhecido, o Rococó na arquitetura começa a ser reproduzido e conquista diversos países da Europa. Pregando uma nova visão, distancia-se cada vez mais das construções palacianas, suntuosas e conservadoras do Barroco. 

Desenvolvida durante o Iluminismo, conhecido como “Século das Luzes”, a arquitetura Rococó representa seu período nas edificações, implantando longas aberturas e se preocupando com a luminosidade, fazendo com que o estilo fosse denominado na arquitetura como “Estilo da Luz”.

Características da arquitetura 

Distanciando-se de um estilo que se baseava na religião, a arquitetura Rococó cria construções leves e elegantes que agradavam à aristocracia, servindo de bom gosto e se baseando no caráter artístico. 

Explorando ornamentos de modo sutil, assimétrico, com amplas aberturas, linhas curvas e proporções menores e intimistas, cria um design elegante tanto no exterior quanto no interior de suas construções. 

O estilo demonstrava uma nova maneira de representação na arquitetura, de maneira delicada, leve e suave, sendo marcado por algumas características principais, apresentadas a seguir, que demonstravam seu caráter decorativo.

Leveza 

A leveza do Rococó se manifestou nos ambientes internos.
Interior do Palácio Real de Queluz, além de bem-iluminado, o ambiente reflete o bom gosto da aristocracia. Fonte: Pinterest

Representando a aristocracia e o prazer pela liberdade, a arquitetura Rococó era leve e pura, nutria os valores do prazer pela vida e pelo bom gosto em todos os seus detalhes.

Mesmo distante do Barroco, continuava utilizando uma ornamentação excessiva, mas de maneira elegante e harmônica, combinando cores mais suaves e formas leves que representavam a estética decorativa do estilo.

Linhas estilizadas

A arquitetura passou a utilizar as linhas curvas combinadas a traços leves, representados nos formatos que assemelham a conchas ou na utilização de arcos em janelas, portas e ornamentos.

Suavidade nas cores

A suavidade dos tons eram utilizados nos ambientes do Rococó.
As cores pastéis e os detalhes dourados eram utilizados em ambientes internos no estilo Rococó. Fonte: Pinterest

Para garantir um conjunto harmônico, as tonalidades mais claras, como cores pastéis e branco, passaram a marcar as construções de maneira suave e delicada. O dourado também foi utilizado e começou a ser empregado nos detalhes dos espaços como ornamentação, assim foi usado em tetos, paredes e rodapés.

Luminosidade

A presença de amplas aberturas marcou o estilo nas construções, garantindo ambientes internos mais iluminados e ventilados. Suas amplas janelas utilizam formatos ovais e, muitas vezes, eram combinadas a um pé-direito ampliado, proporcionando um espaço ainda mais claro.

Exterior e interior marcados por diferentes linguagens

Exterior do Palácio Real de Queluz, no Rococó a parte interna e externa se distanciavam muito.
Exterior do Palácio Real de Queluz marcado por uma estética mais simples quando comparado ao interior. Fonte: Pinterest

A estética utilizada na arquitetura Rococó se diferenciava quando comparada às partes externa e interna dos edifícios. 

Enquanto o exterior era marcado por uma proporção menor com poucos andares, curvas suaves, telhados de duas águas, uso de ferro forjado nos gradis e nas janelas, bem como portas amplas que concentram toda a decoração. 

O interior era marcado por um salão principal na parte central da construção, ambientes pequenos e intimistas iluminados pelas amplas aberturas, com uma decoração excessiva até mesmo no mobiliário e uma intensa decoração nos cantos das paredes.

Seus marcos pelo mundo

Marcada pela leveza e elegância, a arquitetura Rococó possui obras de grande destaque em seu berço, na França. Mas com seu reconhecimento e sua consolidação, o estilo conseguiu se espalhar por outros países da Europa, como Alemanha, Áustria e Rússia, possuindo belas construções que demonstram o estilo da arquitetura.

Hôtel de Soubise

Interior do Hôtel de Soubise.
Interior do Hôtel de Soubise, com decoração muito ornamentada, utilizando dourado, cores pastéis e elementos com curvas. Fonte: Pinterest

Considerado um dos exemplares franceses mais marcantes da arquitetura Rococó, o Hôtel de Soubise, localizado em Paris, foi construído por Olivier de Clisson em 1371. 

Quase 200 anos depois, o edifício foi comprado por François de Lorraine, duque de Guise, que contratou o arquiteto italiano Francesco Primaticcio para ampliação e reforma da construção, criando uma capela ornamentada por Niccolo dell’Abate.

Por volta de 1700, François de Rohan-Soubise, príncipe de Soubise, comprou o edifício e decidiu fazer uma nova reforma para modernizar a construção, encaixando-a no estilo da época. Para isso, contratou o arquiteto Pierre-Alexis Delamair, que mudou o local da fachada principal e criou um pátio enfeitado.

Desde sua construção, o Hôtel de Soubise passou por diversas reformas, porém a mais marcante foi feita por Hercule Médadec, filho de François de Rohan-Soubise. Para a reforma, o arquiteto francês Germain Boffrand foi contratado, momento em que as características Rococó foram acionadas na construção.

A caracterização do estilo Rococó no edifício fica na decoração interior, representando luxo e riqueza, o arquiteto utilizou formas complexas e assimétricas, criando cômodos bem curvilíneos nos quais a parede e o teto se transformam em um único elemento.

Seus ambientes internos também foram trabalhados com elementos típicos do Rococó, como frisos, quadros, espelhos e linhas curvas. Atualmente a construção é propriedade do Estado francês e abriga o Museu da História da França.

Palácio de Würzburg

Escadaria do Palácio de Würzburg.
Escadaria do Palácio de Würzburg, com trabalho do pintor Giovanni Battista Tiepolo. Fonte: Pinterest

Localizado na Alemanha, na região da Baviera, o Palácio de Würzburg pode ser considerado um símbolo alemão do estilo Rococó. Construído entre 1720 e 1744, sua construção seguia o estilo Barroco e envolveu diversos profissionais como Balthasar Neumann, Lucas von Hildebrandt, Maximilian von Welsch, Robert de Cotte e Germain Boffrand.

As características Rococó do edifício se encontram no interior, destacando a força do estilo na decoração de interiores. Contratado pelos donos da residência, o pintor veneziano Giovanni Battista Tiepolo foi responsável por decorar o interior com elementos do estilo.

Com uma decoração que trabalhava branco, ouro e tons pastéis combinados a ornamentos ondulados, representavam a elegância do novo estilo. 

A pintura executada no teto do vão da grande escadaria do palácio é o destaque de seu interior, com uma área de 18 metros por 30 metros, o pintor produziu uma pintura que mostra os quatro continentes representados por paisagens, deuses, animais e figuras.

Igreja de Wies

Parte interna da Igreja de Wies.
Igreja de Wies, uma obra que representa a variação do estilo Rococó na Alemanha. Fonte: Pinterest

A Igreja de Wies é um forte exemplo do Rococó alemão, mesmo se aproximando das temáticas religiosas, essa obra emblemática é conhecida pelo mundo todo. Localizada no sudoeste da Baviera, foi construída entre 1745 e 1754 pelos irmãos Zimmermann. 

Por ser uma igreja de peregrinação, seu projeto de estilo Rococó atende às necessidades de uso do edifício. Com um formato oval, possui uma circulação bem-demarcada e um espaço interno muito iluminado. 

Sua fachada exterior possui uma mistura entre as tonalidades branco e rosa, criando um visual delicado e sutil. O interior é decorado com o contraste entre branco e elementos dourados, além de um teto coberto por pinturas de Joham Baptist Zimmermann.

Rococó no Brasil

No Brasil, o Rococó chegou em meados do século XVIII, manifestando-se de maneira mais tímida e até se confundindo com o estilo Barroco reproduzido no País. Os colonizadores portugueses foram responsáveis por introduzir o estilo no País o qual ficou conhecido pelo território nacional como “estilo Dom João V”.

Distanciando-se da utilização do estilo na Europa, sua produção estava muito atrelada a temáticas religiosas, destacando-se principalmente na escultura, no mobiliário e na arquitetura.

Os principais nomes que marcaram o estilo no País foram: Mestre Valentim, Mestre Ataíde, Francisco Xavier de Brito e Aleijadinho.

Arquitetura Rococó no Brasil

Chegando quase no início do século XIX no Brasil, a arquitetura Rococó se desenvolve no território nacional por um grande nome, Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho. 

O arquiteto e escultor foi responsável por construções de destaque, principalmente localizadas em Minas Gerais. Abordando a temática religiosa, desenvolveu belas arquiteturas, utilizando linhas equilibradas que destacavam a leveza nas construções.

Suas obras brasileiras

A arquitetura Rococó no Brasil se espalhou pelo território, garantindo que edifícios e elementos decorativos que representam o estilo sejam encontrados em cidades como Minas Gerais, Pernambuco e Belém. 

Algumas construções que possuem elementos do Rococó no País são: Igreja de São Francisco de Assis, Santuário Bom Jesus de Matosinhos, Igreja de Nossa Senhora do Carmo, Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e mais exemplos.

Igreja de São Francisco de Assis

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Igreja de São Francisco de Assis, um símbolo do estilo Rococó no Brasil. Fonte: Pinterest

Localizada em Ouro Preto, no estado de Minas Gerais, a Igreja de São Francisco de Assis é um dos maiores e dos mais conhecidos exemplos do estilo Rococó na arquitetura brasileira. 

Construída utilizando o estilo Barroco, foi executada por Aleijadinho, tornando-se um marco da arte sacra e colonial. Seu projeto, apesar de se pautar no modo de construir do Barroco, traz alguns elementos do Rococó e podemos identificar a decoração da igreja seguindo completamente o estilo.

Os elementos decorativos podem ser vistos no relevo esculpido na fachada, na nave com seis laterais decoradas, no forro com relevos, nas paredes com painéis, entre outros ornamentos decorativos que representam a estética do estilo com uma influência nacional.

Um estilo aristocrata

Marcado como um estilo artístico decorativo, o Rococó busca se distanciar da religião e da dramaticidade, o professor de belas-artes William Fleming exemplifica essa relação no livro Arts and Ideas: “Onde o Barroco era pesado, maciço e opressor, o Rococó é delicado, leve e encantador”.

O estilo que representava a aristocracia teve sua decadência quando as ideias iluministas se tornaram um forte movimento. Mas sua arte ficou marcada pela Europa e pelo mundo como um estilo decorativo leve, intimista, harmônico e ornamentado.

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Nathália Zanardo
Conteúdo criado por:Nathália Zanardo
Arquiteta e urbanista, que entende a profissão como um transformador da sociedade, visando meios sustentáveis combinados a escala humana, assim gerando uma cidade mais amigável e gentil.

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