Álvaro Siza – Biografia e obras

Álvaro Siza – Biografia e obras
Victória Baggio

Por Victória Baggio

16 abril 2020

Álvaro Siza é o mais importante arquiteto português contemporâneo, um dos mais influentes mundialmente e, sem dúvida, está entre os mais especiais.

Conhecido em Portugal como um grande maestro, é comumente motivo de conversa dentro de um táxi ou um restaurante. A maestria de Siza é tão nítida e facilmente percebida, que ultrapassa o interesse de arquitetos e estudantes da área, sendo sinônimo de orgulho nacional português.

Retrato de Álvaro Siza desenhando em parede branca.
Retrato de Álvaro Siza pelo fotógrafo Fernando Guerra. Fonte: Archdaily

Uma vida dedicada à arquitetura

Siza vive na cidade do Porto, vizinha de Matosinhos, onde nasceu em 1933. Tem seu escritório no bairro da Foz, a poucos metros do belo encontro do Rio Douro com o oceano Atlântico. Disfruta a cidade como uma joia que sabe que tem em mãos e gosta de projetar em cafés da cidade, pois vê beleza nas atividades cotidianas da vida e leva isso para sua arquitetura.

Com sua personalidade quieta, reservada e muitas vezes solitária, Siza construiu um legado arquitetônico e é autor de mais de 150 obras em Portugal e no mundo, desde casas, edifícios públicos, museus, edifícios habitacionais até projetos urbanos. 

Siza demonstrou interesse pela arte desde jovem e tinha o desejo de tornar-se um escultor. Porém seu pai, engenheiro, era contra o filho dedicar-se puramente à arte, o que fez com que Álvaro Siza, em vez de belas artes, estudasse arquitetura. O arquiteto, porém, nunca deixou de lado o interesse pela arte e pela escultura, ao contrário, Siza levou isso para sua arquitetura, muitas vezes escultórica. 

Álvaro Siza estudou arquitetura na Escola Superior de Belas Artes do Porto, entre 1949 e 1955. Teve como professor o destacado arquiteto Fernando Távora, com quem  trabalhou entre 1955 e 1958. Começou sua carreira como docente de arquitetura na escola onde estudou e logo passou a dar aulas na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, cujo edifício foi projetado também pelo arquiteto.

Vista interior da biblioteca da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.
Biblioteca da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Fonte: Divisare

O arquiteto teve a obra reconhecida internacionalmente por meio de diversos prêmios, como  o prêmio Pritzker, o mais importante na área da arquitetura, que recebeu em 1992. Mais recentemente, em 2012, foi-lhe outorgado em Veneza o prêmio Leão de Ouro pelo conjunto de sua obra.

A obra de Álvaro Siza

Nascido numa cidade costeira vizinha ao Porto, seus primeiros projetos estiveram vinculados ao limite entre a terra e o mar, e implicam uma relação entre o mundo natural da costa e o oceano e o mundo artificial da arquitetura e a cidade. 

Siza prefere deixar que a obra fale por si. Para chegar até o resultado final, o projeto passa, nas mãos do arquiteto, por um intenso processo de criação. 

Álvaro Siza projeta colocando no papel a ideia que vai surgindo em sua mente. Pelo desenho, exterioriza os percursos, as perspectivas e as espacialidades do edifício que projeta. O desenho é, para Siza, a principal ferramenta de projeto e passa por diversas etapas. O arquiteto começa a projetar com desenhos à mão livre, chamados croquis, sem medidas, porém com muita precisão conceitual arquitetônica. 

Depois de resolver basicamente a totalidade do projeto em seus desenhos livres, Siza passa para o desenho técnico, e é alí que sua arquitetura se materializa. São desenhos extremamente detalhados, com um cuidado em cada encontro de materiais. 

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Biblioteca municipal de Viana do Castelo. Fonte: Divisare

Ao entrar em uma obra de Álvaro Siza, percebe-se o envolvimento por uma arquitetura íntima, que reconforta e esquenta em dias frios, mas que é livre e fresca em dias de verão. O arquiteto cria, em seus edifícios, verdadeiras experiências, onde através do movimento como passeio arquitetônico a luz e as visuais jogam um papel primordial. 

Por meio de uma especial atenção ao lugar onde atua, seja o entorno urbano ou natural, Álvaro Siza busca perceber o que há no local e o que este sugere. O edifício, portanto, resulta em parte de seu contexto, ao mesmo tempo em que é uma nova realidade.

Casa de chá e restaurante Boa Nova

Vista exterior da casa de chá e restaurante Boa Nova.
Vista exterior da casa de chá e restaurante Boa Nova. Fonte: Fernando Guerra

Projetada por Álvaro Siza quando tinha apenas 25 anos, a casa de chá Boa Nova é até hoje uma das obras mais visitadas, estudadas e faladas do arquiteto. Resultado de uma maestria impecável do fazer arquitetura. 

Em um terreno difìcil, com o solo praticamente todo conformado por pedras à beira do mar, Siza projetou um edifício que parece emergir sobre as rochas e fazer parte do entorno. 

O edifício está semienterrado no terreno, e o que se vê desde fora é praticamente a cobertura de telha inclinada, algumas janelas estreitas e baixas paredes brancas. Desde o interior, recebe-se o presente da vista do oceano, que parece adentrar o edifício. A percepção de continuidade entre interior e exterior é alcançada para além das grandes superfícies de vidro e da cobertura, o mesmo plano inclinado com forro de madeira, que ultrapassa o limite das janelas e se faz de varanda em frente ao mar.

Piscina das marés

Vista aérea da piscina das marés.
Vista aérea da piscina das marés. Fonte: Fernando Guerra

Em Leça da Palmeira, próximo a Matosinhos e a poucos metros da casa de chá Boa Nova, está mais uma obra marcante de Álvaro Siza, realizada em 1966, três anos após o restaurante mostrado anteriormente. 

O terreno ocupa uma área entre a natureza costeira, aberta ao oceano Atlântico, e a cidade, e uma superfície irregular formada por pedras que se encontram com o mar, onde se formava um lago natural de água salgada. 

O projeto foi concebido pelo arquiteto com a intenção de manter  um limite entre a natureza e o construído, pretendendo otimizar as condições já criadas pela natureza. Segundo Álvaro Siza, “era preciso tirar partido das pedras, completando a contenção de água somente com as paredes que resultam estritamente necessárias”.

Para o arquiteto em que “fazer arquitetura é geometrizar”, o objetivo do projeto consistia em delinear uma geometria naquela paisagem orgânica. 

Siza queria que o visitante que fosse às piscinas tivesse uma experiência no percurso da avenida até a natureza. Dada a falta de profundidade do terreno, o arquiteto criou caminhos semienterrados, como um ziguezague de muros grossos que levam o visitante da cidade à praia. Durante o percurso, a paisagem é escondida para, após alguns minutos de caminhada, ser recebida como uma surpresa, o presente do entorno natural exuberante. Com certeza é um lugar para um banho de mar surpreendentemente fora do comum.

Museu Iberê Camargo

Vista exterior do Museu Iberê Camargo.
Vista exterior do Museu Iberê Camargo. Fonte: Nelson Kon

O primeiro e, até então, único projeto de Siza no Brasil está em Porto Alegre, num terreno desafiador, estreito, tal como um morro de que lhe é tirada uma parte, com uma parede de pedra bastante alta, de frente para uma avenida de fluxo rápido, às margens do lago Guaíba.

Desde o exterior, avista-se uma construção pesada, branca, que contrasta com a pedra e a vegetação escura do lugar, ao mesmo tempo em que parece ter nascido ali. O aspecto monolítico da obra ganha dinâmica pelos elementos que sobressaem como braços que parecem abraçar o edifício. São estes as rampas de circulação, que, colocadas para fora do núcleo do prédio, parecem voar em torno dele.

Interior do museu Iberê Camargo.
Interior do museu Iberê Camargo. Fonte: Nelson Kon

Ao entrar no museu, o visitante é convidado a subir de elevador até o último andar do edifício. A visitação acontece, assim, de cima para baixo. Para descer de um andar ao outro das galerias de exposição são utilizadas rampas. Essas rampas, ao contrário da amplitude das salas, são estreitas e com pé-direito baixo. Durante o percurso aparecem algumas pequenas janelas, que emolduram a paisagem que se avista, e a luz zenital pontual vinda de claraboias ilumina o caminho. O percurso é silencioso e contido, enquanto os demais ambientes do museu são espaçosos, conectados e iluminados.

Edifício de apartamentos em Nova Iorque

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Vista exterior edifício 611 West 56th. Fonte: Archdaily

Como uma surpresa para Álvaro Siza, que com sua idade nunca imaginou que seria convidado a realizar uma obra com a dimensão desta, está o edifício de apartamentos na zona de West Side, em Manhattan, Nova Iorque. Ainda em obras, é o único edifício projetado pelo arquiteto nos Estados Unidos.

Com 35 andares e 80 apartamentos de diferentes tamanhos, incluindo um penthouse e terraços privativos, o condomínio terá diversos equipamentos para os moradores, como piscina, spa, academia, playground e espaço para eventos.

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Victória Baggio
Conteúdo criado por:Victória Baggio
Arquiteta com formação no Uruguai e Portugal, atualmente mestranda em projeto de arquitetura. Apaixonada pelo fazer e escrever sobre arquitetura.

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