Estilos arquitetônicos: Art Nouveau
Por Thainá Neves
02 julho 2021
O movimento Art Nouveau
Art Nouveau, traduzido do francês, significa arte nova. E foi exatamente o que esse movimento representou, a busca por uma arte completa e totalmente nova que pudesse aplicar significado em cada detalhe da vida cotidiana.
Por consequência, popularizou-se, tornando-se uma verdadeira tendência. No entanto, por conta da finalidade bastante ornamental e decorativa, em alguns momentos, a estética Art Nouveau foi consumida especialmente pelas famílias mais ricas.
Contexto histórico do movimento Art Nouveau
O Art Nouveau surgiu primeiramente na Europa, sendo uma reação contrária ao resgate dos estilos antigos, como o Neoclássico, por exemplo. O período entre 1890 e 1920 foi o mais significativo para o movimento, afinal houve ampla produção artística.
A criação dessa linguagem exclusiva para o momento teve como objetivo sair do convencional, retratar o desenvolvimento da burguesia e, ao mesmo tempo, conectar as pessoas e a natureza.
Portanto, essa linguagem condiz exatamente com o período vivido antes da Primeira Guerra Mundial, a “Belle Époque”, a qual foi marcada por muita paz. E, da mesma forma, por ampla produção de energia elétrica, aço e expansão dos meios de transporte.
Mesmo após o declínio na Europa, o movimento ainda permaneceu forte nos Estados Unidos e na Inglaterra, misturando-se com o chamado Arts and Crafts. Em seguida, veio o estilo decorativo Art Déco, com formas mais geometrizadas e com menor quantidade de ornamentos.
As características do Art Nouveau
O Art Nouveau se expressou em diversos nichos da arte, desde arquitetura, cinema, pintura, até artes plásticas e gráficas.
O uso do aço, vidro e novos revestimentos cerâmicos marca o movimento. No entanto, tudo isso de maneira muito original, tendo a natureza como principal inspiração.
Começando pelas artes gráficas, Alphonse Mucha foi um dos grandes destaques. O artista ganhou notoriedade com a produção de cartazes para peças, produtos e anúncios em larga escala, tendo a figura da mulher como tema.
Além disso, produziu inúmeros retratos, cenários, joias, cerâmicas e, até mesmo, peças de roupa. A sua arte ganhou muito espaço, a qual você pode conferir parte por meio da exposição virtual realizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro.
Na moda, a estilista Emilie Flöge impactou ao produzir peças consideradas bastante peculiares para a época. A sua proposta considera o conforto, utilizando-se de cores e estampas marcantes, influenciada inclusive pela cultura oriental.
Características do Art Nouveau na arquitetura
Na arquitetura, o Art Nouveau contrasta com todos os estilos de edificação existentes até aquele momento. Isso acontece por conta da maneira como são utilizadas as cores, a ornamentação e também as temáticas abordadas.
Confira as principais características que definem o estilo:
Temática natural
A conexão com a natureza é uma das ideias principais do Art Nouveau. Portanto, há constante presença de estruturas naturais que lembram folhagens, flores e também animais exóticos como mariposas e aranhas.
Quando a natureza não está representada em imagens completas, aparece nas formas, resultando em uma atmosfera única que parece até mesmo ter saído de um livro de fantasia.
O Art Nouveau é construído por detalhes cheios de significado, formando grandes conjuntos irreverentes que têm a intenção de se destacar.
Organicidade e movimento
A organicidade e a assimetria naturalmente marcam as construções, afinal são duas características fortes dos reinos animal e vegetal. Do mesmo modo, as figuras femininas complementam a estética Art Nouveau, com curvas e roupas esvoaçantes.
Há uma grande preocupação em captar o movimento dos elementos, levando vida aos objetos. Portanto, as produções artísticas do período se utilizam das inovações resultantes do desenvolvimento industrial para alcançar a organicidade.
Isso é observado desde as fachadas, com ferro trabalhado nos portões, até nos guarda-corpos das escadas internas. As linhas fluidas se entrelaçam, fazendo os rígidos materiais parecerem extremamente maleáveis.
Uso de cores
No interior das construções, a combinação de tons pastéis é contrastada com o preto e o amadeirado, a fim de valorizar cada uma das escolhas. Apesar de apresentarem menos brilho na composição, esses tons criam uma aparência marcante, que é bastante característica do estilo.
O uso de cores, no entanto, extravasa o interior das construções no Art Nouveau e aparece destacando as fachadas. O terracota e o verde estão muito presentes, afinal são cores que remetem à natureza.
Todas as oportunidades são aproveitadas, portanto, há cores nos telhados, nos caixilhos das janelas, nos balaústres e onde houver espaço para ornamentação.
Ornamentação detalhista
A arquitetura Art Nouveau esteve muito ligada ao design de interiores, portanto as edificações seguiam a mesma estética, inclusive nos detalhes de decoração e mobiliário.
Uma vez que a edificação é considerada parte do estilo Art Nouveau, é bem provável que o seu interior seja repleto de objetos seguindo o mesmo conceito. São desde lustres, papel de parede, cortinas, mesas, até a prataria da residência.
O interessante é que os objetos decorativos são bastante elaborados por si só, não em consequência da edificação, afinal era de extrema importância que cada detalhe do cotidiano estivesse repleto de significados.
Há objetos que se parecem com raízes de plantas, galhos com folhas e outros que flutuam como animais marinhos.
A importância do detalhe fica evidente ao analisar a produção das marcas de luxo na época em questão. A Tiffany & Co., por exemplo, começou a produzir abajures no ano de 1895 que ainda são objetos de desejo até os dias atuais.
Os vidros coloridos lembram os vitrais, no entanto, com a temática voltada completamente para a natureza.
Marcos do Art Nouveau na arquitetura pelo mundo
O Art Nouveau se espalhou por diversos países, e, em cada um deles, detalhes enriquecedores foram acrescentados para tornar o movimento ainda mais único.
A seguir, confira algumas obras marcantes que sintetizam as principais características.
Hotel Tassel
O Hotel Tassel é uma antecipação do Art Nouveau na arquitetura, sendo considerado a primeira síntese do movimento. Os ornamentos dessa construção são ligados à estrutura, bem como acontece em boa parte das obras de Victor Horta, resultando em uma aparência menos carregada.
O arquiteto trabalhou em um ateliê onde teve contato com as novas tecnologias de construção, portanto adquiriu ótimo domínio do ferro e do vidro. De tal forma, as suas obras trabalham esses elementos de maneira bastante plástica.
As cores que estão presentes na fachada também aparecem no interior da edificação com a madeira e o ferro. Além disso, o interior possui amplos espaços integrados que proporcionam boa iluminação e ventilação em todo o edifício.
A valorização da luz natural é outro aspecto interessante das obras de Victor Horta, no geral, de modo direto ou difuso. No Hotel Tassel, há duas claraboias que levam esses feixes ao centro do edifício.
Casa Batlló
A Casa Batlló, em estilo Art Nouveau, como está atualmente, é fruto de uma reforma finalizada em 1906 pelo arquiteto Antoni Gaudí.
Os traços de Gaudí são fluídos e orgânicos, no entanto remetem a uma natureza visceral, formando imagens de esqueletos e ossos. Ao mesmo tempo, as cores lembram a vida marinha, construindo uma identidade original ao trabalho do arquiteto.
Os pilares da Casa Batló se erguem com formas peculiares e diferentes de tudo o que foi produzido no período, assim como as varandas. Além disso, cerâmicas, pedras e vidros refletem a luz ao longo do dia, como escamas. O resultado é um edifício policromado e bastante atrativo ao olhar.
No interior da casa, as surpresas continuam, a começar pelas formas curvilíneas das paredes e do teto. Até mesmo o design das portas é retorcido, evitando linhas retas e convencionais.
A Sagrada Família, uma obra em constante construção
A Igreja da Sagrada Família é um símbolo arquitetônico conhecido mundialmente por unir o sagrado ao curioso, afinal a construção da obra já dura 138 anos. O edifício está localizado em Barcelona e recebe cerca de 4 milhões de visitas anuais.
Com as ousadas propostas do arquiteto Antoni Gaudí, o sucesso não poderia ser diferente. A igreja possui três fachadas que contam histórias diferentes da vida de Cristo, desde o nascimento até a sua ressurreição.
A estética da construção combina Art Nouveau com toques de arquitetura gótica, representada pelas torres pontiagudas que parecem querer alcançar os céus.
Do exterior ao interior, há o uso intenso de texturas, além de curvas que tornam a verticalidade encantadora. As colunas, por exemplo, possuem formato de troncos de árvore e criam a aparência de uma floresta, captando totalmente a atenção do visitante.
O edifício todo é repleto de simbolismos e elementos inspirados na natureza, utilizando uma quantidade de adornos maior do que em qualquer outro edifício do período.
Art Nouveau no Brasil
Essa arquitetura influenciou o território brasileiro de modo um pouco tardio, porém bastante representativo. Em algumas capitais do País, há conhecidas edificações Art Nouveau que complementam a paisagem e fazem parte da história.
No Rio de Janeiro, por exemplo, as fachadas das residências erguidas no século XIX são marcadas por traços Art Nouveau desde os detalhes entalhados nos pilares até os guarda-corpos em ferro. Já em São Paulo, as estruturas públicas levam traços fluidos e orgânicos.
Conheça alguns importantes edifícios Art Nouveu no Brasil.
Mansão da família Penteado
A mansão da família Penteado foi inspirada na arquitetura Art Nouveau austríaca, tendo boa parte de seus materiais exportados de outros países. A luxuosa construção é cercada por jardins e possui mais de 60 cômodos, unindo a vida nas cidades à atmosfera de chácara.
A fachada conta com aço retorcido nos gradis das varandas, relevos ornamentais que lembram flores e folhas, entalhes dos pilares e toques curvilíneos. Da mesma forma, a estética Art Nouveau está presente no interior do edifício, desde as pinturas das paredes até o mobiliário.
A mansão foi considerada uma verdadeira obra de arte, lançando o estilo Art Nouveau no entorno onde está localizada.
Teatro Amazonas
A planta do Teatro Amazonas possui formas retilíneas herdadas pelo estilo Neoclássico, no entanto há vários detalhes inspirados no Art Nouveau que compõem a fachada e o seu interior.
A cúpula foi adicionada ao projeto posteriormente, coroando a construção com as cores da bandeira brasileira. Em síntese, ela é composta por peças cerâmicas e telhas vitrificadas trazidas da França.
Aliás, boa parte do Teatro foi trazida de outros países, desde a armação metálica da cúpula e das vigas, até os elementos internos, como lustres, espelhos, louças e tapetes.
As arandelas instaladas em cada um dos pilares lembram flores, com caules curvilíneos. Da mesma maneira, o guarda-corpo de cada um dos andares é de ferro em formas orgânicas, típico do Art Nouveau.
Viaduto Santa Ifigênia
O Viaduto Santa Ifigênia conecta o Largo São Bento ao Largo Santa Ifigênia, oferecendo vista do histórico Vale do Anhangabaú. A estrutura, trazida quase integralmente da Bélgica, possui 225 metros de extensão em metal.
O grande destaque está no guarda-corpo em ferro forjado, com suas formas orgânicas espiraladas que levam delicadeza e emolduram a paisagem de São Paulo.
Os três grandes arcos que sustentam a ponte e os detalhes do guarda-corpo fazem da estrutura uma grande representante do Art Nouveau no Brasil.
O sofisticado estilo Art Nouveau atualmente
O Art Nouveau produziu obras icônicas que são destinos turísticos bastante frequentados no mundo todo. Além disso, o seu legado foi bastante importante para os estilos que vieram em seguida.
Periodicamente surgem tendências e releituras na moda, na arquitetura e no design de interiores que remetem a essa rica época, portanto esse movimento continua sendo referência para os mais diversos setores da arte.
A proximidade com o natural é um dos aspectos que tornam o Art Nouveau tão fascinante e, como defendia Antoni Gaudí, é preciso ler o grande livro que é a natureza.
Quer deixar um comentário ou relatar algum erro?Avise a gente