Edgar Degas – Biografia e obras

Edgar Degas – Biografia e obras
Victória Baggio

Por Victória Baggio

17 dezembro 2021

Você certamente já deve ter visto alguma vez a figura das delicadas bailarinas de Edgar Degas, cujo movimento extrapola a tela, em que a pintura parece ser palco de movimento e leveza. Caso não seja o seu caso, esta pode ser uma ótima oportunidade de conhecer sobre a história, a vida e as obras deste pintor francês que conquistou o mundo há mais de um século, cuja obra, com o passar do tempo, adquire ainda mais relevância e admiradores mundo afora. 

Edgar Degas formou parte do grupo de artistas impressionistas, movimento que surgiu e se manifestou especialmente na França, durante o final do século XIX. Também pertencem a tal estética vanguardista pintores bastante conhecidos, como Claude Monet, Pierre-Auguste Renoir e Paul Cézanne, sendo possível perceber características em comum na obra de tais artistas. 

Biografia de Edgar Degas 

Nascido em Paris, dia 19 de julho de 1834, filho de um importante banqueiro de família nobre, Auguste de Gas, e de Célestine Musson, Edgar Degas cresceu no coração da capital francesa, em uma mansão na rua St. George, próxima aos Jardins de Luxemburgo.

Embora o contexto de privilégios, a infância do artista esteve marcada pela morte de sua mãe, quando ele tinha apenas 13 anos de idade. Degas, ao ser o irmão mais velho, de cinco filhos, após tal acontecimento, teve que adquirir certa responsabilidade com os mais novos. 

O classicismo da família encaminhou a infância de Edgar Degas a frequentar a renomada Escola Louis-le-Grand, com educação rigorosamente clássica. Desde criança, Degas demonstrou facilidade para desenho e pintura, além de certo talento, que recebeu incentivo dos pais, admiradores de arte. 

Linha do tempo da biografia de Edgar Degas.
Linha do tempo da biografia de Edgar Degas. Fonte: Live

Quando menino, já frequentava o Museu do Louvre, visitando exposições de pinturas acompanhado do pai. Tal proximidade com o importante museu francês possibilitou que, aos 18 anos, em 1853, recebesse permissão para praticar desenho a partir da observação de pinturas do acervo do museu, de importantes artistas como Raphael, Delacroix e Ingres, quem Degas já mostrava profunda admiração. 

Embora o pai quisesse e incentivasse o filho a estudar Direito, levando Degas a realmente entrar em tal faculdade, era nas artes que este encontrava sua paixão maior, motivo pelo qual deixou o Direito e embarcou, em 1855, na Faculdade de Belas Artes de Paris. 

Autorretrato, Edgar Degas.
Autorretrato, Edgar Degas, 1863. Fonte: Kunst Für Alle

Após apenas ter cursado o primeiro ano na renomada escola de artes, Degas decide interromper os estudos e ir à Itália, onde passaria os três anos seguintes viajando pelo país, estudando e pintando. Durante este período, Edgar Degas aprimora sua técnica na perspectiva e na proporção em seus desenhos e pinturas, valores em total relação com o Renascimento, principal estilo de pintura italiana naquela época.

Ao retornar a Paris, em 1859, Degas adota uma abordagem tradicional em suas pinturas, com destaque no âmbito de pinturas privadas para famílias, mas não no contexto artístico francês.

A partir de 1862, após ter conhecido o pintor Édouard Manet, que Edgar Degas começa a recorrer a técnicas e assuntos mais modernos, encaminhando o pintor para pertencer ao grupo artístico vanguardista de Paris, onde pintores como Renoir, Monet e Pissarro se reuniam no Café Guerboiis para discutir sobre a arte e o mundo moderno, tendo Paris como palco, fonte de inspiração. 

Pintura "Músicos na Orquestra".
Músicos na Orquestra, Edgar Degas, 1872. Fonte: Arte e Blog

Em 1873, tal grupo de pintores formam a Sociedade de Artistas Independentes, e é a partir deste momento que são conhecidos como impressionistas, com a primeira exposição em 1874, a qual continuaria nos 12 anos seguintes. 

Embora tenha se relacionado com várias mulheres ao longo da vida, em especial a pintora americana Mary Cassatt, Edgar Degas nunca se casou. Com o passar dos anos, o ritmo de trabalho do artista foi diminuindo; a partir do século XX, passou a promover suas obras e tornar-se um grande colecionador de arte, principalmente de obras de seus contemporâneos e seus primeiros mestres. 

Após anos sofrendo de uma deficiência visual, que o atormentava desde os 30 anos de idade, Edgar Degas faleceu na sua cidade amada, Paris, em setembro de 1917, aos 83 anos. No entanto, sua obra permanece viva e eterna, sendo motivo de emoção e inspiração para pintores, e não só, ao redor de todo o mundo. 

A obra de Edgar Degas

Edgar Degas é autor de uma obra integralmente única, desde seu conceito, sua técnica, como em processo, o pintor, gravurista, escultor e também fotógrafo francês criou um capítulo próprio dentro do Impressionismo, de delicadeza e movimento.

Após ter passado três anos viajando e desenhando pinturas renascentistas na Itália, Degas começa sua carreira como pintor de maneira clássica, através de cenas familiares, tendendo ao Realismo.

Pintura "A Família Bellelli" feita por Edgar Degas.
A Família Bellelli, Edgar Degas, 1859-60. Fonte: Musée d’Orsay Pari

Com o passar de alguns anos, Edgar Degas se aproxima do grupo de artistas da vanguarda francesa, que dão início ao Impressionismo, movimento cujo interesse principal eram temas opostos à arte acadêmica da época, como captar atmosferas de cenas cotidianas da cidade e paisagens, atentos a luz, cor e sombra. 

O Impressionismo através das pinceladas do artista 

O Impressionismo foi um estilo de pintura composto por um grupo de artistas francês durante a última metade do século XIX, que, como o nome sugere, deseja criar uma pintura ao oposto da realista, através de pinceladas mais largas, em que uma cor se sobrepõe à outra, gerando uma ideia de cena ou paisagem, sugestiva, que cria uma impressão de algo, sem nitidez. 

As pinturas impressionistas normalmente são criadas utilizando tons pastéis, de verdes, azuis, rosas e amarelos, por exemplo. O céu, paisagens naturais serenas, onde a luz reflete sobre a água, com a luminosidade do entardecer, é quase uma paixão dos pintores impressionistas, cenas que podem ser registros de lugares específicos da amada Paris e seu entorno, captando os movimentos do lugar. 

No entanto, enquanto os demais artistas impressionistas pintavam cenas em movimento, como a vida da cidade a acontecer, e céus enquanto o sol se punha, Edgar Degas tinha um processo bem mais longo e detalhado, no qual utilizava outros recursos prévios à pintura propriamente dita. Em vez de capturar a luz natural em paisagens exteriores, como a maioria do grupo, Degas apresentava curiosidade por ambientes internos, com a vida que acontecia dentro de lugares como cafés, teatros e salas. 

Pintura "Aula de Ballet".
Aula de Ballet, Edgar Degas, 1874. Fonte: MET Museum

Para pintar este tipo de cena, em movimento constante, Edgar Degas primeiramente fotografava o ambiente, de diferentes ângulos, com presenças similares ou não, e realizava desenhos de esboços. Com material em mãos, o artista se dirigia ao seu ateliê, e era lá onde estudava o lugar, a cena, a partir de suas fotografias e desenhos, e então pintava. Por conta desse processo cauteloso, Degas conseguia passar para a tela mais detalhes e expressões humanas do que os demais pintores impressionistas, que pintavam enquanto observavam a vida acontecer, em movimento. 

Bailarinas no Palco

Foi para a primeira exposição impressionista, em 1874, que Edgar Degas exibiu suas primeiras pinturas das bailarinas, o tema mais explorado pelo artista a partir de então. Apaixonado pelo movimento das dançarinas da Ópera de Paris, que saltavam vestindo roupas de tecidos leves, brilhantes, que seguiam as suas piruetas, Degas pintou cenas delas tanto de espetáculos, nos teatros, como em momentos prévios a estes, nas salas de ensaios.

Pintura feita por Degas "Bailarinas no Palco".
Bailarinas no Palco, Edgar Degas, 1879. Fonte: Arte e Artistas

A Aula de Ballet, de 1873, e Bailarinas no Palco, de 1879, estão entre suas pinturas mais famosas, cujo movimento, cuja leveza e cuja delicadeza exemplares dão vida à obra, permitindo que as bailarinas pareçam, a qualquer momento, ultrapassar a tela e continuar a girar ao vivo. 

A Pequena Bailarina de 14 anos 

Além das várias pinturas das bailarinas, Edgar Degas, em 1881, cria a primeira escultura de uma bailarina, que viria a ser uma de suas obras mais emblemáticas, muito bem aceita e querida atualmente, mas que, na época, foi foco de críticas e problematização, tanto por sua materialidade quanto eticamente.

As pinturas de Degas, ao longo de sua trajetória, fugiam de ser pinturas classistas; o artista tinha gosto por pintar pessoas cotidianas, muitas vezes, julgadas pela sociedade elitista da época. E as bailarinas são um exemplo disso, afinal, o grupo de jovens dançarinas que compunham o Balé da Ópera de Paris eram, na maioria das vezes, meninas da periferia da cidade, que viviam com precariedade financeira. 

Obra "A Pequena Bailarina de Quatorze Anos".
A Pequena Bailarina de Quatorze Anos, Edgar Degas, 1881. Fonte: Google Arts & Culture

A Pequena Bailarina de Quatorze anos é a escultura de uma das integrantes do grupo, Marie van Goethem, uma menina de família simples, cuja irmã mais velha, a pedido da mãe, havia tido que deixar o balé para ser prostituta, caminho que, aos 16 anos, a jovem bailarina também seria obrigada a seguir. 

É notável, ao observar a escultura, a expressão de luta, dor e sofrimento da bailarina, que, mesmo enfrentando diversos problemas, se mantém em postura ereta e de cabeça erguida, uma imagem forte, que chocou ao público, e anos mais tarde foi reconhecida como uma obra verdadeiramente moderna, em matéria e conceito.

Dada a sua enorme repercussão, a escultura, inicialmente feita em gesso e tecido, foi replicada em bronze e tecido, possibilitando que, hoje em dia, seja possível apreciá-la em vários lugares do mundo, inclusive aqui no Brasil, na pinacoteca do MASP, em São Paulo. 

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Arquiteta com formação no Uruguai e Portugal, atualmente mestranda em projeto de arquitetura. Apaixonada pelo fazer e escrever sobre arquitetura.

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