Como características regionais impactam os projetos nos diferentes estados brasileiros
02 dezembro 2019
O Brasil é um país com dimensões continentais. Apesar de compartilharmos muitos atributos, cada região e estado possuem suas próprias suas particularidades. O que impede que o mesmo projeto residencial replicado em diferentes estados obtenha o mesmo sucesso.
Fernando Trotta, sócio proprietário da Pivô desenvolvimento imobiliário, Gabriela Tourino, gerente de incorporação com experiência em Salvador e Natal e Thalles Zanela, analista de e-business em Porto Alegre, compartilharam conosco experiências e percepções sobre como as diferenças climáticas, legais e culturais impactam o desenvolvimento imobiliário de cada região.
Barreiras legais e culturais
Para além das restrições legais, os traços e preferências de cada estado ditam a direção que o projeto deve tomar. Fernando Trotta, com experiência no Rio e em São Paulo ressalta as principais diferenças entre os dois públicos que, apesar de estarem próximos, possuem singularidades. Trotta diz que os cariocas valorizam muito mais a face norte, ou seja, o sol da manhã do que os paulistas. Mas, em contrapartida, não possuem a mesma objeção a banheiros sem ventilação natural.
As diretrizes legais também indicam a direção dos dois mercados: “São Paulo aprovou no último Plano Diretor mudanças que encorajam a oferta de unidades pequenas e, em muitos casos, sem vaga de garagem. Houve lançamento de unidades de 10m², por exemplo, ao passo que no RJ, mesmo com o Novo Código de Obras aprovado, o tamanho mínimo de unidade se limita a 25m² e 25% das unidades precisam ter vaga, nos locais mais permissivos.”
Há dois anos a Vitacon lançava o que seria o menor apartamento da América Latina. Com pouco mais de 10m², a planta do Nova-Palmeiras Higienópolis acomoda um dormitório de casal, cozinha, banheiro e varanda.
Ainda sobre as unidades super reduzidas, Gabriela diz que o modelo não tem o mesmo sucesso na região nordeste do país: “Um conceito muito forte, principalmente atualmente em SP, que não é muito aplicado em Salvador são as unidades pequenas. Tendo como concepção o empreendimento com estrutura comum para atender o público single e reduzindo o tamanho das áreas privativas” E completa: Até existem alguns empreendimentos pontuais, mas nem todos foram bem vendidos e aparentemente não tem tanto público para esta demanda.”
Mas não é só isso que o mercado do nordeste tem dificuldade em implementar:”O modelo construtivo de alvenaria estrutural, apesar de ter sido bem vendido onde aplicado, ainda não é muito conhecido pelo público do Norte e Nordeste (falo pelas cidades que atuei: Salvador, Natal, São Luís e Belém), por isso às vezes há resistência na sua aplicação. Assim como no uso do drywall, que não é tão usual até atualmente.”
Churrasqueira na sala e a tradição do povo gaúcho
No sul do país, Thales conta como o comportamento do povo gaúcho impacta o desenvolvimento de projetos residenciais na região: “O povo gaúcho é mais fechado que o restante do Brasil. É um povo bairrista. Por isso, quando se trata de inovação no mercado imobiliário, os gaúchos são sempre os cobaias. Se o povo gaúcho aderir, provável que as outras regiões do Brasil sigam essa tendência”.
Como prova de que existem características irreplicáveis em outras regiões, Thales conta como os gaúchos valorizam a churrasqueira inclusive, dentro da sala: “ Fazendo um gancho com a questão bairrista do Rio Grande do Sul, é interessante citar que todos (TODOS) os empreendimentos residenciais bandeira Cyrela que lançamos aqui nos últimos anos possuem churrasqueira no apartamento ou na infraestrutura do condomínio. E vamos além, nos casos em que a churrasqueira fica localizada dentro do apartamento, a ideia é sempre tentar deixá-la o mais próximo possível da sala de estar, de maneira que o assador não fique isolado dos seus convidados enquanto estiver com a mão na massa.”
Quebra de paradigmas
Segundo Thales, por sua característica tradicional, alguns experimentos implementados com sucesso na região sul tornaram-se modelos para o resto do país: “Se o povo gaúcho aderir, provável que as outras regiões do Brasil sigam esta tendência. Nesta linha, servimos de “cobaia” para o Medplex, um complexo de saúde pensado para profissionais de saúde, que posteriormente este modelo de negócio veio a ser lançado em Curitba, Belo Horizonte, Campinas e São Paulo, sendo sucesso de vendas em todas cidades.”
Mais recentemente, aconteceu em Porto Alegre o lançamento do Vintage Senior Residence, um empreendimento projetado para pessoas da terceira idade, adaptado para suprir a necessidade deste público e com gestão de saúde para os moradores integrada ao condomínio.
Gabriela Tourinho destaca os condomínios clubes em Salvador, que geraram uma certa polêmica a serem lançados por sua quebra de paradigma para o público baiano: Le Parc da Cyrela; assim como o Greenville da PDG que lançou o conceito de bairro planejado e foi um dos pioneiros a imprimir diferenciais como automação e conceito de sustentabilidade para agregar valor ao produto, criando modelo para o mercado imobiliário baiano.
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