Estilos arquitetônicos: High-Tech
Por Thainá Neves
07 maio 2021
High-Tech ou alta tecnologia foi uma corrente de pensamento na qual as inovações tecnológicas foram entendidas como potencial para facilitar o cotidiano, em diversos níveis.
Assim, o movimento trouxe uma visão bastante otimista da industrialização, da tecnologia e da investigação científica. Isso porque, de fato, um processo de produção fortalecido permite maior controle de qualidade do resultado.
Contexto histórico do movimento High-Tech
O movimento High-Tech surgiu no fim do Modernismo, em um período de ruptura no qual a tecnologia foi vista como base para novos formatos de mundo.
A chegada do homem à lua foi um dos grandes fatores que impulsionou a corrida tecnológica, e a vontade de percorrer caminhos ainda pouco explorados na área da tecnologia.
Esta disputa foi inicialmente protagonizada pela União Soviética e pelos Estados Unidos, mas logo tomou proporções maiores, quase mundiais.
Assim, a busca por inovação estava presente nos mais diversos setores, chegando também às artes e à arquitetura.
Por volta da década de 1970, quando boa parte dos países já estava recuperada economicamente dos impactos da Segunda Guerra Mundial, os desdobramentos da expansão tecnológica se fizeram presentes no cotidiano das pessoas.
A vida doméstica foi impactada a começar com a popularização de eletrodomésticos dentro de casa e, posteriormente, pelo uso de eletrônicos, como o computador.
Nesse período, foram inventados o videocassete, o walkman, o computador pessoal, a calculadora de bolso e tantos outros objetos que passaram a fazer parte da vida urbana. Era, de fato, a casa se transformando em uma máquina multifuncional.
À medida que os setores de inovação tecnológica intensificaram suas descobertas, a corrente de pensamento High-Tech continuou crescendo até os anos 90, abrindo ainda mais possibilidades para a realidade pós-guerra.
A revista Archigram
A Archigram é uma das representações máximas da tecnologia sendo interpretada como facilitadora da vida. Isso porque a revista era composta de reflexões extravagantes sobre o que seria o mundo ideal, por meio de uma identidade visual inédita.
Composto por seis arquitetos ingleses, o grupo Archigram investiu na revista como uma abordagem conceitual e, até mesmo, provocativa de questões importantes. Dessa forma, o grupo trouxe diversos questionamentos sobre a maneira de viver da sociedade.
Essas reflexões são como um fluxo de ideias que percorrem diversas escalas de uma única vez, desde a configuração das cidades, até a arquitetura. O estudo dos fatores que moldam a sociedade estava sempre presente.
Em outras palavras, o Archigram poderia abordar o cenário urbano e, ao mesmo tempo, a estrutura das edificações, em uma única proposta, porém, como análise crítica, nem sempre com a intenção de construir.
As imagens são compostas por engrenagens, tubos e formas geométricas associadas. Por vezes lembram edifícios construídos em uma grande cidade e, sob outro ponto de vista, se parecem com peças e elementos encontrados no ambiente fabril.
O fato de boa parte dos projetos do Archigram pertencer ao mundo das ideias não descarta a sua importância, afinal a arte repleta de significados serviu como base para muitas reflexões.
Características da arquitetura High-Tech
A ideia de utilizar a tecnologia na arquitetura tinha como objetivo o alto desempenho dos sistemas construtivos, especialmente nos quesitos estrutura, elétrica, hidráulica, térmica, entre outros.
Por esse fato, a arquitetura High-Tech também é conhecida por expressionismo estrutural, afinal o desempenho da construção é extremamente importante.
Nesse contexto, as obras High-Tech possuem grande variedade estética, e algumas características específicas se destacam. São elas:
O sistema construtivo como protagonista
Foi a união de materiais para alto desempenho e diferentes soluções que resultou na arquitetura High-Tech, tendo como marca registrada uma estética bastante marcante, porém diversa.
Os sistemas construtivos são os verdadeiros protagonistas da arquitetura High-Tech, de maneira semelhante ao que acontece na arquitetura industrial contemporânea, afinal a funcionalidade é o foco de ambos.
O principal objetivo é o alto desempenho da construção High-Tech e não há, portanto, preocupação em esconder a aparência real dos materiais ou mesmo apego a uma linguagem específica.
O Millennium Dome, por exemplo, possui a estrutura totalmente à vista, de maneira que os mastros e os cabos estendidos que sustentam a cobertura do grande espaço ficam em destaque.
Nessa obra, Richard Rogers procurou soluções para um amplo espaço que pudesse abrigar o festival Millennium Experience. O resultado foi essa estrutura com aparência única e espaço interno de 80.000 m².
O Guggenheim Bilbao, com autoria de Frank Gehry, em que a estética do material é protagonista. Nesse caso, porém, é configurado com formas mais plásticas, criando um desenho com camadas flutuantes que parecem colocar a obra em movimento.
Além do material, o museu se destaca pela maneira como foram pensados os seus espaços. Isso porque a obra dissolve os limites entre escultura e arquitetura, desenvolvendo uma relação fluida com o lugar em que está inserido e com o público que o visita.
A escolha dos materiais da construção High-Tech também é pensada para maior aproveitamento da luz solar e na possibilidade de automação.
Uso de componentes pré-fabricados
Sendo a arquitetura High-Tech uma linha de pensamento racional, sempre em busca da coerência, os elementos pré-fabricados são vistos como facilitadores de todo o processo construtivo, especialmente por conta da otimização no tempo de montagem.
Além disso, muitas vezes, garantem um controle de qualidade ainda mais rígido do que se fossem preparados diretamente no canteiro de obras.
O Centro de Distribuição da Renault, projetado por Norman Foster, é uma construção pensada em módulos, de forma que os elementos foram todos previamente fabricados.
São mastros, cabos, membranas e vidros que formam um edifício de 25.000 m², esteticamente leve e que se conecta ao entorno.
O uso frequente dos componentes pré-fabricados, portanto, é uma característica marcante da arquitetura High-Tech, bem como o interesse em desenvolver peças e sistemas cada vez mais eficientes e adaptáveis.
A possibilidade de uma arquitetura replicável e, de certa forma, móvel surge como resultado direto do uso de componentes pré-fabricados.
Flexibilidade espacial
O exterior das construções High-Tech são, muitas vezes, carregados de elementos estruturais, o que é uma maneira de sustentar todo o edifício, mantendo os interiores bastante livres e sem interferência.
No Shanghai Bank HQ, projetado por Norman Foster, a fachada do edifício possui um travamento em formato de triângulos interligados que sustentam toda a construção de maneira pouco convencional.
Os espaços internos do edifício são fluidos e flexíveis, por consequência da estrutura externa que sustenta a construção. Assim, há muitas possibilidades de configuração do espaço, seja para receber muitas pessoas, seja para criar ambientes privados.
A flexibilidade espacial que a arquitetura High-Tech proporciona não está limitada ao interior dos edifícios, já que uma das reflexões desse período é a possibilidade de nomadismo e itinerância.
Alguns dos edifícios High-Tech, portanto, foram pensados para fácil montagem e desmontagem, possibilitando uma vida mais flexível na era do globalismo.
Esse ponto do nomadismo foi amplamente discutido pelo grupo Archigram com o objetivo de chegar a formatos de cidades que atendam às necessidades da sociedade contemporânea.
Marcos da arquitetura High-Tech
Algumas edificações são bastante representativas para a arquitetura High-Tech, seja pela estética marcante quanto por aplicarem as características do movimento significativamente.
Centro Georges Pompidou, um impactante edifício High-Tech
O Centro Georges Pompidou é uma dessas obras que chocou e dividiu a sociedade em opiniões divergentes, da mesma maneira que aconteceu com a icônica Torre Eiffel.
Posteriormente esse choque se transformou em admiração, elevando o Centro ao posto de mais expressiva e representativa construção produzida no movimento High-Tech, além de importante cartão-postal de Paris.
O edifício foi projetado pelos reconhecidos arquitetos Renzo Piano e Richard Rogers, resultando em uma inteligente combinação de vidro, aço, cabos e estruturas treliçadas.
Observando mesmo que rapidamente, é possível ver tubulações de ar, encanamentos e estruturas do elevador bastante aparentes. Nesse cenário, as cores enfatizam a escada rolante, uma estrutura que chama atenção por estar encostada na fachada e não dentro do edifício.
A estética marcante e única do edifício não é em vão, afinal seu interior abriga o Museu Nacional de Arte Moderna de Paris, no qual há exposições e coleções contemporâneas.
Edifício Lloyd’s
O Edifício Lloyd’s foi construído para abrigar um mercado de seguros com o mesmo nome. O seu corpo principal está acoplado a outras seis torres de serviço que seguem a linguagem High-Tech.
O núcleo do edifício principal, em concreto armado, é completado por estruturas em aço inoxidável e revestimentos em vidro, elementos que são característicos da arquitetura High-Tech e responsáveis pela estética impactante.
As tubulações, e outros elementos que normalmente são ocultados, ficam aparentes no Edifício Lloyd’s. Essa medida foi tomada com o propósito de criar espaços internos sem interrupção, atendendo às necessidades de mudança da empresa.
O edifício possui autoria de Richard Rogers, arquiteto com carreira marcada por construções icônicas altamente tecnológicas e outras tantas premiações internacionais em reconhecimento de sua contribuição na arquitetura.
Palácio de Reichstag
A arquitetura High-Tech não se limita apenas a edificações novas, pensadas desde o início. Para ter uma linguagem tecnológica, basta um projeto adequado à realidade existente, mesmo em edifícios com estética oposta.
O tradicional Palácio de Reichstag, por exemplo, recebeu uma cúpula translúcida e bastante futurista, projetada pelo premiado arquiteto Norman Foster. Assim, o novo e o antigo se unem de maneira harmoniosa, criando um belo conjunto arquitetônico.
Foster tem como característica principal de projeto o uso de aço e vidro, porém de maneira inovadora. Além disso, as suas obras esculpem a luz natural nos ambientes interiores, proporcionando economia de iluminação e um aspecto estético único.
Os arquitetos Michael e Patty Hopkins também levaram a linguagem High-Tech a diversos cenários históricos, provando que os materiais de alta tecnologia podem estar em construções tradicionais de maneira leve e harmoniosa.
A força do estilo High-Tech
Além das características já faladas, a arquitetura High-Tech inicial possuía grande atenção às questões sociais, de forma que o projeto de um edifício costumava ser parte de um plano maior, pensando no impacto que causaria ao entorno.
Após alguns anos, o movimento levantou a ideia de produzir formas de viver autossuficientes, sustentáveis, duráveis e que aproveitassem ao máximo os recursos disponíveis e as inovações. Afinal, a tecnologia pode ser uma ótima aliada na preservação do meio ambiente.
A arquitetura High-Tech procurava produzir máquinas para viver, um conceito bastante difundido pelo arquiteto modernista Le Corbusier. No entanto, no movimento High-Tech, essas máquinas se tornaram cada vez mais adaptáveis à realidade de cada contexto.
Richard Rogers, Norman Foster e Renzo Piano são os grandes representantes da arquitetura High-Tech, o último grande estilo do século XX. Todos os ensinamentos deixados por esses arquitetos e suas obras seguem impactando a forma de pensar as construções.
Atualmente, grandes arquitetos como Santiago Calatrava e Rem Koolhaas utilizam a alta tecnologia e muita experimentação para inovar a maneira de projetar edifícios e reconfigurar cidades.
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